quarta-feira, 9 de outubro de 2024

Anora - Trabalhadoras do Sexo podem sonhar?

Anora | Universal Pictures

O novo filme de Sean Baker conta a jornada de uma dançarina erótica chamada Anora, que prefere ser chamada de Ani, e se envolve de forma amorosa com um cliente um pouco mais jovem e que faz parte de uma família de magnatas russos. Porém a vida de Anora vira de cabeça para baixo quando aqueles que tomam conta do jovem russo descobrem que o mesmo casou com uma dançarina erótica(que chamam de prostituta e entre outras palavras menosprezando ela) e fazem de tudo para divorciar o casal recém casado. 

O filme em sua introdução não tenta colocar a protagonista como uma trabalhadora que sofre a todo tempo com o trabalho que tem e que demoniza o mundo da prostituição como muitos outros filmes norte americanos gostam de construir na maioria das narrativas audiovisuais, é simplesmente Anora fazendo seu trabalho e vivendo seu dia a dia como qualquer trabalhadora em seu cotidiano. Sean Baker sempre propôs fazer filmes onde foca mais na humanidade de seus personagens do que o quão o mundo exterior é capaz de fazer mal ao indivíduo. 

No caso desta obra, o desenrolar da narrativa é Anora não tentando manter um casamento pelo ponto financeiro com que estava, mas realmente por acreditar que alguém a amava mesmo trabalhando no mundo erótico. Sean Baker nos propõe isso na primeira parte do filme, e muda o cenário em um estalar de dedos. No momento em que os comparsas de Toro, o responsável pelo jovem russo, entram em sua casa e começam a buscar uma solução para o fim desse casamento, começa a construção atmosférica da fotografia com a ansiedade provocada pelos personagens, resultando em uma nova proposta ao espectador.

O espectador se quebra em perceber que talvez a jornada que Anora entrou pode resultar em algo muito mais complexo do que o proposto. Não é uma história de amor no final das contas, mas uma história de controle. Anora não tem controle sobre nada enquanto a história acontece, tudo é uma questão de dinheiro e poder para aqueles que estão à sua volta. E qualquer sinal de humanidade aparente dentro daquele mundo, Anora trata com desdém, vide o personagem Igor que facilita Anora mostrar essa faceta. 

O filme utiliza a falta de trilha sonora e a falta de cores na fotografia para ter um contato mais realistico com oque está acontecendo ali, mas não coloca o mesmo realismo nos diálogos, onde se concentra a maior carga de humor negro e caricato entre os personagens. Sean Baker falha em abordar o tema "estupro" nos diálogos, que tentam ser utilizados como uma piada, mas que na segunda vez proposta fica algo deslocado e sem necessidade. O humor aqui funciona mais pelo surrealismo de como as coisas acontecem do que como as coisas são faladas. 

A atriz Mikey Madison além de ter uma forte presença em tela, consegue ter um desenvolvimento maduro e bem executado ao longo da narrativa. Os atores Karren Karagulian, Vache Tovmasyan e Yuri Borisov conseguem ser os melhores elementos cômicos do filme com seu tempo em tela e fazendo plena com o desenvolvimento da protagonista até a conclusão da obra. Anora é o retrato de como o mundo vê e trata as mulheres que trabalham no mundo erótico, mas em nenhum momento as colocando como vítimas do mundo, e sim de poder viver uma vida normal sem as colocarem como só um entretenimento. A dura vida de mulheres que não são vistas como humanas. 

TEXTO DE ADRIANO JABBOUR.

Nenhum comentário:

Postar um comentário