segunda-feira, 7 de outubro de 2024

Mambembe - Cinema e Circo de Mãos dadas no caos Tropical

Mambembe | Fabio Meira

Mambembe conta a tentativa do diretor Fabio Meira em fazer um longa metragem de ficção a ver com a temática circense, mostrando em paralelo os desafios de conseguir fazer um filme com a vida dura daqueles que vivem como artistas de circo. O filme mostra em seus primeiro minutos a proposta de misturar a ficção com a linguagem documental, além de mostrar que o projeto pensado de início não ser concluído como o diretor visava.

O diretor faz questão de mostrar os artistas circenses de forma honesta, tentando seguir o mesmo estilo de filmagem dos personagens não fictícios como Eduardo Coutinho tinha costume de fazer em seus filmes: conversas fora da formalidade e buscando saber sobre a vida daqueles que estão ali em frente à câmera. É o ponto do filme que mais prende a atenção dos espectadores pela forma cativante que cada personagem é e pelas trajetórias de vida que vão de aceitação da própria sexualidade, à traição entre outros tópicos sociais.

Outro ponto que faz o filme ter uma camada sentimental a mais abordando pontos metalinguísticos cinematográficos é o diretor mostrando as circunstâncias que fez o filme não ser concluído da forma que ele queria, mas jamais cogitando a ideia de fazer aquilo que foi filmado desaparecesse. Para quem vive no meio técnico de fazer cinema entende perfeitamente o sentimento de Moreira em fazer esse filme que mescla realidade e ficção. 

Um ponto cômico do filme, que chega a ser irônico(além do humor entre os personagens presentes) é Fabio contando qual seria a história do filme, e a vida real dos personagens serem todas melhores do que a que ele mesmo estava propondo desde o início. Sem contar a fala de uma das donas de um dos circos que aparecem responder a pergunta de Fabio da seguinte maneira:

"-Para você oque não pode faltar em um filme de circo?"

"-Alguém que realmente é do circo sendo responsável pelo filme."

A fala da personagem que soa quase como uma faca no peito do próprio diretor mostra o quão real é a ideia de que a Verdade dentro do cinema nunca vai acontecer. Nessa resposta ela fala algo que muitos artistas entendem perfeitamente. É uma paixão e um estilo de vida que só quem faz parte é capaz de entender e contar. Fabio ao ouvir isso se mostra incomodado por trás das câmeras com a mudança de seu tom de voz mostrando insegurança, mas que não afeta a obra em nenhum sentido ligado à esse tópico. 

Claro que tal ideia de "lugar de fala" sobre o filme não significa que se caso o diretor responsável fosse circense faria um filme melhor. Até pelo fato de que estar no mesmo lugar não é saber se comunicar em formato audiovisual, que é a camada mais crucial para o filme acontecer. Mas conseguiu em um pequeno espaço de tempo causar uma provocação à cineastas e ao próprio diretor, mostrando a coragem da direção de mostrar que o diretor está disposto em se mostrar como só mais um personagem comum no filme, assim como todos seus personagens. 

Mas percebe-se também que muitos personagens reais apresentados foram colocados de forma deslocada e perdida em comparação com o Circo protagonista e os personagens que fazem parte do lado fictício. Alguns desses personagens não aparecem mais de 2 minutos no filme, e o diretor os coloca no filme sem saber como colocá-los. Soando quase como uma tentativa de fazer o longa ter mais tempo, resultando em algo pouco pensado e sendo um dos poucos problemas do filme.

Mambembe consegue seduzir e abraçar os amantes circenses e cineastas, mesmo com suas problemáticas ligadas a montagens e certas sequências mal elaboradas. Uma obra que consegue satisfazer seu espectador principalmente pela honestidade existente na conversa entre filme e espectador.  

TEXTO DE ADRIANO JABBOUR.

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