quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

Queer - O descobrimento através do surreal

Queer | A24

Do diretor que abriu o ano com seu aclamadissimo filme “Rivais”, Luca Guadagnino decide mostrar o quão diferente suas obras podem ser, e de forma incrível conta em película o livro “Queer” de Burroughs, um conto que foge totalmente do “padrão” Guadagnino.

Me encanta muito a primeira parte do filme, principalmente na construção do personagem de Lee, vemos um homem que sofreu e sofre tanta descriminação que por muitas vezes se sente culpado por ser quem é, e por isso age da forma que vemos. Outro ponto que me atrai bastante é a materialização dos desejos de William Lee, como aqueles pensamentos mais puros deles se materializam em tela de forma quase espiritual.

Um filme que começa numa espécie de realismo bem centrado na relação de seu protagonista com sua sexualidade, porém que transita para um surrealismo totalmente surpreendente, afinal a primeira metade não nos prepara para algo assim, e isso é maravilhoso.

Personagens apresentados de forma fechada e fria, quando a conexão mundana não é capaz de suprir os desejos dos personagens, a solução é escapar para o surreal, onde não há limitações de alma e corpo, onde não é preciso se expressar verbalmente, apenas sentir.

Na minha visão o filme ganha muita força quando abraça o surrealismo de forma total, quando você se entrega totalmente ao que está vendo, é como se estivesse junto à eles naquela viagem. Cada cena é visualmente espetacular e única, personagens vomitando corações, corpos que se abraçam e se unem, Lee observando ele mesmo no apartamento, entre muitas outras.

Guadagnino mesmo que filme de forma bastante clássica, observamos uma desconstrução moderna em sua narrativa. Os corpos são postos em cena como principal meio de expressão dos sentimentos, além disso a forma com que o tesao do filme se sustenta apenas no físico, nos corpos que compõe a cena, diferentemente de Rivais.

Autor:


Me chamo Gabriel Zagallo, tenho 18 anos, atualmente estou cursando o 3º ano do ensino médio e tenho o sonho de me tornar jornalista, sou apaixonado por cinema e desejo me especializar nisso. Meus filmes favoritos são Stalker, Johnny Guitar, Paixão e Rio, 40 graus.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

SuperMan: A História de Christopher Reeve - Um ícone que se tornou ícone

SuperMan: A História de Christopher Reeve | Warner Bros. Pictures


Seria de extrema ingenuidade pensar que o filme Superman de 1978 não faz parte do repertório cultural de todos os entusiasta de cinema e cultura popular vivos hoje. Mesmo já tão distante, o rosto de Reeve sempre aparecerá na cabeça das pessoas do mundo todo ao ouvir o nome “Super-Homem”. O documentário - sendo esse a primeira promessa de Gunn e obra fundadora do que será agora o DC Studios, criado para competir com a já gigante porém decadente Marvel no grande e lucrativo mercado de filmes de super-heróis - É uma abordagem nova e corajosa, passa longe de ser um simples caça-níquel e honra e homenageia uma das histórias mais interessantes, tristes e comoventes da indústria cinematográfica, e aborda todo o tema com maestria e sensibilidade. 

O documentário é contado através de imagens de arquivo da vida e dos filmes que Reeve atuou, somados com filmagens atuais de seus familiares e alguns colegas de trabalho, e a narrativa começa nos mostrando o início de carreira de Reeve, em alto astral, fingindo que o acidente que mudaria a vida do ator para sempre nunca aconteceu, e nos enganando conforme o fazia. O que importava era a ascensão desse antigo porém novo personagem, e de um ator que passaria de quase desconhecido para ícone eterno do gênero e do cinema. 

Vemos seus romances, o nascimento de seus filhos e de como ele aproveitava a vida com um estilo muito ativo fisicamente. Tudo levando a nos chocar mais ainda com o evento futuro. Como é possível que uma coincidência tão assustadora pudesse acontecer? Talvez exista ainda um sentimento de negação a esse evento. O imaginário da humanidade é quase tão indestrutível quanto o homem de aço em si, e é quase impossível acreditar que esse símbolo de força e invulnerabilidade pudesse ter sofrido tão desastroso acidente, tornando sua história de vida quase tão icônica quanto o personagem em si.

Do meio para o final do filme acompanhamos a história após o acidente de hipismo que deixou Christopher Reeve tetraplégico. A montagem paralela que contrasta arquivos do filme do invencível Superman com filmagens da luta diária de Reeve com sua nova realidade provoca um sentimento que depois nos é mastigado no próprio enredo do documentário de que sua força e coragem inabaláveis se comparavam agora com seu personagem mais do que nunca. 

Apesar de completamente dependente vinte e quatro horas por dia, esse super homem permaneceu ativo na vida de sua família e lutou até o final dos seus dias pelos direitos dos estadunidenses que passam por deficiências físicas, e por conta de talvez uma eterna negação de seu estado somados com uma inabalável esperança de voltar a andar, foi peça fundamental para o financiamento de estudos revolucionários de medicina que podem ajudar pessoas como ele mesmo a recobrarem seus movimentos em sua totalidade. E mesmo após sua triste

Morte, suas ações em vida permanecem a ajudar. O documentário não falha em nos apresentar e até mesmo responder a questão que ele mesmo levanta: “O que é um herói?”. Como é possível ter na história da humanidade uma coincidência tão grande que debilitou um símbolo de indestrutibilidade? Que após seu acidente nos mostra que Reeve não apenas nasceu para interpretar esse símbolo, como também o símbolo do Superman nasceu para que fosse interpretado por Reeve.

Autor:


Henrique Linhales, licenciado em Cinema pela Universidade da Beira Interior - Covilhã, Portugal. Diretor e Roteirista de 6 curta-metragens com seleções e premiações internacionais. Eterno pesquisador e amante do cinema.

Nosferatu (2024) - Bela Estética, Boas Atuações e Só!

Nosferatu | Universal Pictures

Nosferatu, de Robert Eggers, é um conto cinematográfico gótico sobre a obsessão entre uma jovem mulher amedrontada e o aterrorizante vampiro apaixonado por ela, indiferente ao rastro do mais puro horror que deixa em seu caminho em direção a ela.

O filme original, dirigido por Friedrich Wilhelm Murnau e lançado em 1922, é considerado um ícone do expressionismo alemão, esse que foi um movimento artístico do início do século XX que buscava expressar emoções intensas e subjetivas, muitas vezes de forma distorcida e exagerada. No cinema, caracterizou-se por cenários e ângulos distorcidos, luzes dramáticas e atmosferas sombrias, influenciando o gênero de terror e a estética cinematográfica. Filmes como O Gabinete do Dr. Caligari e Nosferatu são exemplos marcantes dessa corrente. 

O filme foi inspirado no romance Drácula, de Bram Stoker, mas, devido a questões legais sobre direitos autorais, permanece até hoje como o filme mais famoso e ilegal da história do cinema. A obra foi criada sem a autorização da viúva de Stoker, Florence, que detinha os direitos do livro na Alemanha, onde Drácula não havia entrado em domínio público até 1962. Apesar de Drácula ter caído em domínio público nos Estados Unidos devido a um erro no registro de copyright, a adaptação de Nosferatu infringiu os direitos autorais na Alemanha. 

O produtor Albin Grau, o roteirista Henrik Green e Murnau alteraram nomes e detalhes da história para tentar disfarçar a semelhança com o original, mas a viúva de Stoker entrou com um processo judicial. Em 1925, Florence venceu a ação e obteve a ordem para destruir todas as cópias do filme. Contudo, algumas cópias sobreviveram, principalmente nos Estados Unidos, onde o filme pôde ser exibido livremente. Com o tempo, o culto ao filme cresceu e novas cópias foram feitas, perpetuando a existência de Nosferatu. 

Assim, apesar das tentativas legais de destruição, o filme sobreviveu e, por causa da falha na execução completa da sentença e o erro no registro de copyright nos Estados Unidos, mantém seu status de "filme ilegal" até hoje. Nosferatu já recebeu diversas versões remarcadas ao longo dos anos, mas o mais recente remake foi amplamente considerado um exemplo bem-sucedido dessa prática. Dirigido por Robert Eggers, renomado por seu trabalho em A Bruxa, O Farol e O Homem do Norte, o filme traz de volta o estilo único de horror pelo qual Eggers é reconhecido.  A adaptação, embora competente, parece carecer de um verdadeiro senso de inovação ou de uma abordagem que justifique sua existência além da estética. No fim, o longa acaba mais como uma homenagem ao original do que uma reinvenção convincente, deixando uma sensação de oportunidade desperdiçada.

O vampiro interpretado por Bill Skarsgård, embora grotesco, não provoca o temor esperado. Enquanto a criação de Murnau imortalizou um vampiro monstruoso e demoníaco, afastando-se da figura carismática de Drácula, o personagem de Eggers adota uma abordagem mais estilizada e menos aterrorizante. A fraqueza emocional do vampiro, especialmente sua paixão por Ellen, não assume a intensidade ameaçadora que poderia, sendo a tensão psicológica transferida para o dilema da protagonista, que se vê dividida entre atração e repulsa pelo vampiro. 

O filme, portanto, funciona como uma homenagem respeitosa ao original. Bill Skarsgård, no entanto, entrega uma performance notável e com grande profundidade, que vai além do aspecto físico grotesco de seu personagem. Sua interpretação é marcada por uma sutileza inquietante, trazendo uma vulnerabilidade inesperada ao vampiro, que, apesar de monstruoso, é permeado por uma certa humanidade contida. O ator utiliza seu olhar e gestos contidos para transmitir uma sensação de constante conflito interno, equilibrando a frieza sobrenatural do personagem com uma tensão emocional que, embora nunca totalmente explícita, permeia suas ações. Skarsgård não apenas evoca a presença ameaçadora de um monstro, mas também adiciona uma camada de melancolia e desejo que torna seu vampiro mais complexo e intrigante, mesmo que menos aterrador do que sua versão original.

À medida que o filme se aprofunda nos simbolismos e rituais típicos do estilo de Robert Eggers, ele se perde em situações que, embora aparentemente bem planejadas, se revelam excessivas e artificiais. O diretor tenta adicionar camadas de profundidade à trama, mas, em vez de enriquecer a narrativa, essas tentativas acabam sobrecarregando a história, tornando-a mais confusa e menos impactante. 

Embora Eggers demonstre habilidade na composição de cenas e na criação de ambientes sombrios, seus filmes carecem de uma conexão emocional autêntica, o que resulta em uma atmosfera que se sente estagnada e sem vida. Em vez de gerar um envolvimento emocional profundo, a narrativa fica imersa em um ponto intermediário, onde a tensão se esvai, e a história perde sua força dramática.

A primeira metade do filme é marcada por diálogos longos, sotaques artificiais e um inglês inadequado à ambientação, aliado a uma iluminação sombria, o que cria uma atmosfera propensa ao tédio, embora com raros jumpscares. Já a segunda metade é mais dinâmica, com menos diálogos e maior ação, mas o inglês forçado persiste.

Nosferatu (2024) é uma homenagem visualmente impressionante ao clássico de Murnau, mas falha em ser uma reinvenção impactante. Apesar da boa atuação de Bill Skarsgård, que adiciona nuances ao personagem, o filme não consegue criar a tensão esperada. A narrativa, carregada de simbolismos e excessos estilísticos, perde força emocional, com um ritmo desigual e uma falta de conexão autêntica. No final, a obra se torna mais uma reverência ao original do que uma reinterpretação convincente.

Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator em formação e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.