quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

Nosferatu (2024) - Bela Estética, Boas Atuações e Só!

Nosferatu | Universal Pictures

Nosferatu, de Robert Eggers, é um conto cinematográfico gótico sobre a obsessão entre uma jovem mulher amedrontada e o aterrorizante vampiro apaixonado por ela, indiferente ao rastro do mais puro horror que deixa em seu caminho em direção a ela.

O filme original, dirigido por Friedrich Wilhelm Murnau e lançado em 1922, é considerado um ícone do expressionismo alemão, esse que foi um movimento artístico do início do século XX que buscava expressar emoções intensas e subjetivas, muitas vezes de forma distorcida e exagerada. No cinema, caracterizou-se por cenários e ângulos distorcidos, luzes dramáticas e atmosferas sombrias, influenciando o gênero de terror e a estética cinematográfica. Filmes como O Gabinete do Dr. Caligari e Nosferatu são exemplos marcantes dessa corrente. 

O filme foi inspirado no romance Drácula, de Bram Stoker, mas, devido a questões legais sobre direitos autorais, permanece até hoje como o filme mais famoso e ilegal da história do cinema. A obra foi criada sem a autorização da viúva de Stoker, Florence, que detinha os direitos do livro na Alemanha, onde Drácula não havia entrado em domínio público até 1962. Apesar de Drácula ter caído em domínio público nos Estados Unidos devido a um erro no registro de copyright, a adaptação de Nosferatu infringiu os direitos autorais na Alemanha. 

O produtor Albin Grau, o roteirista Henrik Green e Murnau alteraram nomes e detalhes da história para tentar disfarçar a semelhança com o original, mas a viúva de Stoker entrou com um processo judicial. Em 1925, Florence venceu a ação e obteve a ordem para destruir todas as cópias do filme. Contudo, algumas cópias sobreviveram, principalmente nos Estados Unidos, onde o filme pôde ser exibido livremente. Com o tempo, o culto ao filme cresceu e novas cópias foram feitas, perpetuando a existência de Nosferatu. 

Assim, apesar das tentativas legais de destruição, o filme sobreviveu e, por causa da falha na execução completa da sentença e o erro no registro de copyright nos Estados Unidos, mantém seu status de "filme ilegal" até hoje. Nosferatu já recebeu diversas versões remarcadas ao longo dos anos, mas o mais recente remake foi amplamente considerado um exemplo bem-sucedido dessa prática. Dirigido por Robert Eggers, renomado por seu trabalho em A Bruxa, O Farol e O Homem do Norte, o filme traz de volta o estilo único de horror pelo qual Eggers é reconhecido.  A adaptação, embora competente, parece carecer de um verdadeiro senso de inovação ou de uma abordagem que justifique sua existência além da estética. No fim, o longa acaba mais como uma homenagem ao original do que uma reinvenção convincente, deixando uma sensação de oportunidade desperdiçada.

O vampiro interpretado por Bill Skarsgård, embora grotesco, não provoca o temor esperado. Enquanto a criação de Murnau imortalizou um vampiro monstruoso e demoníaco, afastando-se da figura carismática de Drácula, o personagem de Eggers adota uma abordagem mais estilizada e menos aterrorizante. A fraqueza emocional do vampiro, especialmente sua paixão por Ellen, não assume a intensidade ameaçadora que poderia, sendo a tensão psicológica transferida para o dilema da protagonista, que se vê dividida entre atração e repulsa pelo vampiro. 

O filme, portanto, funciona como uma homenagem respeitosa ao original. Bill Skarsgård, no entanto, entrega uma performance notável e com grande profundidade, que vai além do aspecto físico grotesco de seu personagem. Sua interpretação é marcada por uma sutileza inquietante, trazendo uma vulnerabilidade inesperada ao vampiro, que, apesar de monstruoso, é permeado por uma certa humanidade contida. O ator utiliza seu olhar e gestos contidos para transmitir uma sensação de constante conflito interno, equilibrando a frieza sobrenatural do personagem com uma tensão emocional que, embora nunca totalmente explícita, permeia suas ações. Skarsgård não apenas evoca a presença ameaçadora de um monstro, mas também adiciona uma camada de melancolia e desejo que torna seu vampiro mais complexo e intrigante, mesmo que menos aterrador do que sua versão original.

À medida que o filme se aprofunda nos simbolismos e rituais típicos do estilo de Robert Eggers, ele se perde em situações que, embora aparentemente bem planejadas, se revelam excessivas e artificiais. O diretor tenta adicionar camadas de profundidade à trama, mas, em vez de enriquecer a narrativa, essas tentativas acabam sobrecarregando a história, tornando-a mais confusa e menos impactante. 

Embora Eggers demonstre habilidade na composição de cenas e na criação de ambientes sombrios, seus filmes carecem de uma conexão emocional autêntica, o que resulta em uma atmosfera que se sente estagnada e sem vida. Em vez de gerar um envolvimento emocional profundo, a narrativa fica imersa em um ponto intermediário, onde a tensão se esvai, e a história perde sua força dramática.

A primeira metade do filme é marcada por diálogos longos, sotaques artificiais e um inglês inadequado à ambientação, aliado a uma iluminação sombria, o que cria uma atmosfera propensa ao tédio, embora com raros jumpscares. Já a segunda metade é mais dinâmica, com menos diálogos e maior ação, mas o inglês forçado persiste.

Nosferatu (2024) é uma homenagem visualmente impressionante ao clássico de Murnau, mas falha em ser uma reinvenção impactante. Apesar da boa atuação de Bill Skarsgård, que adiciona nuances ao personagem, o filme não consegue criar a tensão esperada. A narrativa, carregada de simbolismos e excessos estilísticos, perde força emocional, com um ritmo desigual e uma falta de conexão autêntica. No final, a obra se torna mais uma reverência ao original do que uma reinterpretação convincente.

Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator em formação e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

Nenhum comentário:

Postar um comentário