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segunda-feira, 15 de setembro de 2025

Filhos - A Culpa e a Penitência que Todos Nós Carregamos

Filhos | Mares Filmes

O mais novo filme do diretor dinamarquês Gustav Möller, Filhos, estreou nos cinemas brasileiros no último julho. A obra, que concorreu ao Urso de Ouro no ano passado em Berlim, relata a história de uma agente carcerária que tem sua vida transformada do dia para a noite quando percebe que o novo jovem a integrar o presídio no qual trabalha é simplesmente o sujeito que matou seu filho em outro reformatório. A partir disso, Eva (Sidse Babett Knudsen) entra em um conflito interno ético-moral e passa a ter comportamentos atípicos com o novo detento. Entretanto, suas ações acabam tendo consequências sérias naquele recinto, e ela percebe que, aos poucos, não corre o risco de apenas perder o seu emprego, mas também de perder a si mesma.

É preciso reconhecer que o trabalho de Sidse Knudsen está fantástico neste thriller psicológico, e sua performance é fundamental para nos conduzir emocionalmente durante todo o filme. A atriz consegue expressar seus dilemas com sutileza e profundidade, nos levando por uma verdadeira montanha-russa de sentimentos. Sua personagem demonstra estar em constante conflito — existe uma linha tênue sobre a qual a protagonista parece se equilibrar, o fio da navalha entre o que é justo e o que ela acredita ser certo. E isso é transmitido de forma extremamente palpável, gerando em nós, espectadores, uma inquietação constante: o que faríamos se estivéssemos no lugar dela?

Por mais que as locações do longa-metragem concentrem boa parte do tempo no espaço prisional, Gustav Möller utiliza com inteligência cada ambiente, cada vazio, para nos imergir em uma atmosfera claustrofóbica. A rotina rígida e os protocolos do presídio são constantemente apresentados e reforçam a estrutura fechada e inalterável daquele universo. É como se o tempo ali tivesse uma cadência própria, marcada por repetições, alarmes, portas de aço se fechando — tudo ordenado e previsível. No entanto, com a chegada do novo presidiário, tudo ao redor parece permanecer estático, mas dentro de Eva, há uma ruptura silenciosa, quase imperceptível à primeira vista. O mundo segue seu curso no presídio, mas dentro dela, a rotina se torna insuportável. O trauma, o luto mal resolvido e o conflito moral explodem em forma de um estresse psicológico crescente, que vai tomando conta da narrativa como uma bomba-relógio prestes a explodir.

O filme caminha, assim, para um final climático, intenso e emocionalmente devastador, onde a realidade entre os dois protagonistas finalmente se choca. Quando ambos são forçados a confrontar os fantasmas do passado, não há escapatória: tudo que foi reprimido, contido ou silenciado até então, vem à tona. É nesse embate que compreendemos que não é apenas o infrator quem cumpre uma penitência — Eva também carrega um fardo, uma dor que nunca foi elaborada. Ambos são prisioneiros, não apenas do sistema, mas de suas próprias culpas e memórias.

Filhos é uma história crua e visceral, que não busca soluções fáceis nem respostas claras. É um filme realista, duro, onde os personagens são tratados com profundidade e complexidade. As atuações são marcantes, e a direção de Möller é concisa e íntima, nos conduzindo por um drama psicológico inquietante e inesquecível.

Autor:


Meu chamo Leonardo Veloso, sou formado em Administração, mas tenho paixão pelo cinema, a música e o audiovisual. Amante de filmes coming-of-age e distopias. Nas horas vagas sou tecladista. Me dedico à exploração de novas formas de expressão artística. Espero um dia transformar essa paixão em carreira, sempre buscando me aperfeiçoar em diferentes campos criativos.

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