Mostrando postagens com marcador mostra são paulo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador mostra são paulo. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 20 de novembro de 2025

No Other Choice — O Melhor Longa de Park Chan-Wook

No Other Choice | Mubi


Contando a estória de um pai de família desempregado que começa a cometer assassinatos para ganhar uma vaga numa empresa, No Other Choice estreou no festival de Veneza e ganhou o premio máximo do Festival de Toronto. O filme está com distribuição da Mubi no Brasil e estreou na Mostra de São Paulo.

Os primeiros minutos de No Other Choice são curiosos, a abordagem do diretor Park Chan-Wook, muito conhecido por sua abordagem brutal de suas tramas optou por uma comédia ao nos jogar no universo de seu novo longa. Essa estratégia me pareceu como nova nesse seu novo filme que é uma mistura da sua violência com uma comédia satírica.

Em seu ultimo longa, Decisão Para Partir, Park também já havia tomado a decisão de misturar seu estilo com algo mais novelesco, porém, enquanto seu primeiro experimento falhou miseravelmente (pelo menos, na minha visão), este se mostra como um dos maiores acertos do ano todo. Pois, aqui, o cineasta sul-coreano parece ter um domínio muito maior de seu próprio estilo, num longa que beira o maneirismo.

As referencias a filmes como Carlitos’ Way e Ms. 45 são evidentes. Park tem a consciência de que não há como existir uma alegoria política nesse filme que é tão direto ao ponto, então ele não mede seus esforços para fazer de cada um dos assassinatos o maior espetáculo possível, não num sentido em que a violência seja glorificada, como são as criticas a Oldboy, mas neste filme a violência é um dos mais fortes dispositivos para Chan-Wook conduzir esse teatro sádico que nos coloca.

Toda a encenação constrói uma lógica de um teatro sádico em que o espectador é uma testemunha de todos os crimes do protagonista, e o julgamento começa a ser feito pelos próprios espaços do filme, que se usam da inutilidade para construir uma forma genuína de opressão. O castigo é para ver e ouvir, e depois de tudo para sentir.

Nos momentos em que a obra poderia se tornar repetitiva, Park Chan-Wook sabe como a reinventar, e não a partir de uma estética padrão hollydwiana-parasita, mas de uma maneira incrivelmente honesta. Os últimos minutos de No Other Choice reinvocam os primeiros de maneira nova, sem ter que espremer os espectadores a uma fórmula saturada.

O novo longa de Park Chan-Wook, No Other Choice é soberbo, e dará o que falar entre o grande publico. Por enquanto, o que digo é que o filme é definitivamente um  novo capitulo na vida desse cineasta, que já me parece que não precisa de ter de colocar uma musica de algum filme do De Palma para mostrar que ama ele, mas que já entende o que o cinema maneirista significa e o que dessas referencias devem ser utilizadas em seu longa.

Autor:


Meu nome é Rodolfo Luiz Vieira, tenho 17 anos e curso o terceiro ano do Ensino Médio. Produzo alguns curtas-metragens e escrevo textos sobre cinema. Meus filmes favoritos são: Em Ritmo de Fuga; La Haine; Eu Vos Saúdo, Maria e Pai e Filha.

quarta-feira, 9 de outubro de 2024

Anora - Trabalhadoras do Sexo podem sonhar?

Anora | Universal Pictures

O novo filme de Sean Baker conta a jornada de uma dançarina erótica chamada Anora, que prefere ser chamada de Ani, e se envolve de forma amorosa com um cliente um pouco mais jovem e que faz parte de uma família de magnatas russos. Porém a vida de Anora vira de cabeça para baixo quando aqueles que tomam conta do jovem russo descobrem que o mesmo casou com uma dançarina erótica(que chamam de prostituta e entre outras palavras menosprezando ela) e fazem de tudo para divorciar o casal recém casado. 

O filme em sua introdução não tenta colocar a protagonista como uma trabalhadora que sofre a todo tempo com o trabalho que tem e que demoniza o mundo da prostituição como muitos outros filmes norte americanos gostam de construir na maioria das narrativas audiovisuais, é simplesmente Anora fazendo seu trabalho e vivendo seu dia a dia como qualquer trabalhadora em seu cotidiano. Sean Baker sempre propôs fazer filmes onde foca mais na humanidade de seus personagens do que o quão o mundo exterior é capaz de fazer mal ao indivíduo. 

No caso desta obra, o desenrolar da narrativa é Anora não tentando manter um casamento pelo ponto financeiro com que estava, mas realmente por acreditar que alguém a amava mesmo trabalhando no mundo erótico. Sean Baker nos propõe isso na primeira parte do filme, e muda o cenário em um estalar de dedos. No momento em que os comparsas de Toro, o responsável pelo jovem russo, entram em sua casa e começam a buscar uma solução para o fim desse casamento, começa a construção atmosférica da fotografia com a ansiedade provocada pelos personagens, resultando em uma nova proposta ao espectador.

O espectador se quebra em perceber que talvez a jornada que Anora entrou pode resultar em algo muito mais complexo do que o proposto. Não é uma história de amor no final das contas, mas uma história de controle. Anora não tem controle sobre nada enquanto a história acontece, tudo é uma questão de dinheiro e poder para aqueles que estão à sua volta. E qualquer sinal de humanidade aparente dentro daquele mundo, Anora trata com desdém, vide o personagem Igor que facilita Anora mostrar essa faceta. 

O filme utiliza a falta de trilha sonora e a falta de cores na fotografia para ter um contato mais realistico com oque está acontecendo ali, mas não coloca o mesmo realismo nos diálogos, onde se concentra a maior carga de humor negro e caricato entre os personagens. Sean Baker falha em abordar o tema "estupro" nos diálogos, que tentam ser utilizados como uma piada, mas que na segunda vez proposta fica algo deslocado e sem necessidade. O humor aqui funciona mais pelo surrealismo de como as coisas acontecem do que como as coisas são faladas. 

A atriz Mikey Madison além de ter uma forte presença em tela, consegue ter um desenvolvimento maduro e bem executado ao longo da narrativa. Os atores Karren Karagulian, Vache Tovmasyan e Yuri Borisov conseguem ser os melhores elementos cômicos do filme com seu tempo em tela e fazendo plena com o desenvolvimento da protagonista até a conclusão da obra. Anora é o retrato de como o mundo vê e trata as mulheres que trabalham no mundo erótico, mas em nenhum momento as colocando como vítimas do mundo, e sim de poder viver uma vida normal sem as colocarem como só um entretenimento. A dura vida de mulheres que não são vistas como humanas. 

TEXTO DE ADRIANO JABBOUR.

Sombras no Deserto (2025) fica em cima do muro

  Sombras no Deserto (2025) | Imagem Filmes Crescer é um inferno: a passagem da infância à vida adulta é um ritual bastante natural e transf...