Mostrando postagens com marcador mexico. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador mexico. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 3 de outubro de 2024

Nazarín - A ingenuidade eclesiástica.

 

Nazarin | Películas Nacionales


Obra que gerou rebuliço entre a alta classe religiosa mundial, mas ironicamente não com discussões, ameaças e falsas acusações ao autor diretor Luís Buñuel, como ele já estava acostumado, mas por uma interpretação equivocada de que o filme teria sido sua tentativa de reconciliação com o tema. Engano esse pois talvez Nazarín tenha sido o trabalho mais crítico à religiosidade que o diretor espanhol já tenha feito, mas dessa vez de forma discreta.

O filme recebeu o grande prêmio internacional de Cannes, que foi inaugurado especialmente em decorrência da exibição desse filme. O texto é uma adaptação do romance homônimo escrito por Benito Pérez Galdós, com algumas adições de referências externas, como “Diálogo entre um padre e um moribundo”, de Marquês de Sade – em uma cena específica, onde uma mulher doente à beira da morte, recusa Deus e chama por seu marido - mais inspirações vindas da própria mente política e adepta do movimento surrealista de Buñuel.

O filme nos introduz o protagonista, padre Nazário, interpretado por Francisco Rabal, como sendo um suposto símbolo de bondade e altruísmo. Ele mora em um albergue extremamente pobre, a ponto de seus vizinhos de porta serem incapazes até de cometer suicídio, pois as vigas de madeira das casas estão podres e se partem com a mais simples pressão, momento que nos lembra também que nenhum filme de Buñuel fica sem um ou dois momentos de humor ácido, característica recorrente de suas obras. 

A trama avança quando uma de suas vizinhas, uma prostituta, comete assassinato e pede santuário para o padre, que, é claro, a acolhe. As autoridades passam a procurá-lo e ele é forçado a partir em uma peregrinação, onde perde cada vez mais, tanto seus poucos bens, pois os dá a quem precisa, quanto sua própria moral. O encontram e passam e segui-lo duas ex-moradoras do mesmo albergue, a própria assassina que causou seu exílio, e a moça depressiva que tentou o suicídio. Quanto mais tempo elas passam com ele, mais se tornam religiosas, supersticiosas e devotas a Nazário, que por sua vez, mesmo sendo um clérigo, tenta as convencer de que a fé delas é tolice.

Em contraponto com suas seguidoras, as autoridades e figuras clericais que encontra pelo caminho o perseguem, criticam e lincham, criando assim um microcosmo da história do próprio Jesus Cristo, motivo esse, talvez, que fez a elite eclesiástica acreditar que o filme fora feito para eles, quando na verdade Buñuel retrata a essa mesma elite como hipócrita, duvidando até da legitimidade dos valores religiosos da missão pessoal de Nazário. 

Não só humilhado por seus iguais, o padre também é afastado pelos desfavorecidos que encontra, sejam trabalhadores do campo ou aldeões doentes, que ironicamente se apresentam como pessoas crentes e devotas, onde apesar de serem adeptas a dogmas que pregam os cuidados entre uns aos outros, suspeitam das intenções por trás das ações de Nazário, que no decorrer de tanta hipocrisia, passa a desacreditar gradualmente de sua própria moral, elemento transmitido não de maneira mastigada pelo texto em si, mas pela irrepreensível atuação de Rabal.

Buñuel termina seu filme com um ponto final, como um discurso incontestado. A obra final, claramente inspirada pela relação entre religiosidade cega e extrema pobreza, muito comum em países das Américas como o México, onde foi filmado, afirma que às vezes a mais cética das pessoas são capazes de compreender e praticar melhor os ensinamentos e valores defendidos pelo cristianismo, em oposição àqueles que se colocam dentro da sociedade como ícones dessa fé de humildade enquanto escalam a posições de soberba, hipócritas e ingênuos os suficiente para não reconhecerem nem uma alfinetada dada nos próprios olhos.


Autor:


Henrique Linhales, licenciado em Cinema pela Universidade da Beira Interior - Covilhã, Portugal. Diretor e Roteirista de 6 curta-metragens com seleções e premiações internacionais. Eterno pesquisador e amante do cinema.

Emilia Pérez - México necessita cantar

Emilia Pérez | Pathé

Emilia Pérez conta a jornada da advogada Rita, que é contratada para resolver os trâmites de uma cirurgia de mudança de sexo de um traficante conhecido no México. Porém, depois de quatro anos, a advogada Rita volta a se encontrar com a não mais traficante, com seu novo nome, Emilia Perez. Emilia pede a Rita para trazer de volta sua família, refugiada na Suécia, para todos viverem juntos no México de novo, mas as coisas não saem como planejado. 

A obra faz questão de mostrar o cenário conturbado de violência que México vive por conta do tráfico de drogas e pelas questões políticas logo na primeira sequência. Necessário apontar que o filme não se envergonha em se assumir um musical logo de cara, com Zoe Saldaña cantando e dançando coreografias bem dirigidas, mostrando sem delongas a insatisfação que a personagem tem sobre sua vida e sobre a situação a sua volta. 

A atuação das três personagens principais (Rita, Emilia Pérez e Jess) conseguem transmitir nas entrelinhas o caos interno que vive o México. A incerteza de como vai ser o futuro, a mentira tendo que existir para se ter paz, os homens como meros piões bobos de algo muito maior do que eles. A obra é fantasiosa como um musical, mas que grita verdades de um México ocultado por um cenário hipócrita e sujo. Mas, mesmo com ótimas atuações de suas protagonistas, e com um conjunto técnico que consegue dançar com todo o resto, o filme se tora bem sucedido por completo?

A direção faz questão em fazer coreografias muito bem conectadas pela condução das câmeras e pela montagem, oque faz o filme manter um ritmo ágil, mas não frenético. Mesmo com o quesito técnico sendo bem efetivo no que entrega ao filme e como se conecta a narrativa, a própria em certo momento não sabe como seguir em frente. Principalmente com a personagem Jess, interpretada pela Selena Gomez, que conduz os principais conflitos do filme, mas ao mesmo tempo faz a obra se perder no tom proposto até metade do filme.

Sem contar que a obra também sofre as consequências do tempo em que o cinema vive, onde tudo é necessário ter explicação em seus mínimos detalhes. Mesmo com ótimas coreografias e músicas compostas de forma madura, muitas das músicas servem apenas para enfatizar mais o óbvio do que é jogado na cara do espectador durante as duas horas de filme. Oque em certo momento começa a incomodar profundamente e a causar desinteresse pelo que acontece durante a narrativa para o espectador. 

Ao mesmo tempo que a obra mostra várias facetas de um México muito pouco falado, o seu discurso vai perdendo potência pela falta de confiança sobre a capacidade de entendimento do espectador e com um novo caminho de condução narrativa que faz a obra se distanciar quase por completo do que foi entregue até metade do filme. Mesmo a obra entregando protagonistas tão potentes, a direção faz com que o fim da jornada delas se torne pouco pra grandiosidade que elas eram em suas raízes na história. 

Emilia Pérez é um espetáculo musical que representa toda a América Latina, mas que tem um maestro que não está a altura de todos os músicos ali presentes. 

TEXTO DE ADRIANO JABBOUR.

Sting: Aranha Assassina - Quando o Terror Se Perde em Tentativas de Humor e Drama Familiar

Sting - Aranha Assassina | Diamond Filmes Em Sting - Aranha Assassina, uma noite fria e tempestuosa em Nova York, um objeto misterioso cai d...