Emilia Pérez | Pathé |
Emilia Pérez conta a jornada da advogada Rita, que é contratada para resolver os trâmites de uma cirurgia de mudança de sexo de um traficante conhecido no México. Porém, depois de quatro anos, a advogada Rita volta a se encontrar com a não mais traficante, com seu novo nome, Emilia Perez. Emilia pede a Rita para trazer de volta sua família, refugiada na Suécia, para todos viverem juntos no México de novo, mas as coisas não saem como planejado.
A obra faz questão de mostrar o cenário conturbado de violência que México vive por conta do tráfico de drogas e pelas questões políticas logo na primeira sequência. Necessário apontar que o filme não se envergonha em se assumir um musical logo de cara, com Zoe Saldaña cantando e dançando coreografias bem dirigidas, mostrando sem delongas a insatisfação que a personagem tem sobre sua vida e sobre a situação a sua volta.
A atuação das três personagens principais (Rita, Emilia Pérez e Jess) conseguem transmitir nas entrelinhas o caos interno que vive o México. A incerteza de como vai ser o futuro, a mentira tendo que existir para se ter paz, os homens como meros piões bobos de algo muito maior do que eles. A obra é fantasiosa como um musical, mas que grita verdades de um México ocultado por um cenário hipócrita e sujo. Mas, mesmo com ótimas atuações de suas protagonistas, e com um conjunto técnico que consegue dançar com todo o resto, o filme se tora bem sucedido por completo?
A direção faz questão em fazer coreografias muito bem conectadas pela condução das câmeras e pela montagem, oque faz o filme manter um ritmo ágil, mas não frenético. Mesmo com o quesito técnico sendo bem efetivo no que entrega ao filme e como se conecta a narrativa, a própria em certo momento não sabe como seguir em frente. Principalmente com a personagem Jess, interpretada pela Selena Gomez, que conduz os principais conflitos do filme, mas ao mesmo tempo faz a obra se perder no tom proposto até metade do filme.
Sem contar que a obra também sofre as consequências do tempo em que o cinema vive, onde tudo é necessário ter explicação em seus mínimos detalhes. Mesmo com ótimas coreografias e músicas compostas de forma madura, muitas das músicas servem apenas para enfatizar mais o óbvio do que é jogado na cara do espectador durante as duas horas de filme. Oque em certo momento começa a incomodar profundamente e a causar desinteresse pelo que acontece durante a narrativa para o espectador.
Ao mesmo tempo que a obra mostra várias facetas de um México muito pouco falado, o seu discurso vai perdendo potência pela falta de confiança sobre a capacidade de entendimento do espectador e com um novo caminho de condução narrativa que faz a obra se distanciar quase por completo do que foi entregue até metade do filme. Mesmo a obra entregando protagonistas tão potentes, a direção faz com que o fim da jornada delas se torne pouco pra grandiosidade que elas eram em suas raízes na história.Emilia Pérez é um espetáculo musical que representa toda a América Latina, mas que tem um maestro que não está a altura de todos os músicos ali presentes.
TEXTO DE ADRIANO JABBOUR.