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terça-feira, 26 de novembro de 2024

O Clube Das Mulheres de Negócios - Uma boa ideia, porém perdida.

O Clube das Mulheres de Negócios | Vitrine Filmes


O Clube das Mulheres de Negócios é ambientado em um mundo onde os estereótipos de gêneros são invertidos, portanto, mulheres ocupam posições de poder que normalmente são ocupados por homens, e homens cumprem os papeis de serem socialmente submissos.

A trama se desenvolve em um clube exclusivo, propondo uma reflexão sobre as questões de classe e gênero da sociedade brasileira, com mulheres ocupando posições de liderança. Essa inversão de papéis evoca Eu Não Sou Um Homem Fácil, filme francês que apresenta a história de Damien, um personagem machista que acorda em uma realidade onde os papéis de gênero estão invertidos, com as mulheres assumindo o domínio sobre os homens. 

Embora a ideia de mulheres em posições de poder não seja inédita, ela permanece intrigante e provoca uma reflexão pertinente sobre as dinâmicas de poder. No entanto, o filme falha ao misturar diversas subtramas de forma confusa e ao não saber claramente qual tonalidade deseja seguir. Ao alternar entre comédia, sátira, terror e suspense, a obra se perde na tentativa de abarcar múltiplos gêneros, prejudicando a coesão e enfraquecendo a mensagem que inicialmente parecia promissora. A falta de um foco claro torna a experiência desorientada, dissipando a crítica social e limitando seu impacto.

Na narrativa, a presença de onças atacando o clube é usada como uma metáfora potente para a opressão de gênero no Brasil. Esses animais surgem como agentes desestabilizadores, questionando um sistema elitista e mostrando a fragilidade de uma sociedade hierárquica. A natureza, em suas manifestações tanto humanas quanto selvagens, ganha centralidade, transcende as rivalidades da classe dominante e sublinha a violência latente nas estruturas de poder. No entanto, as cenas de ataques das onças, ao representar a força bruta da natureza, criam um desconforto que vai além do terror, refletindo a violência presente em qualquer sistema opressor. Esse contraste entre a brutalidade da natureza e a fragilidade humana adiciona um simbolismo poderoso, ao mesmo tempo que provoca uma reflexão sobre os mecanismos de controle e violência que moldam as relações sociais.

O filme apresenta cenas que, infelizmente, refletem realidades vividas em nosso cotidiano, ainda que invertendo os papéis tradicionais. Um exemplo disso é a sequência em que duas mulheres discutem de maneira estereotipada sobre o órgão sexual masculino. Contudo, a obra vai além da superfície e explora de forma complexa os estereótipos de gênero. Embora o diálogo inicial pareça reforçar a objetificação do corpo feminino, ele também estabelece uma analogia crítica à visão simplista e reducionista que muitos homens têm sobre o corpo das mulheres. A comparação sutil entre esses estereótipos de gênero não só questiona a forma como essas percepções são perpetuadas em narrativas e no comportamento cotidiano, mas também convida o público a refletir sobre a persistência de preconceitos e expectativas culturais. Ao abordar essas questões, oferece uma crítica social profunda, expondo as camadas de desigualdade ainda presentes nas dinâmicas de gênero.

O Clube das Mulheres de Negócios propõe uma premissa instigante ao inverter os papéis de gênero tradicionais, colocando as mulheres em posições de poder e os homens em uma posição de subordinação social. Embora essa inversão abra espaço para uma reflexão crítica sobre as dinâmicas de classe e gênero na sociedade brasileira, a obra peca por sua falta de coesão e clareza na condução da trama. A tentativa de transitar entre diferentes gêneros cinematográficos, acaba prejudicando o impacto da crítica social, deixando a narrativa desorientada e diluindo seu poder provocador. O comentário social embora presente, é diluída em uma estrutura narrativa que não soube aproveitar a complexidade de suas ideias.

Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator em formação e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

Moana: Um Mar de Aventuras (2016) - Uma Heroína Moderna

Moana: Um Mar de Aventuras | Disney


Moana Waialiki é uma jovem corajosa, filha única do chefe de uma tribo na Oceania, vinda de uma longa linhagem de navegadores. Quando os pescadores de sua ilha não conseguem pescar nenhum peixe e as colheitas falham, ela descobre que o semideus Maui causou a praga ao roubar o coração da deusa Te Fiti. Entusiasta das viagens marítimas, a jovem se vê querendo descobrir mais sobre seu passado e ajudar a comunidade, mesmo que a família queira proteger Moana a qualquer custo. Então, ela resolve partir em busca de seus ancestrais, habitantes de uma ilha mítica que ninguém sabe onde é. A única maneira de curar a ilha é persuadir Maui a devolver o coração de Te Fiti, então Moana parte em uma jornada épica pelo Pacífico. Moana começa sua jornada em mar aberto, onde enfrenta terríveis criaturas marinhas e descobre histórias do submundo. O filme é baseado em histórias da mitologia polinésia. 

A direção de John Musker e Ron Clements, responsáveis por clássicos da Disney como Hércules (1997), Aladdin (1992), A Pequena Sereia (1989) e Planeta do Tesouro (2002), mais uma vez se destaca pela maestria com que conseguem equilibrar elementos de fantasia e emoção. Com um histórico impecável de filmes que marcaram gerações, os diretores trazem novamente sua habilidade única de contar histórias envolventes, repletas de personagens carismáticos e enredos cativantes. Sua capacidade de inovar dentro da tradição dos filmes de animação da Disney, ao mesmo tempo em que preservam os valores clássicos, é o que torna sua filmografia tão especial. Assim, não é surpresa que consigam mais uma vez "tirar um coelho da cartola", trazendo à tona uma produção encantadora que conquista tanto jovens quanto adultos. 

Moana foi integrada à linha das Princesas Disney por possuir atributos que a marca associa a suas personagens principais, como coragem, independência, liderança e um profundo senso de responsabilidade, apesar de não ser uma princesa de sangue, como as figuras tradicionais (como Cinderela ou Aurora). Ela segue uma trajetória de autodescoberta e amadurecimento, um aspecto comum nas narrativas das princesas clássicas. 

Ao longo dos anos, a Disney tem ampliado o conceito de "princesa", deixando de ser exclusivamente uma personagem de linhagem real ou casamento. Exemplos disso são Mulan e Pocahontas, que, embora não fossem princesas por nascimento, foram incluídas na linha devido às suas qualidades e histórias inspiradoras. Moana é uma continuação dessa evolução, destacando-se como líder e heroína que exemplifica coragem, sabedoria e resiliência. Além disso, sua figura é de grande relevância para muitas culturas do Pacífico e simboliza uma importante conquista na representatividade. Sua inclusão na seleção das princesas Disney visa celebrar a diversidade, enriquecendo a linha com uma personagem que desempenha um papel essencial em sua comunidade. Embora Moana não se enquadre no estereótipo de princesa tradicional, ela foi escolhida para integrar esse grupo por encarnar os valores contemporâneos que a Disney busca promover, como liderança, autonomia e a importância de seguir o próprio caminho. 

Moana é uma jovem destemida e resoluta, cuja conexão profunda com seu povo e com o mar a define como uma figura de força e propósito. Sua jornada é motivada por uma necessidade urgente de restaurar o equilíbrio de sua ilha, o que a coloca diante de desafios imensos que exigem não apenas coragem, mas uma persistência infindável e uma capacidade de manter o coração aberto em face da adversidade. Em contraste, Maui, o semideus travesso e possuidor de grande poder, se apresenta inicialmente como uma figura carismática, mas egocêntrica e impulsiva. Seu comportamento, repleto de autossuficiência e humor irreverente, oculta uma profunda vulnerabilidade que se revela à medida que a trama se desenrola. A jornada de Maui é uma trajetória de autoconhecimento, onde ele aprende a valorizar os laços de amizade e a importância da colaboração. 

A dinâmica entre Moana e Maui é uma relação de aprendizado mútuo e transformação, onde ambos evoluem à medida que enfrentam obstáculos juntos. Moana, com sua inabalável determinação e generosidade, proporciona a Maui uma lição de humildade e a compreensão de que seu poder deve ser utilizado para fins maiores do que sua própria glória. Por sua vez, Maui, com sua vasta experiência e habilidades excepcionais, serve como um mentor para Moana, ajudando-a a desenvolver a autoconfiança necessária para superar os desafios que surgem em seu caminho. 

Essa parceria, marcada por uma crescente amizade e respeito mútuo, é central para o desenrolar da história. A interação entre os dois personagens não só resulta na restauração da harmonia no mundo, mas também contribui para o fortalecimento das suas respectivas identidades. A relação deles transcende a simples colaboração; ela simboliza o poder da transformação pessoal através da convivência e do esforço compartilhado. Em última análise, o vínculo entre Moana e Maui é uma celebração de coragem, crescimento e da necessidade de unir forças para alcançar objetivos comuns, demonstrando que, através da superação individual e coletiva, é possível alcançar algo maior. 

As musicas também não decepcionam, são um verdadeiro destaque da produção, com uma combinação impressionante de letras emocionantes e melodias cativantes que enriquecem a narrativa da história. A trilha sonora, composta por Lin-Manuel Miranda, Opetaia Foa'i e Mark Mancina, consegue transmitir a essência da cultura polinésia, ao mesmo tempo em que ressoa com um público global. Uma das canções mais memoráveis é "Saber Quem Sou". Com uma melodia grandiosa e uma letra introspectiva, ela reflete o desejo de Moana de explorar o mundo além dos limites conhecidos, de buscar o seu próprio caminho. A música se tornou um verdadeiro hino de independência e autodescoberta, algo com o qual muitas pessoas se identificam. 

"De Nada", é outro exemplo brilhante da trilha sonora, trazendo uma energia divertida e irreverente. Com seu ritmo contagiante e uma letra espirituosa, a canção de Maui, o semideus, é uma celebração do humor e da grandiosidade do personagem. A música tem uma qualidade única que, ao mesmo tempo em que brinca com a ideia de um herói, também reflete o carisma do próprio Maui, tornando-se uma das mais populares do filme. Além disso, a música "Pra ir Além", com sua fusão de sons tradicionais polinésios e uma melodia moderna, é uma das mais emocionantes. A letra transmite a conexão ancestral dos navegadores polinésios com o mar, e a execução impecável dos compositores e intérpretes a torna uma das faixas mais memoráveis da trilha sonora. Essa música, em particular, é uma linda homenagem à história de exploração e resistência dos povos do Pacífico. Em resumo, as músicas de Moana não apenas complementam a história, mas a tornam ainda mais vívida e emocionante. 

A técnica de animação utilizada em Moana combina inovações tecnológicas com a arte da animação tradicional, resultando em um visual vibrante e detalhado que se destaca tanto pela estética quanto pela complexidade. O movimento da água é notavelmente impressionante, com a Disney empregando um sistema denominado "Simulação de Fluido", um processo altamente complexo e meticuloso para reproduzir o movimento das ondas e o comportamento da água do oceano. 

Esse processo envolveu a aplicação de algoritmos avançados para simular o movimento das ondas, a interação da água com os personagens e objetos, além de criar reflexos e transparências de forma realista. A água em Moana não é apenas um elemento visual, mas assume o papel de um personagem por si só, sendo essencial à narrativa, particularmente nas cenas de navegação. As ondas e o movimento do mar são representações minuciosas que conferem um toque de realismo ao ambiente e proporcionam uma experiência imersiva no universo do filme. 

Moana combina uma narrativa emocionante de autodescoberta e coragem com uma trilha sonora memorável. A história de Moana e Maui destaca valores como liderança, amizade e transformação pessoal, enquanto a riqueza cultural e a beleza visual da produção encantam o público. A inclusão de Moana na linha das Princesas Disney celebra a diversidade e reflete a evolução do conceito de heroína na animação.

Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator em formação e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.


quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Eu, Capitão - Uma Jornada de Conflitos e Esperança

Eu, Capitão | Pandora Filmes


"De acordo com dados do ministério do interior da Itália, em 2023, mais de 78.000 pessoas chegaram ao país cruzando o Mediterrâneo a partir do norte da África desde o início do ano, mais do que o dobro durante o mesmo período em 2022. A maioria, 42.719, partiu da Tunísia, indicando que o país superou a Líbia como o principal ponto de partida para os migrantes.”

Essa é a dura realidade de diversos africanos que tentam, diariamente, migrar para o oeste europeu em busca de melhores condições de vida. E isso envolve diversas fatores, como: direitos humanos, diplomacia entre países, falta de subsistência, guerras e conflitos políticos, crise de refugiados, corrupção de organizações, entre outros.

Os protagonistas deste longa não estão tão distantes dessa realidade. O filme italiano conta a história da jornada de dois irmãos, Seydou e Moussa, interpretados pelos excelentes atores Seydou Sarr e Moustapha Fall, respectivamente. Seydou e Moussa são irmãos que vivem em Dakar, Senegal, e juntos partem em uma trajetória em busca de melhores oportunidades de vida. Assim como muitos emigrantes que procuram o famoso “sonho americano”, os protagonistas buscam o “sonho europeu”.

O filme, bastante premiado no ano passado, especialmente na categoria de direção para Matteo Garrone, mistura elementos de fantasia e lirismo com a dolorosa realidade de muitos refugiados. Embora, neste caso, os protagonistas não tenham uma necessidade urgente de deslocamento, já que buscam o sonho de uma vida melhor (principalmente Moussa, que sonha em ser cantor na Europa e quer que seu irmão o acompanhe), em determinado momento do filme, somos confrontados com a situação de crises humanitárias.

A história começa de forma sonhadora e otimista, fazendo-nos acreditar que os irmãos logo alcançarão seus objetivos. Esse otimismo é reforçado pela apresentação de personagens carismáticos e bastante íntegros. Porém, logo somos arrastados para a triste realidade destes protagonistas, que enfrentam inúmeras dificuldades ao tentar atravessar as fronteiras do continente africano.

A fantasia, neste filme, serve como um recurso que transmite solidariedade a um certo personagem. À medida que os irmãos enfrentam  grandes obstáculos e divergências, o mundo imaginário oferece uma sensação de esperança, além de nos permitir continuar acompanhando suas jornadas até o fim. Algumas cenas me lembraram o filme "Dublê de Anjo", que também utiliza dessa fantasia e o deserto como um personagem e, ao mesmo tempo, traz um mundo mágico como escape de uma realidade angustiante.

Os dois atores entregam performances extremamente genuínas e carismáticas. Foi uma grande surpresa para mim, especialmente ao descobrir que ambos estavam realizando seus primeiros papéis no cinema. As atuações deles são comoventes e geram uma grande empatia. Eu torcia por esses personagens a cada minuto do filme e, a cada revés que os mesmos enfrentavam, sentia uma aflição. Afinal, entendemos que esses mesmos obstáculos são enfrentados por muitos africanos diariamente.

"Eu, Capitão" é uma viagem ao desconhecido, mas ao mesmo tempo, familiar. O drama nos prende pela forte conexão com os protagonistas. A direção segue um tom intimista, especialmente no olhar do personagem Seydou. Os elementos mágicos do filme, com sua linda fotografia, acrescentam humanidade à narrativa. As cenas do deserto e das cidades, com planos amplos, proporcionam uma dimensão geográfica da trajetória.

O filme se torna essencial, pois precisamos refletir sobre esses temas e sobre o quanto as crises humanitárias podem ser cruéis. E os governos e a sociedade civil necessitam se mobilizar para discutir essas questões. Caso contrário, realidades como a jornada dos irmãos Seydou e Moussa podem se tornar apenas mais uma manchete de jornal, naturalizada e esquecida.

Autor:

Meu chamo Leonardo Veloso, sou formado em Administração, mas tenho paixão pelo cinema, a música e o audiovisual. Amante de filmes coming-of-age e distopias. Nas horas vagas sou tecladista. Me dedico à exploração de novas formas de expressão artística. Espero um dia transformar essa paixão em carreira, sempre buscando me aperfeiçoar em diferentes campos criativos.


terça-feira, 19 de novembro de 2024

Wicked - Uma adaptação envolvente, mas com um ritmo irregular e momentos de excesso.

Wicked | Universal Studios 


Baseado no musical homônimo da Broadway, Wicked é o prelúdio da famosa história de Dorothy e do Mágico de Oz, onde conhecemos a história não contada da Bruxa Boa e da Bruxa Má do Oeste. Na trama, Elphaba (Cynthia Erivo) é uma jovem do Reino de Oz, mas incompreendida por causa de sua pele verde incomum e por ainda não ter descoberto seu verdadeiro poder. Sua rotina é tranquila e pouco interessante, mas ao iniciar seus estudos na Universidade de Shiz, seu destino encontra Glinda (Ariana Grande), uma jovem popular e ambiciosa, nascida em berço de ouro, que só quer garantir seus privilégios e ainda não conhece sua verdadeira alma. As duas iniciam uma inesperada amizade; no entanto, suas diferenças, como o desejo de Glinda pela popularidade e poder, e a determinação de Elphaba em permanecer fiel a si mesma, entram no caminho, o que pode perpetuar no futuro de cada uma e em como as pessoas de Oz as enxergam.

Wicked é uma obra que teve sua origem no livro de Gregory Maguire, publicado em 1995, e foi adaptada para os palcos em 2003. Apresentando uma nova perspectiva sobre as bruxas do conto, o filme é a primeira parte da obra, adaptando o primeiro ato. Quem não conhece o musical pode assistir ao filme sem grandes dificuldades, desde que tenha alguma familiaridade com a obra original, pois o enredo se apoia nos eventos e personagens de O Mágico de Oz para dar contexto à trama. Embora eu não tenha assistido ao musical nem lido o livro que deu origem à peça, o filme consegue se sustentar por si só, permitindo uma experiência envolvente mesmo para quem não está totalmente familiarizado com as versões anteriores da história.

A relação entre Glinda e Elphaba em Wicked é marcada por uma amizade complexa e uma tensão ideológica constante. Inicialmente, as duas se veem como opostas: Elphaba, marginalizada e radical, desafia o status quo, enquanto Glinda, popular e conformista, representa os valores sociais dominantes. Com o tempo, no entanto, Glinda começa a admirar a coragem e os ideais de Elphaba, reconhecendo sua profundidade além da imagem da "bruxa má". Por sua vez, Elphaba passa a perceber a sinceridade e vulnerabilidade de Glinda, embora ainda mantenha suas próprias convicções. A amizade delas se fortalece à medida que compartilham experiências, mas a tensão ideológica persiste, desafiando a ideia de que uma amizade verdadeira requer a superação de diferenças. Wicked oferece uma visão crítica das relações humanas, mostrando que, apesar das divergências, é possível uma convivência genuína e que a complexidade das personagens vai além de um simples binarismo moral de "bem" e "mal".

A introdução é eficaz ao situar o espectador no universo familiar de O Mágico de Oz, um mundo no qual, aparentemente, a população da Terra de Oz vive em paz. Em seguida, somos transportados para um flashback que narra a trajetória de Elphaba desde seu nascimento até o momento em que conhece Glinda na Universidade Shiz. A maneira como a história nos introduz rapidamente ao universo conhecido é envolvente, e a construção da personagem de Elphaba se revela cativante, gerando uma forte empatia, especialmente em razão do preconceito que ela sofre na escola. 

Sua bondade se destaca em contraste com a postura de alguns membros da instituição, que se dedicam a zombar até mesmo dos professores, como no caso de um deles, que era uma cabra. No entanto, ao longo do desenrolar da trama, a narrativa acaba se tornando cada vez mais arrastada e excessivamente lenta. Um exemplo disso é a cena da festa, quando Elphaba chega ao local e, como esperado, é alvo de olhares preconceituosos e zombarias relacionadas à sua dança. Embora essa cena seja emocionalmente impactante, seu ritmo excessivamente moroso acaba prejudicando a fluidez da história. Após um longo período de espera, Glinda se aproxima e dança com Elphaba, um gesto que culmina na formação de uma amizade, mas que, devido à demora, diminui o impacto emocional que poderia ter sido mais imediato e eficaz.

A trilha sonora de Wicked, composta por Stephen Schwartz — também conhecido por seu trabalho em O Corcunda de Notre Dame (1996) e O Príncipe do Egito (1998) — é uma parte fundamental da obra, abordando temas como identidade, poder, amizade e resistência. As canções, que mesclam emoção e humor, são carregadas de significado. Entre os destaques, Defying Gravity se sobressai como um símbolo de libertação para Elphaba, enquanto Popular e What is This Feeling? apresentam um tom leve e cômico, evidenciando o contraste entre as protagonistas. I'm Not That Girl explora a solidão, a autocrítica e as consequências das escolhas de Elphaba. Já For Good, a música final, celebra a amizade entre as duas bruxas, refletindo o impacto mútuo em suas vidas. A trilha sonora equilibra perfeitamente momentos de intensidade e leveza, e suas canções desempenham um papel crucial no desenvolvimento das personagens e na evolução da trama, conectando o público a temas universais de aceitação e resistência.

Wicked reinterpreta a história das bruxas de Oz, destacando a complexidade da amizade entre Elphaba e Glinda, marcada por diferenças ideológicas e uma evolução emocional. A trama pode se arrastar em alguns momentos, mas a profundidade das personagens e a trilha sonora cativante garantem uma experiência envolvente. A obra reflete sobre identidade, preconceito e as nuances entre o bem e o mal, oferecendo uma nova perspectiva sobre a clássica história.

Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator em formação e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Gladiador 2 - Uma Trajetória Política além da Nostalgia

Gladiador 2 | Paramount Pictures


Gladiador 2 não foge de ser uma grande homenagem ao primeiro filme, com algumas pequenas referências, mas não o utiliza apenas como um afago nostálgico barato. Aqui o objetivo de Scott tem como foco mostrar uma jornada do mundo da Roma antiga, mas que converse com o tempo de seu lançamento e com uma nova geração que possa se interessar por aquele universo. A obra em nenhum momento foge de sua proposta que chega a ser bem próxima do primeiro filme, mostrando lutas com bastante sangue, bem coreografadas e agora utilizando muito mais o CGI. Importante enfatizar que mesmo com a utilização exacerbada dos efeitos especiais, não é algo que afete tanto a experiência visual, já que Scott dá espaço para a parte técnica na tela. 

Um dos pontos que o filme também tem à seu favor é o trabalho de elenco, onde todos conseguem ter espaço para atuar, ter um desenvolvimento de personagem sucinto e conseguem entregar atuações maduras e que casam com o espaço em que acontece a história. Enfatizo aqui o trabalho de Denzel Washington que faz o personagem mais articulado e tem como função ser um dos condutores de toda a narrativa acontecer como deve acontecer. 

Paul Mescal consegue ser um personagem principal que faz jus ao seu antecessor, Maximus, e consegue servir como uma nova forma de condução do discurso de Scott nesse filme. Enquanto a primeira obra segue Maximus em busca de vingança pela morte de seu filho e sua mulher, aqui Lucius toma outro caminho. Mesmo com o começo sendo um filme que parece querer seguir a mesma linha de motivação do protagonista anterior, aqui vemos uma condução completamente oposta. 

Enquanto a vingança era o pilar principal do primeiro filme, aqui o foco se encontra em uma busca de uma utopia que foi entregue à um garoto que se decepciona com a realidade. A corrupção continua, o entretenimento com a violência é maior do que nunca, doenças se alastrando, fome e a raiva do povo em crescente. Além dos dois imperadores antagonistas, Geta e Caracalla, que são o perfeito estereotipo de crianças mimadas governando um império, mostrando Scott zombando das figuras de poder que prevalecem até hoje. 

Lucius busca no início de sua jornada, vingança. Mas ao longo de sua jornada, o seu foco é a busca de uma Roma que tenha dignidade e que possa finalmente prevalecer em paz. Claro que não faz sentido tentar conectar esse filme com a realidade histórica, já que a proposta desde o primeiro filme é uma releitura fictícia de fatos históricos, mas é pertinente a forma que Scott faz um retrato digno de um cenário passado sendo bem atualizado depois de 24 anos.  

O filme em nenhum momento se esconde em prover um entretenimento pirotécnico com suas batalhas exageradas, assim como também não se esquiva em conduzir uma narrativa focada na condução política. A jornada do personagem Macrinus, de Denzel Washington, mostra como aqueles que são oprimidos por um império, podem fazer de tudo para que ele despenque. Sua trajetória se torna um dos pontos feitos com melhor exatidão comparado com os outros. 

Necessário apontar também o fato da direção condensar muitos pontos narrativos em momentos rápidos e acelerados de forma deslocada, principalmente na última meia-hora de filme e na relação de Lucius com a sua mãe, Lucilla(ainda sendo interpretada pela Connie Nielsen). A conclusão da obra também fica deslocada em comparação com toda a obra, sem contar a primeira motivação da trajetória de Lucius que se torna mal concluída e posta de lado. 

Gladiador 2 não chega a ser algo do mesmo nível de seu antecessor, mas consegue ser diferente de forma positiva. Sendo um entretenimento para os amantes do primeiro filme, tendo o exagero nas lutas e nos efeitos especiais e tendo ótimas atuações que conseguem ofuscar algumas das problemáticas do filme. 

TEXTO DE ADRIANO JABBOUR.

quarta-feira, 6 de novembro de 2024

Caracas - Um filme que Não Sabe Conduzir o Caos que Propõe

Caracas | Vision Distribution


"Caracas" conta a história do escritor Giordano Fontes que vive em uma crise existencial e cogitando largar a escrita para sempre, até o momento que sua história se esbarra com um árabe de extrema direta que passa por momentos complicados ao longo da vida e influencia Giordano a continuar a sua escrita. O longa e o segundo do diretor e também protagonista Marco D'Amore e é um dos selecionados no Festival de Cinema Italiano que acontece em São Paulo.

A obra tenta brincar bastante com a ideia do que é imaginação de Giordano sobre oque acontece à sua volta e sobre oque realmente é real naquelas circunstâncias. Algo que ao mesmo tempo entrega dinâmica à obra, faz ela muitas vezes parecer mais bagunçada do que realmente criativa. Além da falta de desenvolvimento dos personagens, que é um dos principais problemas da obra. Não se sabe o porque da melancolia de Giordano, e muito menos se tem uma noção se Caracas é um personagem real, ou apenas um encontro acidental que resultou em trazer de volta a "criatividade" de Giordano para escrever. 

A obra consegue mostra uma Nápoles perigosa e incerta sobre a vida daqueles que vivem ali, principalmente os imigrantes, que são os que mais sofrem com a desigualdade social e com a xenofobia. Mas mesmo mostrando uma faceta perigosa e caótica de Nápoles, o filme não consegue fazer o espectador ter proximidade com aqueles personagens entregue a nós. Caracas que passa por questões envolvendo crises de identidade e violência, acaba tendo uma conclusão preguiçosa da mesma forma que tentam concluir oque foi a ida para Nápoles para Giordano. 

No final, o filme propõe muitas temáticas interessantes e com vários caminhos criativos que acabam em lugar nenhum. Como sentir qualquer sentimento por personagens que você não sabe nada e que nem sabe se realmente são reais ou não? Até mesmo a relação de Caracas com Giordano é apressada de forma até amadora nos 40 minutos finais da obra. E quando a obra finaliza, fica o gostinho amargo de ter visto uma narrativa que se arrisca mas que acaba no mesmo lugar que começou. 

O que a direção tem para nos entregar além das loucuras de Nápoles? O autor encontrou um sentido para voltar a escrever ou não? Caracas existiu em algum momento? E se existiu, oque ele realmente é para Giordano? Seria Caracas uma resposta sobre a volta do fascismo na Itália? Seria Caracas uma reação ao aumento de imigrantes na Europa? Por que o personagem protagonista é um árabe refugiado que se identifica com Neonazistas(um grupo que odeia árabes também)? 

"Caracas" consegue mostrar a confusão de Giordano em uma Nápoles sem lei e em seu próprio caos dentro de seu quarto ou buscando sobre certo passado. Mas acaba sendo um filme que não consegue dizer nada e não consegue funcionar nem na sua criatividade para contar uma narrativa, nem para fazer o espectador ligar para alguma coisa que aconteça com os personagens.  

TEXTO DE ADRIANO JABBOUR.

terça-feira, 5 de novembro de 2024

O Voo do Anjo - Desconexão com Temas tão Sensíveis

 

O Voo do Anjo | California Filmes

"O Voo do Anjo", que estreou recentemente no Brasil, é uma obra que se propõe a abordar temas sensíveis como depressão e suicídio, mas que falha em sua execução, resultando em uma experiência que, em muitos momentos, se revela pouco orgânica e desconectada.

Um dos problemas mais evidentes do filme é o seu ritmo. As cenas parecem, muitas vezes cortadas e corridas, o que prejudica a fluidez da narrativa e impede o espectador de se envolver emocionalmente com os personagens. A falta de pausas nos diálogos… especialmente em um filme que demanda profundidade emocional, faz com que as falas soem apressadas e superficiais, deixando pouco espaço para a reflexão. Em momentos críticos, a intensidade emocional esperada se perde, tornando a experiência menos impactante.

Os personagens são retratados de maneira inconsistente. A figura da empregada, por exemplo, é apresentada de forma caricata. A interação inicial entre o personagem de Emilio Orciollo Neto e Orthon Bastos é particularmente problemática, pois a reação insensível do protagonista idoso ao ver o outro personagem que está à beira de uma tentativa de suicídio, gera insatisfação. A fala dele citando suas preocupações de forma egoísta dos problemas que ele teria com a polícia depois, caso o personagem deprimido cometesse o ato pela sua janela, em um momento tão delicado como esse, cria uma antipatia imediata, dificultando o apreço do público pelo seu arco no primeiro ato.

Embora os atores Othon Bastos e Emilio Orciollo Neto se esforcem para entregar performances consistentes, eles são prejudicados por uma direção que parece fria e desinteressada. A atuação da esposa do personagem de Emilio é bem insatisfatória, falhando em transmitir a complexidade que a narrativa exige de uma pessoa deprimida por conta da perca de um ente querido.

Além da depressão e suicídio, o filme toca em questões de etarismo, evidenciado pela dinâmica entre o filho e o personagem de Othon, que passa a maior parte do tempo sozinho em casa junto com a empregada, negligenciado pela família. Essa representação carece de profundidade e nuance, fazendo com que o espectador perceba uma falta de análise crítica sobre as relações familiares e a solidão.

O filme nos remete, de certa forma, ao longa francês "Sempre ao Seu Lado", pois ambos protagonistas lidam com relações dificieis e também tentam procurar algum conforto e confiança na companhia de cada um e, posteriormente, desenvolvem uma amizade, mas em "O Voo do Anjo", o filme falha em capturar a mesma essência emocional e empatia pelos personagens.

Em resumo, "O Voo do Anjo" é uma tentativa ambiciosa de abordar questões delicadas, mas que acaba se perdendo em sua execução. A falta de ritmo, o retrato superficial de personagens e a direção insensível contribuem para uma experiência cinematográfica que, ao invés de provocar reflexão, deixa o espectador com a sensação de desconexão. É uma pena, pois os temas abordados mereciam um tratamento mais cuidadoso e respeitoso.


Autor:

Meu chamo Leonardo Veloso, sou formado em Administração, mas tenho paixão pelo cinema, a música e o audiovisual. Amante de filmes coming-of-age e distopias. Nas horas vagas sou tecladista. Me dedico à exploração de novas formas de expressão artística. Espero um dia transformar essa paixão em carreira, sempre buscando me aperfeiçoar em diferentes campos criativos.


Nascida Para Você - A Luta de Luca pela Aceitação

Nascida para Você | Vision Distribution

"Nascida Para Você" é a história de Luca (Pierluigi Gigante) e Alba: um homem e uma menina que precisam desesperadamente um do outro, mesmo que o mundo ao seu redor ainda não esteja pronto para aceitá-los juntos. O tribunal de Nápoles está à procura de uma família para Alba, uma recém-nascida com síndrome de Down, abandonada no hospital. Luca, solteiro, homossexual e católico, sempre teve um forte desejo de paternidade e luta para obter a guarda de Alba. Quantas famílias "tradicionais" devem recusar antes que Luca possa ser considerado? Pode uma menina rejeitada pelo mundo se tornar a recompensa de uma vida?

O filme é fundamentado na história verídica de Luca Trapanese, cuja trajetória ganhou notoriedade nas mídias tradicionais e sociais na Itália. Em 2018, ele tornou-se o primeiro homem solteiro no país a receber autorização para adotar uma criança recém-nascida. A criança, Alba, que nasceu com síndrome de Down, foi abandonada logo após o parto, e seu nome foi atribuído pela enfermeira do berçário. O tribunal de menores de Nápoles convocou Luca para assumir a guarda temporária de Alba, permitindo que a recém-nascida deixasse o ambiente hospitalar e fosse acolhida em um lar até que uma família estivesse disposta a adotá-la. O filme não apenas narra uma história de amor e superação, mas também provoca reflexões profundas sobre inclusão, a luta contra preconceitos e a necessidade de uma mudança cultural que permita a todas as crianças, independentemente de suas condições, encontrarem um lar amoroso. 

Ao abordar as dificuldades enfrentadas por famílias não tradicionais e a importância de acolher a diversidade, a obra se torna um poderoso manifesto em defesa dos direitos das crianças e das novas configurações familiares. Além disso, a trajetória de Luca e Alba serve como inspiração, destacando que o amor pode se manifestar de maneiras inesperadas e que cada criança merece um lar repleto de carinho e apoio. O filme, assim, não só celebra essa relação singular, mas também incentiva o diálogo sobre as barreiras que ainda existem na sociedade, instigando uma reflexão sobre como todos podem contribuir para um mundo mais inclusivo e acolhedor.

O filme entrelaça temas relevantes como a diversidade LGBTQIAPN+ e a experiência de pessoas com síndrome de Down, explorando habilmente essas questões no enredo. Ele provoca reflexões profundas sobre o conceito de família e a forma como a sociedade interage com essas realidades, apresentando uma visão sensível e inclusiva que desafia estereótipos e promove a empatia.

O espectador desenvolve uma empatia significativa entre o protagonista Luca e sua filha adotiva, Alba. A relação entre esses dois personagens constitui o núcleo do filme, revelando os desafios inerentes à paternidade e à complexidade de enfrentar as barreiras impostas pelo sistema judicial. Essa dinâmica não apenas ilustra as dificuldades emocionais e sociais que cercam a adoção, mas também convida à reflexão sobre as limitações que a sociedade impõe a laços familiares não convencionais, ressaltando a necessidade de uma abordagem mais inclusiva e compreensiva por parte das instituições.

Nascida Para Você é mais do que uma simples narrativa sobre adoção; é um poderoso testemunho da luta por amor e aceitação em face de preconceitos arraigados. A trajetória de Luca e Alba não apenas toca o coração, mas também desafia o espectador a reconsiderar suas percepções sobre família, inclusão e a diversidade das experiências humanas. Ao destacar a jornada de um homem que se recusa a ser definido pelas normas sociais, provocando uma reflexão necessária sobre a capacidade da sociedade de acolher e celebrar laços familiares que fogem ao convencional. A obra é um convite à empatia e à mudança cultural, mostrando que, independentemente das circunstâncias, todo ser humano merece um lar cheio de amor e dignidade. Assim, o filme se estabelece como uma importante contribuição para o diálogo sobre inclusão e a redefinição do que significa ser uma família nos dias de hoje.

Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator em formação e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

segunda-feira, 4 de novembro de 2024

A Última Invocação - O ciúme corroi por dentro

A Última Invocação | Sato Company


Naoto Ihara (Daiki Shigeoka) vive feliz com a esposa Miyuki e o filho Haruto (Minato Shogaki). Porém, quando Miyuki morre em um acidente, Naoto fica inconsolável. Haruto, em negação, decide enterrar um dedo da mãe no jardim na esperança de que, rezando todos os dias, ela volte à vida.

O longa é uma adaptação do livro de Shimizu Karma que também foi um dos roteiristas do filme e a direção é assinada por Hideo Nakata, reconhecido por suas contribuições em Ring - O Chamado (1998) e Água Negra (2002), duas obras que se tornaram marcos do horror japonês e influenciaram significativamente o cinema de terror global. No entanto, nesta produção, Nakata não consegue atingir o mesmo impacto, resultando em um trabalho satisfatório, mas carente do brilho de seus projetos mais renomados. 

A narrativa não apenas retrata a história de uma família enlutada pela perda da esposa, mas também explora a trajetória da ex-colega de trabalho de Naoto Ihara, Hiroko Kurusawa, incluindo a dinâmica de ciúmes que Miyuki nutria em relação à sua colega. Após o falecimento de Miyuki, os personagens se reencontram após um longo período, e flashbacks revelam os detalhes de seu passado. O filme aborda temas relevantes como luto, relações familiares e ciúmes, proporcionando uma reflexão sobre as complexidades emocionais humanas.

O filme tenta criar uma atmosfera de tensão, mas essa tentativa resulta em um fracasso notável, deixando o público mais desapontado do que envolvido. A falta de habilidade em cultivar o suspense torna as cenas previsíveis e sem impacto, o que enfraquece a experiência geral e compromete a imersão na narrativa. Embora a figura do espirito possa ser visualmente assustadora, isso não é o suficiente para compensar a superficialidade do enredo.

Eu apreciei a personagem Hiroko Kurusawa e sua trajetória ao longo da narrativa; seu destino suscitou em mim grande preocupação. Embora seja possível argumentar que Naoto também desempenha um papel central, em determinado momento do filme, a perspectiva se transfere para Hiroko, que é profundamente impactada pelos eventos que ocorrem na casa da família enlutada. Essa mudança de foco permite uma exploração mais íntima das emoções e dilemas enfrentados por Hiroko, revelando suas vulnerabilidades e a profundidade de seu caráter. Assim, Hiroko se destaca como a verdadeira protagonista, guiando-nos por uma jornada emocional que ressoa muito além da história em si.

O filme, especialmente em seu final, sugere a possibilidade de uma continuação, mas essa escolha parece mais uma tentativa forçada de prolongar a história do que uma conclusão satisfatória. A ambiguidade deixada para o público não se revela intrigante, mas sim um indicativo da falta de resolução na trama, como se os criadores não tivessem confiança em encerrar a narrativa de forma coerente. Essa abordagem deixa uma sensação de frustração, já que a promessa de mais histórias parece servir apenas como um truque para manter o interesse, sem oferecer um fechamento adequado para os temas apresentados.

A Última Invocação é um filme que explora temas profundos como luto, relações interpessoais e ciúmes, mas falha em entregar uma experiência coesa e impactante. A direção de Hideo Nakata, embora reconhecida, não consegue recuperar a força que caracterizou suas obras mais famosas.

Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator em formação e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.



 








quarta-feira, 30 de outubro de 2024

Lispectorante – A salvação é pelo risco

Lispectorante | Aroma Filmes

 

Participante da Premiére Brasil do 26º Festival do Rio, Lispectorante conta a história de Glória, uma artista plástica desempregada que passa por um momento de crise existencial em sua vida, e se apoia nas obras de Clarice Lispector, assim como uma nova amizade e romance com o andarilho Guitar, como um mecanismo de fuga da sua nova realidade opressora e desinteressante.

A obra traz à tona um sentimento de retorno da ideia de cinema de atrações, onde o espetáculo e as conquistas criativas visuais são mais importantes e mais evidentes do que qualquer sentido de contexto e da história em si, percepção que se sustenta também pela escolha de grading que destaca o vermelho, azul e verde, primeiras cores do cinema e muito usadas como deslumbre visual na época.  A direção de Renata Pinheiro é ousada e criativa, onde ao retratar a imaginação da personagem Glória, não tem medo de criar ambientes fantásticos e usar recursos visuais de iluminação que não são vistos normalmente no cinema brasileiro, se destacando nesse sentido. 

Os pontos altos do filme são a interpretação de Marcélia Cartaxo, que entrega a personagem Glória com paixão e profundidade, se mostrando extremamente carismática e única, e as sequências de sonho protagonizadas por Grace Passô, alter-ego fictício interno de Glória, que ilustram ludicamente os eventos vividos por ela no decorrer de sua história, em um cenário de uma banca de jornal remanescente em um Brasil apocalíptico, que de acordo com relatos da própria diretora se inspira nos eventos e sentimentos trazidos pela pandemia global de Covid-19.

Porém os pontos altos não são capazes de se manterem de pé sozinhos, com um roteiro que mal explora as próprias possibilidades, e tenta contar diversas histórias ao mesmo tempo, sem nunca se preocupar em concluir nenhuma, quase como se existissem muitas ideias e objetivos que os autores queria trazer para o filme, mas não foram capazes de abrir mão de algumas delas em prol de uma boa e instigante narrativa.

Em determinado momento, Guitar, também muito bem interpretado por Pedro Wagner, diz que ele e seus amigos tinham uma banda chamada “Lispectorante”, na qual as letras de suas músicas eram apenas os textos de Clarice Lispector traduzidas para uma língua estrangeira, depois para outra, para então ser retraduzida para o português e ver que tipo de resultado tal brincadeira traria, resultando em um monte de palavras desconexas, mas que, de alguma forma, funcionava. Tal momento consegue metalinguisticamente descrever o resultado do filme em si, que funciona, contendo seu começo meio e fim, mas que ao tentar ser muitas coisas simultaneamente, acaba por não se definir de fato.

Sendo assim, Lispectorante acaba por ser uma experiência estética corajosa e uma jornada de autoconhecimento para a protagonista, mas, ao mesmo tempo, provoca no espectador uma ambiguidade narrativa incômoda. O filme é uma obra que se propõe a ser um mosaico de sensações e interpretações, arriscando-se ao abordar a complexidade da experiência humana. Embora sua trama dispersa e inconclusiva possa causar certa frustração, também pode ser vista como uma característica que aproxima o filme das reflexões que fazemos das obras que consumimos, e nesse caso encarar que vez ou outra não são necessárias respostas claras, pois o valor da obra está na experiência sensorial e no convite à introspecção, e é através desse risco que o filme em si tenta se salvar.

Autor:


Henrique Linhales, licenciado em Cinema pela Universidade da Beira Interior - Covilhã, Portugal. Diretor e Roteirista de 6 curta-metragens com seleções e premiações internacionais. Eterno pesquisador e amante do cinema.

segunda-feira, 28 de outubro de 2024

Terrifier 3 - Espectador como uma Simples Sanguessuga

Terrifier 3 | Cineverse

Terrifier 3 não tenta se reinventar em comparação com seus dois filmes anteriores, oque pode ter um lado bom e um lado não tão bom assim. Por conta de que para quem está indo pelo entretenimento proposto pela violência, vai apreciar o filme do mesmo jeito que os dois filmes anteriores. Mas, esse filme não tem tanta violência gráfica comparado com o segundo que tem cenas mais brutais graficamente. Mas mesmo que a obra carregue a violência que propõe desde o início, isso o torna satisfatório?

A obra tenta desenvolver uma história para uma final girl que tem carisma e tem um desenvolvimento básico, mas a obra em si não se sustenta com oque tem. Para aqueles que buscam o entretenimento na violência, o filme acaba caindo na mesmice dos outros dois filmes, mas com uma direção mais decidida a elaborar o lado cômico do Art o Palhaço. Lado cômico que é um dos pontos que fazem o filme ter algum diferencial dos outros dois. 

Mas o filme é basicamente uma resposta ao público que está lotando as salas de cinema para assistir essa continuação. O diretor não tenta se arriscar em sua proposta pelo fato de que já se tem a resposta do público de estarem interessados em mortes mirabolantes, e nada além disso. Algo que poucos vão se incomodar caso a violência não for o entretenimento  favorito do mesmo. 

Quando me retirei da sessão, observei muitos colegas de imprensa dizendo coisas como "O que faz uma pessoa pagar um ingresso para assistir só isso? Só violência." mas, com todo respeito aos queridos leitores: O que faz uma pessoa pagar ingresso para ver uma sequência de filmes de carros que voam? O que faz os espectadores pagarem mais e mais ingressos de um multiversos de super heróis (sem contar que a maioria dos filmes são de medíocres para pior)? Não seria algo plausível pessoas ficarem entretidas com um palhaço sádico sem uma linha de diálogo?

Acredito que a saga Terrifier é uma resposta justa aos novos espectadores, onde se vive uma geração que não vê mais interesse em cenas de sexo em séries e filmes, mas assistir um casal sendo cortado em vários pedaços é algo cômico. Não que oque eu digo seja uma novidade, ao longo da história da raça humana sempre houve registros de uma ligação forte entre a perversidade com o entretenimento e o divertimento banal humano. 

Mesmo o filme sendo uma jornada de salvação e recuperação da personagem Sienna Shaw, ela é só um pano de fundo para ter um porque do palhaço fazer tudo oque faz. O filme ainda tenta colocar elementos do terror sobrenatural para ter uma razão desse ser não morrer. Oque serve como um utensílio de alívio para o espectador que está interessado no que ele é capaz de fazer com o outro. Pois é isso que significa Terrifier, não é uma narrativa envolvente, não são plots inimagináveis, nem personagens marcantes. É puramente o desejo do espectador em apreciar e desafiar o diretor em "me mostre a violência que você sabe fazer de melhor." e o diretor acata. 

O espectador para a direção está em primeiro lugar, e o diretor não está interessado em desafiá-los ou questioná-los. Terrifier consegue mostrar a perfeita representação da indústria cinematográfica atual. Se o público quer ver isso, para que mudar oque está dando certo? Não existe uma aventura, nem mesmo uma causa de inquietude pós sessão, é uma piada idiota. Mas é uma piada idiota que dá dinheiro. Logo, Terrifier em sua essência funciona, em mostrar de forma direta que o espectador é só um ser sedento por sangue e que consegue encontrar algo prazeroso em cada morte que aparece. 

 TEXTO DE ADRIANO JABBOUR.

segunda-feira, 21 de outubro de 2024

Serra das Almas - Filme Brasileiro que sonha em ser Hollywoodiano

Serra das Almas | Carnaval Filmes

Serra das Almas conta a história de duas jornalistas que se envolvem em um esquema de venda ilegal de pedras preciosas e acabam sendo raptadas por um grupo de bandidos. Esse grupo decide se refugiar na casa de um amigo de infância, prende as jornalistas em um dos quartos e planejam como vão sair da situação que se encontram. O filme tem a direção de Liro Ferreira e teve estreia mundial no Festival do Rio de 2024.

É preciso apontar como o filme trabalha a sua estrutura narrativa e como acontece o desenvolvimento de cada um dos personagens, pois é um filme que carrega uma forte problemática em sua execução. Mas, que problemática seria essa? O filme tenta se provar a todo momento que o Brasil pode fazer filmes como Hollywood. A montagem paralela mostrando um cenário calmo com uma van correndo loucamente ao som de Rock n'Roll, personagens que sonham em serem deputados nos EUA, bandido perdendo a cabeça e virando um palhaço no caos. 

Tudo que escrevo realmente acontece no filme, e é deprimente. Não que adotar influências do cinema norte-americano seja um problema, é um cinema riquíssimo, mas uma obra brasileira que tenta mostrara todo tempo que pode ser um filme hollywoodiano faz parecer que a própria direção e o roteiristas queriam fazer algo que desvinculasse completamente da estética e do próprio cinema brasileiro. Até mesmo na montagem e na edição do filme mostra uma falta de identidade no fim das contas. 

Mas, a obra consegue ser bem sucedida quando se trata no quesito técnico. Liro faz questão de fazer uma obra carregada de violência, sangue e até mesmo nos movimentos de câmera. O filme consegue pegar a atenção do espectador por conta da criação atmosférica de que tudo aquilo que está acontecendo é uma bomba pronta para explodir. Oque funciona até certo ponto, mas que vai se atrapalhando por escolhas narrativas paralelas de cada um dos personagens. 

A forma que a direção trabalha o simbolismo das vacas nas serras e como a câmera captura todo o ambiente como se fosse um lugar abandonado por Deus torna a experiência mais inquietante em conjunto com as cenas que envolvem mais tensão entre os personagens. Mesmo a trilha sonora invadindo várias cenas, o filme ainda pode ser contemplado por sua produção e pelo conjunto técnico da obra. Além de certas pitadas de humor e de tensão que funcionam, mas e momentos muito pontuais. 

Todos os personagens tem um trabalho de atuação acima da média, sendo os momentos que eles mais se atrapalham tem como problema a forma de condução do roteiro. Mesmo com a forma que a direção tenta se provar ter uma identidade norte americana a todo custo e com um roteiro que não se contenta com a simplicidade, o filme ainda tem algumas sequências que fazem a obra ser um filme de ação sustentável. Porém, pouco notável. 

TEXTO DE ADRIANO JABBOUR.

segunda-feira, 14 de outubro de 2024

Inverno em Paris - Luto e Autodescoberta

Inverno em Paris | Pandora Filmes

Lucas, de 17 anos, está no último ano de internato quando a morte súbita de seu pai destrói tudo o que ele tinha como garantido. Cheio de raiva e desespero, ele visita seu irmão mais velho em Paris para buscar consolo na nova cidade.

O luto se torna um elemento central na jornada emocional de Lucas, um adolescente cuja vida se desestabiliza após a morte súbita de seu pai. Essa tragédia não apenas desencadeia uma crise, mas também reflete as expectativas sociais e familiares sobre o que significa o luto, evidenciando a pressão que os jovens enfrentam para se conformar a normas de comportamento em momentos de dor. Em busca de apoio, Lucas viaja para Paris, onde seu irmão mais velho vive, numa escolha que revela tanto sua vulnerabilidade quanto sua busca por autonomia.

A viagem, embora possa ser vista como uma fuga, se transforma em uma complexa jornada de autodescoberta, enquanto lida com sentimentos de raiva e desespero. A morte do pai catalisa sua crise, ressaltando a profundidade e a complexidade do luto e suas diversas dimensões. O diretor Christophe Honoré, ao explorar a fragilidade de Lucas, provoca uma reflexão sobre a forma como a sociedade lida com a dor e o amadurecimento.

Através dos olhos de Lucas, somos confrontados com as expectativas distorcidas sobre a masculinidade e a pressão para ocultar vulnerabilidades. Assim, Lucas não enfrenta apenas a dor da perda, mas também os desafios de se encontrar em meio a emoções conflitantes, revelando a necessidade de um espaço seguro para o luto, que muitas vezes é negado aos jovens. O filme, portanto, se torna uma crítica à maneira como lidamos com o sofrimento, questionando as normas que muitas vezes silenciaram a expressão emocional genuína.

O ambiente parisiense, frequentemente romantizado como um espaço de liberdade e reinvenção, é apresentado de forma contida no filme. Embora a trama faça referências a vários locais icônicos, a maior parte da narrativa se desenrola em ambientes mais fechados, como o internato em outra cidade, a casa da família no interior e o apartamento do irmão. Essa escolha visual ressalta o crescimento pessoal de Lucas, já que, mesmo em meio a diálogos que mencionam lugares para visitar, o foco permanece em sua jornada interna. Assim, o que poderia ser um pano de fundo vibrante de Paris se transforma em uma representação mais íntima das lutas e descobertas do protagonista.


O filme é fundamentado em uma narrativa em primeira pessoa intermitente do próprio Lucas, que se apresenta ocasionalmente em um formato de entrevista contra um fundo preto. Essa escolha estilística funciona como um relato que não é completamente confiável em relação às suas próprias emoções, o que levanta questões sobre a autenticidade de sua experiência. Essa instabilidade na voz narrativa pode ser vista como uma reflexão sobre a complexidade do luto e a dificuldade de processar sentimentos profundos, mas também pode gerar uma distância emocional do espectador. Ao tornar Lucas um testemunho volátil de suas próprias vivências, o filme corre o risco de diluir a conexão empática que poderia ser estabelecida, deixando o público a questionar a veracidade de sua dor e, por extensão, a profundidade do tema que tenta explorar.


Inverno em Paris se destaca como uma exploração sensível e complexa do luto e da jornada de autodescoberta de um adolescente em meio à dor. A narrativa intermitente e a apresentação contida dos cenários parisienses ressaltam a luta interna de Lucas, evidenciando como as pressões sociais moldam a experiência do sofrimento. Assim, o filme não apenas retrata a dor da perda, mas também questiona a forma como a sociedade aborda o sofrimento, configurando-se como uma crítica contundente à repressão emocional que frequentemente acompanha a adolescência. Essa obra nos convida a refletir sobre a importância de acolher e validar as emoções dos jovens, promovendo um espaço de compreensão e apoio em momentos de vulnerabilidade.


Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator em formação e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

terça-feira, 1 de outubro de 2024

Coringa: Delírio a Dois - O Palhaço se afogando em sua própria loucura

Coringa: Delírio a Dois | WarnerBros. Pictures


Coringa: Delírio a Dois é a continuação do primeiro filme, lançado em 2019, contando a história de Arthur Fleck. Um comediante frustrado e que passou por uma sequência de abusos psicológicos e sexuais por sua mãe e ex companheiros, até o momento em que ele perde a cabeça e se transforma no símbolo do caos da cidade de Gotham. No segundo filme, conta a continuação de sua história 2 anos depois dos acontecimentos, tendo agora a personagem Lee, interpretada por Lady Gaga, que se torna sua parceira em suas loucuras enquanto acontece seu julgamento. 

O filme não tenta se distanciar esteticamente do primeiro filme, mesmo com as cenas musicais, a direção não tenta se desvincular completamente do que foi proposto na primeira obra. É necessário confirmar que o filme é realmente um musical, e essa escolha de narrativa em certos momentos faz certas conexões plausíveis a ver com o protagonista e todo seu contexto envolta. Porém, o filme se perde bastante em tentar desenvolver o protagonista que já conhecemos do primeiro filme.

Enquanto o primeiro filme faz uma conexão direta à clássicos como "Taxi Driver" e "O Rei da Comédia", ambos do diretor Martin Scorsese, o segundo continua com essa conexão no sentido estético, mas também se baseia no cinema americano musical dos anos 50 e 60, misturando com drama de tribunal. O resultado é como se Todd Phillips estivesse tentando se provar como um bom diretor em todas essas linguagens. Mas o espectador não está interessado em saber do que o diretor é capaz, e sim sobre oque vai ser do palhaço que começou o caos pulsante em Gotham. 

Joaquin Phoenix continua mostrando um bom trabalho, mas fica parado no mesmo Arthur Fleck do primeiro filme, seu desenvolvimento aqui se mostra pífio e sem caminhar para lugar algum. Enquanto Lee, interpretada pela Lady Gaga, é um dos pontos mais chamativos do filme. Não só pelo seu talento como cantora, mas sendo uma Arlequina diferente da proposta de ser uma figura como a das antigas animações e história em quadrinhos que mostram ela completamente obcecada e escrava do Coringa. Temos uma figura aqui tão caótica quanto o próprio Arthur Fleck e os outros coringas já mostrados em outros filmes. 

O filme tem muito menos violência do que o primeiro, pois Todd Phillips faz questão em mostrar que está mais interessado em dirigir os pensamentos do Coringa do que realmente acontece envolta dele. E a trilha sonora consegue se manter da mesma qualidade do primeiro filme, fazendo o espectador desejar muito mais ouvir a trilha de Hildur Guonadóttir do que os musicais propostos ao longo da narrativa. 

É necessário apontar o quão o primeiro filme faz críticas árduas sobre a falta de estrutura e investimento nas áreas ligadas à saúde mental nas grandes metrópoles, e como o segundo filme deixa isso completamente de lado. A potência do primeiro filme também era a de mostrar como o submundo dos Estados Unidos pode ser uma imensa fábrica de caos que se mantém quieta até um mártir aparecer. O segundo filme elabora isso apenas em seus últimos minutos, e de forma completamente desinteressada pela direção executada.  

Coringa: Delírio a Dois é uma continuação que se perde na própria loucura de Arthur Fleck, onde poderia ter adicionado muito mais camadas à história do rei do caos de Gotham, mas acaba sendo uma obra que não complementa oque foi apresentado no primeiro filme e coloca nosso protagonista de escanteio de uma forma amadora e desleixada. 

TEXTO DE ADRIANO JABBOUR.

Sting: Aranha Assassina - Quando o Terror Se Perde em Tentativas de Humor e Drama Familiar

Sting - Aranha Assassina | Diamond Filmes Em Sting - Aranha Assassina, uma noite fria e tempestuosa em Nova York, um objeto misterioso cai d...