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quinta-feira, 20 de novembro de 2025

Sombras no Deserto (2025) fica em cima do muro

 

Sombras no Deserto (2025) | Imagem Filmes


Crescer é um inferno: a passagem da infância à vida adulta é um ritual bastante natural e transformador, a pessoa que você era antes deixa de existir e começa a ficar exposta as mudanças interiores e exteriores que todes sofrem com este amadurecimento. É como uma troca de pele, seu corpo muda, suas percepções e crenças também... A reação é assustadora. No entanto, ao retratar esse momento específico da vida de uma figura mitológica/religiosa pode abrir espaço para debates e (não como me importasse muito) controvérsias.

Em Sombras no Deserto (The Carpenter's Son, no original, 2025) retrata a adolescência da figura de Jesus Cristo dentro de um gênero cinematográfico inusitado para esse tipo de estória ligado a tradição eclesiástica: o terror. O filme é dirigido por Lotfy Nathan e tem o dedo de Nicolas Cage na produção, que também interpreta José de Nazaré, o pai adotivo de Jesus. Enquanto o título nacional tem um nome genérico, o original explicita sua relação com a teologia.

Quando este projeto foi anunciado muitas pessoas ficaram ou com uma curiosidade mórbida ou completamente ultrajadas por alguém adaptar a vida de um símbolo cristão em filme de terror; afinal, para um crente, a ideia de retratá-lo de uma "forma negativa" seria uma blasfêmia. E até semanas antes do lançamento o projeto está sofrendo com um boicote online em portais e agregadores de cinema (uma semana antes do lançamento oficial, no IMDB, a nota está em 3.5). 

Como um bom agnóstico/ateu que este crítico é, me enquadro no primeiro grupo; pois é muito raro ver este tipo de abordagem sendo feita, porém, como não é muito comum, as chances do longa ser um desastre incompreensível são altas. De fato, Nathan se baseia em textos apócrifos, que não fazem parte do cânone do cristianismo, dando uma liberdade de contar algo, digamos, extraoficial, ou seja, indo em direção ao paródico, ao paralelo de tal cânone já consolidado.

Nathan não dá nomes aos seus personagens de cara, e, quando dá, utiliza os nomes em judaico, mas codifica as personagens mitológicas de forma que o público os identifique de cara: o Carpinteiro (Cage), a Esposa (FKA Twigs) e o Filho (Noah Jupe). José, Maria e Jesus. Simples assim. Não é preciso muitas explicações.

O longa começa com um prólogo que retrata o nascimento de Jesus no dia de Natal e a fuga de seus pais das tropas romanas. Depois, a narrativa corta para anos depois. O Carpinteiro e sua família são nômades, com medo de descobrirem a verdade sobre o Filho. Eles se instalam em uma vila egípcia, cujas as habilidades do patriarca da família são necessárias. Mas o Filho não é mais nenhuma criança e seus pais sentem um medo de que ele logo caia em tentações e atraia a presença de Satanás. O Carpinteiro é rude e ríspido em sua educação, alienando mais o filho do que o ajudando. Enquanto isso, o jovem é assolado por sonhos que preconizam sua morte.

A situação complica quando o Filho conhece uma Criança (Isla Jonhston) muito estranha e de estilo bastante andrógeno, talvez Satanás em pessoa ou não, que empurra Jesus para fora da faceta construída pelos pais e sim para o santo milagroso do qual seria conhecido: seja por curar leprosos ou exorcizar espíritos demoníacos em pessoas inocentes. Porém, isso pode, em contrapartida, acarretar em acusações de bruxaria e paganismo contra o jovem, já que a população local não sabe de seu verdadeiro destino. Causando, deste modo, aflição e medo no seio familiar.

Partindo de uma abordagem histórica, querendo ou não, o cinema bíblico está presente no cinema, desde a época dos filmes mudos, com os épicos de DeMille, por exemplo. Mas o que antes era visto como algo épico e luxuoso, hoje em dia virou em um gênero escabrosamente decadente que serve mais converter os espectadores ao cristianismo e reforçar as temáticas religiosas para o público protestante. O que era um subtexto, virou algo muito maior, mais aborrecido e pedante: uma obra planfetária para vender uma ideologia, flertando com um fascismo religioso. E talvez, esteja uma das controvérsias do filme. Ele foge desse roteiro. Ao retratar os poderes de Cristo como algo assustador e que causa pânico, automaticamente, o projeto rejeita o discurso engessado de produções recentes. Foge do estilo da Angel Studios e da Affirm Films que protestantes estadunidenses querem enfiar goela abaixo nos espectadores, junto de sua agenda. E nem chega a ter tons ofensivos a outras religiões como A Paixão de Gibson, em que há um subtexto antissemita.

Nathan abraça o caráter humanístico de Jesus, descrevendo-o como ele é: um ser divino, mas mortal, como qualquer ser humano. Tem muito como um referencial temático os trabalhos de Scorsese e (o saudoso) Pasolini, de certa forma. A narrativa de horror se desenvolve dentro da lógica do bildungsroman, com Cristo desconhecendo de seus poderes e do terror que isto possa causar na psique. Há um certo fascínio, quanto uma realização temerosa ao mesmo tempo. Cristo, influenciado pela Criança demoníaca, quer descobrir suas próprias tentações e poderes. Mas José, difícil e controlador, é o único obstáculo em seu caminho. 

Aqui não há só uma batalha entre o bem e o mal, mas também geracional, entre a fé e o desespero, o etéreo e a carne. Existe uma linha tênue entre a teologia e a psicanálise que é anunciada, mas nem sempre tem algo a dizer de inovador ou de perspicaz. Deste modo apresentando ideias interessantes, que parecem mais inteligentes e profundas do que elas são de verdade. Essa dicotomia entre bem e mal ou pai e filho é um dos dispositivos mais antigos do mundo. Existe uma gravidade nesta relação, dando um peso à narrativa; a figura bíblica da serpente como uma figuração do pecado, do mau caminho, da perdição, é recorrente, embora que seja repetitiva. O problema aqui é que a direção e a construção de mundo estão intrinsecamente ligadas a tradição mitológica e, mesmo brincando com seus signos, nem sempre consegue escapar da sensação de que a trama está "chovendo no molhado". 

Se em termos temáticos, o filme não acrescente nada de novo, apesar do gênero escolhido, também sofre com algumas decisões que afetam a estética da obra. Talvez o maior pecado do filme é pegar o trabalho do diretor de fotografia Simon Beaufils (de Anatomia de uma queda (2023) e Faca no coração (2018), um favorito meu, por exemplo), com seu trabalho de cores e texturas, para, provavelmente na pós, escurecer algumas cenas que prejudicam o trabalho de fotografia naturalista realizado aqui. Algumas cenas noturnas são demasiadamente escuras, sem a necessidade tal escolha, sem que haja uma sombra e luz para contrabalancear.

Nathan consegue dirigir o longa ao redor da figura de Cage, mesmo que este seja o único dentre os atores com um "sotaque europeu" no projeto, com certa competência que deixa o nível da trama com as batidas de desenvolvimento necessárias para seu desenvolvimento: não deixá-lo roubar a cena. O ator conhecido pelo seu estilo hiperbólico conseguiu dar, na última década, uma reviravolta na carreira ao embarcar em projetos que contemplassem seu estilo de performance e com realizadores que conseguiriam trabalhar em volta dessa figura na direção. Há momentos que vemos o Cage explosivo, no qual, por muitos anos, ele infamemente ficou conhecido; mas são bem espalhados, no mar de contenção e de naturalidade, e contribuem para o arco narrativo da narrativa e de sua personagem. 

Além disso, o diretor consegue com que haja um diálogo de cena entre Nic Cage e seus colegas, de modo que as interações não fiquem exageradas ou beirando ao território do camp. Por mais que o filme se venda na figura de Cage, o foco de toda trama é o desenvolvimento de Jesus que é está bem nas mãos de Noah Jupe, que consegue vender sua versão, esforçada até, de um Cristo infante, ainda ingênuo. Já FKA Twigs, que foi de Maria Madalena para Maria de Nazaré (quem entendeu a referência, entendeu), não está em uma posição vulnerável em cena, como foi o caso da versão de O Corvo do ano passado, no qual a diva do pop indie sofreu com uma péssima direção, prejudicando seu trabalho no projeto que foi severamente criticado na época; aqui ela consegue estar a par da cena. Porém, sua personagem é retratada de uma forma bastante passiva, quase tornando a sua presença um acessório narrativo, do que como parte integral da trama.

Em suma, Sombras no Deserto causa pela ideia, no campo do discurso, pela ousadia de um terror bíblico, como uma vertente dos filmes de terror religiosos, como Exorcista e Invocação do Mal, por exemplo. Mas o longa-metragem propõe uma transgressão de valores do qual não a assume, com um desenvolvimento temático, já feito no passado, que flerta com o genérico e o mediano. A balança entre naturalismo e a teologia está voltada ao espetáculo abrasivo que tenta ser "desconstruído", sem sê-lo. É uma mistura de um filme europeu pretencioso com um filme B. Talvez o pior pecado, se podemos chamá-lo assim, deste projeto seja uma ambivalência de valores transgressores e conservadores que fazem o filme pairar dentro de um limbo para agradar vários gostos e visões polarizadas de mundo. Em outras palavras, é uma obra que fica em cima do muro em um mar de mesmice autoral. Interessante, mas um pouco esquecível. Contudo, não merece esse hate episcopal.

Autor:
                                  

Eduardo Cardoso é natural do Rio de Janeiro, Cidade Maravilhosa. Cardoso é graduado em Letras pela Universidade Federal Fluminense e mestre em Estudos de Linguagem na mesma instituição, ao investigar a relação entre a tragédia clássica com a filmografia de Yorgos Lanthimos. Também é escritor, tradutor e realizador queer. Durante a pandemia, trabalhou no projeto pessoal de tradução poética intitulado "Traduzindo Poesia Vozes Queer", com divulgação nas minhas redes sociais. E dirigiu, em 2025, seu primeiro curta-metragem, intitulado "atopos". Além disso, é viciado no letterboxd. 


segunda-feira, 20 de outubro de 2025

The Mastermind (2025) é a balada de um himbo alienado

 

The Mastermind (2025) | MUBI, Imagem Filmes

Imagina o seguinte cenário: estamos no meio-oeste americano, nos anos 1970. O presidente é Richard Nixon e os Estados Unidos estão no meio da contracultura e da guerra do Vietnã. O clima é tensão e de crise no ar. Mas JB Mooney (Josh O'Connor) não poderia se importar menos com isso, afinal ele tem outras coisas em mente. 

JB era um promissor um aluno de artes visuais que desistiu da cadeira e agora ele trabalha mal ou bem como marceneiro. Ele mora em uma cidade de Massachusetts, é casado com Terri (Alana Haim), com quem tem dois adoráveis filhos, um deles, Tommy (Jasper Thompson), é muito ligado nele. Além disso, não tem uma boa relação com o pai (Bill Camp) que é um juiz e, eventualmente, recorre à mãe (Hope Davis) por um dinheiro extra. Apesar da esposa trabalhar como secretária, ele fica à deriva, largado entre trabalhos.

Em uma visita do museu de arte local, JB fica fascinado por uma série de pinturas abstratas de um artista ligado ao seu passado. E, ao perceber que a segurança da sala em que obras estão expostas é bem ineficaz, ele começa a maquinar um plano, um tanto ingênuo, de roubar estas pinturas do museu para revendê-las no mercado clandestino. Ele pega mais uma quantia com a mãe, monta um esquema e uma equipe bem precária, porém de mestre do crime, ele não tem nada. E o tiro pode sair pela culatra.

The Mastermind (2025), que acabou de passar no Festival do Rio e chega nos cinemas dia 16/10, é o novo filme da diretora Kelly Reichardt. Os filmes de Reichardt são contemplativos e que tomam um tempo antes da narrativa engrenar de fato (caso o espectador não estiver familiarizado com seu estilo), mas a sua construção de personagens é tão cativante que torna-se o principal fio condutor de suas narrativas. Ou seja, o estudo de personagem é o que sustenta suas obras. 

Existe uma certa ironia no título do longa, pois JB acha que tem o controle meticuloso de todo o esquema que arquiteta, mas fundo é ele quem está menos preparado. A performance magnífica de Josh O'Connor brilha com essa personagem passiva e ambiciosa, de expressão paciente e perdida. Reichardt desenvolve os desejos e as motivações da protagonista para cometer tal crime, mesmo não perdendo o tom cômico que impregna na obra. Se ele apresenta de forma "apolítica" no exterior, JB faz parte de uma geração perdida, alienada, que está na corda bamba; seus desejos são frustrados e encontra, no sentimento de rebelião moral, uma reinvenção própria. 

Comete o crime para se reconectar com quem ele havia sido antes, porém as pessoas mudam; e essa busca pela esta imagem passada é vã. Por mais que a personagem de O'Connor seja patética aos olhos do público, a direção consegue dar uma dimensão emocional que nos faz sentir empatia por ele, ao focar nos seus dilemas morais, como um retrato de uma "americana" decadente durante um período histórico turbulento. O american way of life é deprimente, e todo departamento de design de produção e de fotografia deixam isso aparente com muitos tons frios e terrosos. A vida quase sendo uma natureza morta. E trilha sonora de jazz é potente, os sons de Rob Mazurek dão uma vida ao filme que contrasta com seu visual pálido.

Além de O'Connor, o elenco está muito bem de forma geral. Alana Haim tem um performance bem contida, mas que consegue transparecer todas as inseguranças e sentimentos de sua personagem, principalmente relacionadas ao seu casamento. As crianças que fazem os filhos de JB, Sterling e Jasper Thompson, são carismáticos e uns amores em tela. Mas também gostaria de ressaltar a ponta de John Magaro e Gabby Hoffmann que fazem um casal de amigos de JB, com quem ele encontra durante sua fuga da polícia.

Reichardt cria aqui uma comédia de erros, que não deseja transformar sua protagonista em uma caricatura, mas como uma representação de uma geração alienada em meio a uma crise. Uma personagem que se reinventa, mas sem consertar os erros. A busca pela moral de um homem precipitado. A busca pelos fantasmas do passado em meio a um futuro incerto. Uma tentativa de homenagem a Louis Malle e Robert Bresson. Tem ironia, mas, debaixo de todo o frio, também há um coração.

*Esta crítica faz parte da cobertura do 27o Festival do Rio, realizado em 2025, visto em cabine de imprensa.

Autor:
                                  

Eduardo Cardoso é natural do Rio de Janeiro, Cidade Maravilhosa. Cardoso é graduado em Letras pela Universidade Federal Fluminense e mestre em Estudos de Linguagem na mesma instituição, ao investigar a relação entre a tragédia clássica com a filmografia de Yorgos Lanthimos. Também é escritor, tradutor e realizador queer. Durante a pandemia, trabalhou no projeto pessoal de tradução poética intitulado "Traduzindo Poesia Vozes Queer", com divulgação nas minhas redes sociais. E dirigiu, em 2025, seu primeiro curta-metragem, intitulado "atopos". Além disso, é viciado no letterboxd. 

terça-feira, 18 de março de 2025

Deu Preguiça! - Recomeços e Laços Familiares

Deu Preguiça! | Imagem Filmes

Em Deu Preguiça!, após uma tempestade devastadora que destrói sua casa, Laura, a preguiça mais veloz de sua comunidade, decide recomeçar sua vida na cidade grande. Junto de sua família excêntrica, ela se muda para a nova cidade em seu velho e enferrujado food truck, com a esperança de transformar seu negócio em um sucesso. A trama acompanha a jornada de Laura e seus entes queridos enquanto enfrentam os desafios de um novo começo. Ao tentar se estabelecer e conquistar clientes, eles descobrem que a verdadeira força reside na união familiar e na determinação para vencer as adversidades. A deliciosa comida preparada por Laura logo chama a atenção, mas, além de novos clientes, outros desafios surgem, colocando à prova a coragem da família. 

Deu Preguiça! faz parte da franquia “The Tales from Sanctuary City”, iniciada em 2020, esse sendo o quinto longa desse universo. Embora eu não tenha assistido aos filmes anteriores, o filme consegue funcionar de maneira independente, oferecendo uma experiência completa e acessível para quem está entrando no universo agora. A obra se sustenta por si mesma, sem a necessidade de um conhecimento prévio da franquia, o que é uma qualidade importante para atrair novos públicos. No entanto, para os fãs da série, é possível que alguns elementos e referências aos filmes anteriores enriqueçam ainda mais a narrativa.


A narrativa se concentra na relação entre Laura, a filha, e sua mãe, Gabriella, após a mudança para a cidade grande. Enquanto Laura quer aproveitar o tempo para brincar com seus amigos e viver novas experiências, ela se vê obrigada a priorizar as necessidades da família. Esse conflito entre suas vontades pessoais e as responsabilidades familiares é um dos principais temas do filme, ressaltando como, muitas vezes, os desafios do dia a dia exigem sacrifícios. A história, portanto, não só aborda as dificuldades de recomeçar, mas também a importância da união familiar e como os laços familiares podem influenciar nossas escolhas e perspectivas.

Em paralelo, a trama introduz Dotti, uma vilã ambiciosa e proprietária de uma rede de fast-food popular, que luta para manter sua relevância no mercado diante de inúmeros prejuízos e o fechamento de várias unidades. Desesperada para reverter sua situação, Dotti se depara com a família de preguiças, que, ao chegar na cidade, rapidamente conquista o público com sua comida deliciosa. Em um movimento de pura rivalidade e ganância, ela tenta roubar a receita secreta da família, que é transmitida de geração em geração. Embora a vilã se encaixe no estereótipo de empresária inescrupulosa em busca de sucesso a qualquer custo, sua presença no filme não chega a inovar o gênero. A dinâmica entre ela e a família de preguiças, embora eficaz para criar tensão, cai na previsibilidade de sua trama. O conflito entre o pequeno empreendedorismo e a grande corporação é um tema recorrente, e, embora seja relevante dentro do contexto da história, poderia ser explorado de maneira mais criativa, fugindo um pouco dos clichês típicos dessa disputa.

O filme transmite uma mensagem tocante sobre a importância de valorizar a família, mostrando como os laços familiares são essenciais para enfrentar dificuldades e alcançar objetivos. Embora o tema da união familiar seja bastante explorado, o longa consegue abordá-lo de forma genuína, sem cair em excessos melodramáticos. A trama destaca como o apoio mútuo e o trabalho conjunto podem ser a chave para superar desafios, o que ressoa de maneira positiva, especialmente em um contexto de recomeço. Mesmo sendo uma ideia recorrente, a forma como a história se desenrola, com momentos de cumplicidade e sacrifício, reforça de maneira eficaz essa mensagem, tocando no coração do público de maneira simples e verdadeira.

Deu Preguiça! é uma obra leve e divertida que, embora não se reinvente em todos os aspectos, consegue entregar uma experiência envolvente e positiva. A combinação de uma narrativa simples, com personagens carismáticos e uma mensagem sincera sobre a importância da união familiar, cria uma história que ressoa com o público, especialmente para aqueles em busca de uma produção com valores familiares.

Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator em formação e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

Blindado - Mais um entre tantos outros, no qual nem a presença do eterno Rocky Balboa faz surtir o efeito desejado: O de Empolgar

Blindado | Imagem Filmes

Qual será a anatomia de uma queda (sem fazer qualquer alusão ao filme de 2023, feito por Justine Triet)? Quebra de confiança, deslealdade, fraqueza etc., podem configurar um estado de derrocada. No caso cinematográfico, as peças que se juntam formam um fracasso que vai para além da ficção. Este é o caso de um astro, no caso, Sylvester Stallone, em uma obra, “Blindado” (2024), dirigido por Justin Routt, na qual traz à carreira desta estrela um ponto de curva bem duvidoso, sendo, então, capaz de ser um experimento em relação a como a criatura é capaz de enfraquecer seu criador. 

Aqui, temos James Broody (Jason Patric), um experiente agente policial que, junto ao seu filho, Casey (Josh Wiggins), também segurança, está em uma missão de transporte de uma carga importante entre um banco e outro. Entretanto, inseridos em um carro blindado, a finalidade torna-se um grande desafio por conta de uma gangue, liderada por Rook, personagem de Stallone, decidida a interceptar e roubar o conteúdo do veículo. Após uma intensa perseguição, o diálogo e os equipamentos bélicos ditam o rumo do longa-metragem. 

A situação, já nada favorável para Broody e Casey, se torna ainda mais emergencial quando ambos são encurralados pelo grupo de assaltantes em uma ponte - onde, teoricamente, a ação deveria iniciar. Daí para frente, as quase 1 hora e meia expõem um filme inconsistente e pouco desenvolvido em quesitos como roteiro, direção e ritmo. Nele, até o CGI não convence. A trilha sonora, por vezes country, só endossa algo perdido, fixando sua aventura em conversas artificiais entre “herois” e “vilões”, que buscam por uma tensão nunca encaminhada à produção. 

Deste modo, “Blindado” mira alto ao apresentar basicamente um único cenário com os mesmos atores do início ao fim, tentando apoiar-se na trama tal qual seu maior pilar de emoção. Entretanto, a obra não é sensível o suficiente para criar verdadeiros elos entre os protagonistas e os espectadores, sendo, assim, um vazio constante dentro de uma premissa ousada, mas pouco garantida. Stallone, o maior nome do elenco, parece não ter escapatória; um texto sem brilho é capaz de minar qualquer boa performance. Obtendo isso como norte, não é difícil entender os motivos pelos quais os demais atores, embora comprometidos, entregam um desempenho escasso de emotividade e novidade.


A direção de Routt, que deseja transmitir um sentimento similar a “Um Dia de Cão” (1975), filme também policial que possui poucos porém certeiros artifícios, que crescem conforme a trama avança; se perde em uma condução que manuseia sua base em um texto ralo e seu consequente desenrolar na história. Não existe tentativa de engabelar o público com efeitos visuais mirabolantes, somente demonstrar que a ação vendida na sinopse da obra procura ser obtida através de conexões fracas, que nem o paternalismo de Broody consegue elevar ao nível de convencer. 


Blindado” é mais um entre tantos outros, no qual nem a presença do eterno Rocky Balboa faz surtir o efeito desejado: o de empolgar. Além de um desenvolvimento previsível, a superficialidade do longa-metragem fala mais alto durante toda a sua duração. O que supostamente deveria instigar, não passa de uma faísca de uma boa ideia aqui e acolá, mas que, no final, se soma a qualquer coisa já vista antes. Deste modo, não há ação que sustente tantas derrapadas. 


Autora:


Lais Lima 

25 anos, formada em cinema, roteirista, crítica, videomaker e moradora do Rio de Janeiro, minha paixão pelo cinema transcende as telas. 
De “Guarda-Chuvas do Amor” até “Laranja Mecânica”, meu amor pela arte não se prende a nenhum gênero, mas sim ao que me toca. 
Também sou apaixonada pelos pormenores da vida, que se apresentam sem nenhum roteiro. 
Logo, imaginação não falta em mim. 
Sou de tudo um pouco, e procuro sempre expor minha versão mais democrática, que enfrenta a realidade com a maior criatividade possível.

segunda-feira, 9 de setembro de 2024

A Substância - Hollywood como uma Ouroboros Etarista

A Substância | Imagem Filmes

 Não é novidade a forma que Hollywood trata de forma desprezível as mulheres no meio audiovisual, principalmente as com mais idade. No caso de "A Substância" não só aborda o tema do etarimo dentro do audiovisual, como o método de cirurgias plásticas como uma forma louca de tentar se rejuvenescer de qualquer jeito, mesmo que custe sua vida. O filme tem um trabalho de edição que lembra bastante o estilo hiphop cut que Darren Aronofsky utiliza no filme "Requiem Para um Sonho" dos anos 2000. Muitos cortes rápidos e em close-ups em cenas envolvendo corpo e comida. Sem contar que a direção utiliza de muitos elementos vindos dos anos 80, remetendo até mesmo o body horror de David Cronenberg. 

É necessário apontar que o filme, mesmo tendo um trabalho técnico muito bom, principalmente no quesito maquiagem, é necessário deixarmos a técnica de lado e prestarmos atenção em sua narrativa e em seu discurso. A obra, mesmo com um discurso necessário para os dias atuais, é um filme que tem não apenas a exposição falada, mas a imagética. Por exemplo: Mesmo o filme sendo dirigido por uma mulher, Coralie Fargeat, o filme trata suas personagens femininas da forma mais hipersexualizada possível. Contendo um exagero no número de closes nas genitálias e as colocando nuas sempre que possível de forma que ao mesmo faz sentido, se torna cansativo, pois a obra se concentra em se provar como uma crítica social. 

O filme consegue ter uma boa utilização na metalinguagem trabalhando com as atrizes Demi Moore(que se encontra hoje com 61 anos e com uma carreira já consolidada como atriz) e a atriz Margaret Qualley(que é um dos novos talentos e rostos bonitos de Hollywood), mostrando a facilidade que Hollywood tem em substituir suas atrizes e seus sex symbols em um estalar de dedos. Sem contar que a atuação das duas conseguem se corresponder com a narrativa e a estética proposta. 

Dennis Quaid faz o papel mais estereotipado de dono de emissora machista e nojento que se pode imaginar, e Dennis parece se divertir bastante com isso ao longo da obra, até por conta do fim do filme ser uma boa resposta para oque ele diz à um sócio sentado ao seu lado na apresentação de fim de ano "-Vocês não vão se decepcionar com ela. Eu construí ela.". 

O fim do filme trabalha de forma completamente diferente de todo o resto da obra, adotando a linguagem de filmes de terror trash, sendo na resolução das personagens, como a violência entregue e o próprio trabalho de maquiagem. Uma mistura interessante de body horror com o trash, indo de "A Mosca" de David Cronenberg, até mesmo um pouco do cômico e louco de "Basket Case" de 1982. 

"A Substância" toma muitos caminhos com a utilização da técnica como principal aliada para o filme aterrorizar e entreter o espectador, mas a crítica expositiva em quase todo o filme e a desmedida do tom proposto do meio para o final da obra tornam o filme uma bagunça com várias problemáticas. Mesmo assim, consegue incomodar e ser louco em alguns momentos certeiros que fazem o filme ficar na sua cabeça por um bom tempo. 

TEXTO DE ADRIANO JABBOUR.

Sombras no Deserto (2025) fica em cima do muro

  Sombras no Deserto (2025) | Imagem Filmes Crescer é um inferno: a passagem da infância à vida adulta é um ritual bastante natural e transf...