terça-feira, 15 de outubro de 2024

Ainda não é Amanhã - "Se os Homens engravidassem, seria possível fazer aborto no Caixa Eletrônico."

Ainda não é Amanhã | Espreita Filmes

O primeiro longa metragem da diretora Milena Times conta a história de uma jovem estudante de direito que acaba engravidando acidentalmente. Janaína, nossa protagonista, está decidida em realizar um aborto, mas no Brasil é considerado crime, obrigando Janaína a fazer oque puder para acabar com essa gravidez. A atriz Mayara Santos recebeu o prêmio de melhor atriz no Festival do Rio 2024.

A obra começa sendo direta mostrando Janaína indo até a faculdade no ônibus, com uma mulher sentada à sua frente carregando o próprio filho. Simbolizando que Janaína já carrega um feto em seu ventre, mesmo sem ela perceber. E isso se conecta com a primeira sequência do filme onde Janaína e sue namorado vão ter um ato sexual e todo o caminho até o ato é moldado no "silêncio", que é o estado da personagem durante a narrativa. 

Quando Janaína descobre sua gravidez, o trabalho da atriz consegue fazer o espectador sentir a angústia que a mesma sofre ao longo do filme todo. Prevalece na atmosfera da obra um incômodo de aquele problema não ser resolvido de forma segura. Para a protagonista, não existe a opção clínica de aborto, até pelo fato de que ela faz parte de uma família com baixa renda, não sendo possível pagar uma clínica segura. 

E em torno desse tormento de Janaína em saber que está grávida, o resto de seus compromissos continuam acontecendo sem ela poder fazer nada e sendo atrapalhada pela pressão e pela a angústia da gravidez. Podendo trazer consequências à sua bolsa de estudos, sua monitoria e na relação com sua família, que não sabe que ela está grávida. 

O leitor pode se lembrar de um filme, de 2019, que conta uma narrativa parecida, o filme "Nunca, Raramente, às Vezes, Sempre" da diretora Eliza Hittman, mas aqui a obra acontece com uma menor necessidade de mostrar problemas em volta do mundo feminino ligados ao aborto. O principal foco narrativo é a tensão de uma adolescente conseguir fazer um aborto sem sua família perceber, e isso sendo em um cenário brasileiro, na cidade de Pernambuco. 

É uma obra que tenta mais se conecta ao realismo da situação do que colocar o sofrimento dessa situação em holofote. Não existe a ideia de colocar o sofrimento em um pedestal para se apreciar a obra de forma apelativa, mas uma tensão que certa parcela do povo sabe o quão difícil é ter que fazer um aborto em um país que não é permitido e que os métodos são dificílimos de conseguir. Diferente do outro filme citado que é um sintoma do cinema Norte Americano em necessitar construir uma atmosfera pessimista a toda volta da protagonista, aqui é o oposto. 

O filme não conta com tamanhas pirotecnias técnicas, mas consegue dar espaço para a personagem desenvolver sua angústia a cada momento que passa. É necessário dizer que o filme executa o tema com o tempo que realmente precisa, a direção não se perde em elaborar os outros personagens. Além da Mãe que consegue ser um dos pontos que faz a obra ser finalizada de forma consistente

Diferente do filme Kasa Branca de Luciano Vidigal, que também fez parte do Festival do Rio de 2024, o filme em nenhum momento utiliza o elemento de humor que é costumeiro do cinema brasileiro atual, nem mesmo nos diálogos. Existe um cansaço explícito em todos ali presentes, principalmente na Avó e na Mãe da protagonista. E esse peso aumenta quando a protagonista fala "quando eu ganhar meu dinheiro, você pode finalmente se aposentar, e viver da costura que é oque você gosta." e logo depois descobre sua gravidez. 

É quase como se a obra fosse um desabafo de um mundo onde não se tem tempo para sonhar, mas que concluí com uma resposta otimista de forma que não destoa de todo o tom proposto pelo filme. Ainda não é Amanhã segue uma linguagem quase hiper-realista sobre as dificuldades de ser uma mulher com uma gravidez indesejada no cenário brasileiro sem necessitar abranger a discussão para os outros demônios que fazem parte desse resultado final, mas que foca na angústia intrapessoal da protagonista que não sabe que caminho tomar e nem se terá o apoio de quem ela mais ama.  

TEXTO DE ADRIANO JABBOUR.

 

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