Gladiador 2 | Paramount Pictures |
Gladiador 2 não foge de ser uma grande homenagem ao primeiro filme, com algumas pequenas referências, mas não o utiliza apenas como um afago nostálgico barato. Aqui o objetivo de Scott tem como foco mostrar uma jornada do mundo da Roma antiga, mas que converse com o tempo de seu lançamento e com uma nova geração que possa se interessar por aquele universo. A obra em nenhum momento foge de sua proposta que chega a ser bem próxima do primeiro filme, mostrando lutas com bastante sangue, bem coreografadas e agora utilizando muito mais o CGI. Importante enfatizar que mesmo com a utilização exacerbada dos efeitos especiais, não é algo que afete tanto a experiência visual, já que Scott dá espaço para a parte técnica na tela.
Um dos pontos que o filme também tem à seu favor é o trabalho de elenco, onde todos conseguem ter espaço para atuar, ter um desenvolvimento de personagem sucinto e conseguem entregar atuações maduras e que casam com o espaço em que acontece a história. Enfatizo aqui o trabalho de Denzel Washington que faz o personagem mais articulado e tem como função ser um dos condutores de toda a narrativa acontecer como deve acontecer.
Paul Mescal consegue ser um personagem principal que faz jus ao seu antecessor, Maximus, e consegue servir como uma nova forma de condução do discurso de Scott nesse filme. Enquanto a primeira obra segue Maximus em busca de vingança pela morte de seu filho e sua mulher, aqui Lucius toma outro caminho. Mesmo com o começo sendo um filme que parece querer seguir a mesma linha de motivação do protagonista anterior, aqui vemos uma condução completamente oposta.
Enquanto a vingança era o pilar principal do primeiro filme, aqui o foco se encontra em uma busca de uma utopia que foi entregue à um garoto que se decepciona com a realidade. A corrupção continua, o entretenimento com a violência é maior do que nunca, doenças se alastrando, fome e a raiva do povo em crescente. Além dos dois imperadores antagonistas, Geta e Caracalla, que são o perfeito estereotipo de crianças mimadas governando um império, mostrando Scott zombando das figuras de poder que prevalecem até hoje.
Lucius busca no início de sua jornada, vingança. Mas ao longo de sua jornada, o seu foco é a busca de uma Roma que tenha dignidade e que possa finalmente prevalecer em paz. Claro que não faz sentido tentar conectar esse filme com a realidade histórica, já que a proposta desde o primeiro filme é uma releitura fictícia de fatos históricos, mas é pertinente a forma que Scott faz um retrato digno de um cenário passado sendo bem atualizado depois de 24 anos.
O filme em nenhum momento se esconde em prover um entretenimento pirotécnico com suas batalhas exageradas, assim como também não se esquiva em conduzir uma narrativa focada na condução política. A jornada do personagem Macrinus, de Denzel Washington, mostra como aqueles que são oprimidos por um império, podem fazer de tudo para que ele despenque. Sua trajetória se torna um dos pontos feitos com melhor exatidão comparado com os outros.
Necessário apontar também o fato da direção condensar muitos pontos narrativos em momentos rápidos e acelerados de forma deslocada, principalmente na última meia-hora de filme e na relação de Lucius com a sua mãe, Lucilla(ainda sendo interpretada pela Connie Nielsen). A conclusão da obra também fica deslocada em comparação com toda a obra, sem contar a primeira motivação da trajetória de Lucius que se torna mal concluída e posta de lado.
Gladiador 2 não chega a ser algo do mesmo nível de seu antecessor, mas consegue ser diferente de forma positiva. Sendo um entretenimento para os amantes do primeiro filme, tendo o exagero nas lutas e nos efeitos especiais e tendo ótimas atuações que conseguem ofuscar algumas das problemáticas do filme.
TEXTO DE ADRIANO JABBOUR.
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