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Sorria | Paramount Pictures |
Após um paciente cometer um suicídio
brutal em sua frente, a psiquiatra Rose é perseguida por uma entidade maligna
que muda de forma. Enquanto tenta escapar desse pesadelo, Rose também precisa
enfrentar seu passado conturbado para sobreviver.
O longa-metragem é uma obra de terror
psicológico dirigida por Parker Finn, cineasta também responsável pelo
curta-metragem que originou o filme. A narrativa se aprofunda em temas
complexos como trauma, culpa e desespero, levando o espectador a uma jornada de
crescente angústia e reflexão. A trama gira em torno de Rose, que, ao ser
confrontada por eventos perturbadores, começa a perder a distinção entre
realidade e alucinação, mergulhando progressivamente em uma espiral de paranoia
e medo inescapável. O filme se destaca por sua habilidade em evocar uma
sensação de claustrofobia emocional, explorando como experiências traumáticas
podem corroer a sanidade e a percepção da realidade. A direção de Finn é eficaz
em criar uma atmosfera opressiva, onde a tensão se acumula gradualmente,
refletindo a desintegração mental da protagonista.
Os sorrisos do filme são
profundamente perturbadores por sua estranheza desconcertante e natureza
antinatural. O que deveria ser uma expressão de alegria e conforto é
transformado em algo sinistro e ameaçador. Esses sorrisos são amplos, rígidos e
fixos, criando uma sensação de que algo está muito errado. A forma como os
personagens, sob a influência da entidade, mantém o sorriso enquanto seus olhos
permanecem frios ou apáticos, gera uma dissonância aterrorizante, como se a
expressão fosse uma máscara distorcida.
A trilha sonora e o design de som
desempenham um papel crucial na experiência do filme, com sons sutis e
cuidadosamente elaborados que intensificam a sensação de perigo iminente e
amplificam o clima de tensão. A utilização de ruídos inesperados e a manipulação
de silêncios criam uma atmosfera inquietante, mantendo o espectador em
constante estado de alerta. Esses elementos sonoros não apenas complementam a
narrativa, mas também se tornam uma extensão da psicologia da protagonista,
refletindo sua deterioração mental.
Sosie Bacon, no papel principal como
a Dra. Rose Cotter, oferece uma performance intensa e convincente, capturando
com precisão o desespero e a deterioração mental de sua personagem à medida que
a entidade sobrenatural a assombra. Ela transmite de forma eficaz a crescente
paranoia e o isolamento de Rose, tornando a descida dela ao terror e à loucura
crível e emocionalmente ressonante. Seus olhares perdidos, expressões de pânico
contido e a vulnerabilidade em momentos de silêncio contribuem para criar uma
conexão profunda com o público.
O ponto negativo é o desenvolvimento
raso de certos personagens e relações. A protagonista, Rose, é bem explorada,
mas os coadjuvantes, incluindo o interesse amoroso e outros colegas de
trabalho, são pouco desenvolvidos, servindo apenas como suporte para os
conflitos internos da protagonista ou para impulsionar a trama. Isso resulta em
um elenco que não contribui de forma significativa para a complexidade
emocional do filme. Além disso, o filme se estende demais, tornando-se
cansativo em sua segunda metade. O simbolismo relacionado ao trauma, que é
central na trama, embora interessante, é tratado de forma superficial. A ideia
de que a entidade maligna se alimenta do sofrimento humano poderia ser mais
explorada, com uma abordagem mais profunda e sofisticada. O resultado é uma
trama que parece prometer mais do que entrega, ficando presa a uma estrutura
genérica e previsível. O filme pode ser criticado por sua dependência de
clichês do gênero, o que pode diminuir o impacto de algumas de suas
reviravoltas.
Sorria é um terror psicológico que
mergulha o espectador em uma atmosfera densa, abordando de forma impactante
temas como trauma e culpa, enquanto acompanha a inquietante jornada de
deterioração mental da protagonista. Porém, a narrativa se alonga desnecessariamente,
tornando a segunda metade repetitiva, com sustos previsíveis que diminuem a
tensão e enfraquecem o impacto do medo. Ainda assim, Sorria deixa uma marca
inquietante, ecoando suas mensagens sobre trauma e sanidade.
Autor:
Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator em formação e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.
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