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quarta-feira, 4 de dezembro de 2024

Sting: Aranha Assassina - Quando o Terror Se Perde em Tentativas de Humor e Drama Familiar

Sting - Aranha Assassina | Diamond Filmes

Em Sting - Aranha Assassina, uma noite fria e tempestuosa em Nova York, um objeto misterioso cai do céu, quebrando a janela de um prédio de apartamentos decadente. Dentro dele, um ovo eclode, dando vida a uma estranha aranha. Charlotte (Alyla Browne), uma garota rebelde de 12 anos e fã de histórias em quadrinhos, descobre a criatura e a nomeia Sting. Enquanto sua mãe e seu padrasto, Ethan (Ryan Corr), lutam para se ajustar à chegada de um novo bebê, Charlotte se sente cada vez mais isolada e encontra consolo na amizade com Sting. No entanto, à medida que a aranha cresce em tamanho e apetite, os animais de estimação dos vizinhos começam a desaparecer, seguidos pelos próprios moradores. Quando a verdadeira natureza de Sting é revelada, Charlotte se vê em uma corrida contra o tempo, sozinha em sua luta para salvar sua família e os excêntricos habitantes do prédio de um aracnídeo voraz que agora os caça. Determinada a proteger aqueles que ama, Charlotte deve encontrar uma maneira de deter a criatura antes que seja tarde demais.

Filmes com animais assassinos costumam misturar o medo com o suspense, e geralmente apresentam criaturas que se tornam uma ameaça para os seres humanos. O filme mais recente envolvendo Aranha Assassina e até possui uma premissa parecida é Infestação (2023), que acompanha Kaleb, um jovem solitário que encontra uma aranha venenosa em um bazar e a leva para seu apartamento. Quando a aranha se espalha rapidamente, o prédio se torna uma armadilha mortal, e os moradores devem lutar pela sobrevivência enquanto a polícia isola o local. No entanto, Em Sting se diferencia ao focar na relação emocional de Charlotte com a criatura, em um enredo que mistura o medo com um toque de empatia e solidão adolescente. A tensão central reside não apenas na ameaça da aranha, mas também no isolamento e na crescente desconexão de Charlotte com os outros, sendo até interessante. Enquanto o Ethan, que exerce o papel de padrasto, sente-se sobrecarregado ao prestar assistência aos moradores do edifício em ruínas, realizando tarefas como encanamento e outras atividades. Além disso, dedica seu tempo livre à ilustração de histórias em quadrinhos, enquanto gerencia suas responsabilidades familiares, incluindo o cuidado do bebê e a manutenção de seu relacionamento com a enteada. O dramas familiar é interessante nesse gênero, mesmo que o foco seja o terror, é possível de criar empatia pelos personagens.

As sequências envolvendo a criatura ameaçadora falham em gerar o impacto desejado, resultando em uma experiência desconexa e sem tensão. Embora o filme se proponha a ser de terror, a mistura de elementos cômicos com o aspecto aterrorizante acaba comprometendo sua eficácia. A tentativa de equilibrar o humor com o medo se revela forçada, prejudicando a imersão do público e minando o potencial das cenas mais intensas. Além disso, a falta de consistência tonal torna a narrativa superficial, afastando a possibilidade de criar uma atmosfera realmente envolvente e inquietante. O filme, ao invés de explorar o medo de forma plena, se perde em uma tentativa equivocada de apelar para diferentes registros emocionais, sem alcançar uma identidade coesa que conecte o espectador à trama.

A protagonista do filme é excessivamente irritante, sempre reclamando do padrasto, do irmãozinho e de tudo ao seu redor. Sua mãe critica o marido, que trabalha fazendo quadrinhos. A única forma de criar empatia pela história é o fato de serem uma família com um bebê envolvido. Se fosse um grupo de amigos, seria fácil torcer para que a aranha resolvesse eliminar todos.

Sting - Aranha Assassina" tenta mesclar terror e drama familiar, mas a mistura de humor e medo compromete a tensão. A narrativa se torna desconexa, e os personagens, especialmente a protagonista, dificultam a criação de empatia. Embora a trama busque explorar o isolamento e a relação com a família, o filme falha em gerar impacto, tornando-se uma experiência insatisfatória para os fãs de terror. 

Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator em formação e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

terça-feira, 3 de dezembro de 2024

O Conde de Monte Cristo - Um filme Francês que amaria ser um Épico Hollywoodiano

O Conde de Monte Cristo | Paris Filmes

O Conde de Monte Cristo mostra a historia de Edmond Dantes, um navegador que é acusado injustamente por um crime que não cometeu. Depois de 14 anos preso, ele consegue fugir de sua prisão e recomeça sua vida com outro nome, sendo o Conde de Monte Cristo. A partir de seu novo nome e com uma fortuna imensa em suas mãos, ele começa a se vingar de cada um que foi parte de sua prisão. O filme é adaptação do livro com mesmo nome, escrito por Alexandre Dumas, e dirigido pelos diretores Alexandre De La Patelliére e Matthieu Delaporte. 

A direção consegue recriar na sua direção de arte, nos figurinos e na ambientação o tempo em que a história ocorre, além de ter um trabalho efetivo nos efeitos especiais. Os pontos técnicos conseguem seduzir o bastante o espectador para a antiga França, até mesmo em alguns diálogos entre os personagens. O filme também não tenta se aventurar em sua pirotecnia, entregando aquilo que é o essencial, e nada além. 

O filme não é conduzido para ser um grande épico em sua construção, mas mais interessado em ser um filme básico onde segue a jornada do herói. Não que isso seja um problema, até porque não é. E em sua simplicidade de proposta, ele consegue funcionar em quase todos os aspectos. Mas oque faz a obra ser conduzida sem cair na mesmice é a atuação de Pierre Niney como Dantes, que consegue se expressar  sutilmente apenas com os olhares, e o trabalho de direção em conduzir a história em um mesmo ritmo do começo ao fim. Mesmo tendo muitas brechas para a direção seguir um caminho perfeito para se perder, a direção segura sua própria ambição para ter total controle daquela narrativa. 

A obra muitas das vezes querendo utilizar em momentos pontuais o excesso de dramatização com a trilha e com as atuações de alguns personagens faz o filme perder um pouco de sua força narrativa para tentar convencer o espectador de sentir um certo sentimento que não é necessário, já que a própria cena já entrega sem muita necessidade de explicação. Esse efeito felizmente não cai nos diálogos, que são muito bem escritos e executado de forma bastante orgânica pelos atores. 

O Conde de Monte Cristo mesmo sendo um filme conduzido com maturidade na sua direção, com uma construção de época belíssima, é um filme que ao mesmo tempo que acerta em seu controle, ele se contém demais em sua linguagem e em sua entrega ao espectador. É um filme francês que parece ter vergonha de ser francês, soa como uma tentativa de ser um épico hollywoodiano. Oque torna a obra uma ideia meio deslocada. Não seria impossível convencer os espectadores que esse filme é uma produção de Hollywood com apenas atores franceses, pois é esse exato retrato que a direção conduz. 

Mas a obra consegue ser uma jornada bela e sensível em sua maioria, sendo também um atrativo para espectadores mais novos em se interessarem nessa jornada de vingança além das propostas por Hollywood dos últimos anos que faz questão do retrato de um homem como um animal louco por carnificina e armas de fogo. Aqui, nosso protagonista tem múltiplas faces e consegue pensar além das armas que tem em suas mãos. 

Invés de cabeças voando e sangue pingando em todos os cantos, encontramos aqui um personagem que busca sua vingança perfeita dentro do cenário mercantil e na antiga monarquia, que depois caminhou para o capitalismo. A tomada de posses, a verdadeira face do moralismo enrustido, e como o valor de um homem sempre se encontra naquilo que ele possui. Fator que torna o fim da jornada do protagonista algo belo e satisfatório aos olhos dos espectadores. 

O Conde de Monte Cristo é uma obra dirigida com bastante controle e tendo um ótimo conjunto técnico sendo na criação de época e no trabalho de condução dos personagens. Mesmo sendo um filme que se contém demais e não tenta se mostrar realmente de onde vem, consegue executar uma narrativa calorosa e aconchegante para a maioria dos espectadores. Uma obra sobre vingança e justiça feita de forma delicada, mas delicada demais para seres pouco, ou nada, delicados. 


TEXTO DE ADRIANO JABBOUR



Mia – Ela não é mais sua

Mia | RAI Cinema


Estreando no Brasil pelo Festival de Cinema Italiano, Mia (2023), de Ivano de Matteo, nos apresenta a história da desestruturação gradual de uma família inicialmente feliz e saudável a partir do momento em que sua filha de 15 anos cai vítima de um relacionamento abusivo com um rapaz mais velho.

 Greta Gasbarri debuta no cinema interpretando espetacularmente a personagem Mia, uma adolescente feliz e amada pelos pais e amigos, que gosta de expressar sua personalidade com suas roupas e maquiagens, é peça fundamental em seu time de vôlei no colégio e finge esquecer de avisar aos pais quando vai chegar tarde em casa depois de sair para se divertir com seus amigos para esbanjar sua crescente independência.

 Mas sua cativante e ativa personalidade começa a degradar depois que ela cai nos encantos de Marco (Riccardo Mandolini), um rapaz que apesar de maduro, se mostra agressivo e manipulador, fazendo Mia acreditar que tem culpa dos ciúmes e insatisfações que o rapaz sente. Aos poucos ele a faz desgostar de tudo que ama. Diz que sua maquiagem e roupas são indecentes, diz que as amigas dela são putas e má influência, a impede de voltar ao vôlei pois erroneamente pensa que o professor de Mia se interessa por ela. Mas como na maioria dos relacionamentos abusivos e em parte pela inocência de Mia, ela não é capaz de entender que está refém do rapaz que pensa que ama, e não consegue cortar o mal pela raiz, culpando a si mesma pela própria mudança de humor.

 De repente Mia está mudada, e como o filme muito inteligentemente nos mostra com inserções de vídeos caseiros e fotografias de infância, seus pais, mas principalmente o pai Sergio, não aceita a mudança e se vê impotente ao não compreender como pode ajudar sua filha a voltar a ser feliz. Em uma cena que mostra um show de atuação de Edoardo Leo, o pai diz em prantos que só o que ele deseja é que sua filha volte a se maquiar demais, gastar dinheiro com mais e mais roupas, e que não os avisem onde está quando sai para se divertir, pois por culpa daquele rapaz, naquele momento, os pais de Mia haviam perdido a sua filha, e diferentemente do que veríamos em um Blockbuster americano, que no mesmo tipo de proposta de enredo o bravo pai se arma e cai em fúria contra deus e o mundo para proteger sua filha, vemos aqui uma situação mais crua e triste dessa história, em que a realidade oprime aquela família, que desmorona vítima da incapacidade de se defender em razão de tudo o que os aconteceu.

Mesmo que atualmente não entrem em evidência nem se debatam mais e existência de movimentos cinematográficos, gosto de acreditar que cada país herdou em sua cultura e em sua forma de construção de filmes, elementos dos movimentos mais expressivos de suas nações, e a escolha de tratar essa história como uma realidade dura não foge de ser um neto de uma identidade neorrealista italiana.

Apesar de algumas escolhas narrativas e autorais do diretor que se arriscam em eventos dramáticos que tendem a cair em uma concepção de pieguice, apenas por falta de mais tempo de desenvolvimento de personagens, Mia acerta onde mais dói e consegue nos agarrar emocionalmente em sua trama. Nada assusta mais do que perder a conexão com os familiares que nós amamos, nesse caso e talvez o mais extremo de todos, com a própria filha, principalmente por algo alheio a nós mesmos. Ao longo do filme nós nos enfurecemos, nos angustiamos e nos entristecemos juntos com Sergio, e damos razão a tudo o que esse homem faz para proteger e vingar sua filha Mia, e não há nada mais poderoso do que uma obra que nos faça querer levantar de nossas cadeiras e agir junto de seus personagens.

Autor:


Henrique Linhales, licenciado em Cinema pela Universidade da Beira Interior - Covilhã, Portugal. Diretor e Roteirista de 6 curta-metragens com seleções e premiações internacionais. Eterno pesquisador e amante do cinema.

Moana 2 - Disney apostando em sequências

Moana 2 | Disney


Três anos após os eventos do primeiro filme, Moana recebe um chamado inesperado de seus ancestrais guias e forma sua própria tripulação, reunindo-se com seu amigo, o semideus Maui. Enquanto eles viajam para os mares distantes da Oceania para quebrar a maldição do deus das tempestades Nalo na ilha escondida de Motufetu, que antes conectava o povo do oceano, eles enfrentam velhos e novos inimigos, incluindo os Kakamora e a deusa do submundo Matangi.

No filme anterior, Moana, uma jovem polinésia embarcava em uma jornada para salvar sua ilha e restaurar o coração de Te Fiti, perdido há muito tempo. Ao longo dessa jornada, enfrentou grandes desafios e, por meio deles, descobriu sua verdadeira coragem e identidade. Agora, em sua nova aventura, Moana já é mais experiente e madura. Após viver a experiência de liderança em sua ilha e compreender o valor de suas tradições e do mar, ela ganha confiança em suas habilidades e em seu destino. Ao receber um chamado inesperado de seus ancestrais, Moana se prepara para enfrentar os mares distantes, agora com a sabedoria de quem já enfrentou seus próprios medos. Ela sabe que os perigos são reais e que sua missão pode ser arriscada, mas está disposta a ir até o fim, disposta a arriscar sua vida por uma causa maior que agora compreende profundamente. 

No entanto, ela não embarca sozinha nessa aventura: leva consigo três pessoas de seu povo. Loto, uma engenheira naval especializada em projetar, construir, operar e manter embarcações e estruturas marítimas, como navios e plataformas de petróleo; Kele, um senhor rabugento e o estadista mais velho da comunidade da ilha de Motunui, lar da protagonista, que é responsável pelas plantações de vegetais; e Moni, o contador de histórias, navegador, minerador e fã número 1 de Maui. Os novos personagens coadjuvantes introduzidos na história de Moana trazem uma dinâmica interessante e complementar à protagonista. Inicialmente, essa dinâmica complica a vida da heroína, pois os companheiros não levavam a sério o trabalho que deveriam realizar. Embora isso possa incomodar o espectador, é de se esperar que, os personagens se entendam e saibam trabalhar juntos, superando as diferenças iniciais.

Maui continua a exibir o mesmo carisma do primeiro filme, com seu humor egocêntrico e irreverente, sempre pronto para soltar uma piada ou exibir sua confiança excessiva. No entanto, nesta nova jornada, é evidente que ele está muito mais maduro do que no passado. O personagem, embora ainda mantenha seu lado brincalhão e egocêntrico, demonstra uma maior compreensão sobre o impacto de suas ações e um senso de responsabilidade que antes parecia distante. Ele agora tem plena consciência do papel que desempenha não apenas na sua própria história, mas também na vida de Moana e no equilíbrio do mundo ao seu redor. Essa evolução do personagem traz um equilíbrio interessante entre o humor que cativou o público e a complexidade que faz com que o público enxergue uma nova faceta de Maui, agora mais consciente de seu papel no mundo.

As músicas de Moana 2 mantêm a mesma qualidade da primeira produção, continuando a capturar a essência emocional e cultural do filme original. Analise como as composições, tanto em termos de melodia quanto de letra, conseguem transportar o público para o universo mágico e vibrante do Pacífico, ao mesmo tempo em que trazem novos elementos que enriquecem a narrativa. Uma das minhas favoritas é a Só Vai, uma canção energética e contagiante, caracterizada por uma mistura de elementos pop com influências de ritmos latinos e tropicais. Com uma batida dançante e cativante, a música transmite uma sensação de liberdade e de celebração. 

A letra fala sobre seguir em frente, confiar no próprio caminho e abraçar as oportunidades que surgem, transmitindo uma mensagem positiva de otimismo e empoderamento. A voz de Lara Suleiman é poderosa e emotiva, adicionando profundidade à canção, enquanto os arranjos musicais dão um toque moderno e vibrante. Além é uma canção emocionante e inspiradora, com uma mensagem de superação, esperança e coragem. Com uma melodia suave e crescente, a música traz um tom de reflexão e crescimento pessoal. A letra fala sobre explorar novos horizontes e buscar além do que os olhos podem ver, transmitindo a ideia de que o verdadeiro potencial está nas escolhas e na coragem de se aventurar. A voz de Any Gabrielly é delicada, mas cheia de emoção, adicionando profundidade à mensagem da canção. Com um arranjo musical que combina elementos clássicos e modernos, sendo uma composição que une suavidade e poder, onde o tema de auto-descoberta e crescimento é central.

Eu admito que estava com o pé atrás em relação ao filme, justamente por ser uma continuação. Isso porque a Disney nem sempre é bem-sucedida ao entregar sequências. Não estou nem incluindo os filmes da Pixar Animation Studios, mas é claro que há exceções, como Rei Leão 2: O Reino de Simba, Irmão Urso 2 e até mesmo 101 Dálmatas 2: A Aventura de Patch em Londres. Vale destacar que esses exemplos foram lançados diretamente em home video e DVD. No entanto, aqui, eles conseguiram entregar uma sequência de qualidade. É bem provável que o filme seja um sucesso de bilheteira, garantindo assim um terceiro filme e expandindo ainda mais esse universo.

Moana 2 supera as expectativas de uma sequência, trazendo um enredo envolvente com personagens mais maduros, uma dinâmica interessante entre a tripulação e músicas cativantes. A evolução de Moana e Maui, juntamente com novos desafios e lições de coragem, faz o filme brilhar. O futuro da franquia parece promissor, com potencial para mais aventuras.

Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator em formação e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.


quarta-feira, 6 de novembro de 2024

Caracas - Um filme que Não Sabe Conduzir o Caos que Propõe

Caracas | Vision Distribution


"Caracas" conta a história do escritor Giordano Fontes que vive em uma crise existencial e cogitando largar a escrita para sempre, até o momento que sua história se esbarra com um árabe de extrema direta que passa por momentos complicados ao longo da vida e influencia Giordano a continuar a sua escrita. O longa e o segundo do diretor e também protagonista Marco D'Amore e é um dos selecionados no Festival de Cinema Italiano que acontece em São Paulo.

A obra tenta brincar bastante com a ideia do que é imaginação de Giordano sobre oque acontece à sua volta e sobre oque realmente é real naquelas circunstâncias. Algo que ao mesmo tempo entrega dinâmica à obra, faz ela muitas vezes parecer mais bagunçada do que realmente criativa. Além da falta de desenvolvimento dos personagens, que é um dos principais problemas da obra. Não se sabe o porque da melancolia de Giordano, e muito menos se tem uma noção se Caracas é um personagem real, ou apenas um encontro acidental que resultou em trazer de volta a "criatividade" de Giordano para escrever. 

A obra consegue mostra uma Nápoles perigosa e incerta sobre a vida daqueles que vivem ali, principalmente os imigrantes, que são os que mais sofrem com a desigualdade social e com a xenofobia. Mas mesmo mostrando uma faceta perigosa e caótica de Nápoles, o filme não consegue fazer o espectador ter proximidade com aqueles personagens entregue a nós. Caracas que passa por questões envolvendo crises de identidade e violência, acaba tendo uma conclusão preguiçosa da mesma forma que tentam concluir oque foi a ida para Nápoles para Giordano. 

No final, o filme propõe muitas temáticas interessantes e com vários caminhos criativos que acabam em lugar nenhum. Como sentir qualquer sentimento por personagens que você não sabe nada e que nem sabe se realmente são reais ou não? Até mesmo a relação de Caracas com Giordano é apressada de forma até amadora nos 40 minutos finais da obra. E quando a obra finaliza, fica o gostinho amargo de ter visto uma narrativa que se arrisca mas que acaba no mesmo lugar que começou. 

O que a direção tem para nos entregar além das loucuras de Nápoles? O autor encontrou um sentido para voltar a escrever ou não? Caracas existiu em algum momento? E se existiu, oque ele realmente é para Giordano? Seria Caracas uma resposta sobre a volta do fascismo na Itália? Seria Caracas uma reação ao aumento de imigrantes na Europa? Por que o personagem protagonista é um árabe refugiado que se identifica com Neonazistas(um grupo que odeia árabes também)? 

"Caracas" consegue mostrar a confusão de Giordano em uma Nápoles sem lei e em seu próprio caos dentro de seu quarto ou buscando sobre certo passado. Mas acaba sendo um filme que não consegue dizer nada e não consegue funcionar nem na sua criatividade para contar uma narrativa, nem para fazer o espectador ligar para alguma coisa que aconteça com os personagens.  

TEXTO DE ADRIANO JABBOUR.

terça-feira, 5 de novembro de 2024

O Voo do Anjo - Desconexão com Temas tão Sensíveis

 

O Voo do Anjo | California Filmes

"O Voo do Anjo", que estreou recentemente no Brasil, é uma obra que se propõe a abordar temas sensíveis como depressão e suicídio, mas que falha em sua execução, resultando em uma experiência que, em muitos momentos, se revela pouco orgânica e desconectada.

Um dos problemas mais evidentes do filme é o seu ritmo. As cenas parecem, muitas vezes cortadas e corridas, o que prejudica a fluidez da narrativa e impede o espectador de se envolver emocionalmente com os personagens. A falta de pausas nos diálogos… especialmente em um filme que demanda profundidade emocional, faz com que as falas soem apressadas e superficiais, deixando pouco espaço para a reflexão. Em momentos críticos, a intensidade emocional esperada se perde, tornando a experiência menos impactante.

Os personagens são retratados de maneira inconsistente. A figura da empregada, por exemplo, é apresentada de forma caricata. A interação inicial entre o personagem de Emilio Orciollo Neto e Orthon Bastos é particularmente problemática, pois a reação insensível do protagonista idoso ao ver o outro personagem que está à beira de uma tentativa de suicídio, gera insatisfação. A fala dele citando suas preocupações de forma egoísta dos problemas que ele teria com a polícia depois, caso o personagem deprimido cometesse o ato pela sua janela, em um momento tão delicado como esse, cria uma antipatia imediata, dificultando o apreço do público pelo seu arco no primeiro ato.

Embora os atores Othon Bastos e Emilio Orciollo Neto se esforcem para entregar performances consistentes, eles são prejudicados por uma direção que parece fria e desinteressada. A atuação da esposa do personagem de Emilio é bem insatisfatória, falhando em transmitir a complexidade que a narrativa exige de uma pessoa deprimida por conta da perca de um ente querido.

Além da depressão e suicídio, o filme toca em questões de etarismo, evidenciado pela dinâmica entre o filho e o personagem de Othon, que passa a maior parte do tempo sozinho em casa junto com a empregada, negligenciado pela família. Essa representação carece de profundidade e nuance, fazendo com que o espectador perceba uma falta de análise crítica sobre as relações familiares e a solidão.

O filme nos remete, de certa forma, ao longa francês "Sempre ao Seu Lado", pois ambos protagonistas lidam com relações dificieis e também tentam procurar algum conforto e confiança na companhia de cada um e, posteriormente, desenvolvem uma amizade, mas em "O Voo do Anjo", o filme falha em capturar a mesma essência emocional e empatia pelos personagens.

Em resumo, "O Voo do Anjo" é uma tentativa ambiciosa de abordar questões delicadas, mas que acaba se perdendo em sua execução. A falta de ritmo, o retrato superficial de personagens e a direção insensível contribuem para uma experiência cinematográfica que, ao invés de provocar reflexão, deixa o espectador com a sensação de desconexão. É uma pena, pois os temas abordados mereciam um tratamento mais cuidadoso e respeitoso.


Autor:

Meu chamo Leonardo Veloso, sou formado em Administração, mas tenho paixão pelo cinema, a música e o audiovisual. Amante de filmes coming-of-age e distopias. Nas horas vagas sou tecladista. Me dedico à exploração de novas formas de expressão artística. Espero um dia transformar essa paixão em carreira, sempre buscando me aperfeiçoar em diferentes campos criativos.


Nascida Para Você - A Luta de Luca pela Aceitação

Nascida para Você | Vision Distribution

"Nascida Para Você" é a história de Luca (Pierluigi Gigante) e Alba: um homem e uma menina que precisam desesperadamente um do outro, mesmo que o mundo ao seu redor ainda não esteja pronto para aceitá-los juntos. O tribunal de Nápoles está à procura de uma família para Alba, uma recém-nascida com síndrome de Down, abandonada no hospital. Luca, solteiro, homossexual e católico, sempre teve um forte desejo de paternidade e luta para obter a guarda de Alba. Quantas famílias "tradicionais" devem recusar antes que Luca possa ser considerado? Pode uma menina rejeitada pelo mundo se tornar a recompensa de uma vida?

O filme é fundamentado na história verídica de Luca Trapanese, cuja trajetória ganhou notoriedade nas mídias tradicionais e sociais na Itália. Em 2018, ele tornou-se o primeiro homem solteiro no país a receber autorização para adotar uma criança recém-nascida. A criança, Alba, que nasceu com síndrome de Down, foi abandonada logo após o parto, e seu nome foi atribuído pela enfermeira do berçário. O tribunal de menores de Nápoles convocou Luca para assumir a guarda temporária de Alba, permitindo que a recém-nascida deixasse o ambiente hospitalar e fosse acolhida em um lar até que uma família estivesse disposta a adotá-la. O filme não apenas narra uma história de amor e superação, mas também provoca reflexões profundas sobre inclusão, a luta contra preconceitos e a necessidade de uma mudança cultural que permita a todas as crianças, independentemente de suas condições, encontrarem um lar amoroso. 

Ao abordar as dificuldades enfrentadas por famílias não tradicionais e a importância de acolher a diversidade, a obra se torna um poderoso manifesto em defesa dos direitos das crianças e das novas configurações familiares. Além disso, a trajetória de Luca e Alba serve como inspiração, destacando que o amor pode se manifestar de maneiras inesperadas e que cada criança merece um lar repleto de carinho e apoio. O filme, assim, não só celebra essa relação singular, mas também incentiva o diálogo sobre as barreiras que ainda existem na sociedade, instigando uma reflexão sobre como todos podem contribuir para um mundo mais inclusivo e acolhedor.

O filme entrelaça temas relevantes como a diversidade LGBTQIAPN+ e a experiência de pessoas com síndrome de Down, explorando habilmente essas questões no enredo. Ele provoca reflexões profundas sobre o conceito de família e a forma como a sociedade interage com essas realidades, apresentando uma visão sensível e inclusiva que desafia estereótipos e promove a empatia.

O espectador desenvolve uma empatia significativa entre o protagonista Luca e sua filha adotiva, Alba. A relação entre esses dois personagens constitui o núcleo do filme, revelando os desafios inerentes à paternidade e à complexidade de enfrentar as barreiras impostas pelo sistema judicial. Essa dinâmica não apenas ilustra as dificuldades emocionais e sociais que cercam a adoção, mas também convida à reflexão sobre as limitações que a sociedade impõe a laços familiares não convencionais, ressaltando a necessidade de uma abordagem mais inclusiva e compreensiva por parte das instituições.

Nascida Para Você é mais do que uma simples narrativa sobre adoção; é um poderoso testemunho da luta por amor e aceitação em face de preconceitos arraigados. A trajetória de Luca e Alba não apenas toca o coração, mas também desafia o espectador a reconsiderar suas percepções sobre família, inclusão e a diversidade das experiências humanas. Ao destacar a jornada de um homem que se recusa a ser definido pelas normas sociais, provocando uma reflexão necessária sobre a capacidade da sociedade de acolher e celebrar laços familiares que fogem ao convencional. A obra é um convite à empatia e à mudança cultural, mostrando que, independentemente das circunstâncias, todo ser humano merece um lar cheio de amor e dignidade. Assim, o filme se estabelece como uma importante contribuição para o diálogo sobre inclusão e a redefinição do que significa ser uma família nos dias de hoje.

Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator em formação e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

segunda-feira, 4 de novembro de 2024

A Última Invocação - O ciúme corroi por dentro

A Última Invocação | Sato Company


Naoto Ihara (Daiki Shigeoka) vive feliz com a esposa Miyuki e o filho Haruto (Minato Shogaki). Porém, quando Miyuki morre em um acidente, Naoto fica inconsolável. Haruto, em negação, decide enterrar um dedo da mãe no jardim na esperança de que, rezando todos os dias, ela volte à vida.

O longa é uma adaptação do livro de Shimizu Karma que também foi um dos roteiristas do filme e a direção é assinada por Hideo Nakata, reconhecido por suas contribuições em Ring - O Chamado (1998) e Água Negra (2002), duas obras que se tornaram marcos do horror japonês e influenciaram significativamente o cinema de terror global. No entanto, nesta produção, Nakata não consegue atingir o mesmo impacto, resultando em um trabalho satisfatório, mas carente do brilho de seus projetos mais renomados. 

A narrativa não apenas retrata a história de uma família enlutada pela perda da esposa, mas também explora a trajetória da ex-colega de trabalho de Naoto Ihara, Hiroko Kurusawa, incluindo a dinâmica de ciúmes que Miyuki nutria em relação à sua colega. Após o falecimento de Miyuki, os personagens se reencontram após um longo período, e flashbacks revelam os detalhes de seu passado. O filme aborda temas relevantes como luto, relações familiares e ciúmes, proporcionando uma reflexão sobre as complexidades emocionais humanas.

O filme tenta criar uma atmosfera de tensão, mas essa tentativa resulta em um fracasso notável, deixando o público mais desapontado do que envolvido. A falta de habilidade em cultivar o suspense torna as cenas previsíveis e sem impacto, o que enfraquece a experiência geral e compromete a imersão na narrativa. Embora a figura do espirito possa ser visualmente assustadora, isso não é o suficiente para compensar a superficialidade do enredo.

Eu apreciei a personagem Hiroko Kurusawa e sua trajetória ao longo da narrativa; seu destino suscitou em mim grande preocupação. Embora seja possível argumentar que Naoto também desempenha um papel central, em determinado momento do filme, a perspectiva se transfere para Hiroko, que é profundamente impactada pelos eventos que ocorrem na casa da família enlutada. Essa mudança de foco permite uma exploração mais íntima das emoções e dilemas enfrentados por Hiroko, revelando suas vulnerabilidades e a profundidade de seu caráter. Assim, Hiroko se destaca como a verdadeira protagonista, guiando-nos por uma jornada emocional que ressoa muito além da história em si.

O filme, especialmente em seu final, sugere a possibilidade de uma continuação, mas essa escolha parece mais uma tentativa forçada de prolongar a história do que uma conclusão satisfatória. A ambiguidade deixada para o público não se revela intrigante, mas sim um indicativo da falta de resolução na trama, como se os criadores não tivessem confiança em encerrar a narrativa de forma coerente. Essa abordagem deixa uma sensação de frustração, já que a promessa de mais histórias parece servir apenas como um truque para manter o interesse, sem oferecer um fechamento adequado para os temas apresentados.

A Última Invocação é um filme que explora temas profundos como luto, relações interpessoais e ciúmes, mas falha em entregar uma experiência coesa e impactante. A direção de Hideo Nakata, embora reconhecida, não consegue recuperar a força que caracterizou suas obras mais famosas.

Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator em formação e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.



 








terça-feira, 29 de outubro de 2024

O Dia da Posse - Política e Imagem

O Dia da Posse | Embaúba Filmes

A trajetória de Brendo, que aspira à presidência do Brasil, revela uma juventude marcada pela ambição superficial e pela adaptação às dinâmicas das redes sociais. Enquanto estuda Direito e produz conteúdos para plataformas digitais, ele se projeta em um futuro de conquistas, refletindo não apenas um desejo de notoriedade, mas também a influência nociva de uma cultura de celebridade que prioriza a imagem em detrimento da substância. Essa idealização de liderança, exacerbada durante a pandemia por meio do entretenimento massivo, levanta questões inquietantes sobre a superficialidade dos valores que moldam os líderes da nova geração e sobre a capacidade real desses indivíduos de enfrentar os complexos desafios do país.

O documentário se desenvolve no contexto da pandemia da COVID-19, especificamente em 2020, quando a população foi forçada a permanecer em quarentena. Nele, são articuladas críticas contundentes ao presidente Jair Bolsonaro, destacando seu manejo das vacinas e o impacto prejudicial de suas decisões sobre a saúde pública. Essa análise levanta questões sobre a responsabilidade dos líderes políticos em momentos de crise. É provável que grupos com ideologias nacionalistas extremas não apenas discordem, mas também considerem as perspectivas apresentadas na obra como uma afronta, evidenciando a polarização crescente no debate político e social. Essa reação revela a dificuldade de engajamento com críticas fundamentadas, muitas vezes substituídas por uma defesa acrítica de narrativas que priorizam a ideologia em detrimento da verdade factual.

Embora se trate de um documentário, a obra evoca a estética de um filme do gênero slice of life, retratando personagens em atividades cotidianas, mesmo durante o isolamento. Cenas de exercícios na sala, cozinhar e conversas por vídeo oferecem uma visão íntima e realista da vida durante a pandemia. Essa abordagem destaca a resiliência e a adaptação das pessoas frente às dificuldades, mostrando como pequenos momentos do dia a dia podem se tornar significativos. Ao capturar essas experiências, o filme celebra a vida em sua forma mais autêntica, revelando a capacidade humana de encontrar conexão e significado, mesmo em tempos desafiadores.

A obra inclui detalhes que evocam a impressão de erros de gravação, exemplificados por Brendo ao tentar se posicionar adequadamente diante da câmera. Sua solicitação ao amigo para evitar gravações muito próximas, acompanhada de momentos de irritação, indica uma busca pela autenticidade em meio à vulnerabilidade da exposição. Essa dinâmica além de contribuir para a humanização do protagonista, funciona como dispositivo narrativo que destaca a desconexão entre imagem pública e a realidade pessoal, sublinhando a pressão que muitos sentem ao se expor em um mundo digital que exige perfeição. A tensão entre o desejo de ser visto de forma autêntica e a necessidade de se conformar a padrões de estética e comportamento estabelecidos pela sociedade cria uma profundidade emocional na narrativa, permitindo que o público se conecte mais intimamente com a experiência do protagonista.

Dia da Posse é uma obra multifacetada que, embora centrada na trajetória de Brendo, oferece uma reflexão profunda sobre a condição humana durante a pandemia. As críticas ao governo daquela época e as nuances da vida cotidiana durante o isolamento enriquecem o discurso, ressaltando a responsabilidade dos líderes e a complexidade das experiências vividas. Ao unir aspectos íntimos e coletivos, a obra não apenas documenta um momento específico, mas também convida o público a considerar as implicações sociais e emocionais de sua realidade.


Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator em formação e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

segunda-feira, 28 de outubro de 2024

O Aprendiz - o filme que Donald Trump não quer que você veja

O Aprendiz | Diamond FIlmes

O aprendiz conta a forma com que Donald Trump ascendeu sua carreira de forma a se tornar um dos grandes empresários dos anos 80. Acompanhamos Trump, um homem que ao mesmo tempo que tenta emergir na vida, também tem de fugir do processo judicial que persegue a ele e sua família. No entanto, é na relação com Roy Cohn, que Trump é realmente lapidado, se transformando com o passar do filme, no ser humano que hoje vemos na política americana.

Um filme que, por se tratar de uma película americana falando sobre uma figura muito forte até hoje, tinha tudo para cair para um lado de idealização, mas que consegue encontrar um meio termo excelente entre humor e fidelidade histórica. Inicialmente, Trump é posto como uma figura de piada, entretanto, na segunda metade fica evidente sua busca por capital acima de qualquer coisa, de forma brutal, mostrando inclusive atos abomináveis do mesmo. Dessa forma Ali Abbasi, equilibra o filme, de modo que não caia para o caricato nem para o raso.

O filme constrói a imagem de Trump em um primeiro plano, como um jovem esforçado e afetuoso pelos que o rodeavam, com o passar do tempo, entretanto vemos a transformação de Trump na verdadeira faceta do capitalismo, um homem que uma vez fora gentil, agora não tem mais afeto a nada que não o gere qualquer tipo de lucro. Essa transformação é acompanhada tanto no evoluir de suas roupas, no sentido de cada vez mais luxuosas, quanto no introduzir do dourado em acessórios e cenários, evidenciando, dessa forma, o enriquecimento e mudança da mentalidade do personagem.

A atuação de Sebastian Stan e Jeremy Strong, contribuem diretamente com o impacto que o filme busca causar. Sebastian Stan interpretando Donald Trump, brilha na questão do contraste que consegue alcançar do Trump do começo do filme para o do Final. Já Jeremy Strong que interpreta Roy Cohn, começa com uma atuação mais forte, sendo bem duro mas sempre preservando a amizade acima de tudo, dessa forma lapidando seu aprendiz, com o passar do tempo, o homem que se mostrava tão duro e forte, agora já se encontra consumido por sua doença, que esconde veemente. Mesmo com seu mentor a beira da morte, Trump não faz questão alguma de ajudá-lo, agora não o interessa mais a existência de Roy.

Portanto, uma ótima comédia biográfica que foi capaz de me entreter por todo seu tempo de duração. Apesar de não conhecer a história do filme previamente, a obra foi capaz de transmitir a mensagem que desejava de forma clara e direta. No entanto, acredito que perde um pouco da força ao final, mas nada que atrapalhe a experiência.


Autor:


Me chamo Gabriel Zagallo, tenho 18 anos, atualmente estou cursando o 3º ano do ensino médio e tenho o sonho de me tornar jornalista, sou apaixonado por cinema e desejo me especializar nisso. Meus filmes favoritos são Stalker, Johnny Guitar, Paixão e Rio, 40 graus.

quinta-feira, 3 de outubro de 2024

Emilia Pérez - México necessita cantar

Emilia Pérez | Pathé

Emilia Pérez conta a jornada da advogada Rita, que é contratada para resolver os trâmites de uma cirurgia de mudança de sexo de um traficante conhecido no México. Porém, depois de quatro anos, a advogada Rita volta a se encontrar com a não mais traficante, com seu novo nome, Emilia Perez. Emilia pede a Rita para trazer de volta sua família, refugiada na Suécia, para todos viverem juntos no México de novo, mas as coisas não saem como planejado. 

A obra faz questão de mostrar o cenário conturbado de violência que México vive por conta do tráfico de drogas e pelas questões políticas logo na primeira sequência. Necessário apontar que o filme não se envergonha em se assumir um musical logo de cara, com Zoe Saldaña cantando e dançando coreografias bem dirigidas, mostrando sem delongas a insatisfação que a personagem tem sobre sua vida e sobre a situação a sua volta. 

A atuação das três personagens principais (Rita, Emilia Pérez e Jess) conseguem transmitir nas entrelinhas o caos interno que vive o México. A incerteza de como vai ser o futuro, a mentira tendo que existir para se ter paz, os homens como meros piões bobos de algo muito maior do que eles. A obra é fantasiosa como um musical, mas que grita verdades de um México ocultado por um cenário hipócrita e sujo. Mas, mesmo com ótimas atuações de suas protagonistas, e com um conjunto técnico que consegue dançar com todo o resto, o filme se tora bem sucedido por completo?

A direção faz questão em fazer coreografias muito bem conectadas pela condução das câmeras e pela montagem, oque faz o filme manter um ritmo ágil, mas não frenético. Mesmo com o quesito técnico sendo bem efetivo no que entrega ao filme e como se conecta a narrativa, a própria em certo momento não sabe como seguir em frente. Principalmente com a personagem Jess, interpretada pela Selena Gomez, que conduz os principais conflitos do filme, mas ao mesmo tempo faz a obra se perder no tom proposto até metade do filme.

Sem contar que a obra também sofre as consequências do tempo em que o cinema vive, onde tudo é necessário ter explicação em seus mínimos detalhes. Mesmo com ótimas coreografias e músicas compostas de forma madura, muitas das músicas servem apenas para enfatizar mais o óbvio do que é jogado na cara do espectador durante as duas horas de filme. Oque em certo momento começa a incomodar profundamente e a causar desinteresse pelo que acontece durante a narrativa para o espectador. 

Ao mesmo tempo que a obra mostra várias facetas de um México muito pouco falado, o seu discurso vai perdendo potência pela falta de confiança sobre a capacidade de entendimento do espectador e com um novo caminho de condução narrativa que faz a obra se distanciar quase por completo do que foi entregue até metade do filme. Mesmo a obra entregando protagonistas tão potentes, a direção faz com que o fim da jornada delas se torne pouco pra grandiosidade que elas eram em suas raízes na história. 

Emilia Pérez é um espetáculo musical que representa toda a América Latina, mas que tem um maestro que não está a altura de todos os músicos ali presentes. 

TEXTO DE ADRIANO JABBOUR.

terça-feira, 3 de setembro de 2024

A Vingança de Cinderela - Pior que um filme ruim, é um filme preguiçoso

A Vingança de Cinderela | A2 Filmes
A Vingança de Cinderela nem tenta em qualquer sentido ser algo além de um serviço amador. A narrativa é a convencional da Cinderela que boa parte das pessoas conhecem pela animação da Disney, porém o filme tenta navegar no caminho do terror com o humor. Mas toda a escolha feita aqui pela direção é errada, começando em querer fazer algo maior do que se pode fazer.

A narrativa começa com a Madrasta de Cinderela culpando o pai dela por um crime que na verdade ela cometeu. Em troca de salvação, Cinderela decide viver e trabalhar para sua Madrasta e suas outras duas filhas, que ao longo dos anos a atormentam e torturam de forma psicológica e física de todo jeito possível, por simples prazer, ao longo da história. 

Logo no começo do filme, pelos figurinos e pela estética proposta, percebesse que o filme tem baixo orçamento, oque não é a raiz do problema. O problema está em um filme que não se esforça nem mesmo no que deveria ter o mínimo de positivo, que é o terror e o absurdo. O filme logo propõe os absurdos dentro da história que poderiam torná-lo cômico, mas não faz questão disso além de uma piada curta uma hora ou outra(que desaparecem depois de 40 minutos de filme).

Necessário enfatizar que todos os atores estão ali, simplesmente por obrigação, porquê é visível o constrangimento de fazer parte de uma obra com um roteiro tão infantil e raso que nem é o proposto, sem contar que não existe trabalho técnico no filme que vai além do mínimo para existir um filme. 

O trabalho de cor é mal medido, as cenas de violência gráfica chegam a ser mais amadoras do que muitos curtas amadores que você encontra no Youtube(onde pessoas tiveram o mínimo de vontade para trabalhar), as piadas são completamente deslocadas, além do filme usar e abusar do humor sexual, que mostra uma infantilidade tremenda do roteiro.

Não existe problema em um filme ter baixo orçamento, ou o filme se aventurar em outros gêneros(mesmo com baixo orçamento) ou não focar tanto em um ponto ou em outro, mas um filme necessita de trabalho. Um filme, com um mínimo de decência, deve ser feito com pelo menos um pouco de esforço que não é oque se encontra aqui. 

A Vingança da Cinderela é uma aula de amadorismo cinematográfico e mostrando, de forma quase didática, que o problema em fazer uma obra vai muito além da escolha narrativa e de orçamento, é a falta de "querer" fazer algo de bom. Oque nesse filme, não existe. São 85 minutos gastados de tempo e dinheiro em uma obra que não tem nada, nem mesmo dentro do absurdo que se propõe. 

TEXTO DE ADRIANO JABBOUR.

Sting: Aranha Assassina - Quando o Terror Se Perde em Tentativas de Humor e Drama Familiar

Sting - Aranha Assassina | Diamond Filmes Em Sting - Aranha Assassina, uma noite fria e tempestuosa em Nova York, um objeto misterioso cai d...