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segunda-feira, 20 de outubro de 2025

Twinless (2025) - O Vazio da Alma Gêmea

Twinless (2025) | Sony Pictures

A primeira cena oculta a ação dos olhos do espectador, no entanto, depredemos que ocorreu um acidente de trânsito, antes a edição nos transportar para um funeral. Roman (Dylan O'Brien) perdeu seu irmão gêmeo gay, Rocky, naquele acidente. A situação é triste e extremamente desconfortável para ele. Não só porque todos os presentes ali o deixam assim, mas o Roman tá passando por um luto brutalíssimo, no qual a dor e a raiva dele são uma única coisa. A morte do irmão é como se tivessem tirado parte de sua própria identidade afetiva.  

Aos trancos e barrancos, ele busca alternativas de lidar com esse período e ele começa a frequentar um grupo de apoio de pessoas que perderam seus irmãos gêmeos. Lá, ele conhece o Dennis (James Sweeney), um rapaz tímido e taciturno que parece a se afeiçoar ao Roman desde o primeiro instante, sendo muito solicito e agradável. Por sua vez, Roman projeta um sentimento fraternal no Dennis, pois ele acaba correlacionando algumas coisas neste novo amigo com o irmão dele. Porém, a sinergia que há entre dois nunca tá bem calibrada de fato, e o motivo que haver com o acidente de Rocky.

Twinless (2025) é o longa-metragem dirigido e escrito por James Sweeney, lançado no Festival de Sundance deste ano e conquistou o prêmio popular. O realizador já tinha feito outros projetos, mas este aqui catapultou o nome dele. Quando um artista tem várias funções múltiplas dentro e fora da câmera, o resultado nem sempre é bom ou é considerado um "projeto de vaidade". O caso de Twinless é o contrário, Sweeney tem um bom senso de direção e o seu roteiro possui uma escrita inteligente e "quirky" e trabalha muito em cima da tensão que existe entre as duas protagonistas.

 Existem dois pontos de vista que a narrativa se divide que guiam a trama: a do Roman e a do Dennis; inclusive, quando ocorre a mudança desse pov, a chave da história que estava sendo contada até aqui muda drasticamente, em uma sequência de erros consecutivos que levam ao início da narrativa. Dylan O'Brien é o coração do filme, enquanto James Sweeney é o ponto central. A obra não funcionaria sem um ou outro. 

O'Brien traz camadas muito diversas e eficazes nos dois personagem que interpreta: traz á tona todo luto e confusão que assola Roman, enquanto traz uma personalidade mais confiante e sexualmente aparente como Rocky. Por outro lado, Sweeney tem a performance de uma pessoa solitária (possivelmente neuro divergente) e anseia por uma conexão para preencher um vazio existencial; ao mesmo tempo que sua personagem seja arrogante e condescendente com os outros ao seu redor, em especial com Marcie (Aisling Franciosi), sua colega de trabalho. 

Há uma química muito palpável entre os atores principais seja em contexto de amizade, seja em um contexto mais íntimo. A situação entre os dois muda quando Dennis deixa alguém de sua vida entrar no caminho de Roman, arriscando mudar a percepção e a providência de sua relação. A partir desse ponto, começa um jogo de sedução e culpa que irá, eventualmente, afetar a amizade existente entre as protagonistas. Sweeney trabalha com temas complexos que o roteiro tenta balancear entre o drama e a comédia, sem que um tom não sobreponha ao outro. Enquanto o retrato de luto é convincente em sua abordagem, o debate mesmo é como o público irá reagir pelas ações egóicas e problemáticas de Dennis que, apesar do roteiro mostrar de onde a personagem parte emocional e mentalmente, beiram ao invasivo e o antiético. 

Twinless não só marca bem essa fronteira com também a bagunça e revira de ponta cabeça, entre o ser e o não ser, a verdade e a mentira. Somente superando essa barreira é que Roman e Dennis podem finalmente entrar em sincronia. Certamente, é um filme que vai dialogar mais com certas bolhas e gerações do que outras.

*Esta crítica faz parte da cobertura do 27o Festival do Rio, realizado em 2025, visto em cabine de imprensa.

Autor:
                                  

Eduardo Cardoso é natural do Rio de Janeiro, Cidade Maravilhosa. Cardoso é graduado em Letras pela Universidade Federal Fluminense e mestre em Estudos de Linguagem na mesma instituição, ao investigar a relação entre a tragédia clássica com a filmografia de Yorgos Lanthimos. Também é escritor, tradutor e realizador queer. Durante a pandemia, trabalhou no projeto pessoal de tradução poética intitulado "Traduzindo Poesia Vozes Queer", com divulgação nas minhas redes sociais. E dirigiu, em 2025, seu primeiro curta-metragem, intitulado "atopos". Além disso, é viciado no letterboxd. 

 

segunda-feira, 15 de setembro de 2025

Filhos - A Culpa e a Penitência que Todos Nós Carregamos

Filhos | Mares Filmes

O mais novo filme do diretor dinamarquês Gustav Möller, Filhos, estreou nos cinemas brasileiros no último julho. A obra, que concorreu ao Urso de Ouro no ano passado em Berlim, relata a história de uma agente carcerária que tem sua vida transformada do dia para a noite quando percebe que o novo jovem a integrar o presídio no qual trabalha é simplesmente o sujeito que matou seu filho em outro reformatório. A partir disso, Eva (Sidse Babett Knudsen) entra em um conflito interno ético-moral e passa a ter comportamentos atípicos com o novo detento. Entretanto, suas ações acabam tendo consequências sérias naquele recinto, e ela percebe que, aos poucos, não corre o risco de apenas perder o seu emprego, mas também de perder a si mesma.

É preciso reconhecer que o trabalho de Sidse Knudsen está fantástico neste thriller psicológico, e sua performance é fundamental para nos conduzir emocionalmente durante todo o filme. A atriz consegue expressar seus dilemas com sutileza e profundidade, nos levando por uma verdadeira montanha-russa de sentimentos. Sua personagem demonstra estar em constante conflito — existe uma linha tênue sobre a qual a protagonista parece se equilibrar, o fio da navalha entre o que é justo e o que ela acredita ser certo. E isso é transmitido de forma extremamente palpável, gerando em nós, espectadores, uma inquietação constante: o que faríamos se estivéssemos no lugar dela?

Por mais que as locações do longa-metragem concentrem boa parte do tempo no espaço prisional, Gustav Möller utiliza com inteligência cada ambiente, cada vazio, para nos imergir em uma atmosfera claustrofóbica. A rotina rígida e os protocolos do presídio são constantemente apresentados e reforçam a estrutura fechada e inalterável daquele universo. É como se o tempo ali tivesse uma cadência própria, marcada por repetições, alarmes, portas de aço se fechando — tudo ordenado e previsível. No entanto, com a chegada do novo presidiário, tudo ao redor parece permanecer estático, mas dentro de Eva, há uma ruptura silenciosa, quase imperceptível à primeira vista. O mundo segue seu curso no presídio, mas dentro dela, a rotina se torna insuportável. O trauma, o luto mal resolvido e o conflito moral explodem em forma de um estresse psicológico crescente, que vai tomando conta da narrativa como uma bomba-relógio prestes a explodir.

O filme caminha, assim, para um final climático, intenso e emocionalmente devastador, onde a realidade entre os dois protagonistas finalmente se choca. Quando ambos são forçados a confrontar os fantasmas do passado, não há escapatória: tudo que foi reprimido, contido ou silenciado até então, vem à tona. É nesse embate que compreendemos que não é apenas o infrator quem cumpre uma penitência — Eva também carrega um fardo, uma dor que nunca foi elaborada. Ambos são prisioneiros, não apenas do sistema, mas de suas próprias culpas e memórias.

Filhos é uma história crua e visceral, que não busca soluções fáceis nem respostas claras. É um filme realista, duro, onde os personagens são tratados com profundidade e complexidade. As atuações são marcantes, e a direção de Möller é concisa e íntima, nos conduzindo por um drama psicológico inquietante e inesquecível.

Autor:


Meu chamo Leonardo Veloso, sou formado em Administração, mas tenho paixão pelo cinema, a música e o audiovisual. Amante de filmes coming-of-age e distopias. Nas horas vagas sou tecladista. Me dedico à exploração de novas formas de expressão artística. Espero um dia transformar essa paixão em carreira, sempre buscando me aperfeiçoar em diferentes campos criativos.

segunda-feira, 1 de setembro de 2025

Mononoke: O Fantasma na Chuva - Uma experiência visual e sensorial


Mononoke: O Fantasma na Chuva | Netflix

Dirigido por Kenji Nakamura, Mononoke: O Fantasma na Chuva, é um filme que vai além de contar uma simples história: ele oferece uma experiência completa para o espectador. Com apenas 91 minutos de duração, o longa nos conduz a um universo que mistura o sobrenatural com uma estética marcante e experimental de uma forma única. Baseado no anime de 2007, é notável que Kenji se mantém fiel e preserva a essência da obra original com a atmosfera carregada de visuais que parecem pinturas em movimento. 

Um dos maiores impactos é a animação. O traço lembra um quadrinho vivo, repleto de cores e texturas. Muitos personagens que se tornam figurantes no filme, aparecem sem o rosto, sendo substituídos por uma espiral em um fundo azul ou preto. Este recurso estético reforça um mistério e uma sensação de estranhamento, aproximando a película de um sonho distorcido. 

Tanto a arte quanto a história por si só, buscam o estilo tradicional japonês com elementos psicodélicos, criando algo definitivamente único. Tal atmosfera funciona perfeitamente na prática pelo simples motivo de que os mononokes, espíritos nascidos de emoções humanas negativas, são representados como distorções do real. Cada cor e cada movimento transmitem sentimentos, transformando as emoções em imagens. Um dos personagens principais, que fica conhecido como O Boticário, é o centro da narrativa. Seu design é tão marcante quanto a sua presença, extremamente imponente. Não se torna necessário o uso excessivo de falas para ele; apenas a sua postura enigmática para guiar a história.

A trama inicialmente pode parecer confusa, principalmente para aqueles que não assistiram ao anime que antecede o filme, mas a obra consegue conduzir muito bem o espectador. As intrigas políticas do Ooku e o espírito vingativo dão o ritmo à narrativa, que se equilibra entre a tensão e o espetáculo visual. Não é uma obra que entrega explicações fáceis.

O grande destaque está na direção de arte. As cores vibrantes e os movimentos calculados fazem cada cena parecer uma pintura viva. O psicodelismo nunca soa como algo gratuito: ele representa o caos emocional que dá origem aos mononokes, tornando o filme uma experiência quase sensorial.

O final fica um pouco aberto, o que pode dividir muitas opiniões. Há espaço para uma continuação, como foi o caso com a continuação que estreou neste ano, mas também funciona como uma forma de manter o verdadeiro mistério da película. É uma escolha extremamente coerente perante a proposta da obra, que nunca buscou ser muito óbvia ou totalmente explicada.

No fim, Mononoke: O Fantasma na Chuva se destaca como uma experiência extraordinariamente única. Enigmático em alguns pontos, mas sempre envolvente, é um filme que prende o espectador atráves do olhar e pela forma como traduz os sentimentos humanos em imagens. Kenji Nakamura reafirma aqui o potencial de uma animação ir além da narrativa, visando em como é possível transformá-la em uma verdadeira arte em movimento. 

Autor:

Bárbara Borges é do Rio de Janeiro e estudante de Jornalismo. Apaixonada por cinema desde criança, sempre foi movida por histórias intensas, especialmente as de terror, seu gênero favorito. Em 2024, dirigiu o documentário Além do Recinto, que levanta questionamentos sobre o bem-estar de animais silvestres em zoológicos e o impacto do confinamento longe de seus habitats naturais. Gosta de pensar no cinema como uma forma de provocar, sentir e transformar. Vive atualizando seu Letterboxd com comentários sinceros e, às vezes, emocionados. Entre seus filmes favoritos estão Laranja Mecânica, Psicopata Americano, Pânico, Pearl e Premonição 3.






segunda-feira, 18 de agosto de 2025

Os Caras Malvados 2 - Redenção difícil, zoeira garantida.

Os Caras Malvados 2 | Universal Pictures

Os Caras Malvados estão lutando para encontrar confiança e aceitação em suas novas vidas como mocinhos quando são retirados da aposentadoria e forçados a fazer “um último trabalho” por um esquadrão do crime composto apenas por mulheres.

No filme anterior, o grupo principal era rotulado como malvado principalmente por conta do preconceito que sofriam por serem animais considerados naturalmente selvagens, perigosos e, portanto, indesejados pela sociedade. Essa marginalização os empurrou para uma vida criminosa, já que, independentemente de suas intenções, eles nunca foram verdadeiramente aceitos ou compreendidos. No entanto, mesmo após sua redenção e os esforços genuínos para se tornarem heróis e fazerem o bem, Os Caras Malvados 2 mostra que a sociedade ainda não está pronta para perdoar ou esquecer o passado deles. A desconfiança persiste, revelando que mudar quem você é por dentro nem sempre é o suficiente quando o mundo ao seu redor continua preso a estigmas e julgamentos antigos. Esse conflito reforça a mensagem de que, muitas vezes, a maior batalha não é contra vilões ou obstáculos externos, mas contra os preconceitos profundamente enraizados nas estruturas sociais.

Esse filme é outro exemplo de sequência que supera seu antecessor, elevando tanto o humor quanto a profundidade emocional dos personagens. Os Caras Malvados 2 mergulha mais fundo nos dilemas internos do grupo, mostrando como cada um lida com a tentação de retornar à antiga vida de crimes enquanto tenta se manter no caminho da redenção. O filme traz o humor ousado característico da DreamWorks, como já vimos em Shrek, por exemplo, na cena em que Shrek chega a Duloc, repara no tamanho da torre do Lorde Farquaad e faz uma piada insinuando que ele estaria tentando compensar alguma coisa. Em Os Caras Malvados 2, o tom é semelhante, especialmente na relação entre o Sr. Cobra e a Sina (ou Susan). Apesar de serem espécies diferentes — algo recorrente nos filmes do estúdio, como o romance entre Melman, a girafa, e Glória, o hipopótamo, em Madagascar — aqui a parceria romântica é entre uma cobra e uma ave. Uma das cenas que melhor exemplifica esse humor mais ousado é os dois se beijando de forma exagerada, com o Sr. Cobra envolvendo totalmente o bico dela com a boca. Em outro momento, durante uma missão em que estão invadindo um cofre, os dois se comunicam por rádio, e o Sr. Cobra faz uma piada com duplo sentido sobre "arrombar o cofre". A conversa acaba sendo ouvida pelo Sr. Piranha, que, chocado, interrompe e pergunta se eles estão mesmo falando do cofre. Enquanto o primeiro filme foi bem mais tímido com esse tipo de piada, aqui os roteiristas se mostraram claramente mais à vontade para ousar — e o resultado é um humor mais afiado, provocativo e divertido.

Aqui, a animação traz bem mais cenas de ação, ao contrário do primeiro filme, que, embora tivesse sequências incríveis — como a cena inicial dos Caras Malvados fugindo da polícia e a da Diane na prisão derrubando os guardas —, apresentava poucas cenas desse tipo. Já nesta continuação, a ação ganha muito mais espaço. Logo no início, há uma sequência ambientada anos antes, quando o grupo ainda era do mal, durante um roubo eletrizante. Além disso, destaca-se a cena da luta livre, em que eles tentam impedir o roubo de um cinturão, trazendo ritmo e intensidade à trama.

A animação continua sendo um verdadeiro espetáculo visual, mantendo a estilosa mistura de 2D com 3D. Há momentos de humor visual bem marcantes, como, por exemplo, quando um dos personagens, em completo desespero, aparece gritando com uma expressão exagerada — totalmente em 2D —, criando um contraste cômico e expressivo com o restante da cena.

Os Caras Malvados 2 consegue ir além do que se espera de uma continuação, entregando um filme que é ao mesmo tempo mais ousado, mais engraçado e mais profundo que o original. Ele não apenas expande o universo e desenvolve ainda mais os personagens, como também reforça temas relevantes sobre identidade, preconceito e aceitação. Com uma animação vibrante, cenas de ação mais intensas e um humor afiado que não tem medo de brincar com os limites, o filme mostra que é possível evoluir sem perder o charme do que veio antes. Seja pela estética marcante, pelas relações inusitadas entre os personagens ou pela crítica social embutida na trama, essa sequência prova que os "caras malvados" ainda têm muito a dizer — e fazer — no mundo dos heróis improváveis. 

Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

quinta-feira, 3 de abril de 2025

Abá e sua Banda - Entre Músicas, Frutas e Revolução, A Política Nunca Foi Tão Animada!

Abá e sua Banda | Globo Filmes


Abá é um jovem príncipe em conflito com seus sonhos musicais e suas responsabilidades. Após romper com o pai, ele foge para se apresentar no Festival da Primavera ao lado dos amigos e descobre os planos de seu tio para acabar com a diversidade de Pomar.

A animação ensina política para as crianças por meio de uma analogia que compara o reino a uma cidade ou país. Nesse cenário, a população está revoltada com o governante devido às suas ações autoritárias, injustiças ou falhas na administração. A resistência, composta por cidadãos comuns e grupos organizados, busca derrubar esse governante para promover mudanças e garantir mais direitos e liberdade para todos. No entanto, a lição que Abá transmite vai além da simples abordagem de revoltas ou revoluções. 

Ele ensina às crianças que, para que a mudança seja realmente positiva, é necessário compreender as razões por trás da insatisfação. A política não se resume apenas a quem ocupa o poder, mas a como esse poder é exercido e quais valores ele promove. O filme também destaca a importância de cuidar do planeta e respeitar todos os seres vivos ao nosso redor, transmitindo a mensagem de que o meio ambiente é fundamental para nossa sobrevivência e bem-estar. Além disso, enfatiza a necessidade de união para que a sociedade evolua, mostrando que colaboração e solidariedade global são essenciais para resolver os desafios que enfrentamos.

O título Abá e sua Banda sugere que o protagonista faz parte de uma banda musical, indicando que o filme se insere no universo da música. Para os fãs desse gênero, o longa traz referências a bandas, frequentemente acompanhadas de trocadilhos relacionados a frutas. No entanto, como filme musical, ele acaba deixando a desejar ao não apresentar uma melodia marcante, com uma trilha sonora que, infelizmente, se revela bastante esquecível. 

A única música que realmente me agradou foi O Rap dos Rebeldes. Essa faixa é um manifesto dos jovens rebeldes que, por meio das rimas e da batida, expressam suas dificuldades, as injustiças que percebem ao seu redor e seus sonhos de mudança. Toca em temas como liberdade, igualdade e resistência ao sistema — conceitos comuns no rap, mas também apresenta uma abordagem de resistência positiva, que foca no poder da união e da ação coletiva. 

O estilo de rap se torna uma poderosa forma de expressão das angústias e desejos dos personagens. Suas rimas abordam questões como a rebeldia contra normas opressoras, a busca por um mundo melhor e a valorização de uma juventude que se une para transformar a realidade ao seu redor. O Rap dos Rebeldes não é apenas uma música, mas um símbolo do movimento dos protagonistas, que, como membros de uma banda, utilizam a música como forma de protesto e, ao mesmo tempo, como um meio para conscientizar outros jovens sobre o poder da união e da transformação. A canção reforça o tema central da animação: a importância de lutar pelos próprios ideais, mesmo que isso signifique ir contra a corrente.

O estilo visual da animação é amplamente inspirado na arte indígena brasileira. Isso se reflete nas formas geométricas simples, padrões simétricos e o uso de linhas orgânicas e fluidas. As ilustrações de personagens e cenários fazem uso de uma paleta de cores vivas e saturadas, que lembram as tintas e pigmentos naturais usados pelas culturas indígenas para pintar corpos e artefatos. Os traços são muitas vezes arredondados e orgânicos, com algumas representações de personagens que possuem características estilizadas que lembram as pinturas corporais e as esculturas tradicionais das tribos. As formas dos personagens são simplificadas e destacam-se pela estilização, sem perder a essência cultural e simbólica. 

A animação utiliza uma paleta de cores quentes e intensas, dominadas por tons de laranja, vermelho, amarelo e verde, representando tanto o calor tropical do Brasil quanto as cores vibrantes da natureza. A paleta é pensada para evocar a energia da terra e da floresta, com destaque para os cenários naturais, como as florestas tropicais e rios, que são representados com tons de verde e azul em harmonia. A paleta de cores também varia de acordo com as emoções e momentos da história. Durante cenas mais agitadas ou de crescimento, as cores são mais saturadas e intensas. Já em momentos mais introspectivos ou reflexivos, há um uso mais suave de tons pastéis e sombras mais suaves.

Abá e sua Banda é uma animação que aborda temas como política, resistência e preservação ambiental de forma educativa. A obra transmite importantes lições sobre união, transformação social e o cuidado com o meio ambiente, convidando as crianças a refletirem sobre a importância da colaboração e da justiça. Ao entrelaçar esses valores, a animação se estabelece como uma poderosa ferramenta para sensibilizar as novas gerações sobre a responsabilidade coletiva e o impacto das escolhas individuais na construção de um futuro mais justo e sustentável.

Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator em formação e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

segunda-feira, 10 de março de 2025

O Macaco - Quando o Terror se Perde no Humor

O Macaco | Paris Filmes


Quando irmãos gêmeos encontram um misterioso macaco de corda, uma série de mortes ultrajantes destroem sua família. Vinte e cinco anos depois, o macaco começa uma nova matança, forçando os irmãos afastados a confrontar o brinquedo amaldiçoado.

O filme apresenta os irmãos gêmeos Hal e Bill, cujas personalidades distintas geram uma dinâmica intrigante e enriquecedora para a narrativa. Hal, o mais introvertido, traz uma postura calma e introspectiva, com uma leve ironia que adiciona camadas ao seu personagem, tornando-o uma figura complexa e interessante. Sua distância emocional não é apenas uma característica, mas uma forma de se proteger e observar o mundo ao seu redor com uma perspectiva única. Já Bill, o mais expansivo e impulsivo, é o oposto em muitos aspectos, mas essa diferença não diminui a profundidade de sua personalidade. Sua confiança e comportamento desinibido criam momentos de leveza e espontaneidade, equilibrando a história de forma refrescante.

A interação entre os dois irmãos é fundamental para o desenvolvimento da trama, pois, apesar de suas diferenças, a ligação emocional que compartilham é forte e palpável. A relação deles não só alimenta a narrativa, mas também explora de maneira sutil como dois indivíduos tão diferentes podem influenciar um ao outro, moldando suas escolhas e ações de forma significativa. Essa dinâmica traz uma camada emocional que ressoa com o público, mostrando que as complexidades dos relacionamentos fraternais podem ser tanto um ponto de tensão quanto de crescimento. Bill, em sua essência, lembra o personagem Richie de It - A Coisa, um outro exemplo de personagem desbocado e irreverente.

No entanto, longe de ser uma simples repetição, ele agrega um frescor ao filme, pois suas provocações e atitudes impulsivas, embora possam ser irritantes para alguns, também são um reflexo da vulnerabilidade e da busca por aceitação, temas universais e relevantes. O fato de o público poder, em algum momento, sentir um desgosto por esses comportamentos, acaba sendo um ponto positivo, pois mostra como o filme consegue gerar uma reação emocional verdadeira, algo que muitas obras buscam sem conseguir. A narrativa, ao explorar as diferenças e semelhanças entre Hal e Bill, cria uma trama rica e multifacetada, onde as relações humanas, com todas as suas complexidades, são o verdadeiro centro da história. O filme, assim, consegue fazer com que o público se envolva, refletindo sobre as escolhas dos personagens e como essas escolhas os moldam ao longo do tempo.

O monstro do filme, que é representado pelo próprio macaco, desempenha um papel sutil, mas eficaz, na construção do clima de tensão e mistério. Embora sua presença no início pareça limitada a gestos simples, como bater no tambor e exibir um sorriso macabro, há uma profundidade que vai além de suas ações superficiais. O sorriso do macaco, em particular, é uma escolha interessante, pois ele transmite uma sensação de desconforto que vai crescendo à medida que a história avança. Esse sorriso, que poderia ser facilmente descartado como algo superficial, acaba se tornando uma das imagens mais perturbadoras e simbólicas do filme, representando uma força estranha e ameaçadora que está sempre à espreita, pronta para emergir.

O filme utiliza essas pequenas ações para construir um ambiente de crescente tensão psicológica. A forma como o macaco parece agir com um propósito misterioso, sem explicações claras, faz com que o público se envolva mais profundamente com o mistério, mantendo o interesse pela figura enigmática e desafiando a percepção de que "monstros" precisam ser sempre fisicamente ameaçadores ou violentos. Essa construção do monstro através da sugestão e do comportamento enigmático também ressoa com o tema central do filme, onde o que é "normal" ou esperado está constantemente sendo desafiado. Ao não mostrar o monstro de maneira explícita e ao reduzir suas ações a gestos simples e, ainda assim, perturbadores, o filme faz um excelente uso do suspense psicológico, mantendo o público cativado e, ao mesmo tempo, questionando o que realmente está em jogo.

Eu cheguei a ler o material original O Macaco, que, quando lançado, era um livreto, mas foi posteriormente incluído na coleção de contos Tripulação de Esqueleto, de Stephen King. A obra original é uma narrativa completamente tensa e sombria, marcada pela atmosfera opressiva e pela construção de uma sensação crescente de terror psicológico. Ao contrário da adaptação cinematográfica, que tenta inserir elementos de comédia e humor ácido, o conto de King é imersivo e assustador, onde a tensão se mantém constante e a presença do macaco como figura ameaçadora não é suavizada por piadas ou ironias.

O terror é profundo, enraizado na perda, no medo do desconhecido e na vulnerabilidade humana, temas que King explora com maestria. No livro, o macaco representa algo muito mais do que um simples ser maligno; ele simboliza a inevitabilidade do mal e as consequências de ações passadas, criando uma experiência de horror psicológico que faz o leitor questionar a própria natureza da realidade. O conto original é uma reflexão perturbadora sobre o impacto do trauma e da obsessão, criando uma sensação de desespero quase palpável.

Ao transpor essa obra para o cinema, o tom sombrio e a profundidade emocional que King criou no conto acabaram sendo diluídos em favor de uma abordagem mais leve e irreverente. Enquanto o humor ácido na adaptação pode agradar a alguns, ele enfraquece o impacto do terror psicológico presente na obra original. O Macaco, como foi escrito, é uma história que nos confronta com o medo de forma imersiva, sem apelar para o alívio cômico. Assim, a adaptação perde, em grande parte, a intensidade daquilo que torna o conto original tão perturbador e eficaz em sua narrativa de terror.

O Macaco mistura terror psicológico e comédia irreverente, oferecendo uma dinâmica interessante entre os irmãos gêmeos. No entanto, ao suavizar o tom sombrio do conto original com humor ácido, perde a intensidade emocional e o impacto aterrador da obra de Stephen King.

Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator em formação e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025

Aos Pedaços - Uma obra do vazio para o vazio

Aos Pedaços | Pandora Filmes
 

Aos Pedaços é um filme protagonizado pelo personagem Eurico Cruz (interpretado pelo ator Emílio de Mello), que sofre de uma paranoia onde sua mulher, Anna, vai a qualquer momento matá-lo. Tudo se complica mais a partir do momento que Eurico começa a ver duas versões de sua mulher, mais um homem que tenta convencê-lo a matar sua mulher antes de sua imaginação virar realidade. O filme é de 2020 e tem a direção de Ruy Guerra. 

Como um grande admirador do cinema de Ruy Guerra, me surpreende o fato de sua direção sempre se manter tão sóbria e contida nessa obra, oque não é algo de costume do diretor que foi responsável por tantas obras durante o Cinema Novo e também após o movimento. Aqui a direção fotográfica é um dos poucos pontos fortes, tendo uma ótima decupagem e uma ótima direção das luzes, oque ofusca o som do filme que é executado de forma bastante precária. Oque é problemático, já que a obra por si só é carregada de diálogos quase a todo tempo. 

O filme em nenhum momento tenta fugir de se mostrar como uma grande referência da obra Persona, de Ingmar Bergman, até mesmo nos movimentos de câmera. Oque não chega a ser algo positivo. Nada contra o diretor sueco, quem vos escreve admira muito seus filmes, mas não aqueles que o tentam copiar. Não crítico ter a inspiração, no mundo da arte inspirações são de extrema necessidade. Mas uma obra brasileira tentando ser um filme sueco sem nenhuma outra inspiração se torna algo vazio.

A narrativa acontece, e o espectador já para metade do filme, não dá a mínima sobre oque vai acontecer com todas as figuras ali presentes. Não quer saber quem vai viver, ou quem vai morrer, pois no filme todos agem e são tratados como almas já mortas, sem importância. Algo que, por incrível que pareça, não é culpa dos atores. Os atores fazem oque podem com o material entregue, mas a direção enfatiza em tentar ser algo mais poético, porém sem alma. 

A referência de Bergman aqui também tem uma ligação forte com a linguagem teatral. A direção tenta conduzir o espectador a entrar na atmosfera fúnebre de uma peça com atores a deriva, mas Bergman tinha a capacidade de capturar seus espectadores para seus pesadelos de forma sucinta, e com muito menos diálogos pseudopoéticos(diálogos que Bergman sempre soube conduzir na medida certa sem parecer algo prepotente). Enquanto Ruy tenta fazer de tudo para chegar a ser Bergman nessa obra, esquece completamente de ser o próprio Ruy Guerra, que dirigiu filmes como Os Deuses e Os Mortos, onde existia um mundo caótico com muito mais vida do que seu último filme. 

Mesmo com suas problemáticas, a direção fotográfica de Pablo Baião consegue criar a melancolia e o mundo morto onde o protagonista não consegue ter a noção de estar vivo ou morto naquele cenário. Algo que Baião conseguiu expressar com tamanha habilidade com as luzes, com os movimentos de câmera e no trabalho conjunto com as atrizes Simone Spoladore e Christiana Ubach. 

Aos Pedaços é uma tentativa de poesia que tenta abraçar o existencialismo e a loucura no meio da solidão, mas acaba sendo uma tentativa de niilismo barata e sem inspiração. Mostra conflitos sem cor e sem emoção, uma junção de tentar ser algo potente mas que acaba em mais uma tentativa frustrada de tentar ser um filme sueco no Brasil. Um filme sobre paranoia, mas não tanta; amor, mas tão pouco; alucinações, mas com controle. Uma obra que se contem o tempo todo, e dificilmente dá para ouvir e ver aquele que não sabe muito bem oque falar. 

TEXTO DE ADRIANO JABBOUR.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

Aqui - Um Filme que Passa a Vida Inteira Sem Sair do Mesmo Lugar

Aqui | Sony Pictures


Em Aqui, produção do diretor Robert Zemeckis, se ambienta em um único lugar: a sala de uma casa. Acompanhando diversas famílias ao longo de gerações, todas conectadas por este espaço tempo que um dia chamaram de lar. Usando esse espaço único para ilustrar as transformações ocorridas em diversas eras, desde os primórdios da humanidade. Richard (Tom Hanks) e Margaret (Robin Wright) são um casal prestes a deixar o lar onde colecionaram uma emocionante jornada de amor, perdas, risos e memória, que transportaram desde o passado mais distante até um futuro próximo. Apresentando uma viagem pela linha do tempo da humanidade, contada de forma emocionante e surpreendente, onde tudo acontece em um único lugar: Aqui.

A direção do filme, conforme indicado na sinopse, é atribuída a Robert Zemeckis, renomado cineasta responsável pela aclamada trilogia De Volta para o Futuro, Forrest Gump, O Expresso Polar, Os Fantasmas de Scrooge e pelo polêmico live-action Pinóquio (2022), que, embora tenha gerado controvérsias, é apreciado por uma parte do público. Neste trabalho, Zemeckis apresenta uma narrativa que, assim como Forrest Gump, tem a capacidade de provocar risos, emoções intensas e reflexões profundas sobre a vida.

Embora o filme aborda várias gerações ao longo de sua narrativa, a escolha de manter a câmera fixa no mesmo local durante toda a projeção é uma decisão ousada e intrigante. Essa abordagem, além de transmitir uma sensação de continuidade e imersão, convida o espectador a se concentrar profundamente nos diálogos e nas nuances dos personagens, sem a distração de mudanças visuais constantes. Tal escolha acrescenta uma camada de profundidade ao filme, permitindo que a atenção se volte para a evolução emocional e narrativa das personagens, o que se revela uma ideia cinematograficamente rica e eficaz.

Embora o filme explore a história de várias gerações no mesmo cenário, o foco principal está na trajetória de Richard Young e Margaret Young. O público é profundamente cativado pela evolução de Richard, acompanhando sua jornada desde o nascimento até a infância, adolescência — quando conhece Margaret —, passando pela fase adulta e chegando à velhice. Essa narrativa dinâmica e multifacetada é eficaz em criar uma conexão emocional com o espectador, permitindo que ele testemunhe o amadurecimento de Richard ao longo do tempo e a transformação de seu relacionamento com Margaret. A riqueza dos personagens e a maneira como suas vidas se entrelaçam ao longo das décadas adicionam uma profundidade única à trama, tornando-a não apenas uma história de amor, mas também uma reflexão sobre o ciclo da vida e as mudanças que o tempo impõe.

Robert Zemeckis utilizou inteligência artificial para modificar digitalmente as imagens de Tom Hanks e Robin Wright, permitindo que interpretassem versões mais jovens e velhas de suas personagens ao longo de cinquenta anos. Desenvolvida pela Metaphysic, a tecnologia elimina a necessidade de pós-produção, mas seu uso levanta sérias questões éticas e artísticas. A técnica pode comprometer a essência da interpretação, reduzindo a complexidade e a expressividade humana em prol de um artifício tecnológico.

Aqui é uma obra emocionante que, com a direção de Robert Zemeckis, explora o ciclo da vida e as transformações ao longo das gerações, ambientando toda a narrativa em um único espaço. A história de Richard e Margaret cativa pela profundidade emocional, refletindo sobre o amor, as perdas e o legado que deixamos, proporcionando uma experiência cinematográfica íntima e impactante.

Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator em formação e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

Mufasa: O Rei Leão – Uma Nova Origem, mas sem Reconquistar a Magia dos Clássicos

Mufasa: O Rei Leão | Disney


Prólogo do live action de Rei Leão, produzido pela Disney e dirigido por Barry Jenkins, o longa contará a história de Mufasa e Scar antes de Simba. A trama tem a ajuda de Rafiki, Timão e Pumba, que juntos contam a lenda de Mufasa à jovem filhote de leão Kiara, filha de Simba e Nala. Narrado através de flashbacks, a história apresenta Mufasa como um filhote órfão, perdido e sozinho até que ele conhece um simpático leão chamado Taka – o herdeiro de uma linhagem real. O encontro ao acaso dá início a uma grande jornada de um grupo extraordinário de deslocados em busca de seu destino, além de revelar a ascensão de um dos maiores reis das Terras do Reino.

O filme O Rei Leão (2019) recebeu críticas negativas devido à falta de expressões faciais nos animais, o que conferiu à obra um tom mais próximo de um documentário sobre a vida selvagem do que de uma animação. Embora a qualidade técnica da produção seja inegável, o realismo excessivo resultou na ausência de características emocionais nos personagens animais. Em Mufasa, somos apresentados a uma história inédita, que não foi explorada nas animações anteriores, mas que já havia sido mencionada em livros, os quais, no entanto, foram desconsiderados como parte do cânone oficial. Considerando a minha antipatia pelo filme de 2019, decidi dar uma segunda chance à nova produção devido à introdução de uma história inédita. Embora não queira me apoiar exclusivamente na nostalgia como argumento, confesso que ficaria mais inclinado a assistir se a animação fosse no estilo clássico.

O filme narra a história de Mufasa e como ele conheceu Taka, que futuramente seria conhecido como Scar, deixando claro que ambos não são irmãos de sangue, mas sim irmãos de criação. Essa abordagem difere da apresentada no livro A Tale of Two Brothers, que relata a história de Ahadi, o Rei Leão, que tinha grande afeição por seus filhos, Mufasa e Scar. Mufasa, sendo o primogênito, assumiria o trono um dia, motivo pelo qual Ahadi passava longas horas com ele, ensinando-lhe tudo o que precisaria saber. Com o tempo, Scar passou a nutrir ciúmes de Mufasa. Foi então que Ahadi quebrou uma promessa feita a Scar. Sentindo-se frustrado e consumido pelo rancor, Scar fez sua própria promessa: um dia governaria as Terras do Reino. Essa narrativa faz parte da coleção The Lion King: Six New Adventures, uma série de livros derivados, inspirados no universo de The Lion King. 

A coleção, composta por seis histórias escritas por diferentes autores, foi publicada pela Grolier Enterprises, Inc. e produzida pela Mega-Books, Inc., em 1994. Infelizmente, essa história foi negligenciada, já que o primogênito de Simba e Nala não foi mencionado nos filmes, na série animada, nem mesmo nesta produção cinematográfica. Na série animada A Guarda do Leão, a origem da cicatriz de Scar é apresentada de maneira distinta da mostrada nos livros e neste novo filme. O que decepciona os fãs da franquia, que esperavam ver os livros adaptados para o formato audiovisual, é que, embora se trate de uma adaptação, ela não ocorre da maneira desejada. A produção se afasta consideravelmente da proposta original dos livros.

A relação entre Mufasa e Taka é profundamente envolvente, mesmo com o público ciente do trágico desfecho que os aguarda. O filme constrói habilmente uma dinâmica rica entre os dois personagens, marcada por respeito mútuo e uma saudável competitividade. A tensão entre eles é visivelmente alimentada pela rivalidade, mas também pela admiração, o que acrescenta complexidade à sua interação. Embora o pai de Taka, o rei da região onde Mufasa chega, não nutria simpatia por ele no início, o filme lida com essa diferença de maneira sutil, mostrando como Mufasa é aceito e acolhido pela mãe de Taka, o que ajuda a humanizar o conflito.

O filme utiliza fanservice de maneira eficaz, agradando tanto aos fãs de longa data quanto aos espectadores que conhecem os filmes clássicos. A música tema e os easter eggs, que fazem referência a eventos futuros, são momentos de nostalgia que certamente provocam sorrisos. No entanto, em alguns casos, o fanservice parece ser uma estratégia um pouco forçada, servindo mais como uma forma de apelo fácil ao público do que como uma contribuição significativa à trama.

Ao contrário do primeiro filme, em que os animais não exibiam expressões faciais, nesta nova versão, a tecnologia avançada permite que eles mostrem emoções de forma muito mais clara e detalhada. As expressões faciais agora transmitem com maior intensidade os sentimentos dos personagens, o que aproxima o público de suas experiências e cria uma conexão emocional mais forte. Essa melhoria na animação permite que os espectadores entendam melhor o que os animais estão vivenciando.

Mufasa: O Rei Leão apresenta uma história inédita sobre Mufasa e Taka, oferecendo uma nova perspectiva sobre a origem de Scar. A animação melhorada permite expressões faciais mais detalhadas, criando uma conexão emocional mais forte com os personagens. Contudo, o filme se afasta das narrativas originais dos livros e da série animada, com fanservice que pode parecer forçado. Embora a produção traga elementos de nostalgia, ela não consegue resgatar completamente o espírito dos clássicos, deixando uma impressão mista.


Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator em formação e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.


sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim - Uma Jornada Sem Magia e Surpresas

O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim | Warner Bros. Pictures


O Senhor dos Anéis: A Guerra de Rohirrim acompanha a história não contada por trás do famoso Abismo de Helm, a fortaleza icônica que ajudou na jornada de Aragon, Legolas e Gimli centenas de anos antes da fatídica Guerra dos Rohirrim, contando a vida e os tempos sangrentos de seu fundador, Helm Hammerhand, o rei histórico de Rohan. 183 anos antes das aventuras de Frodo e dos eventos da trilogia original de filmes, O Senhor dos Anéis: A Guerra de Rohirrim acompanha o destino do povo do reino de Rohan e a saga de seu rei Helm, ambos em guerra com Wulf, lorde do povo Dunlending que busca vingança pela morte de seu pai. Será Hera, filha de Helm, porém, quem irá liderar a resistência contra os ataques desse implacável inimigo antes que seja tarde demais.

Após a famosa trilogia de livros de Tolkien, ambientada na Terra-média, ser adaptada para o cinema entre 2001 e 2003, ela se tornou um dos maiores ícones da cultura pop e inspirou diversos jogos de RPG. Sob a direção de Kenji Kamiyama, conhecido por seu trabalho em Star Wars: Visions, e com a produção executiva de Peter Jackson, o mesmo diretor de O Senhor dos Anéis, O Hobbit e King Kong (2005), o filme não tem a intenção de ser uma continuação de O Senhor dos Anéis. Ao contrário, busca contar uma história independente, ambientada em uma antiga guerra no reino de Rohan. 

Para isso, os criadores introduzem uma personagem presente nas obras de J.R.R. Tolkien: a filha de Helm Mão-de-Martelo, Hera. Como fã de animações e de anime, fiquei muito empolgado quando o projeto foi anunciado. No entanto, infelizmente, a obra não atendeu às minhas expectativas. O conflito familiar e a luta entre líderes de diferentes "casas" dentro do mesmo reino fazem com que A Guerra dos Rohirrim se assemelhe mais a Game of Thrones. A fantasia perde destaque, sendo substituída por uma trama centrada em traições, amores não correspondidos e mortes impactantes.

A trama do filme é razoável, tentando alcançar algo grandioso, mas segue caminhos previsíveis quanto ao destino de certos personagens e ao desenvolvimento de outros. Um exemplo disso é o vilão, cuja conexão com Hera é rasa, e sua motivação se resume apenas à vingança, sem uma exploração mais profunda. Isso faz com que seu arco seja monótono e o final, sem surpresas.

A protagonista Héra é uma personagem forte, com uma personalidade marcante, o que representa uma evolução em relação às primeiras obras de Tolkien. Sua jornada, embora eficaz, segue um caminho um tanto genérico, encaixando-se no clichê da princesa rebelde, sem explorar completamente seus desejos e habilidades. O enredo não se limita a ela, mas também destaca Olwyn, uma guerreira do passado, ressaltando que mulheres como ela desempenharam papéis cruciais na defesa de Rohan. Em um cenário de guerra, onde os homens muitas vezes minimizam o papel das mulheres, essas guerreiras são chamadas de volta à ação, trazendo uma nova dinâmica para a Terra-média. O vilão Wulf segue o estereótipo do guerreiro movido por vingança, enquanto os arquétipos masculinos se dividem entre heróis honrados e os gananciosos, dispostos a matar sem considerar o bem maior.

Logo no início de A Guerra dos Rohirrim, a exibição do título é acompanhada pela trilha sonora icônica de O Senhor dos Anéis, composta por Howard Shore, oferecendo uma dose de nostalgia para os fãs da franquia. A música, épica e emocional, com seus elementos orquestrais e corais, evoca a grandiosidade da Terra Média, estabelecendo imediatamente um vínculo com o público. 

No entanto, quando a trilha segue com a composição de Stephen Gallagher, editor de música da trilogia O Hobbit de Jackson, fica claro que ele tenta manter o estilo de Shore, mas sem o mesmo impacto. Embora o retorno ao tema de Rohan seja bem-vindo, a música de Gallagher, por mais competente que seja, acaba sendo uma réplica segura demais do que já conhecemos, sem conseguir oferecer uma identidade única para o novo filme. A familiaridade da trilha sonora traz conforto, mas também revela uma falta de inovação, o que pode deixar os mais exigentes com uma sensação de déjà-vu.

O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim tenta explorar uma nova parte da história de Rohan, mas se afasta dos elementos de fantasia que tornaram a obra original única, focando mais em intrigas políticas e conflitos familiares. A protagonista e os temas de guerra e vingança trazem uma nova dinâmica, mas a trama perde a mística da Terra Média. 

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Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator em formação e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

Empate – Seringueiros, os guardiões da floresta

Empate | Descoloniza Filmes

Direto e reto, o documentário Empate vem para reacender discussão sobre floresta, posse, direitos, condições de vida de trabalhadores rurais e o agronegócio (pop, eles disseram!). A obra é uma poderosa narrativa visual que mergulha na história dos seringueiros do Acre, que lutaram bravamente pela preservação de parte da floresta Amazônica em meio ao avanço do desmatamento à favor do agronegócio (tech, eles disseram!).

Como ambientação, trata daquele velho Brasil das décadas de 70 e 80, marcado pela ditadura militar e suas peculiaridades, por assim dizer. Segundo consta, a ideia era incentivar a ocupação da Amazônia para proteger fronteiras com o exterior e integrar a floresta ao resto do país. Como isso seria feito? Como qualquer projeto de desenvolvimento econômico: no lugar da floresta, gado, rodovias, hidrelétricas etc. Com o agronegócio em expansão, o desenho estava formado.

Ao contextualizar essa realidade, Empate traz um registro forte e ao mesmo tempo cheio de sensibilidade, simplicidade e rigor histórico. O documentário retrata não apenas a luta dos seringueiros e suas famílias para proteger tanto – e tanto – aquela floresta, como também a ideia de coletividade que sustentou desde o início o movimento.

Entre uma entrevista e outra, uma ambientação e outra, em cada canto, milimetricamente filmado, desde o primeiro minuto, é perceptível presença forte de Chico Mendes. A presença da ausência, como dizem! Ele que norteou o desejo daquele povo pela proteção da floresta, estava a todo tempo nas palavras de saudade, no olhar vazio e esperançoso de todos os personagens. Chico é símbolo da luta ambiental, reconhecido nacional e internacionalmente. A ideia dele já foi disseminada, feito penugem de dente-de-leão ao menor sinal de vento. 

Trazendo para os dias de hoje, os desafios sociais e ambientais ainda persistem, é visível! Empate não acaba nos créditos, pelo contrário, abre espaço para que os debates a respeito da temática não cessem. Por isso é uma obra tão importante.Empate tem uma atmosfera densa e melancólica – triste, até! –, mas deixa vivo o sentido de união de uma comunidade inteira que, com pouco, enfrentou os interesses de grandes corporações e de um Estado omisso e conivente. Lá atrás conseguiu, a história está aí para provar. E hoje?

A luta dos seringueiros, os guardiões da floresta, continua viva em cada pessoa que se posiciona contra a devastação. A ideia é viver junto com a floresta, não sem ela – motivos óbvios.

Autora:


Lá em 2004 participei do meu primeiro filme. Ali apaixonei pelo cinema, mas como toda boa paixão, à la Jack e Rose, naufragou. A vida toma rumos e acabei seguindo outra área. Mas nada apaga uma boa paixão, né isso? Me chamo Carol Sousa e hoje falo e escrevo sobre cinema, quem sabe isso quer dizer amor...

quarta-feira, 4 de dezembro de 2024

Sting: Aranha Assassina - Quando o Terror Se Perde em Tentativas de Humor e Drama Familiar

Sting - Aranha Assassina | Diamond Filmes

Em Sting - Aranha Assassina, uma noite fria e tempestuosa em Nova York, um objeto misterioso cai do céu, quebrando a janela de um prédio de apartamentos decadente. Dentro dele, um ovo eclode, dando vida a uma estranha aranha. Charlotte (Alyla Browne), uma garota rebelde de 12 anos e fã de histórias em quadrinhos, descobre a criatura e a nomeia Sting. Enquanto sua mãe e seu padrasto, Ethan (Ryan Corr), lutam para se ajustar à chegada de um novo bebê, Charlotte se sente cada vez mais isolada e encontra consolo na amizade com Sting. No entanto, à medida que a aranha cresce em tamanho e apetite, os animais de estimação dos vizinhos começam a desaparecer, seguidos pelos próprios moradores. Quando a verdadeira natureza de Sting é revelada, Charlotte se vê em uma corrida contra o tempo, sozinha em sua luta para salvar sua família e os excêntricos habitantes do prédio de um aracnídeo voraz que agora os caça. Determinada a proteger aqueles que ama, Charlotte deve encontrar uma maneira de deter a criatura antes que seja tarde demais.

Filmes com animais assassinos costumam misturar o medo com o suspense, e geralmente apresentam criaturas que se tornam uma ameaça para os seres humanos. O filme mais recente envolvendo Aranha Assassina e até possui uma premissa parecida é Infestação (2023), que acompanha Kaleb, um jovem solitário que encontra uma aranha venenosa em um bazar e a leva para seu apartamento. Quando a aranha se espalha rapidamente, o prédio se torna uma armadilha mortal, e os moradores devem lutar pela sobrevivência enquanto a polícia isola o local. No entanto, Em Sting se diferencia ao focar na relação emocional de Charlotte com a criatura, em um enredo que mistura o medo com um toque de empatia e solidão adolescente. A tensão central reside não apenas na ameaça da aranha, mas também no isolamento e na crescente desconexão de Charlotte com os outros, sendo até interessante. Enquanto o Ethan, que exerce o papel de padrasto, sente-se sobrecarregado ao prestar assistência aos moradores do edifício em ruínas, realizando tarefas como encanamento e outras atividades. Além disso, dedica seu tempo livre à ilustração de histórias em quadrinhos, enquanto gerencia suas responsabilidades familiares, incluindo o cuidado do bebê e a manutenção de seu relacionamento com a enteada. O dramas familiar é interessante nesse gênero, mesmo que o foco seja o terror, é possível de criar empatia pelos personagens.

As sequências envolvendo a criatura ameaçadora falham em gerar o impacto desejado, resultando em uma experiência desconexa e sem tensão. Embora o filme se proponha a ser de terror, a mistura de elementos cômicos com o aspecto aterrorizante acaba comprometendo sua eficácia. A tentativa de equilibrar o humor com o medo se revela forçada, prejudicando a imersão do público e minando o potencial das cenas mais intensas. Além disso, a falta de consistência tonal torna a narrativa superficial, afastando a possibilidade de criar uma atmosfera realmente envolvente e inquietante. O filme, ao invés de explorar o medo de forma plena, se perde em uma tentativa equivocada de apelar para diferentes registros emocionais, sem alcançar uma identidade coesa que conecte o espectador à trama.

A protagonista do filme é excessivamente irritante, sempre reclamando do padrasto, do irmãozinho e de tudo ao seu redor. Sua mãe critica o marido, que trabalha fazendo quadrinhos. A única forma de criar empatia pela história é o fato de serem uma família com um bebê envolvido. Se fosse um grupo de amigos, seria fácil torcer para que a aranha resolvesse eliminar todos.

Sting - Aranha Assassina" tenta mesclar terror e drama familiar, mas a mistura de humor e medo compromete a tensão. A narrativa se torna desconexa, e os personagens, especialmente a protagonista, dificultam a criação de empatia. Embora a trama busque explorar o isolamento e a relação com a família, o filme falha em gerar impacto, tornando-se uma experiência insatisfatória para os fãs de terror. 

Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator em formação e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

Telefone Preto 2 - Do Suspense Psicológico para a Hora do Pesadelo

Telefone Preto 2 | Universal Pictures Pesadelos assombram Gwen, de 15 anos, enquanto ela recebe chamadas do telefone preto e tem visões pert...