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segunda-feira, 19 de maio de 2025

Notas de Película: O Medo (1955)

 

O Medo | Aniene Film

Um dos pontos que mais me interessam no conjunto da obra de Roberto Rossellini é a forma que o diretor consegue navegar em tantos gêneros cinematográficos e ter a habilidade de criar uma atmosfera tão específica em cada um dos seus filmes mais conhecidos. Em 3 dias, tive o tempo para assistir "Francisco, Arauto de Deus"(1950), "L'Amore"(1948) e "O Medo", e algo que me seduziu em todos esses 3 filmes, além dos outros que eu já conhecia do diretor, era sua capacidade em desenvolver narrativas tão contemplativas. No conjunto de suas obras mais conhecidas, não existem narrativas mirabolantes e nem mesmo pirotecnias técnicas(bem característico do Neorrealismo Italiano), mas Rossellini faz questão de utilizar todo o espaço fora seus personagens como utensílio para colocar o espectador preso em um pesadelo, não necessariamente violento, muito menos sangrento, mas hipnotizante. 

Em "O Medo", o diretor coloca nossa protagonista em completa tensão e medo sobre a verdade aparecer a tona para seu marido, mas Rossellini não coloca a personagem de Ingrid Bergman em um estado exaustivo e sem esperanças como a protagonista em Stromboli(1950), mas faz uma alusão à miséria da mentira humana. Nossa protagonista Irene e seu marido Wagner são químicos que desenvolvem substâncias para uma fábrica, onde as testam em animais como ratos, camundongos, coelhos, etc. O filme não começa com um plano sobre esses animais mas os coloca como um artifício em cenas rápidas onde os químicos estão testando um veneno e sua cura. Irene não foge de ser um animal manipulado como os mesmos animais que ela e sua equipe utilizam como teste, principalmente como a manipulação sobre ela funciona. 

Enquanto seu marido, Professor Wagner, age com a maior delicadeza e super atento à sua mulher, sua manipulação em não contar sobre já saber da traição e colocar a ex-mulher do homem com quem Irene teve um caso como aquela que chantageasse sua esposa em contar a verdade, coloca Irene exatamente como em um dos últimos planos onde ela caminha sobre as salas onde todos os animais estão presos em pequenas jaulas. No final, Rossellini coloca os três personagens protagonistas como animais encarcerados, sejam por suas mentiras, seja por vingança, ou mesmo por uma lição moral. 

O próprio diretor já executou isso em parte de suas obras, seja a miséria dos conflitos e da existência humana nas guerras e nas relações amorosas, sendo mais otimista e esperançoso nos planos contemplativos e no desenvolvimento de seus personagens em "Francisco, O Arauto de Deus". Mas Rossellini segue um outro caminho com "O Medo", onde a tensão existe em todos os personagens presentes, até mesmo em Eric, homem com que Irene traiu seu marido, em sua incerteza do amor de Irene por ele ter acabado ou não. 

Mas Rossellini não finaliza sua narrativa com a tensão, mas com um abraço de um casal apaixonado, se desculpando um com o outro. Essa tensão existente entre todos e a desconfiança sobre cada um ali tem total conexão com o momento de tensão política existente pós-Segunda Guerra Mundial, onde ainda prevalecia a tensão sobre os países participantes dos conflitos que foram destruídos e se mantinha a insegurança financeira e alimentícia, além de emendar com a tensão da Guerra Fria, onde a tensão prevalecia em não saber oque vai acontecer. 

No final, o abraço de Irene e Wagner é um afago para o espectador para ter segurança de que tudo ficará bem. Rossellini poderia ter deixado de lado esse abraço e seguir como planejado em deixar nossa protagonista se matar para não enfrentar a decepção de seu marido, mas faz questão de converter sua narrativa em uma esperança sem medo de toda desconfiança e caos que prevaleceu após os anos 40.

TEXTO DE ADRIANO JABBOUR. 


quarta-feira, 18 de setembro de 2024

O Desprezo - O Cinema como Espelho

O Desprezo | Les Films Concordia

O Desprezo (Le Mépris), é um drama francês de 1963, dirigido por Jean-Luc Godard, que explora a crise de um casamento, trabalhando em conjunto com uma releitura da Odisseia de Homero. Além disso, apresenta diferentes pontos de vista do cinema, arte e mercado, de forma que o diretor cria uma grande metalinguagem cinematográfica.

A Novelle Vague ou nova onda, foi um movimento francês, que tinha como um de seus pilares a quebra do clássico, para que novas formas de expressão surjam. “O desprezo” surge como um reflexo tardio e mais sofisticado da Novelle Vague, se utilizando muitos dos pilares cinematográficos do movimento, como a utilização de planos longos, ângulos não convencionais, entre outros. Para Godard, a originalidade do cinema está na forma com que o seu realizador manipula a câmera no intuito de moldar a realidade, portanto, a partir disso Godard cria uma reencenação/reinterpretação da Odisseia, porém, em outro formato, outro contexto e outro tempo, dessa forma Godard põe em evidência a evolução do cinema e da arte num geral, porque toda obra é sobretudo, fruto de seu tempo.

Nessa obra, o diretor se encontra mais maduro cinematograficamente falando, criticando diretamente a divisão e embate do cinema americano (evidenciado como um cinema mercadológico) e o cinema europeu (cinema verdadeiramente artístico). Vemos Fritz Lang, tanto atuando como sendo interpretado, como um clássico diretor europeu, sendo moldado por um produtor americano, deixando seu filme o mais americanizado possível, desenvolvendo um embate entre o cinema mercadológico e o cinema arte, essa dialética é evidenciada na barreira linguística que separa Fritz Lang, do produtor americano.

Sobretudo, é um filme sobre emoções, pessoas e a irracionalidade ao redor delas. O desprezo, que nomeia a obra, é sentido por Camille, maravilhosamente interpretada por Brigitte Bardot, em relação a seu marido, porém ele é mostrado de forma imediatista, de maneira bem colocada, pois apresenta os sentimentos como são em seu cerne, as vezes não existem explicações ou planejamentos. Não existem regras que oprimam as emoções.

Além disso, o filme a todo momento ensaia encerrar, e dessa forma Godard, nos demonstra que o antigo cinema precisa morrer para que um novo floresça. Godard, por muitas vezes, apresenta as estátuas neoclássicas, e o estado em que elas se encontram. Dessa forma, o cineasta francês nos mostra a decadência do cinema, sendo deixado de lado, assim como as estátuas, uma vez gloriosas.

Autor:


Me chamo Gabriel Zagallo, tenho 18 anos, atualmente estou cursando o 3º ano do ensino médio e tenho o sonho de me tornar jornalista, sou apaixonado por cinema e desejo me especializar nisso. Meus filmes favoritos são Stalker, Johnny Guitar, Paixão e Rio, 40 graus.


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