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Shadow Force - Sentença de Morte | Lionsgate Films |
Nos anos 1980 e 1990, os filmes de ação estadunidenses tiveram seu apogeu
na indústria, lançando franquias e astros do gênero à nível internacional, e,
lentamente, perderam a força e influência que outrora tinham. Agora, a ação
vive de uma profunda crise que vem se arrastando há anos. Os filmes tornaram-se
estagnados, as produções cada vez mais barateadas, empobrecidas de técnica e
qualidade no geral.
Se Shadow Force: Sentença de Morte (2025), lançamento da Lionsgate (EUA)/Paris Filmes (BRA), prova alguma coisa é que o gênero ainda está respirando por aparelhos. No longa, Kyrah Owens (Kerry Washington) e Isaac Sarr (Omar Sy) já foram líderes de um grupo multinacional de forças especiais da CIA chamado Shadow Force. Eles quebraram as regras ao se apaixonarem e, para proteger o filho, passaram à clandestinidade. Com uma grande recompensa pelas suas cabeças e a vingativa Shadow Force no seu encalço, liderada pelo fundador do grupo e atual secretário geral do G7 Jack Cinder (Mark Strong). A luta de uma família torna-se uma guerra total.
A estória é a mais genérica possível e o diretor Joe Carnahan faz questão
de deixar isso bem claro ao espectador com um falta de clareza em sua direção.
Os atores parecem estar fora de sintonia com os acontecimentos em tela; o
roteiro falta uma lógica interna que seja coesa; a base da narrativa é tão
frágil que ela precisa que as personagens tomem decisões estúpidas para a trama
avançar; a fotografia é mal iluminada em diversos momentos; a montagem das
cenas de ação abusam dos truques de edição; a abordagem com a deficiência
auditiva da personagem Isaac, que tinha potencial a ser explorado, beira ao
cartunesco.
Isto resulta no fracasso do filme em duas vertentes: a primeira é a falta
de envolvimento do público aos personagens ou, em outras palavras, o filme como
um reflexo pela falta de esforço dos profissionais envolvidos com a produção;
enquanto a segunda é no problema tonal do filme que passa do drama à ação: a
carga dramática não tem nenhum sinal de pulso e as cenas de ação são quase
cômicas na maioria das cenas. Nem mesmo o uso incessante de Lionel Ritchie
consegue ajudar em alguma coisa.
Washington e Sy fazem aquilo que sabem fazer de melhor, mas parecem
perdidos com a falta da supervisão de direção, e atores como Strong, que faz o
vilão careca gostoso da vez e o ex-tóxico de Kyrah, e a ganhadora do
OSCAR Da’Vine Joy Randolph, como uma aliada do casal apelidada de “titia”, são
muito mal utilizados em personagens unidimensionais.
Assistir ao filme como uma comédia não-intencional ajuda um pouco no
quesito “entretenimento”, principalmente no terceiro ato em que ocorre um
exagerado tiroteio entre (quase) todos os personagens da trama. Mas isto não
muda o fato de que o longa perpetua a decadência dos filmes de ação no cenário
hollywoodiano. Se fosse uma paródia de um filme decadente do gênero dirigido
por John Waters ou Paul Verhoeven (ou até mesmo Paul Feig), pelo menos
seria divertido.
Porém, não importa que o estúdio gasta 40 milhões de dólares ou mais para lançar um filme nos cinemas, se ele tiver cara de um enlatado de streaming, então teria sido melhor lançar em um. Favor não descartar lixo nos cinemas, a gerência agradece.