O filme sul-coreano 12.12: O Dia mergulha nas
sombras de um dos períodos mais sombrios da história recente da Coreia do Sul:
o golpe militar de 1979 que levou Chun Doo-hwan ao poder. Esse evento histórico
ecoa com o recente episódio de 2024, quando o presidente Yoon Suk-yeol declarou
a lei marcial, suspendendo liberdades civis e impondo censura à mídia. Embora a
medida tenha sido revogada rapidamente após protestos massivos e oposição
parlamentar, ela revelou a fragilidade democrática do país e trouxe à tona
discussões sobre os limites do poder executivo. Assim como no filme, onde militares
manipulam o sistema para consolidar poder, o episódio de 2024 demonstrou como
líderes podem recorrer a medidas extremas para controlar a narrativa política.
Hwang Jung-min, interpretando Chun Doo-gwang,
entrega uma performance imponente e ameaçadora. Sua presença em cena é
marcante, transmitindo a frieza e o autoritarismo do personagem. Ao lado dele,
Jung Woo-sung, como o general Lee Tae-shin, apresenta uma atuação contida, mas
carregada de tensão emocional, refletindo o dilema moral de um homem dividido
entre a lealdade e a consciência. A interação entre os dois protagonistas é o
ponto alto do filme, evidenciando a luta pelo poder e os jogos psicológicos que
permeiam o ambiente militar.
A direção opta por uma abordagem minimalista, com
planos estáticos e ritmo deliberadamente lento. Embora essa escolha busque
transmitir a rigidez e a tensão do ambiente militar, ela acaba tornando o filme
cansativo e difícil de acompanhar. Com mais de duas horas de duração, a falta
de dinamismo e a repetição de cenas prolongadas acabam afastando o espectador,
tornando a experiência cinematográfica exaustiva.
Apesar dos desafios impostos pela direção, o filme
consegue construir uma atmosfera de instabilidade e tensão que
precede o golpe militar. A representação das intrigas internas, das
manipulações políticas e da ascensão de um líder autoritário é convincente,
permitindo ao público compreender os mecanismos que levaram à ruptura
democrática. Essa construção é particularmente relevante quando comparada ao
episódio de 2024, onde a tentativa de Yoon Suk-yeol de consolidar poder por
meio da lei marcial gerou uma crise política semelhante, evidenciando a
persistência de práticas autoritárias na história recente da Coreia do Sul.
12.12: O Dia é uma obra cinematográfica que, apesar de suas
limitações em termos de ritmo e direção, oferece uma visão profunda sobre os
meandros do poder militar e as fragilidades da democracia. As atuações de Hwang
Jung-min e Jung Woo-sung são notáveis, trazendo complexidade aos personagens
que interpretam. Embora o filme exija paciência do espectador devido à sua
abordagem deliberadamente lenta, ele proporciona uma reflexão sobre os perigos
do autoritarismo e a importância da vigilância democrática.
Autor:
Meu chamo Leonardo Veloso, sou formado em Administração, mas tenho paixão pelo cinema, a música e o audiovisual. Amante de filmes coming-of-age e distopias. Nas horas vagas sou tecladista. Me dedico à exploração de novas formas de expressão artística. Espero um dia transformar essa paixão em carreira, sempre buscando me aperfeiçoar em diferentes campos criativos.