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segunda-feira, 15 de setembro de 2025

A Grande Viagem Da Sua Vida (2025) - Entre o real e a performance

 

A Grande Viagem da Sua Vida | Sony Pictures

Nos primeiros minutos do filme, conhecemos David (Colin Farrell), um homem balzaquiano, solteiro, preparando-se para ir a um evento. Ele descobre que o carro dele foi multado e vai até uma agência, muito suspeita por sinal, para alugar um automóvel. A atendente da empresa (Phoebe Waller-Bridge) é bem peculiar, trata David, um cliente, como se fosse uma diretora de casting, e oferece um modelo de carro antigo com GPS a ele.

David, não tendo outra alternativa, aluga o carro e chega ao evento: um casamento de um amigo, no qual ele nota Sarah (Margot Robbie), pela primeira vez. Eles acabam se conhecendo um pouco e há uma certa química no ar; mas, como os dois são emocionalmente indisponíveis, há também uma certa distância. A partir do ponto em que o GPS do carro de David sugere que ele tem de socorrer Sarah, cujo automóvel para de funcionar no meio do caminho, e seguir por meio de uma jornada mística, o nosso filme, de fato, começa.

A Grande Viagem Da Sua Vida (2025) é o novo filme dirigido pelo Kogonada, de Columbus (2017) e After Yang (2021); e quem conhece o trabalho do diretor vai notar que este lançamento da Sony é, ao mesmo tempo, uma mudança de ângulo e uma continuação temática de sua filmografia. Kogonada tem um profundo olhar estético do cinema como forma: o modo que decupa, filma e edita é formidável; e seus filmes de ficção buscam pela essência das relações humanas ou/e pelo sentimento de humanidade. 

O roteiro assinado Seth Reiss, de O Menu (2022), se apropria de arquétipos e de metáforas já manjadas para criar novas ideias mais interessantes, apesar do texto soar muito como livro de autoajuda em um momento ou outro; muito açucarado para o meu gosto. Porém, a abordagem da narrativa através do fantástico talvez seja o maior trunfo do roteiro, já que as regras do mundo dito real não se aplicam na lógica da obra e permite novas camadas a serem exploradas.

A viagem que David e Sarah embarcam é para dentro de si e de entender qual é o próprio papel em sua respectiva narrativa. São pessoas diferentes: ele aparenta ser mais soturno, ela bem solar. David foi uma criança superprotegida pelos pais, tem problemas com rejeição e um complexo de conquistador; enquanto Sarah tem questões pessoais mal resolvidas por não estar presente e se culpa eternamente por isso, levando a não criar nenhum vínculo emocional com ninguém. Para poderem se conectar e se misturar, eles precisam justamente entrar em seus próprios mundos e olhar para a pessoa que um dia foram com outro par de olhos. 

David e Sarah são tratados como dois performers que ainda não acharam a identidade de suas personagens, e, portanto, não podem começar um relacionamento. Há um jogo bastante interessante aqui. O amor não é só um sentimento, mas também uma performance afetiva. Por trás da fantasia, há um jogo de cena em que precisam tomar partido. 

As protagonistas acabam encarando recriações de seus passados para conseguir ter o vislumbre de como devem agir, sentir e portar em sua performance. O amor torna-se a fantasia que David e Sarah devem justamente incorporar; e, a cada porta que abrem, eles ficam a passos mais próximos, ou distantes, de não só se conectarem, mas de transformar essa fantasia em realidade. Esse jogo metalinguístico, mesmo que sutil, se torna mais claro ao espectador à medida que a narrativa se desenrola. Estariam eles se apaixonando ou próximos de interpretar uma versão apaixonada de si mesmos?

Em mãos menos habilidosas, A Grande Viagem poderia se tornar um filme bem qualquer coisa, pesando a mão no sentimentalismo barato em busca de uma “edificação” do espírito; mas Kogonada soube bem equilibrar o tom meio “sessão da tarde” com o existencialismo, muito próximo de seus projetos anteriores. O diretor cria toda uma atmosfera colorida, cheia de vida, mas traz consigo a sensação da distância, do silêncio, das pausas e do uso da trilha sonora do fabuloso compositor Joe Hisaishi, dando um ar mais sofisticado à narrativa.

Apesar do filme ser um experimento voltado ao mainstream, nem tudo no filme funciona como esperado e, por sinal, alguns pontos chegam a ser rasos; mas ainda há uma sinergia em tela que não deixa o longa afundar dentro de si tão profundamente. Farrell e Robbie parecem estar confortáveis com seus papéis, caindo de cabeça no conceito da trama e suas variantes, e sem a química que há entre eles, a história não funcionaria desde o início. 

A Grande Viagem é aquele tipo de “filme conforto” que, entre acertos e tropeços, atinge de alguma forma o espectador que está disposto a embarcar na jornada. É necessário um pouco de paciência, mas o caminho vale a pena.


Autor:
                                  

Eduardo Cardoso é natural do Rio de Janeiro, Cidade Maravilhosa. Cardoso é graduado em Letras pela Universidade Federal Fluminense e mestre em Estudos de Linguagem na mesma instituição, ao investigar a relação entre a tragédia clássica com a filmografia de Yorgos Lanthimos. Também é escritor, tradutor e realizador queer. Durante a pandemia, trabalhou no projeto pessoal de tradução poética intitulado "Traduzindo Poesia Vozes Queer", com divulgação nas minhas redes sociais. E dirigiu, em 2025, seu primeiro curta-metragem, intitulado "atopos". Além disso, é viciado no letterboxd

segunda-feira, 11 de agosto de 2025

Salomé (2024) - Ou amor à flor de loló

Salomé | Vitrine Filmes


Uma mana vê um mano, ele retribui de volta. Eles se encontram na pista de dança. Os sentimentos ficam à flor da pele. Ele cheira uma latinha de loló, depois oferece para a garota. Ela inala a substância…  E o que ela vê é mágico, transformador, quase angelical. Este é um dos pontapés iniciais do longa-metragem Salomé (2024), dirigido por André Antônio, que vem conquistando festivais e mostras de cinema desde sua estreia no 57o Festival de Brasília.

No melodrama queer, nossa protagonista é Cecília (Aura do Nascimento), uma modelo de sucesso que mora em São Paulo. Ela retorna para Recife, para passar o natal com a mãe, Helena (Renata Carvalho). Cecília reencontra João (Fellipy Sizernando), um vizinho da infância, e fica fascinada pela beleza dele. Uma noite, João apresenta para ela um loló diferente, esverdeado, que leva a ligação entre os dois para um lugar de obsessão e mistério envolvendo um culto secreto em torno da figura de Salomé, a luxuosa princesa bíblica.

A personagem “Salomé” teve como sua maior recepção nas artes a peça homônima do escritor irlandês Oscar Wilde, texto foi publicado em francês no ano de 1893, mas sua tradução ao inglês foi censurada na Grã-Bretanha no ano seguinte. A versão de Wilde, um autor queer, penetrou no imaginário popular ao longo dos anos. 

No cinema, a peça inglesa deu origem a duas adaptações bastante interessantes a este crítico: Salomé (1922) de Alla Nazimova e Charles Bryant, com um elenco inteiramente LGBT, e A última dança de Salomé (1988) de Ken Russell, que reconstitui de forma livre a primeira (e clandestina) montagem da obra na Inglaterra e o atrito entre Wilde e seu amante, Lord Alfred Douglas. Felizmente, Antônio consegue costurar aqui um filme tão icônico quanto as adaptações mencionadas, mesmo que o intuíto seja mais conversar com o clássico de Oscar Wilde, do que recriar fielmente seu texto.

Assim como a peça, Salomé de Antônio é sobre desejo e anseio, mas o realizador atualiza a relação para a geração das relações líquidas, vazias, das redes sociais, do chemsex: o mundo do “pós-alguma coisa”, repleto de afetos artificiais e desilusões amorosas. 

A jornada de Cecília, nossa Salomé, é complexa, pois o desejo dela não é só passional, mas sim de tomar decisões, de enfrentar o impossível, ter as rédeas do próprio futuro. Isto vai de contra os desejos de Helena, sua mãe, que reza e tenta manipular um caminho para a filha, tal como Herodias tenta convencer Salomé a não ceder aos seus instintos e não usar e contrariar seu padrasto Herodes, o Tetrarca da Judéia.

Enquanto a personagem de Wilde é imponente e manipuladora para conseguir realizar o gozo de beijar Ionakaan, Cecília possuí uma inocência e um páthos, uma dor, que constroem sua personagem de forma humana e sensível. A intérprete, Aura do Nascimento, usa da pose e de seu carão como uma proteção de Cecília ao mundo exterior, mas consegue desmanchar para mostrar a vulnerabilidade da jovem em sua intimidade. 

Outro destaque do elenco, claramente, é a atriz Renata Carvalho, magistral como a mãezona Helena, pondo uma emoção palpável em cada palavra que diz e em cada reação que aparece na tela. Uma frase banal em sua boca carrega um sentimento profundo. Aqui, Carvalho não só incorpora um tipo específico de mãe, ela dá a luz a uma mãe na tela.

Salomé é muitas coisas, uma releitura de um clássico da literatura, uma história de amadurecimento tardio, de transformação interior, de paixões; um filme entre mãe e filha com representação trans… Mas o importante é que se trata de um “filme queer”, e Antônio e cia não só sabem disso, mas como dominam a linguagem do estranho, do diferente: 

O camp e o kitsch estão presentes na tela, como parte do léxico da obra e não como algo acidental. As cores são fortes e atraentes, quase almodovarianas, sendo o verde, remetente a cobra do jardim do Éden, a mais recorrente de todas. Tem uma mise en scène criativa. A edição cede ao experimental em certos momentos. O culto de Salomé, que tem uma importância significativa, parece uma versão reptiliana de Hot Boys ou Irmãos Dotados, saído de um filho híbrido entre Araki e Bressane. Com este trabalho, André Antônio consegue se sedimentar como um dos nomes mais interessantes do cinema queer brasileiro atual, ao lado de Daniel Nolasco e George Pedrosa.

É um filme com gosto (e cheiro de loló), senso de humor e muita ousadia de enxergar o mundo fora dos padrões, de brincar com as expectativas. Uma produção afiadíssima. A obra de Wilde culmina na tragédia, mas o filme de Antônio, na libertação. 

[Filme assistido durante o 14o Rio LGBTQIA+ - Festival Internacional de Cinema, realizado em 2025]



                                                                  Autor:
                                  

Eduardo Cardoso é natural do Rio de Janeiro, Cidade Maravilhosa. Cardoso é graduado em Letras pela Universidade Federal Fluminense e mestre em Estudos de Linguagem na mesma instituição, ao investigar a relação entre a tragédia clássica com a filmografia de Yorgos Lanthimos. Também é escritor, tradutor e realizador queer. Durante a pandemia, trabalhou no projeto pessoal de tradução poética intitulado "Traduzindo Poesia Vozes Queer", com divulgação nas minhas redes sociais. E dirigiu, em 2025, seu primeiro curta-metragem, intitulado "atopos". Além disso, é viciado no letterboxd.

segunda-feira, 21 de julho de 2025

A Melhor Mãe do Mundo - O Sofrimento Periférico como Propaganda de Margarina

A Melhor Mãe do Mundo | Galeria Distribuidora

Em A Melhor Mãe do Mundo se encontra a prática batida de narrativa que já prevalece no cinema nas últimas duas décadas. Não que seja um problema abordar no cinema questões envolvendo maternidade, pobreza, relacionamento tóxico, violência contra mulher, são temas de extrema importância que devem aparecer nas telas do cinema e que sejam trazidas para debate. Mas algo que já tem acontecido na crítica e no cenário audiovisual desde os anos 90, é trabalhar a ideia de filme como uma matemática simples: se o filme tem temas sociais explícitos, logo ele é bom.

Como assim? A que ponto reduzimos cinema a algo tão raso e tão limitado a ponto de qualquer filme abordando pobreza e seu sofrimento da forma mais simplista possível em um convite imediato para os maiores festivais de cinema pelo mundo? Aqui, Anna Muylaerte dirige o filme sem nenhuma profundidade ou construção imagética além da atuação de Shirley Cruz, que é o único fator do filme que tem algum atrativo. Muylaerte faz aqui, o principal chamariz apelativo para uma obra audiovisual segurar seu espectador.

O filme começa com a protagonista Gal depondo em uma delegacia sobre seu companheiro, Leandro, por tê-la agredido. Depois disso, Gal vai até a escola que seus filhos estudam para buscá-los a levá-los para uma "aventura", que na verdade é uma fuga até a casa de uma prima de Gal, que mora no outro lado de São Paulo. A obra gira em torno dessa jornada onde Gal leva seus filhos e precisa fazer de tudo para não mostrar sua vulnerabilidade e nem a pobreza à sua volta para seus dois filhos. 

Muylaerte faz questão de mostrar uma cidade suja e completamente acinzentada, com muitos planos aéreos ou que capturem os personagens em plano conjunto, mas com uma visualização do horizonte um pouco mais livre sobre a cabeça daqueles que aparecem em cena. Sem contar que Muylaerte, sempre que possível, fecha o plano no rosto de nossa protagonista para mostrar o quanto ela está de esforçando e como está cansada a cada passo nessa jornada de fugir do seu antigo relacionamento tóxico e em busca de uma vida nova com seus filhos. 

Mas Muylarte grava seus protagonistas nessa jornada, como uma gama de cineastas atuais, que precisam da contemplação do sofrimento de pessoas pobres e pretas para se manter. Digo isso porque o filme não tem profundidade na sua construção imagética, são imagens sem construção, são planos sem profundidade, não existe construção de cores ou qualquer forma de construção dentro daquele cenário. Muylaerte coloca sua protagonista sofrendo em silêncio a todo tempo e tenta forçar seu desenvolvimento com a participação das crianças e sua ingenuidade sobre toda a situação. 

O filme pega um tema delicado com uma ótima atuação e não tenta ir além. Não é sobre complexidade na direção mas sobre a profundidade da mesma sobre a capacidade de responder aquele mundo com a imagem, Muylaerte faz parte do sintoma atual da direção de filmes com temas sociais explícitos que usam o tema como resposta total. Em meio a uma crise com o aumento estrondoso de moradores de rua nas ruas de São Paulo, a direção e o roteiro decidem fazer uma história de superação em um mundo onde ninguém superou nada. 

Tem uma cena onde Gal com seus dois filhos decidem brincar de se molhar em um chafariz que liga e desliga de noite, e Muylaerte dirige essa sequência com muitos planos conjuntos e slow-motion para mostrar como todos os personagens estão alegres em poder finalmente estar se banhando e se divertindo uns com os outros. Não é sobre o filme tentar dar um jeito em não se mostrar uma vitrine de sofrimentos para o espectador aplaudir, mas é sobre tornar essa jornada, algo belo. 

Esse filme faz parte da leva de criações audiovisuais que foram criados pensando em mostrar para o espectador brasileiro que mesmo você sendo uma catadora de lixo reciclável, com dois filhos e um companheiro abusivo, e alcoólatra, ainda tem um futuro lindo pela frente. Estarmos no ano de 2025 com diretores de cinema fazendo filme propaganda neoliberalismo barato chega a ser trágico. Mas o mais trágico é a direção vender essa ideia e nem se esforçar para fazer esse discurso torpe. 

Quando nos remetemos às outras obras da diretora, como Que Horas Ela Volta?, Durval Discos, até mesmo seu último curta Nosso Pai, existia pelo menos a importância do monumento para a narrativa. Existia posição de atores e trabalho de figurino para dizer que a imagem por si só tinha algo. Mas Muylaerte decide fazer uma propaganda motivacional com a expressão mais acinzentada que a cidade paulista pode entregar. Para que no final, dê tudo certo e a família pode estar junta de novo, assistindo o time do coração jogar. 

Cinema e Verdade dificilmente andam a lado, na teoria cinematográfica nem pensamos em coloca-los de mãos dadas. Mas nunca desvinculamos Cinema de Política, pois ambos estão amarrados, grampeados e grudados sem a possibilidade de não estarem juntos. E nesse filme, Muylaerte não foi somente displicente como alguém que tem como obrigação pensar a imagem sobre oque vai dizer, mas se mostrou desonesta politicamente. 

TEXTO DE ADRIANO JABBOUR.

quarta-feira, 26 de março de 2025

Presença - Soderbergh navega entre Tensão, Drama e Planos Sequências

Presença | Neon

O novo lançamento do diretor Steven Soderbergh mostra uma direção mais contida, mesmo sendo certa parcela de sua obra em pequenos planos sequências, utilizando uma trama convencional. A utilização de uma trama convencional do gênero de drama e terror espiritual não é uma problemática aqui, até porque se formos colocar a reutilização de tramas como um termômetro a nossa visão sobre os últimos anos para o cinema seria algo bem pessimista. A ideia de como Soderbergh conduz a ideia da presença espiritual em meio a uma família americana disfuncional por inúmeras questões, é o chamariz principal para o filme chamar a atenção do espectador.

Uma história sendo contada pelo ponto de vista desse ser que se encontra na residência e a utilização dos planos sequências para a obra consegue desenvolver uma boa tensão sobre tudo que acontece naquele espaço. Acredito que a capacidade técnica de Soderbergh compensa a falta de desenvolvimentos propostos na própria trama, aqui se encontra temas como divórcio, luto, drogas, manipulação, entre outros, e muitos são só "pontos" para trazer mais dramaticidade para a narrativa, mas não tendo uma função realmente útil em meio à tensão e ao drama final proposto. 

A forma em como Soderbergh trabalha tal figura presente de forma espiritual é madura até a sequência final onde a obra explica sem necessidade quem é tal figura. Enquanto ele como enigma, funcionava perfeitamente como causa de ansiedade e interesse do espectador, sendo um dos elementos que fazia a tensão da obra ser criada de forma efetiva. O enigma funciona também na jornada do personagem Ryan, que tem uma atuação surpreendente de Mulholland como antagonista, sendo uma surpresa positiva no meio dos pontos dramáticos soltos pelo diretor. 

A trilha sonora do filme acaba sendo evasiva em certas sequências, além de não acrescentar muito a dramaticidade exigida em certos momentos da trama onde acontece discussão entre os pais e os irmãos. A jornada do irmão do protagonista afeta o produto final por conta de como o roteiro desenvolve a sua figura como algo bastante problemático. Existe em sua resolução uma tentativa de perdão por parte do espectador que é pouco funcional, até por ser um filme curto e que não deixa muito espaço para se conectar aos personagens. 

O trabalho de fotografia aqui é um fator que chama atenção pela calma e execução que os planos acontecem, contando também pelo ensaio de câmera com os atores que consegue ser uma facilitação simples de espectador com personagem, mas sem parecer algo apelativo. O trabalho dos atores Lucy Liu e Chris Sullivan como os pais funciona a medida do que é permitido por Soderbergh, que cria uma atmosfera melodramática entre os personagens e sobre o futuro de seu casamento, mas que o roteiro, junto com a direção, decidem não dar mais espaço para facilitar a finalização da narrativa. 

A maior problemática da obra se encontra em ser um filme básico que se perde em qualquer momento que tentar seguir alguma linha fora do proposto, como dito anteriormente. Funciona a ideia de um ser desconhecido estar na casa e ser um mero espectador de uma família que tem seus problemas, mas quando chega o momento de dar espaços aos seres humanos se torna uma mistura de drama adolescente e familiar carregados de conflitos sem solução. A forma de desenvolvimento narrativo em cada uma das sequências, de forma picotada, parece intuito de Soderbergh em fazer um filme conforto para espectadores de Tiktok. 

Acaba que no final das contas, é um filme que se mantém na risca de ser uma obra simples com certa parcela de drama efetiva. Mas não foge de fazer parte da cinematografia de Soderbergh como mais um produto vendável e esquecível onde a técnica simples se torna um dos chamariz para não diminuir sua obra, mais do que a própria se diminui.  

TEXTO DE ADRIANO JABBOUR. 

quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

Aqui - Um Filme que Passa a Vida Inteira Sem Sair do Mesmo Lugar

Aqui | Sony Pictures


Em Aqui, produção do diretor Robert Zemeckis, se ambienta em um único lugar: a sala de uma casa. Acompanhando diversas famílias ao longo de gerações, todas conectadas por este espaço tempo que um dia chamaram de lar. Usando esse espaço único para ilustrar as transformações ocorridas em diversas eras, desde os primórdios da humanidade. Richard (Tom Hanks) e Margaret (Robin Wright) são um casal prestes a deixar o lar onde colecionaram uma emocionante jornada de amor, perdas, risos e memória, que transportaram desde o passado mais distante até um futuro próximo. Apresentando uma viagem pela linha do tempo da humanidade, contada de forma emocionante e surpreendente, onde tudo acontece em um único lugar: Aqui.

A direção do filme, conforme indicado na sinopse, é atribuída a Robert Zemeckis, renomado cineasta responsável pela aclamada trilogia De Volta para o Futuro, Forrest Gump, O Expresso Polar, Os Fantasmas de Scrooge e pelo polêmico live-action Pinóquio (2022), que, embora tenha gerado controvérsias, é apreciado por uma parte do público. Neste trabalho, Zemeckis apresenta uma narrativa que, assim como Forrest Gump, tem a capacidade de provocar risos, emoções intensas e reflexões profundas sobre a vida.

Embora o filme aborda várias gerações ao longo de sua narrativa, a escolha de manter a câmera fixa no mesmo local durante toda a projeção é uma decisão ousada e intrigante. Essa abordagem, além de transmitir uma sensação de continuidade e imersão, convida o espectador a se concentrar profundamente nos diálogos e nas nuances dos personagens, sem a distração de mudanças visuais constantes. Tal escolha acrescenta uma camada de profundidade ao filme, permitindo que a atenção se volte para a evolução emocional e narrativa das personagens, o que se revela uma ideia cinematograficamente rica e eficaz.

Embora o filme explore a história de várias gerações no mesmo cenário, o foco principal está na trajetória de Richard Young e Margaret Young. O público é profundamente cativado pela evolução de Richard, acompanhando sua jornada desde o nascimento até a infância, adolescência — quando conhece Margaret —, passando pela fase adulta e chegando à velhice. Essa narrativa dinâmica e multifacetada é eficaz em criar uma conexão emocional com o espectador, permitindo que ele testemunhe o amadurecimento de Richard ao longo do tempo e a transformação de seu relacionamento com Margaret. A riqueza dos personagens e a maneira como suas vidas se entrelaçam ao longo das décadas adicionam uma profundidade única à trama, tornando-a não apenas uma história de amor, mas também uma reflexão sobre o ciclo da vida e as mudanças que o tempo impõe.

Robert Zemeckis utilizou inteligência artificial para modificar digitalmente as imagens de Tom Hanks e Robin Wright, permitindo que interpretassem versões mais jovens e velhas de suas personagens ao longo de cinquenta anos. Desenvolvida pela Metaphysic, a tecnologia elimina a necessidade de pós-produção, mas seu uso levanta sérias questões éticas e artísticas. A técnica pode comprometer a essência da interpretação, reduzindo a complexidade e a expressividade humana em prol de um artifício tecnológico.

Aqui é uma obra emocionante que, com a direção de Robert Zemeckis, explora o ciclo da vida e as transformações ao longo das gerações, ambientando toda a narrativa em um único espaço. A história de Richard e Margaret cativa pela profundidade emocional, refletindo sobre o amor, as perdas e o legado que deixamos, proporcionando uma experiência cinematográfica íntima e impactante.

Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator em formação e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

Queer - O descobrimento através do surreal

Queer | A24

Do diretor que abriu o ano com seu aclamadissimo filme “Rivais”, Luca Guadagnino decide mostrar o quão diferente suas obras podem ser, e de forma incrível conta em película o livro “Queer” de Burroughs, um conto que foge totalmente do “padrão” Guadagnino.

Me encanta muito a primeira parte do filme, principalmente na construção do personagem de Lee, vemos um homem que sofreu e sofre tanta descriminação que por muitas vezes se sente culpado por ser quem é, e por isso age da forma que vemos. Outro ponto que me atrai bastante é a materialização dos desejos de William Lee, como aqueles pensamentos mais puros deles se materializam em tela de forma quase espiritual.

Um filme que começa numa espécie de realismo bem centrado na relação de seu protagonista com sua sexualidade, porém que transita para um surrealismo totalmente surpreendente, afinal a primeira metade não nos prepara para algo assim, e isso é maravilhoso.

Personagens apresentados de forma fechada e fria, quando a conexão mundana não é capaz de suprir os desejos dos personagens, a solução é escapar para o surreal, onde não há limitações de alma e corpo, onde não é preciso se expressar verbalmente, apenas sentir.

Na minha visão o filme ganha muita força quando abraça o surrealismo de forma total, quando você se entrega totalmente ao que está vendo, é como se estivesse junto à eles naquela viagem. Cada cena é visualmente espetacular e única, personagens vomitando corações, corpos que se abraçam e se unem, Lee observando ele mesmo no apartamento, entre muitas outras.

Guadagnino mesmo que filme de forma bastante clássica, observamos uma desconstrução moderna em sua narrativa. Os corpos são postos em cena como principal meio de expressão dos sentimentos, além disso a forma com que o tesao do filme se sustenta apenas no físico, nos corpos que compõe a cena, diferentemente de Rivais.

Autor:


Me chamo Gabriel Zagallo, tenho 18 anos, atualmente estou cursando o 3º ano do ensino médio e tenho o sonho de me tornar jornalista, sou apaixonado por cinema e desejo me especializar nisso. Meus filmes favoritos são Stalker, Johnny Guitar, Paixão e Rio, 40 graus.

terça-feira, 3 de dezembro de 2024

O Conde de Monte Cristo - Um filme Francês que amaria ser um Épico Hollywoodiano

O Conde de Monte Cristo | Paris Filmes

O Conde de Monte Cristo mostra a historia de Edmond Dantes, um navegador que é acusado injustamente por um crime que não cometeu. Depois de 14 anos preso, ele consegue fugir de sua prisão e recomeça sua vida com outro nome, sendo o Conde de Monte Cristo. A partir de seu novo nome e com uma fortuna imensa em suas mãos, ele começa a se vingar de cada um que foi parte de sua prisão. O filme é adaptação do livro com mesmo nome, escrito por Alexandre Dumas, e dirigido pelos diretores Alexandre De La Patelliére e Matthieu Delaporte. 

A direção consegue recriar na sua direção de arte, nos figurinos e na ambientação o tempo em que a história ocorre, além de ter um trabalho efetivo nos efeitos especiais. Os pontos técnicos conseguem seduzir o bastante o espectador para a antiga França, até mesmo em alguns diálogos entre os personagens. O filme também não tenta se aventurar em sua pirotecnia, entregando aquilo que é o essencial, e nada além. 

O filme não é conduzido para ser um grande épico em sua construção, mas mais interessado em ser um filme básico onde segue a jornada do herói. Não que isso seja um problema, até porque não é. E em sua simplicidade de proposta, ele consegue funcionar em quase todos os aspectos. Mas oque faz a obra ser conduzida sem cair na mesmice é a atuação de Pierre Niney como Dantes, que consegue se expressar  sutilmente apenas com os olhares, e o trabalho de direção em conduzir a história em um mesmo ritmo do começo ao fim. Mesmo tendo muitas brechas para a direção seguir um caminho perfeito para se perder, a direção segura sua própria ambição para ter total controle daquela narrativa. 

A obra muitas das vezes querendo utilizar em momentos pontuais o excesso de dramatização com a trilha e com as atuações de alguns personagens faz o filme perder um pouco de sua força narrativa para tentar convencer o espectador de sentir um certo sentimento que não é necessário, já que a própria cena já entrega sem muita necessidade de explicação. Esse efeito felizmente não cai nos diálogos, que são muito bem escritos e executado de forma bastante orgânica pelos atores. 

O Conde de Monte Cristo mesmo sendo um filme conduzido com maturidade na sua direção, com uma construção de época belíssima, é um filme que ao mesmo tempo que acerta em seu controle, ele se contém demais em sua linguagem e em sua entrega ao espectador. É um filme francês que parece ter vergonha de ser francês, soa como uma tentativa de ser um épico hollywoodiano. Oque torna a obra uma ideia meio deslocada. Não seria impossível convencer os espectadores que esse filme é uma produção de Hollywood com apenas atores franceses, pois é esse exato retrato que a direção conduz. 

Mas a obra consegue ser uma jornada bela e sensível em sua maioria, sendo também um atrativo para espectadores mais novos em se interessarem nessa jornada de vingança além das propostas por Hollywood dos últimos anos que faz questão do retrato de um homem como um animal louco por carnificina e armas de fogo. Aqui, nosso protagonista tem múltiplas faces e consegue pensar além das armas que tem em suas mãos. 

Invés de cabeças voando e sangue pingando em todos os cantos, encontramos aqui um personagem que busca sua vingança perfeita dentro do cenário mercantil e na antiga monarquia, que depois caminhou para o capitalismo. A tomada de posses, a verdadeira face do moralismo enrustido, e como o valor de um homem sempre se encontra naquilo que ele possui. Fator que torna o fim da jornada do protagonista algo belo e satisfatório aos olhos dos espectadores. 

O Conde de Monte Cristo é uma obra dirigida com bastante controle e tendo um ótimo conjunto técnico sendo na criação de época e no trabalho de condução dos personagens. Mesmo sendo um filme que se contém demais e não tenta se mostrar realmente de onde vem, consegue executar uma narrativa calorosa e aconchegante para a maioria dos espectadores. Uma obra sobre vingança e justiça feita de forma delicada, mas delicada demais para seres pouco, ou nada, delicados. 


TEXTO DE ADRIANO JABBOUR



terça-feira, 19 de novembro de 2024

Wicked - Uma adaptação envolvente, mas com um ritmo irregular e momentos de excesso.

Wicked | Universal Studios 


Baseado no musical homônimo da Broadway, Wicked é o prelúdio da famosa história de Dorothy e do Mágico de Oz, onde conhecemos a história não contada da Bruxa Boa e da Bruxa Má do Oeste. Na trama, Elphaba (Cynthia Erivo) é uma jovem do Reino de Oz, mas incompreendida por causa de sua pele verde incomum e por ainda não ter descoberto seu verdadeiro poder. Sua rotina é tranquila e pouco interessante, mas ao iniciar seus estudos na Universidade de Shiz, seu destino encontra Glinda (Ariana Grande), uma jovem popular e ambiciosa, nascida em berço de ouro, que só quer garantir seus privilégios e ainda não conhece sua verdadeira alma. As duas iniciam uma inesperada amizade; no entanto, suas diferenças, como o desejo de Glinda pela popularidade e poder, e a determinação de Elphaba em permanecer fiel a si mesma, entram no caminho, o que pode perpetuar no futuro de cada uma e em como as pessoas de Oz as enxergam.

Wicked é uma obra que teve sua origem no livro de Gregory Maguire, publicado em 1995, e foi adaptada para os palcos em 2003. Apresentando uma nova perspectiva sobre as bruxas do conto, o filme é a primeira parte da obra, adaptando o primeiro ato. Quem não conhece o musical pode assistir ao filme sem grandes dificuldades, desde que tenha alguma familiaridade com a obra original, pois o enredo se apoia nos eventos e personagens de O Mágico de Oz para dar contexto à trama. Embora eu não tenha assistido ao musical nem lido o livro que deu origem à peça, o filme consegue se sustentar por si só, permitindo uma experiência envolvente mesmo para quem não está totalmente familiarizado com as versões anteriores da história.

A relação entre Glinda e Elphaba em Wicked é marcada por uma amizade complexa e uma tensão ideológica constante. Inicialmente, as duas se veem como opostas: Elphaba, marginalizada e radical, desafia o status quo, enquanto Glinda, popular e conformista, representa os valores sociais dominantes. Com o tempo, no entanto, Glinda começa a admirar a coragem e os ideais de Elphaba, reconhecendo sua profundidade além da imagem da "bruxa má". Por sua vez, Elphaba passa a perceber a sinceridade e vulnerabilidade de Glinda, embora ainda mantenha suas próprias convicções. A amizade delas se fortalece à medida que compartilham experiências, mas a tensão ideológica persiste, desafiando a ideia de que uma amizade verdadeira requer a superação de diferenças. Wicked oferece uma visão crítica das relações humanas, mostrando que, apesar das divergências, é possível uma convivência genuína e que a complexidade das personagens vai além de um simples binarismo moral de "bem" e "mal".

A introdução é eficaz ao situar o espectador no universo familiar de O Mágico de Oz, um mundo no qual, aparentemente, a população da Terra de Oz vive em paz. Em seguida, somos transportados para um flashback que narra a trajetória de Elphaba desde seu nascimento até o momento em que conhece Glinda na Universidade Shiz. A maneira como a história nos introduz rapidamente ao universo conhecido é envolvente, e a construção da personagem de Elphaba se revela cativante, gerando uma forte empatia, especialmente em razão do preconceito que ela sofre na escola. 

Sua bondade se destaca em contraste com a postura de alguns membros da instituição, que se dedicam a zombar até mesmo dos professores, como no caso de um deles, que era uma cabra. No entanto, ao longo do desenrolar da trama, a narrativa acaba se tornando cada vez mais arrastada e excessivamente lenta. Um exemplo disso é a cena da festa, quando Elphaba chega ao local e, como esperado, é alvo de olhares preconceituosos e zombarias relacionadas à sua dança. Embora essa cena seja emocionalmente impactante, seu ritmo excessivamente moroso acaba prejudicando a fluidez da história. Após um longo período de espera, Glinda se aproxima e dança com Elphaba, um gesto que culmina na formação de uma amizade, mas que, devido à demora, diminui o impacto emocional que poderia ter sido mais imediato e eficaz.

A trilha sonora de Wicked, composta por Stephen Schwartz — também conhecido por seu trabalho em O Corcunda de Notre Dame (1996) e O Príncipe do Egito (1998) — é uma parte fundamental da obra, abordando temas como identidade, poder, amizade e resistência. As canções, que mesclam emoção e humor, são carregadas de significado. Entre os destaques, Defying Gravity se sobressai como um símbolo de libertação para Elphaba, enquanto Popular e What is This Feeling? apresentam um tom leve e cômico, evidenciando o contraste entre as protagonistas. I'm Not That Girl explora a solidão, a autocrítica e as consequências das escolhas de Elphaba. Já For Good, a música final, celebra a amizade entre as duas bruxas, refletindo o impacto mútuo em suas vidas. A trilha sonora equilibra perfeitamente momentos de intensidade e leveza, e suas canções desempenham um papel crucial no desenvolvimento das personagens e na evolução da trama, conectando o público a temas universais de aceitação e resistência.

Wicked reinterpreta a história das bruxas de Oz, destacando a complexidade da amizade entre Elphaba e Glinda, marcada por diferenças ideológicas e uma evolução emocional. A trama pode se arrastar em alguns momentos, mas a profundidade das personagens e a trilha sonora cativante garantem uma experiência envolvente. A obra reflete sobre identidade, preconceito e as nuances entre o bem e o mal, oferecendo uma nova perspectiva sobre a clássica história.

Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator em formação e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Todas as estradas de terra têm gosto de sal – Do que é feita a vida, afinal?

Todas as Estradas de Terra tem Gosto de Sal | A24

Um tempo atrás, vi em algum lugar a frase de autoria por mim desconhecida: Para todo mal, o sal. Para todo bem, também. Não pude não pensar nela ao ver Todas as estradas de terra têm gosto de sal que, antes de tudo, revela muitas mãos que acolhem, que empurram, que levantam, que se dão.  

Mãos, terra, água, tempo! Em ritmo lento, a história de Mackenzie, uma mulher negra, nos Estados Unidos dos anos sessenta, é contada a partir dela, por uma comunidade e muitas águas. Ao longo de uma trama inteira, ensinamentos, ancestralidade e silêncios (e sons) perpassam sua vida.

Mack, como é chamada, tem sua trajetória expressa em uma narrativa não linear, entre idas e vindas, entre passado e presente, morte e vida, desconsertando por vezes quem assiste, parte pelo ritmo, parte por deixar escapar algum detalhe na passagem de algum dos tempos que foi e que voltou.  

A história em si, por se comum, não tem algo de espetacular ou de diferente ao ponto de deixar qualquer queixo caído ou algo do tipo. Não obstante, é uma surpresa boa perceber que o dramático Todas as estradas de terra têm gosto de sal mostra, por meio de Mack, a vida humana mais crua e elementar, assim mesmo, como ela é.

Desde a infância até a fase adulta, passando pela encabulada juventude, vê-se uma Mack amadurecida, reflexiva, lidando com as consequências de decisões fortes, sem deixar de lado o sentir da chuva, do rio, na pele, nas mãos que se dão ao longo da trajetória.

É bonito de ver, apesar de, em algum grau, um pouco cansativo também. (Assim como a vida? Talvez!). São raros os diálogos, no entanto, de grande profundidade. Nessa toada, restam às imagens o ponto alto.

A história é de Mack, mas ela não está só, não anda só. O universo daqueles que a rodeiam compõe seu universo também, como uma composição mesmo, de amores, de tristezas, de poesias, de durezas. Todos juntos – ou não – caminhando vida adentro, mundo afora.

Todas as estradas de terra têm gosto de sal traz e instiga a ver a beleza da melancolia, da demora, do deleite, da calma e de como é se sujeito da própria história. Durante e ao final, cai a ficha de que, sim, somos feitos disso aí: barro, água e mãos. E tempo! Tempo também.

Autora:


Lá em 2004 participei do meu primeiro filme. Ali apaixonei pelo cinema, mas como toda boa paixão, à la Jack e Rose, naufragou. A vida toma rumos e acabei seguindo outra área. Mas nada apaga uma boa paixão, né isso? Me chamo Carol Sousa e hoje falo e escrevo sobre cinema, quem sabe isso quer dizer amor...

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