Mostrando postagens com marcador paris filmes. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador paris filmes. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 7 de outubro de 2025

O retorno dos serial killers mascarados: Os Estranhos - Capítulo 2

Os Estranhos - Capítulo 2 | Paris Filmes


'' Os Estranhos - Capítulo 2 '' é a nova sequência da franquia de terror que teve o seu início em 2008 com o diretor Bryan Bertino, trazendo de volta a atmosfera sufocante e a ideia central que sempre definiu esses filmes: o medo do inesperado e a violência gratuita. Dessa vez sendo dirigido por Renny Harlin, já conhecido por outros trabalhos de suspense e ação, incluindo o capítulo 1 de '' Os Estranhos '' em 2024, o longa mantém a proposta de causar inquietação no público, ao mesmo tempo em que busca expandir a história dos assassinos mascarados. 

Logo no início, o filme estabelece um tom informativo, trazendo referências e dados reais sobre casos de assassinatos em série ocorridos nos Estados Unidos. Essa escolha nos oferece um caráter quase documental, que contribui para inserir o espectador em um clima de desconforto antes mesmo da ação propriamente ter o seu início. Tal recurso funciona bem, pois amarra a trama a uma sensação de realidade, mesmo que a narrativa seja ficcional. Assim, cria-se uma ponte entre a ficção do terror e os temores que já habitam o imaginário coletivo. 

A tensão é estabelecida de forma imediata. Nos primeiros minutos, o público já é colocado em uma atmosfera de suspense crescente, sendo desempenhados por um papel crucial feito pela ambientação. Harlin acerta ao construir o primeiro ato, pois consegue manter a atenção do espectador presa e antecipar os eventos que se desenrolam em seguida. É nesse momento que o filme atinge seu ponto mais eficiente: os jogos psicológicos e o clima de perseguição que sempre foram a marca registrada da franquia.

Um dos destaques da obra está justamente nas cenas de perseguição. O diretor utiliza a câmera de forma estratégica, explorando ambientes fechados no hospital, florestas escuras e corredores estreitos para criar a sensação de claustrofobia. O espectador sente a impotência da vítima, Maya, que corre sem ter para onde fugir, e isso gera um desconforto eficaz. Embora a narrativa não traga muitas novidades dentro do gênero, a sequência ainda consegue prender pela execução técnica e pela intensidade do momento.

Porém, nem todos os elementos funcionam com a mesma eficiência. Uma cena envolvendo um javali na floresta, por exemplo, destoa do restante da obra. Mal executada, a sequência parece deslocada e quebra parte da tensão acumulada até então. A tentativa era provavelmente criar um susto adicional ou um elemento surpresa, mas o resultado fica mais próximo do estranho do que do assustador. Esse é um dos pontos em que o filme tropeça e deixa a desejar.

Ainda assim, '' Os Estranhos - Capítulo 2 '' procura dar mais profundidade à sua trama em comparação ao primeiro capítulo. A narrativa se esforça para oferecer algumas respostas sobre a motivação dos serial killers e, ainda que não seja um mergulho profundo, há mais diálogos que ajudam a compreender melhor quem são essas figuras mascaradas, por que agem de forma tão cruel e quando tudo aquilo teve o seu início. Isso adiciona uma camada de interesse extra, já que até então o grande diferencial da franquia era justamente a ausência de explicações.

O filme também planta as sementes para o que vem a seguir. A presença de um trailer no final da sessão é um indicativo claro de que essa não é uma história isolada, mas sim parte de uma trilogia planejada. Essa estratégia pode dividir opiniões: para alguns, é empolgante ver que a narrativa terá uma continuidade, para outros, pode soar como uma manobra comercial que enfraquece o impacto do filme atual, já que parte da resolução é deixada para mais a frente.

De um modo geral, '' Os Estranhos - Capítulo 2 '' cumpre por partes o seu papel de assustar, embora não atinja todo o potencial que poderia ter. É um filme com boas cenas de perseguição e momentos de suspense bem construídos, mas que também sofre com escolhas de narrativas com alguns problemas de execução e algumas quebras de ritmo. Ainda assim, para quem acompanha a franquia ou gosta de slashers que brincam com o medo da invasão e do imprevisível, o longa entrega uma experiência razoável e que prepara terreno para o desfecho.

Com 98 minutos de duração, a obra não se arrasta, mas também não consegue se aprofundar tanto quanto promete. Renny Harlin, no comando, mostra segurança na criação de tensão, mas tropeça quando tenta inovar. A nota justa é 3 de 5: um filme que entretém e inquieta, mas que não alcança o impacto memorável de outros títulos do gênero.

Autor:

Bárbara Borges é do Rio de Janeiro e estudante de Jornalismo. Apaixonada por cinema desde criança, sempre foi movida por histórias intensas, especialmente as de terror, seu gênero favorito. Em 2024, dirigiu o documentário Além do Recinto, que levanta questionamentos sobre o bem-estar de animais silvestres em zoológicos e o impacto do confinamento longe de seus habitats naturais. Gosta de pensar no cinema como uma forma de provocar, sentir e transformar. Vive atualizando seu Letterboxd com comentários sinceros e, às vezes, emocionados. Entre seus filmes favoritos estão Laranja Mecânica, Psicopata Americano, Pânico, Pearl e Premonição 3.


quinta-feira, 18 de setembro de 2025

A Longa Marcha: Caminhe ou Morra - A Maratona da Morte

A Longa Marcha: Caminhe ou Morra | Paris Filmes


Em um futuro distópico, 100 jovens participam de uma competição brutal na qual só um pode sobreviver. A cada passo, a tensão aumenta. A Longa Marcha é uma adaptação eletrizante da obra de Stephen King.

O filme é uma daquelas obras de sobrevivência intensas, que conseguem prender o espectador do início ao fim. Assim como em Jogos Vorazes, também dirigido por Francis Lawrence, aqui o diretor mostra mais uma vez sua habilidade em criar atmosferas de tensão e urgência. A comparação com Round 6 também é válida, especialmente pelo caráter brutal da competição, onde seguir em frente é a única regra  — qualquer deslize, por menor que seja, significa a morte. O longa se destaca por sua narrativa direta e impactante, que não dá respiro ao público, refletindo a exaustão dos personagens. A maneira como a tensão é construída — especialmente quando uma vítima está prestes a morrer — é eficiente e emocionalmente envolvente. A câmera se aproxima, o som estrondoso da arma vem como um choque, e o espectador sente o peso da perda. Tudo isso mostra que, mesmo em meio a violência, o filme consegue despertar empatia e reflexão. Com uma direção segura e um ritmo bem conduzido, o filme não apenas entrega entretenimento, mas também provoca o espectador a pensar sobre os limites humanos e o custo da sobrevivência.


O protagonista da história é Raymond Garraty, um jovem que se alista para a competição motivado por questões mal resolvidas com o Major, uma figura autoritária que representa tanto o sistema opressor quanto um conflito pessoal direto na vida de Raymond. A relação entre os dois é marcada por tensão e ressentimento, funcionando como um dos pilares emocionais da narrativa. Esse embate simbólico entre o jovem rebelde e a figura de poder acrescenta profundidade ao enredo, destacando temas como controle, resistência e a busca por identidade em meio ao caos.


Durante a caminhada, Ray desenvolve uma forte amizade com Peter — uma conexão que, apesar de recente, rapidamente se transforma em um laço profundo de companheirismo no inferno que estão enfrentando. Em meio à brutalidade da competição, os dois se tornam uma espécie de porto seguro um para o outro: ajudam-se nos momentos de fraqueza, quando um está à beira da morte, e se puxam de volta para a realidade do jogo. Em certos momentos, trocam provocações e brincadeiras como forma de aliviar a tensão, o que humaniza a jornada e oferece respiros emocionais ao espectador. Essa relação sincera entre os personagens é um dos pontos altos do filme, pois mostra que, mesmo em um cenário desumano, ainda é possível encontrar solidariedade, afeto e resistência por meio dos vínculos humanos.


As cenas de violência são intensas e impactantes, retratando de forma crua as consequências físicas e psicológicas da competição. A direção não poupa o espectador da brutalidade, mas evita o exagero gratuito, mantendo a tensão constante e reforçando o clima opressivo da narrativa.


A Longa Marcha se destaca como uma adaptação poderosa e emocionalmente carregada da obra de Stephen King. Com uma direção precisa de Francis Lawrence, o filme não apenas entrega cenas de tensão e impacto visual, mas também mergulha em temas profundos como opressão, amizade, resistência e o limite da condição humana. Ao equilibrar brutalidade com momentos de humanidade genuína, a narrativa consegue ser envolvente sem perder sua crítica social. É uma obra que não se limita a entreter — ela também provoca, incomoda e faz refletir. Uma experiência intensa e memorável para quem busca mais do que apenas ação em uma história de sobrevivência.


Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

segunda-feira, 11 de agosto de 2025

O Ritual (2025) - HIC FILM NON EXORCISTAM EST*

O Ritual | Paris Filmes

No ano de 1928, um exorcismo ocorreu nos solos sagrados de uma igreja na cidade de Earling, no estado de Iowa. O objeto da suposta possessão demoníaca é Emma Schmidt, uma senhora balzaquiana, filha de imigrantes alemães. Caso você leu a última frase do parágrafo anterior e percebeu um tom de história de superação, ou até mesmo uma pitada de auto-ajuda, neste caso, você leu certo e não está possuído por um demônio algum; pois, em dado momento da narrativa, o filme embarca nessa mesmo ideia. 

Seus dados biográficos são confusos. Aparentemente, não era a primeira vez que fora possuída por forças ocultas. Porém, anos após ser vitimada pelos espíritos possessores, Emma é novamente submetida ao exorcismo. O pároco Joseph Steiger consulta o padre que realizou a primeira tentativa de exorcizar Schmidt há duas décadas atrás, o Pe. Theophilus Riesinger; e sugere que um novo ritual deve acontecer. 

Durante várias sessões na segunda metade do ano, Riesinger e Steiger, com ajuda de freiras da congregação local, realizaram os procedimentos para o expurgo. Schmidt, possuída, apresentava sinais de inanição e desidratação, reagia de forma bastante violenta às tentativas dos religiosos, levitava da cama, se debatia, vomitava dejetos estranhos, falava em línguas que desconhecia, que estava possuída por Judas (sim, este mesmo que você está pensando agora!) e pelo espírito do próprio pai… Este longo e tortuoso exorcismo terminou bem perto da véspera de natal, e o caso foi documentado e difundido através dos anos como o caso secular de exorcismo nos Estados Unidos. Por mais que o ritual de Reisinger e Steiger foi um sucesso, sua adaptação cinematográfica, lançada em 2025, é uma outra história.

O filme O Ritual, lançamento da Paris Filmes no Brasil, é dirigido por David Midell, cujo currículo é modesto. Mas se esta obra for a prova de sua filmografia, suas intenções na sétima arte não são promissoras. 

Na trama do filme, um recém enlutado Joseph Steiger (Dan Stevens) retoma a normalidade de sua paróquia após o suicido de seu irmão. A rotina da comunidade muda completamente quando Steiger é procurado por seus superiores para abrigar Emma Schmidt (Abigail Cowen), uma jovem de vinte e poucos anos possuída, e o Pe. Theophilus Riesinger (Al Pacino) que irá se encarregar de seu exorcismo. 

O comportamento violento da moça assusta as freiras, incluindo a Irmã Rose (Ashley Greene), e a Madre Superiora (Patricia Heaton) da congregação. Enquanto Steiger questiona sua fé divina e Riesinger tenta esconder seu passado, ambos precisam colocar de lado suas diferenças e unir forças para tentar salvar Emma dos demônios que a atormentam, em várias tentativas frustradas de exorcismo. Midell utiliza-se da carta manjada do cinema de “baseado em fatos reais” para tentar causar empatia e medo em seus espectadores. No entanto, Al Pacino falando chavões motivacionais para a personagem de Stevens é um artifício pobre e cafona de uma escrita clichê; e os momentos de sustos são compostos de jumpscares aleatórios e bastante forçados por uma sonoplastia exagerada. O filme almeja por um shock value, mas consegue alguns bocejos e sobrancelhas arqueadas, ou um leve arrepio no máximo.

As personagens parecem opacas, patéticas, durante toda a narrativa. Arcos dramáticos são quase nulos. Embora Emma Schmidt seja importante para a trama, é mal articulada, não há vínculo emocional com ela; explorando mais sua possessão e o abuso físico que seu corpo sofre pelas entidades demoníacas. A atuação de todas as personagens é mal dirigida, não-existente na maior parte. 

O roteiro não consegue desenvolver o seu lado psicológico nem os temas do filme - como morte, fé e compulsão sexual -  de forma minimamente interessante, pipocando quase de forma aleatória. A fotografia é tenebrosa, mal enquadrada, tremida, estilo mockumentary, com uso excessivo de zoom ins e fundo desfocado que distraem o espectador, junto de uma edição picotada e confusa. Tais imagens desorientam o público e dizem absolutamente nada do ponto de vista semiótico.

Para um filme de época, mesmo que seja uma produção de baixo orçamento, o design de produção e figurino são bem limitados, tanto que a personagem de Pacino usa o mesmo traje a narrativa inteira. Orçamento minúsculo não é sinônimo de falta de criatividade. Pelo menos, o Steiger de Stevens preenche a caixinha do hot priest, mesmo sem a intenção.

Apesar do longa-metragem fugir da abordagem dos filmes de terror atuais recheados de cinismo, a obra não constrói uma carga dramática e nem atmosfera para sedimentar uma base catártica. David Midell utiliza do livre arbítrio da ficção para realizar escolhas sem sal que não compensam em nada; porém ao fazer Joseph Steiger, e não Riesinger, como o protagonista da trama, estabelece uma relação paradoxal com o Exorcista (1973) de William Friedkin. 

Por mais que William Peter Blatty não se inspirou, pelo o que este afirma, no caso de Emma Schmidt para confeccionar o Exorcista, o diretor de Ritual se apropria da jornada de Padre Karras e Merrin de Blatty para construir sua versão ficcional de Steiger e Riesinger. Há um paralelo claro entre as personagens mencionadas, mas Midell nunca dá a importância ou a originalidade para se sustentarem por si. O resultado dessa falta de exercício de narrativa? Uma cópia barata do clássico dos filmes de exorcismo. Ou tão ruim quanto: uma fanfic especulativa. 

No fim, O Ritual é um filme feio, irritante, carecido de originalidade, forçado, exploratório, risível, que não entende ao certo tanto importância da temática abordada quanto a gramática do gênero do terror. A história de Emma Schmidt merecia um tratamento cinematográfico à la Robert Eggers do que essa pataquada. Melhor assistir uma reprise de Exorcista ou de Exorcismo de Emily Rose (2005) que o susto é garantido.

*Este filme não é o Exorcista (Tradução do título em latim)


                                                                  Autor:
                                  

Eduardo Cardoso é natural do Rio de Janeiro, Cidade Maravilhosa. Cardoso é graduado em Letras pela Universidade Federal Fluminense e mestre em Estudos de Linguagem na mesma instituição, ao investigar a relação entre a tragédia clássica com a filmografia de Yorgos Lanthimos. Também é escritor, tradutor e realizador queer. Durante a pandemia, trabalhou no projeto pessoal de tradução poética intitulado "Traduzindo Poesia Vozes Queer", com divulgação nas minhas redes sociais. E dirigiu, em 2025, seu primeiro curta-metragem, intitulado "atopos". Além disso, é viciado no letterboxd.

segunda-feira, 4 de agosto de 2025

Drácula: Uma História de Amor Eterno - É Visualmente Deslumbrante, Mas Tropeça ao Tentar Reinventar a Sua Própria Essência.

Drácula | Paris Filmes

Em uma nova adaptação de Drácula, dessa vez sendo dirigida por Luc Besson, que ficou conhecido por filmes como O Profissional (1994) e Lucy (2014),  o foco não se torna o terror tradicional, mas sim um romance gótico sombrio e melancólico. Recebendo o título de “ Drácula: Uma História de Amor Eterno ”, Luc reimagina a clássica história de Bram Stoker por uma perspectiva do anseio eterno e do isolamento que a imortalidade trouxe para Conde Drácula, explorando a tragédia do Príncipe Vladimir, que renega Deus após a perda brutal de sua esposa, e recebe como uma maldição a vida eterna. Ao longo do filme, acompanhamos a sua busca obsessiva em reencontrar a sua amada, e por mais belo que isso seja, a premissa acaba tropeçando em alguns momentos com algumas escolhas que fragmentam a experiência da obra. 

Visualmente, Drácula: Uma História de Amor Eterno é deslumbrante. Desde a primeira cena, a fotografia impressiona com o uso dramático de sombras, reforçando o clima gótico que está permeado na história. O castelo onde boa parte da trama se desenvolve, é um espetáculo arquitetônico, com cenários que refletem a decadência e toda a solidão do vampiro. Os figurinos se tornam o maior destaque: luxuosos, detalhistas e fiéis à estética rococó e vitoriana, que não apenas vestem os personagens, mas os definem dentro daquele universo. A maquiagem e os adereços seguem esta excelência, criando uma composição visual rica e coerente. 

 O elenco é liderado por Caleb Landry Jones, que já trabalhou anteriormente com Luc no filme Dogman (2023) e também brilhou em outras obras como Corra, Projeto Flórida e Antiviral, abraça a proposta em se tornar Conde Drácula com uma performance carregada de tragédia e melancolia ao lado de Zoe Bleu Sidel, que interpreta a sua amada. Christopher Waltz (Bastardos Inglórios e Django Livre), nos entrega um padre extremamente importante para o roteiro do filme. As interações entre os personagens funcionam, e o tom dramático no início sustenta bem a ideia de um romance gótico trágico. 

 Entretanto, o filme começa a perder um pouco do seu foco principal ao decidir expandir a proposta além do necessário. Em uma tentativa de ousar, Luc Besson insere um pouco de musical em uma única cena, ao se aprofundarem na história do perfume que o próprio Drácula desenvolveu, e alguns momentos de alívio cômico que não conversam muito bem com a atmosfera construída até então. Tais escolhas geram estranheza, não pelo fato de ser inusitado, mas pela desconexão com a temática e o tom da narrativa. São momentos que se destoam do lirismo visual e da profundidade emocional que a trama nos apresenta, interrompendo um pouco da imersão do espectador e deixando a sensação de que o filme está constantemente buscando a sua verdadeira identidade. 

 Apesar desses desvios, Drácula consegue retomar com um pouco mais de estabilidade em seu terceiro ato. O desfecho, ainda que longe de ser impactante, consegue amarrar a jornada do Conde de forma coerente, respeitando a essência trágica da obra inicialmente. No entanto, é inegável que a experiência em um tudo acaba se fragilizando por consequência das oscilações de tom que atravessam a narrativa. 

 Por fim, Drácula: Uma História de Amor Eterno, vale a experiência de ser assistida, especialmente pela riqueza visual e pelo esforço em expor uma nova visão para o personagem clássico por uma lente mais íntima e poética. É um filme com muitos acertos técnicos, mas acaba perdendo um pouco de força ao tentar ser mais do que precisava. A tentativa de inovar é válida, mas faltou equilíbrio para que essa ousadia não se tornasse um ruído dentro de uma história que por si só já tinha potencial o suficiente.


Autor:

Bárbara Borges é do Rio de Janeiro e estudante de Jornalismo. Apaixonada por cinema desde criança, sempre foi movida por histórias intensas, especialmente as de terror, seu gênero favorito. Em 2024, dirigiu o documentário Além do Recinto, que levanta questionamentos sobre o bem-estar de animais silvestres em zoológicos e o impacto do confinamento longe de seus habitats naturais. Gosta de pensar no cinema como uma forma de provocar, sentir e transformar. Vive atualizando seu Letterboxd com comentários sinceros e, às vezes, emocionados. Entre seus filmes favoritos estão Laranja Mecânica, Psicopata Americano, Pânico, Pearl e Premonição 3.

domingo, 8 de junho de 2025

Bailarina - Elevando o Universo John Wick com Ação e Profundidade

Bailarina - Do Universo de John Wick | Paris Filmes

Ocorrendo durante os eventos de John Wick: Capítulo 3 – Parabellum, Eve Macarro começa seu treinamento nas tradições assassinas dos Ruska Roma.

Esse é o derivado de uma das maiores franquias de ação dos últimos tempos, conhecida por suas sequências intensas, coreografias de combate impecáveis e um universo rico em mitologia de assassinos. A série expandiu seu universo ao explorar novos personagens e culturas dentro desse submundo, oferecendo aos fãs uma experiência ainda mais profunda e emocionante, com histórias que se entrelaçam com o enredo principal e ampliam a mitologia já estabelecida. Isso não apenas reforça a mitologia complexa e fascinante que tornou John Wick um fenômeno, mas também eleva o padrão para futuros spin-offs, mostrando que é possível expandir um universo tão icônico sem perder a qualidade ou o impacto emocional.


Ana de Armas encara o papel mais exigente em termos físicos até agora em sua trajetória profissional. Mais do que apenas força e resistência, o papel demanda um alto nível de preparo corporal aliado a uma presença imponente e convincente em cena. O filme funciona como um verdadeiro palco para destacar a habilidade da atriz em realizar sequências de ação complexas, demonstrando agilidade, técnica e uma resistência impressionante. A atuação física de Ana vai muito além do esforço físico — ela incorpora a essência de uma combatente determinada, entregando uma performance que cativa e convence o público com sua autenticidade e intensidade.


A trama, por sua vez, não pretende ser original: é uma vingança motivada pela perda do pai, algo simples e direto. Esse tipo de narrativa já foi explorado não apenas na franquia John Wick, mas em diversas outras obras. No entanto, clichê não significa necessariamente algo negativo, desde que a história seja bem conduzida. E é justamente nesse ponto que o filme se sobressai, entregando sequências de ação impactantes e uma protagonista que mantém a narrativa firme e envolvente.


No aspecto visual, o longa realmente impressiona e se destaca. A estética neon, que é uma marca registrada da franquia, permeia cada cena, criando um ambiente vibrante e envolvente. Essa escolha visual não apenas reforça a imersão do espectador no universo da narrativa, como também estabelece uma identidade estética única e facilmente reconhecível. O uso consistente dessa paleta de cores contribui para intensificar o clima e a atmosfera do filme, tornando cada enquadramento visualmente impactante e memorável.


Eve Macarro não é uma personagem inabalável ou perfeita; ela enfrenta dificuldades reais, se machuca e tropeça ao longo da jornada. Essa humanização traz uma profundidade rara aos protagonistas desse tipo de filme, tornando-a muito mais autêntica e fácil de se identificar. Ao mostrar suas fragilidades e vulnerabilidades, o personagem ganha uma dimensão mais complexa, fugindo do estereótipo do herói invencível e proporcionando ao público uma conexão emocional mais genuína.


Bailarina consegue expandir com sucesso o universo já consolidado da franquia John Wick, trazendo uma narrativa que, apesar de familiar, ganha vida através de uma execução cuidadosa e personagens bem construídos. A combinação de uma protagonista complexa e humana, interpretada por Ana de Armas em sua melhor forma física e dramática, com um visual marcante e cenas de ação intensas, resulta em uma obra que honra suas raízes ao mesmo tempo em que se estabelece como um título sólido e envolvente por si só. O filme prova que, mesmo dentro de um gênero conhecido e com fórmulas já vistas, é possível entregar uma experiência emocionante e autêntica, capaz de cativar tanto fãs antigos quanto novos espectadores.


Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

segunda-feira, 10 de março de 2025

O Macaco - Quando o Terror se Perde no Humor

O Macaco | Paris Filmes


Quando irmãos gêmeos encontram um misterioso macaco de corda, uma série de mortes ultrajantes destroem sua família. Vinte e cinco anos depois, o macaco começa uma nova matança, forçando os irmãos afastados a confrontar o brinquedo amaldiçoado.

O filme apresenta os irmãos gêmeos Hal e Bill, cujas personalidades distintas geram uma dinâmica intrigante e enriquecedora para a narrativa. Hal, o mais introvertido, traz uma postura calma e introspectiva, com uma leve ironia que adiciona camadas ao seu personagem, tornando-o uma figura complexa e interessante. Sua distância emocional não é apenas uma característica, mas uma forma de se proteger e observar o mundo ao seu redor com uma perspectiva única. Já Bill, o mais expansivo e impulsivo, é o oposto em muitos aspectos, mas essa diferença não diminui a profundidade de sua personalidade. Sua confiança e comportamento desinibido criam momentos de leveza e espontaneidade, equilibrando a história de forma refrescante.

A interação entre os dois irmãos é fundamental para o desenvolvimento da trama, pois, apesar de suas diferenças, a ligação emocional que compartilham é forte e palpável. A relação deles não só alimenta a narrativa, mas também explora de maneira sutil como dois indivíduos tão diferentes podem influenciar um ao outro, moldando suas escolhas e ações de forma significativa. Essa dinâmica traz uma camada emocional que ressoa com o público, mostrando que as complexidades dos relacionamentos fraternais podem ser tanto um ponto de tensão quanto de crescimento. Bill, em sua essência, lembra o personagem Richie de It - A Coisa, um outro exemplo de personagem desbocado e irreverente.

No entanto, longe de ser uma simples repetição, ele agrega um frescor ao filme, pois suas provocações e atitudes impulsivas, embora possam ser irritantes para alguns, também são um reflexo da vulnerabilidade e da busca por aceitação, temas universais e relevantes. O fato de o público poder, em algum momento, sentir um desgosto por esses comportamentos, acaba sendo um ponto positivo, pois mostra como o filme consegue gerar uma reação emocional verdadeira, algo que muitas obras buscam sem conseguir. A narrativa, ao explorar as diferenças e semelhanças entre Hal e Bill, cria uma trama rica e multifacetada, onde as relações humanas, com todas as suas complexidades, são o verdadeiro centro da história. O filme, assim, consegue fazer com que o público se envolva, refletindo sobre as escolhas dos personagens e como essas escolhas os moldam ao longo do tempo.

O monstro do filme, que é representado pelo próprio macaco, desempenha um papel sutil, mas eficaz, na construção do clima de tensão e mistério. Embora sua presença no início pareça limitada a gestos simples, como bater no tambor e exibir um sorriso macabro, há uma profundidade que vai além de suas ações superficiais. O sorriso do macaco, em particular, é uma escolha interessante, pois ele transmite uma sensação de desconforto que vai crescendo à medida que a história avança. Esse sorriso, que poderia ser facilmente descartado como algo superficial, acaba se tornando uma das imagens mais perturbadoras e simbólicas do filme, representando uma força estranha e ameaçadora que está sempre à espreita, pronta para emergir.

O filme utiliza essas pequenas ações para construir um ambiente de crescente tensão psicológica. A forma como o macaco parece agir com um propósito misterioso, sem explicações claras, faz com que o público se envolva mais profundamente com o mistério, mantendo o interesse pela figura enigmática e desafiando a percepção de que "monstros" precisam ser sempre fisicamente ameaçadores ou violentos. Essa construção do monstro através da sugestão e do comportamento enigmático também ressoa com o tema central do filme, onde o que é "normal" ou esperado está constantemente sendo desafiado. Ao não mostrar o monstro de maneira explícita e ao reduzir suas ações a gestos simples e, ainda assim, perturbadores, o filme faz um excelente uso do suspense psicológico, mantendo o público cativado e, ao mesmo tempo, questionando o que realmente está em jogo.

Eu cheguei a ler o material original O Macaco, que, quando lançado, era um livreto, mas foi posteriormente incluído na coleção de contos Tripulação de Esqueleto, de Stephen King. A obra original é uma narrativa completamente tensa e sombria, marcada pela atmosfera opressiva e pela construção de uma sensação crescente de terror psicológico. Ao contrário da adaptação cinematográfica, que tenta inserir elementos de comédia e humor ácido, o conto de King é imersivo e assustador, onde a tensão se mantém constante e a presença do macaco como figura ameaçadora não é suavizada por piadas ou ironias.

O terror é profundo, enraizado na perda, no medo do desconhecido e na vulnerabilidade humana, temas que King explora com maestria. No livro, o macaco representa algo muito mais do que um simples ser maligno; ele simboliza a inevitabilidade do mal e as consequências de ações passadas, criando uma experiência de horror psicológico que faz o leitor questionar a própria natureza da realidade. O conto original é uma reflexão perturbadora sobre o impacto do trauma e da obsessão, criando uma sensação de desespero quase palpável.

Ao transpor essa obra para o cinema, o tom sombrio e a profundidade emocional que King criou no conto acabaram sendo diluídos em favor de uma abordagem mais leve e irreverente. Enquanto o humor ácido na adaptação pode agradar a alguns, ele enfraquece o impacto do terror psicológico presente na obra original. O Macaco, como foi escrito, é uma história que nos confronta com o medo de forma imersiva, sem apelar para o alívio cômico. Assim, a adaptação perde, em grande parte, a intensidade daquilo que torna o conto original tão perturbador e eficaz em sua narrativa de terror.

O Macaco mistura terror psicológico e comédia irreverente, oferecendo uma dinâmica interessante entre os irmãos gêmeos. No entanto, ao suavizar o tom sombrio do conto original com humor ácido, perde a intensidade emocional e o impacto aterrador da obra de Stephen King.

Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator em formação e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

O Homem do saco - Quando o Terror se Perde na Bagunça

O Homem do Saco | Paris Filmes


Uma família se vê envolvida em um pesadelo enquanto é caçada por uma criatura mítica e maligna. Durante séculos e em todas as culturas, os pais alertaram os seus filhos sobre o lendário Homem do Saco, que rapta crianças inocentes para nunca mais serem vistas. Patrick McKee (Sam Claflin) escapou por pouco quando menino, o que o deixou com cicatrizes ao longo de sua vida adulta. Agora, o pesadelo da infância de Patrick voltou, ameaçando a segurança de sua esposa Karina e de seu filho Jake.

O "Homem do Saco" é uma figura mítica presente em várias culturas, retratada como um homem com um saco que sequestra ou pune crianças desobedientes. Ele aparece em países latinos, Ásia, Europa e África, com diferentes nomes e características, mas sempre com o objetivo de assustar as crianças e fazê-las se comportar. Ao refletirmos sobre a figura do "Homem do Saco" no contexto do filme, é interessante perceber como a mitologia dessa figura pode ser reinterpretada ou utilizada de maneira simbólica em relação a temas contemporâneos, como o controle social, o medo do desconhecido e até mesmo a desconstrução de figuras autoritárias.

A obra pode ser vista como uma crítica ou até uma reflexão sobre como as histórias de medo, com base em figuras como o "Homem do Saco", perpetuam valores de punição e medo. Ao invés de buscar entender as causas do comportamento das crianças ou da sociedade, essas narrativas frequentemente preferem uma abordagem mais punitiva e intimidadora. Não apenas alimentando o medo e o conformismo, mas também serve como metáfora para os próprios mecanismos de controle social na atualidade. A ideia de um ser misterioso que sequestra ou pune aqueles que transgridem pode ser uma alusão indireta à forma como as instituições tentam manter a ordem, com a desculpa de proteger ou educar, mas muitas vezes ignorando questões mais profundas de justiça e compreensão.

Porém, o principal problema do filme é a tentativa de explorar a lenda de maneiras distintas, sem, no entanto, se aprofundar em nenhuma delas. A criatura é retratada tanto como um trauma infantil, quanto uma entidade paranormal, uma alucinação psicológica e uma ameaça física real. O resultado é uma mistura de conceitos desconexos que nunca conseguem estabelecer um tom consistente.

O visual da criatura, o 'Homem do Saco', é um exemplo impressionante de como os efeitos práticos podem ser bem utilizados, mesmo com um orçamento limitado. A figura sinistra, vestindo um capuz preto que cobre a maior parte do seu rosto, exibe apenas uma parte visível: um sorriso distorcido, com dentes irregulares e uma boca exageradamente alargada. Esse detalhe grotesco intensifica a aparência aterradora, amplificando ainda mais o mistério e o terror que ele desperta.

Homem do Saco de 2024 é uma obra que apresenta um potencial interessante ao explorar temas universais como medo, controle social e a figura mítica do sequestrador infantil. No entanto, seu principal defeito reside na tentativa de abarcar diferentes abordagens e interpretações para a lenda, sem se aprofundar de maneira suficiente em nenhuma delas. A mistura de traumas psicológicos, entidades paranormais e ameaças físicas cria uma narrativa confusa que compromete o impacto da história. Apesar de um visual impactante e uma boa utilização dos efeitos práticos, o filme falha ao não conseguir estabelecer um tom consistente, o que prejudica sua capacidade de envolver e gerar o tipo de tensão que se espera de um bom filme de terror. A crítica à perpetuação de valores punitivos através de figuras como o Homem do Saco é válida e instigante, mas se perde na dispersão de ideias, resultando em uma experiência que, embora visualmente eficaz, carece de profundidade e coesão narrativa.

Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator em formação e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa - Uma Aventura Divertida e Reflexiva Sobre a Natureza e a Simplicidade do Personagem

Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa | Paris Filmes

Um dos personagens mais queridos do universo de A Turma da Mônica irá enfrentar um grande desafio em Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa. Chico Bento acorda para mais um dia na Vila Abobrinha focado em conseguir subir em sua amada goiabeira para pegar a fruta sem o dono das terras saber. O que Chico não esperava era que sua preciosa árvore estaria ameaçada pela construção de uma estrada na região, já que, para desenhar a rodovia, será preciso pavimentá-la pela propriedade de Nhô Lau, exatamente onde a goiabeira está plantada. Focado em salvar a árvore, Chico Bento reúne seus amigos Zé Lelé, Rosinha, Zé da Roça, Tábata, Hiro e toda a comunidade para acabar com o projeto da família de Genezinho e Dotô Agripino. Com a turminha se metendo em diversas confusões, Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa traz uma aventura que irá tirar o sossego e a tranquilidade da Vila Abobrinha.

A Turma da Mônica iniciou sua adaptação live action em 2019 com Turma da Mônica: Laços. Em 2021, foi lançado Turma da Mônica: Lições, e no ano seguinte, chegou Turma da Mônica: A Série, que serviu como desfecho para o elenco dessas produções. Ainda em 2024, foi lançado Turma da Mônica Jovem: O Reflexo do Medo, com um novo elenco, que obteve um desempenho abaixo das expectativas nas bilheteiras. Recentemente, tivemos o lançamento de Turma da Mônica: Origens. No entanto, Chico Bento e a Goiabeira Maravilhosa conseguiu remover o gosto amargo deixado por O Reflexo do Medo, oferecendo uma história simples, mas extremamente divertida. 

O filme se destaca por sua abordagem simples, mas eficaz, ao contar uma história que não tenta se distanciar da essência do personagem. A produção resgatou o tom leve e bem-humorado das narrativas originais, sem recorrer a inovações desnecessárias que poderiam descaracterizar a obra. Por exemplo, todos os personagens, incluindo os adultos, são retratados de maneira boba. Isso fica evidente logo no início do filme, durante o flashback que mostra o nascimento de Chico Bento. Na cena, em vez de ajudar a esposa no parto, o pai de Chico se dedica a imitar os gestos dela, evidenciando sua atitude pueril.

O roteiro do filme explora de forma clara e envolvente a relação entre os seres humanos e o meio ambiente, destacando a importância da preservação natural. A trama acompanha Chico Bento, um garoto que tenta salvar a goiabeira de sua aldeia, ameaçada pela construção de uma estrada. A árvore, que representa a memória e a vivência de Chico, se torna um símbolo da fragilidade da natureza diante do avanço do homem. A ameaça à goiabeira é mais do que um simples conflito; ela ilustra de maneira impactante como as intervenções humanas podem desestruturar o equilíbrio natural. 

Ao focar nessa luta pessoal e íntima, o filme mostra que cada pequena ação, como a preservação de uma árvore, pode ter repercussões significativas. A história, simples mas profunda, conecta o público jovem a questões ambientais de maneira direta, incentivando a reflexão sobre o papel de cada um na proteção da natureza.

A performance de Isaac Amendoim como Chico Bento é um dos pontos mais fortes do filme. Ele consegue capturar a essência do personagem de forma autêntica, transmitindo sua ingenuidade e simplicidade de maneira encantadora e natural. Amendoim dá vida a um Chico que é genuíno e engraçado, sem forçar os traços caricatos que poderiam desvirtuar a figura do caipira. 

Sua interpretação traz um frescor ao personagem, equilibrando perfeitamente o tom leve e a profundidade emocional necessária para que o público se conecte com a história. A habilidade de Amendoim em expressar as pequenas nuances de Chico — seja nas interações com os amigos ou na sua relação com a natureza — enriquece o filme, tornando-o mais envolvente. Ele consegue transmitir a pureza e a determinação do personagem sem exageros, o que faz com que Chico Bento se sinta ao mesmo tempo familiar e novo, cativando tanto os fãs antigos quanto os novos espectadores.

Chico Bento e a Goiabeira Maravilhosa com uma abordagem leve e divertida, resgata a essência do personagem, combinando humor e uma importante mensagem ambiental. A performance carismática de Isaac Amendoim como Chico Bento é um dos grandes destaques do filme, garantindo uma experiência encantadora e reflexiva para todas as idades.

Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator em formação e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

terça-feira, 3 de dezembro de 2024

O Conde de Monte Cristo - Um filme Francês que amaria ser um Épico Hollywoodiano

O Conde de Monte Cristo | Paris Filmes

O Conde de Monte Cristo mostra a historia de Edmond Dantes, um navegador que é acusado injustamente por um crime que não cometeu. Depois de 14 anos preso, ele consegue fugir de sua prisão e recomeça sua vida com outro nome, sendo o Conde de Monte Cristo. A partir de seu novo nome e com uma fortuna imensa em suas mãos, ele começa a se vingar de cada um que foi parte de sua prisão. O filme é adaptação do livro com mesmo nome, escrito por Alexandre Dumas, e dirigido pelos diretores Alexandre De La Patelliére e Matthieu Delaporte. 

A direção consegue recriar na sua direção de arte, nos figurinos e na ambientação o tempo em que a história ocorre, além de ter um trabalho efetivo nos efeitos especiais. Os pontos técnicos conseguem seduzir o bastante o espectador para a antiga França, até mesmo em alguns diálogos entre os personagens. O filme também não tenta se aventurar em sua pirotecnia, entregando aquilo que é o essencial, e nada além. 

O filme não é conduzido para ser um grande épico em sua construção, mas mais interessado em ser um filme básico onde segue a jornada do herói. Não que isso seja um problema, até porque não é. E em sua simplicidade de proposta, ele consegue funcionar em quase todos os aspectos. Mas oque faz a obra ser conduzida sem cair na mesmice é a atuação de Pierre Niney como Dantes, que consegue se expressar  sutilmente apenas com os olhares, e o trabalho de direção em conduzir a história em um mesmo ritmo do começo ao fim. Mesmo tendo muitas brechas para a direção seguir um caminho perfeito para se perder, a direção segura sua própria ambição para ter total controle daquela narrativa. 

A obra muitas das vezes querendo utilizar em momentos pontuais o excesso de dramatização com a trilha e com as atuações de alguns personagens faz o filme perder um pouco de sua força narrativa para tentar convencer o espectador de sentir um certo sentimento que não é necessário, já que a própria cena já entrega sem muita necessidade de explicação. Esse efeito felizmente não cai nos diálogos, que são muito bem escritos e executado de forma bastante orgânica pelos atores. 

O Conde de Monte Cristo mesmo sendo um filme conduzido com maturidade na sua direção, com uma construção de época belíssima, é um filme que ao mesmo tempo que acerta em seu controle, ele se contém demais em sua linguagem e em sua entrega ao espectador. É um filme francês que parece ter vergonha de ser francês, soa como uma tentativa de ser um épico hollywoodiano. Oque torna a obra uma ideia meio deslocada. Não seria impossível convencer os espectadores que esse filme é uma produção de Hollywood com apenas atores franceses, pois é esse exato retrato que a direção conduz. 

Mas a obra consegue ser uma jornada bela e sensível em sua maioria, sendo também um atrativo para espectadores mais novos em se interessarem nessa jornada de vingança além das propostas por Hollywood dos últimos anos que faz questão do retrato de um homem como um animal louco por carnificina e armas de fogo. Aqui, nosso protagonista tem múltiplas faces e consegue pensar além das armas que tem em suas mãos. 

Invés de cabeças voando e sangue pingando em todos os cantos, encontramos aqui um personagem que busca sua vingança perfeita dentro do cenário mercantil e na antiga monarquia, que depois caminhou para o capitalismo. A tomada de posses, a verdadeira face do moralismo enrustido, e como o valor de um homem sempre se encontra naquilo que ele possui. Fator que torna o fim da jornada do protagonista algo belo e satisfatório aos olhos dos espectadores. 

O Conde de Monte Cristo é uma obra dirigida com bastante controle e tendo um ótimo conjunto técnico sendo na criação de época e no trabalho de condução dos personagens. Mesmo sendo um filme que se contém demais e não tenta se mostrar realmente de onde vem, consegue executar uma narrativa calorosa e aconchegante para a maioria dos espectadores. Uma obra sobre vingança e justiça feita de forma delicada, mas delicada demais para seres pouco, ou nada, delicados. 


TEXTO DE ADRIANO JABBOUR



terça-feira, 20 de agosto de 2024

Estômago 2: O Poderoso Chefe - Sustenta o espectador, mesmo com falta de Tempero

 

Estômago 2: O Poderoso Chefe | Paris Filmes

No primeiro filme, existia uma criação de atmosfera e de tensão sobre a jornada do personagem protagonista, Raimundo Donato, na qual o espectador se encontrava imerso esperando saber o que o personagem fez para acabar preso. Quando a narrativa do primeiro acaba, todos ficam surpresos e perplexos pelo que foi entregue. Não só pela jornada do personagem, mas em ver um lado dele que ninguém esperava. A beleza do protagonista, se encontrava nessa ideia de um talento inesperado, pronto para qualquer coisa que ficasse a sua frente e a frente de sua comida. 

Então a jornada de Raimundo Donato, conhecido como Alecrim, continua dentro da prisão como cozinheiro de todos aqueles que fazem a prisão funcionar. Sendo cozinheiro do chefe da prisão, até mesmo dos carcereiros e do criminoso mais conhecido da área, "Etc". Até o momento que aparece um Mafioso Italiano dentro da cadeia e existe uma disputa entre seu líder e "Etc" para medir forças dentro do lugar. 

E então começa aquela que deveria ser a jornada do nosso cozinheiro louco dentro da cadeia tentando sobreviver nesse conflito. Mas Marcos Jorge decide tomar uma direção completamente diferente nessa obra, oque pode causar um certo desapontamento com os fãs do personagem Raimundo Donato. O roteiro utiliza de Raimundo como apenas uma âncora para o desenvolver de uma história relativamente parecida com a do primeiro filme, mas sendo a jornada do líder da máfia. Seguindo a estrutura quase idêntica à do primeiro filme:

Um amor louco, um recomeço de vida, o crime, toda estrutura segue quase idêntica, com algumas mudanças pontuais e se sustentando com aquilo que fica na dúvida em ser uma sátira ou apenas a utilização mal aplicada do estereótipo italiano mafioso. A ideia consegue se manter até o momento em que existe um desejo em ver mais do Raimundo, que é apenas um elemento de disputa no meio da cadeia entre o líder da máfia e o "Etc". 

Além das problemáticas narrativas, o filme tenta forçar uma intimidade nos diálogos da mesma forma que o primeiro mas sem sutileza. Com utilização de palavrões em quase todos os diálogos e o caricato dentro do diálogo misturado de italiano com português. Marco Jorge tenta se reinventar em uma formula já aplicada mas acaba criando uma narrativa que não acrescenta em nada ao protagonista, que aqui se encontra como coadjuvante. 

É necessário falar que o filme se auto censura sempre que pode, sendo na violência e até nas cenas de sexo. É como se a direção quisesse colocar o filme com o mesmo tom do primeiro, mas sem a mesma coragem. Ou como uma tentativa de Marcos Jorge em tornar um Estômago uma jornada que seja cômica para toda família, oque não faz jus ao primeiro capítulo da história de Raimundo. 

Estômago 2 tenta satirizar os filmes de máfia, mas falha; não existe desenvolvimento do protagonista Raimundo dentro da narrativa proposta; A estética suja e mais realista do primeiro aqui é deixada completamente de lado, e a apresentação para um novo personagem entra de forma pouco orgânica. Mesmo com suas várias problemáticas, o filme ainda consegue divertir o espectador em poucos diálogos e em algumas cenas de violência mais gráfica. O que antes era um prato tão saboroso, se tornou um simples fast food.

TEXTO DE ADRIANO JABBOUR.

Telefone Preto 2 - Do Suspense Psicológico para a Hora do Pesadelo

Telefone Preto 2 | Universal Pictures Pesadelos assombram Gwen, de 15 anos, enquanto ela recebe chamadas do telefone preto e tem visões pert...