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sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025

Sing Sing - O Poder Transformador da Expressão Criativa no Sistema Carcerário

Sing Sing | A24


Sing Sing acompanha a história real de Divine G (Domingo), um homem preso por um crime que não cometeu, que encontra propósito ao atuar em um grupo de teatro ao lado de outros homens encarcerados, incluindo um novo e desconfiado integrante. Baseado em uma emocionante história real de resiliência, humanidade e o poder transformador da arte, o filme conta com um elenco inesquecível composto por atores que já foram encarcerados.

O programa Rehabilitation Through the Arts (RTA), com sua taxa de reincidência abaixo de 5%, oferece uma proposta inovadora e impactante. Porém, essa taxa extremamente baixa, quando comparada à média nacional de reincidência superior a 60%, pode gerar questionamentos sobre a eficácia da implementação desse tipo de programa em larga escala. Embora os resultados do RTA sejam impressionantes, é importante considerar que o contexto específico das prisões participantes, as condições individuais dos detentos, e o apoio institucional contínuo podem influenciar esses números.


A abordagem de reabilitação por meio da arte é indiscutivelmente poderosa, mas sua aplicabilidade universal e a replicabilidade de seus resultados merecem um exame mais profundo. No contexto do filme, o processo de transformação individual, impulsionado pela descoberta de novas formas de expressão, é relevante, mas também é necessário refletir sobre como o sistema penal mais amplo poderia se beneficiar de um modelo similar em vez de depender apenas de iniciativas pontuais como o RTA.


O filme segue a estrutura tradicional dos dramas de redenção, apresentando personagens à margem da sociedade que, de algum modo, descobrem um caminho para a transformação pessoal e a realização de algo significativo. Embora se baseie em uma fórmula conhecida, o longa se destaca ao humanizar os detentos, revelando suas complexidades e destacando o papel crucial da arte dentro do sistema carcerário. Ele consegue transmitir de forma sensível como a expressão criativa pode ser uma chave para a reintegração e o autoconhecimento. No entanto, apesar de tratar desses temas de maneira eficaz, o filme não explora tão profundamente outras dimensões do processo de redenção, deixando algumas camadas da história por desenvolver.


Por meio dos ensaios da peça "Breakin’ the Mummy’s Code", desenvolvida pelos próprios prisioneiros, o filme aprofunda temas universais e profundos que emergem no contexto carcerário, como a busca por redenção, o processo de transformação pessoal e o poder transformador da expressão artística. Ao destacar como a arte oferece uma saída significativa para os detentos, o filme mostra de forma sensível e impactante como a criatividade pode ser uma ferramenta crucial na reconstrução do indivíduo, permitindo a reflexão sobre o passado, a reintegração social e, muitas vezes, uma nova perspectiva sobre a vida e seus próprios destinos. Essa abordagem não apenas ilumina a complexidade humana por trás das grades, mas também reforça a importância do teatro como um meio poderoso de autoconhecimento e reabilitação.

Divine G é o líder criativo do grupo, que também conta com Mike Mike e o professor Brent Buell. Antes de ser preso por acusações graves, ele era advogado e, após anos de encarceramento em Sing Sing, sua paixão por livros e teatro o transformou no diretor criativo do programa. No entanto, seu gosto por clássicos e dramas mais sérios entra em conflito com os desejos dos outros detentos, que preferem explorar histórias mais originais e comédias.

A dinâmica do grupo muda quando Divine Eye, um dos prisioneiros mais difíceis e violentos, decide se juntar ao projeto após uma rara chance de ver sua sentença revista. Inicialmente hesitante e desconfortável, ele logo inspira os outros com uma enxurrada de ideias criativas, que mistura elementos de drama, ficção científica e faroestes, criando uma narrativa surpreendentemente inusitada e envolvente. Essa fusão de estilos e a energia criativa gerada no processo não só trazem leveza e diversão ao filme, mas também ilustram como a arte pode ser uma poderosa ferramenta de transformação e autodescoberta, mesmo em um ambiente tão restritivo como o sistema penitenciário.

Sing Sing é um drama emocionante que destaca o poder transformador da arte no sistema carcerário, mostrando como programas como o RTA podem ajudar na reabilitação e autodescoberta. Apesar de humanizar os detentos e abordar temas profundos como redenção, o filme poderia explorar mais as condições do sistema penitenciário e a escalabilidade desses programas. A obra é tocante, mas deixa algumas questões importantes por desenvolver.

Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator em formação e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

Queer - O descobrimento através do surreal

Queer | A24

Do diretor que abriu o ano com seu aclamadissimo filme “Rivais”, Luca Guadagnino decide mostrar o quão diferente suas obras podem ser, e de forma incrível conta em película o livro “Queer” de Burroughs, um conto que foge totalmente do “padrão” Guadagnino.

Me encanta muito a primeira parte do filme, principalmente na construção do personagem de Lee, vemos um homem que sofreu e sofre tanta descriminação que por muitas vezes se sente culpado por ser quem é, e por isso age da forma que vemos. Outro ponto que me atrai bastante é a materialização dos desejos de William Lee, como aqueles pensamentos mais puros deles se materializam em tela de forma quase espiritual.

Um filme que começa numa espécie de realismo bem centrado na relação de seu protagonista com sua sexualidade, porém que transita para um surrealismo totalmente surpreendente, afinal a primeira metade não nos prepara para algo assim, e isso é maravilhoso.

Personagens apresentados de forma fechada e fria, quando a conexão mundana não é capaz de suprir os desejos dos personagens, a solução é escapar para o surreal, onde não há limitações de alma e corpo, onde não é preciso se expressar verbalmente, apenas sentir.

Na minha visão o filme ganha muita força quando abraça o surrealismo de forma total, quando você se entrega totalmente ao que está vendo, é como se estivesse junto à eles naquela viagem. Cada cena é visualmente espetacular e única, personagens vomitando corações, corpos que se abraçam e se unem, Lee observando ele mesmo no apartamento, entre muitas outras.

Guadagnino mesmo que filme de forma bastante clássica, observamos uma desconstrução moderna em sua narrativa. Os corpos são postos em cena como principal meio de expressão dos sentimentos, além disso a forma com que o tesao do filme se sustenta apenas no físico, nos corpos que compõe a cena, diferentemente de Rivais.

Autor:


Me chamo Gabriel Zagallo, tenho 18 anos, atualmente estou cursando o 3º ano do ensino médio e tenho o sonho de me tornar jornalista, sou apaixonado por cinema e desejo me especializar nisso. Meus filmes favoritos são Stalker, Johnny Guitar, Paixão e Rio, 40 graus.

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Herege - Suspense e Comédia

Herege | A24

No suspense Herege, Paxton(Chloe East) e Barnes (Sophie Thatcher) são duas jovens missionárias que dedicam seus dias a tentar atrair novos fiéis. No entanto, a tarefa se mostra difícil, pois o desinteresse da comunidade é evidente. Em uma de suas visitas, elas encontram o Sr. Reed (Hugh Grant), um homem aparentemente receptivo e até mesmo inclinado a converter-se. Contudo, a acolhida amistosa logo se revela um engano, transformando a missão das jovens em uma perigosa armadilha. Presas em uma casa isolada, Paxton e Barnes veem-se forçadas a recorrer à fé e à coragem para escapar de um intenso jogo de gato e rato. Em meio a essa luta desesperada, percebem que sua missão vai muito além de recrutar novos seguidores; agora, trata-se de uma batalha pela própria sobrevivência, na qual cada escolha e cada ato de coragem serão cruciais para escapar do perigo que as cerca.

 As missionárias possuem personalidades distintas, o que reflete diferentes formas de lidar com a fé. Paxton, a 'certinha' da dupla, adota uma visão mais pura e descomplicada da religião, talvez por nunca ter enfrentado grandes crises existênciais. Em contraste, Barnes foi introduzida á fé apenas após vivenciar um evento traumático, o que certamente adiciona uma camada de complexidadade ao seu entendimento e prática religiosa. Essa dualidade entre uma fé inabalável e simples e uma fé moldada pela dor levanta questões sobre como o sofrimento pode transformar a espiritualidade e até que ponto a vivência do trauma altera a percepção de crenças antes consideradas inquestionáveis.

 O filme consegue equilibrar habilidosamente elementos de terror e comédia, criando uma experiência única. O terror presente não se baseia em espíritos ou assombrações, mas em uma atmosfera de tensão psicológica e suspense, onde o personagem Sr. Reed, embora um "monstro" no sentido figurado, representa uma ameaça de uma forma mais soturna e intrigante. O filme segue uma linha de suspense, evitando a dependência dos jumpscares, uma técnica frequentemente usada de maneira preguiçosa em filmes do gênero.

 Por outro lado, a comédia se manifesta principalmente nos diálogos entre as missionárias e o "Anfitrião". Um exemplo disso é quando ele lhes apresenta sua coleção de jogos de tabuleiro, como o Monopoly, em um tom inesperado e cômico. Além disso, há uma referência ao musical polêmico da Broadway, The Book of Mormon, criado por Trey Parker e Matt Stone, os criadores de South Park. A alusão à peça é pertinente, pois ambos os enredos envolvem dois missionários da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias tentando pregar a fé a moradores de uma remota vila de Uganda, o que sugere até uma certa semelhança na abordagem irreverente e no humor satírico. Essa mistura de gêneros e referências culturais enriquece o filme, tornando-o mais complexo e divertido, ao mesmo tempo em que mantém uma tensão constante e uma crítica social subjacente.

O suspense é bem construído na primeira metade, explorando três cenários e a boa interação entre os personagens. Na segunda parte, o terror se intensifica, focando na busca das missionárias por respostas. No entanto, o ato final exagera nas reviravoltas e traz uma solução forçada, resultando em um desfecho exagerado e inverossímil.

 Herege mistura habilidosamente terror psicológico e comédia, explorando a fé de duas missionárias com personalidades distintas. Apesar das ideias originais e de uma crítica social interessante, o filme se perde em sua conclusão, optando por reviravoltas excessivamente forçadas que comprometem o desfecho. Esse final exagerado enfraquece o impacto da narrativa, deixando a história menos coesa e verossímil, o que diminui a eficácia da tensão construída ao longo do filme.

Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator em formação e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.



Todas as estradas de terra têm gosto de sal – Do que é feita a vida, afinal?

Todas as Estradas de Terra tem Gosto de Sal | A24

Um tempo atrás, vi em algum lugar a frase de autoria por mim desconhecida: Para todo mal, o sal. Para todo bem, também. Não pude não pensar nela ao ver Todas as estradas de terra têm gosto de sal que, antes de tudo, revela muitas mãos que acolhem, que empurram, que levantam, que se dão.  

Mãos, terra, água, tempo! Em ritmo lento, a história de Mackenzie, uma mulher negra, nos Estados Unidos dos anos sessenta, é contada a partir dela, por uma comunidade e muitas águas. Ao longo de uma trama inteira, ensinamentos, ancestralidade e silêncios (e sons) perpassam sua vida.

Mack, como é chamada, tem sua trajetória expressa em uma narrativa não linear, entre idas e vindas, entre passado e presente, morte e vida, desconsertando por vezes quem assiste, parte pelo ritmo, parte por deixar escapar algum detalhe na passagem de algum dos tempos que foi e que voltou.  

A história em si, por se comum, não tem algo de espetacular ou de diferente ao ponto de deixar qualquer queixo caído ou algo do tipo. Não obstante, é uma surpresa boa perceber que o dramático Todas as estradas de terra têm gosto de sal mostra, por meio de Mack, a vida humana mais crua e elementar, assim mesmo, como ela é.

Desde a infância até a fase adulta, passando pela encabulada juventude, vê-se uma Mack amadurecida, reflexiva, lidando com as consequências de decisões fortes, sem deixar de lado o sentir da chuva, do rio, na pele, nas mãos que se dão ao longo da trajetória.

É bonito de ver, apesar de, em algum grau, um pouco cansativo também. (Assim como a vida? Talvez!). São raros os diálogos, no entanto, de grande profundidade. Nessa toada, restam às imagens o ponto alto.

A história é de Mack, mas ela não está só, não anda só. O universo daqueles que a rodeiam compõe seu universo também, como uma composição mesmo, de amores, de tristezas, de poesias, de durezas. Todos juntos – ou não – caminhando vida adentro, mundo afora.

Todas as estradas de terra têm gosto de sal traz e instiga a ver a beleza da melancolia, da demora, do deleite, da calma e de como é se sujeito da própria história. Durante e ao final, cai a ficha de que, sim, somos feitos disso aí: barro, água e mãos. E tempo! Tempo também.

Autora:


Lá em 2004 participei do meu primeiro filme. Ali apaixonei pelo cinema, mas como toda boa paixão, à la Jack e Rose, naufragou. A vida toma rumos e acabei seguindo outra área. Mas nada apaga uma boa paixão, né isso? Me chamo Carol Sousa e hoje falo e escrevo sobre cinema, quem sabe isso quer dizer amor...

Telefone Preto 2 - Do Suspense Psicológico para a Hora do Pesadelo

Telefone Preto 2 | Universal Pictures Pesadelos assombram Gwen, de 15 anos, enquanto ela recebe chamadas do telefone preto e tem visões pert...