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sábado, 11 de outubro de 2025

Tron: Ares - Um Retorno Sem Impacto

Tron : Ares | Disney


Tron: Ares acompanha o programa Ares, uma espécie de computador altamente qualificado e melhor desenvolvido do que os demais presentes na Terra. Em uma importante missão, Ares é retirado do mundo digital para conseguir resolver os problemas do mundo real, no entanto, os perigos apresentados pelo novo trabalho serão capazes de fazê-lo desacreditar de seus próprios códigos.

Este é o terceiro filme de uma franquia que, apesar de ter sido inovadora quando o primeiro longa foi lançado — graças ao uso pioneiro de efeitos especiais com gráficos gerados por computador (CGI) para criar ambientes e personagens digitais — acabou sendo esquecida com o tempo e não se tornou verdadeiramente memorável. Embora os efeitos tenham sido uma novidade na época, já pareciam datados.

Tron: O Legado (2010) apresentou visuais muito mais impressionantes: as Light Cycles e outras cenas de ação foram aprimoradas com gráficos dinâmicos e realistas. Esse, aliás, eu assisti no cinema e criei certo carinho por ele. Quando criança, cheguei a desejar uma continuação, mas os anos passaram, e acabei deixando a franquia de lado... até que Tron: Ares foi anunciado. Não me empolguei muito para assistir, mas resolvi conferir — e, de certa forma, bateu aquela nostalgia da infância.

Claro que isso não significa que eu tenha gostado tanto do novo filme quanto do anterior. Nesta nova produção, a inteligência artificial não é exatamente explorada como um tema central voltado à reflexão mais profunda ou filosófica. Em vez disso, ela funciona mais como um pano de fundo conveniente — um recurso narrativo que serve apenas para conduzir uma jornada visualmente estilizada, mas que, no fim das contas, gira em torno do vazio existencial do protagonista.

Ares, protagonista do longa, é apresentado como uma entidade artificial que, aos poucos, começa a demonstrar traços de compaixão e humanidade. No entanto, sua construção emocional permanece supercial, e o filme não consegue estabelecer uma conexão verdadeira entre ele e o público. Apesar da proposta de uma jornada de autodescoberta, Ares carece de carisma e profundidade suficientes para despertar empatia genuína no espectador.

Por outro lado, Eve Kim, a personagem humana da história, demonstra muito mais presença e carisma. Ela é retratada como uma jovem nerd que trabalha na Encom e se dedica a decifrar o código deixado por Flynn. É nesse contexto que acaba cruzando o caminho de Ares. Eve traz humanidade e dinamismo à narrativa, funcionando como um contraponto necessário à frieza programada do protagonista. Sua participação confere leveza e maior apelo emocional à trama.

O filme até tenta desenvolver um romance entre os dois personagens. Embora a proposta possa parecer clichê, não haveria problema se tivesse sido bem executada. No entanto, a forma como essa relação foi construída ficou bastante superficial — a interação se resumiu a longos olhares e tentativas de paquera que, soaram até constrangedoras.

Um ponto que achei interessante foi a participação de Julian Dillinger, presidente da Dillinger System, empresa concorrente da Encom — uma multinacional estadunidense de tecnologia responsável pelo desenvolvimento de diversos programas e inovações fundamentais, incluindo o hardware e software que digitalizam dentro do universo do filme. Na cena em que Dillinger ordena o lançamento de Ares em um ataque cibernético ao mainframe da Encom, o personagem invade esse ambiente virtual como se estivesse invadindo um território inimigo, enfrentando guardiões digitais da empresa. Essa representação da batalha no mundo virtual me pareceu criativa e eficaz, adicionando tensão e dinamismo à narrativa.

A trilha sonora do filme é impressionante, incorporando elementos típicos do estilo cyberpunk, como sons eletrônicos, sintetizadores envolventes e batidas pulsantes. Essa combinação contribui para criar uma atmosfera futurista e imersiva, que reforça o clima tecnológico, ajudando a transportar o espectador para dentro do universo digital retratado na tela.

Tron: Ares é como um prato servido com uma apresentação impecável, cores vibrantes e aroma instigante — mas que, ao ser provado, revela um sabor raso e sem tempero. Visualmente, ele impressiona e até desperta aquela nostalgia de um prato que você adorava na infância, mas que hoje, ao experimentar novamente, percebe que faltam ingredientes essenciais. O protagonista é mal temperado e a inteligência artificial — que poderia ser o ingrediente principal — acaba sendo usado apenas como enfeite no prato. No fim, o filme até pode matar a fome de curiosidade dos fãs, mas dificilmente deixará um gosto marcante ou vontade de repetir.

Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

segunda-feira, 22 de setembro de 2025

Irmão Urso - A Joia Subestimada da Era Experimental da Disney

Irmão Urso | Disney


Kenai é um jovem índigena que tem aversão a ursos. Após um trágico evento envolvendo seu irmão Sitka, Kenai se vê transformado em um urso. Agora, ele precisa contar com a ajuda de Koda, um filhote de urso, para chegar a uma montanha mágica onde acredita poder voltar à sua forma humana.

Irmão Urso foi um dos filmes lançados durante a era experimental da Disney, um período em que muitos filmes não receberam o reconhecimento merecido em sua época, mas com o passar dos anos se tornaram cultuados. Lançado nos anos 2000, o filme pode ser considerado injustiçado, pois carrega uma mensagem profunda sobre amadurecimento e autodescoberta. A história de Kenai, que inicialmente não entende o significado do seu totem (o urso do amor), reflete a luta contra uma masculinidade tóxica que o impede de aceitar sentimentos mais profundos, como o amor.

A animação ensina que o amor transcende barreiras e que, assim como os humanos, os ursos também são capazes de amar. Percebendo isso ao conhecer Koda, um urso filhote alegre e carinhoso, Kenai começa a entender o verdadeiro significado de seu totem. Koda, que o vê como um irmão mais velho, cria um vínculo genuíno e afetuoso com Kenai, desafiando suas crenças anteriores. 

A obra se destaca pelo seu estilo de arte belíssimo e expressivo. O filme apresenta paisagens deslumbrantes inspiradas na natureza selvagem da América do Norte, com florestas densas, montanhas majestosas, rios cristalinos e céus coloridos pela aurora boreal. A animação aposta em cores vibrantes e contrastes marcantes, criando uma atmosfera visual rica que reforça o tom espiritual e poético da história. Um detalhe artístico notável é a mudança sutil no formato da imagem ao longo do filme: no início, a tela tem proporções mais estreitas e cores mais frias, refletindo a visão limitada e endurecida de Kenai. Quando ele se transforma em urso, o formato se expande para widescreen e a paleta de cores se torna mais quente e viva, simbolizando sua abertura a uma nova perspectiva e conexão com o mundo natural.

Desde criança, nunca enxerguei Denahi — o irmão mais velho de Kenai — como o vilão. Na verdade, sua motivação é compreensível: ele acredita que Kenai foi morto por um urso, sem saber que seu irmão havia sido transformado em um. Movido pela dor da perda e pelo desejo de vingança, Denahi parte em busca do animal, sem imaginar a verdade por trás da situação. Logo no início, já é possível perceber a dinâmica entre os irmãos. Kenai e Denahi vivem se provocando, com Denahi frequentemente implicando com o irmão caçula de forma bem-humorada, como parte daquela típica rivalidade fraterna. Essas interações ajudam a construir uma relação crível e afetuosa entre eles, tornando os acontecimentos seguintes ainda mais impactantes emocionalmente.

Para Koda, que desconhece o passado de Kenai como humano, Denahi parece ser o verdadeiro vilão da história. No entanto, é importante entender que Denahi é, na verdade, um antagonista — e antagonista não é sinônimo de vilão. Um antagonista é simplesmente alguém (ou algo) que se opõe ao protagonista e representa um obstáculo em sua jornada. Ele não necessariamente age por maldade, mas por ter objetivos ou crenças que entram em conflito com os do personagem principal. Nesse sentido, Denahi representa mais uma figura trágica do que mal-intencionada, reforçando a complexidade emocional do filme e a forma como ele trata temas como dor, perda, amadurecimento e reconciliação.

Irmão Urso é muito mais do que uma simples animação infantil — é uma obra sensível e reflexiva que aborda temas universais como amadurecimento, empatia, perdão e a capacidade de amar. Com personagens cativantes, uma direção de arte deslumbrante e uma narrativa emocionalmente envolvente, o filme convida o espectador a olhar o mundo com outros olhos, assim como Kenai aprende a fazer ao longo de sua jornada. Mesmo tendo sido subestimado em seu lançamento, a profundidade da sua mensagem e a beleza de sua execução fazem com que a animação mereça ser redescoberta e valorizada como uma das joias emocionais da era experimental da Disney.

Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

segunda-feira, 11 de agosto de 2025

Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda (2025) - Mesmo raio, contextos diferentes

Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda | Disney


Ao entrar na cabine deste filme, este crítico caiu em lembranças longínquas de ir ao cinema, quando criança que aprendeu a não ter medo do escuro, acompanhado de sua mãe e avó. Muitos dos filmes vistos nesse breve período de tempo, se tornaram marcos cinematográficos de uma geração de jovens. Um desses filmes foi Sexta-Feira Muito Louca, lançado em 2003, que se tornou um clássico entre os late millenials que cresceram nos anos 2000 e foi revisitado pela gen z pela sua estética Y2K nos últimos anos. Mas a história desse filme vem muito antes do século XXI.

Freaky Friday, título no original, é um livro infanto-juvenil escrito por Mary Rodgers, lançado em 1972, que teve seus direitos comprados pela Disney logo após sua publicação. A obra foi adaptada, desde os anos 70, para o cinema, televisão e teatro. Suas duas principais adaptações para o cinema foram: Se eu fosse minha mãe (1976), com Barbara Harris e Jodie Foster; e o já mencionado filme de 2003, com Jamie Lee Curtis e Lindsay Lohan no elenco. 

Na trama desta última versão, Curtis e Lohan são Tess e Anna Coleman, respectivamente, uma mãe psicóloga e uma filha roqueira, que não se dão bem às vésperas do novo casamento de Tess. Após ambas lerem uma profecia em um biscoito da sorte, elas acordam no corpo uma da outra, no dia seguinte. Assim, mãe e filha devem descobrir como reverter a profecia, enquanto tentam convencer a todos em seus novos papéis. Reavaliando antes de assistir sua sequência, é um filme que continua bastante divertido e energético, apesar de apresentar elementos orientalistas, que acabam sendo centrais no decolar da narrativa. 

No entanto, antes de assistir a versão de 2025, este crítico se perguntava de vez em quando: “por que fazer uma continuação desse filme?” Afinal, é um questionamento válido em que a indústria cinematográfica, especialmente a estadunidense, mercantiliza a nostalgia por filmes de épocas passadas, com remakes e continuações. Além disso, precisamos lembrar que estamos falando da Disney, que qualquer animação com mais de dez anos de lançamento seja considerada para ser transformada em um live action. Então, a chance de ser mais uma jogada “caça níquel” da empresa é alta. Felizmente, este não é o caso.

Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda (2025), título brasileiro imenso por sinal, é uma continuação que parte diretamente da adaptação de 2003, e não dos outros livros de Rodgers. 

Vinte e dois anos depois dos eventos do primeiro filme, Anna Coleman (Lindsay Lohan) agora é uma ex-guitarrista e agente musical de uma gravadora de sucesso que cuida de sua filha Harper (Julia Butters), com a ajuda de sua mãe Tess (Jamie Lee Curtis). Após Anna conhecer o viúvo Eric (Manny Jacinto), eles entram em um relacionamento e, meses depois, decidem se casar. Porém, sua filha e sua futura enteada, Lily (Sophia Hammons), se detestam e odeiam o fato de que seus pais irão se unir em matrimônio. E durante os desafios que surgem da união de duas famílias, Tess e Anna descobrem que um raio cai sim duas vezes no mesmo lugar, uma vez que as quatros mulheres, jovens e maduras, trocam de corpos entre si. Enquanto isso, Harper e Lily fazem de tudo para que o casamento de seus pais não aconteça.

Como a sinopse sugere, a nova versão não só continua a história das personagens do primeiro quanto também funciona como um soft reboot ou uma legacy sequel, uma vez que o roteiro de Jordan Weiss se apropria da base narrativa, quase identicamente, do longa anterior. Então, para continuar esta análise, devemos fazer uma pergunta: “quais são os motivos por trás desse filme e o querem provar com isso?”

Sexta-Feira de 2003 foi um sucesso de crítica especializada e público e Jamie Lee Curtis e Lindsay Lohan ficaram imortalizadas em seus papéis. Apesar de serem artistas bastante diferentes, as carreiras de Curtis e Lohan passaram por altos e baixos em mais de vinte anos.

Este foi um dos últimos papéis de Curtis antes de sua brevíssima aposentadoria, por cerca de dois anos, e voltou à atuação em filmes que foram mal de crítica. Trabalhou também na televisão e em dublagens de animação. Sua carreira começou a ter mais visibilidade novamente com a série cult de “terrir” Scream Queens (2015-16) e os legacy sequels da franquia Halloween (2018-22). Em 2023, Curtis ganhou o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante no divisivo Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo (2022). 

Já a carreira de Lohan chegou a um apogeu como uma estrela teen com o lançamento de Sexta-Feira e de Meninas Malvadas (2004), ambos filmes dirigidos por Mark Waters por sinal. Além da atuação, ela também tentou uma carreira musical. Porém, por problemas de ordens pessoais e midiáticas, afastou-se da atuação por um breve tempo para se recuperar. Entre melhoras e recaídas, a atriz tentou, no início da década de 2010, retomar como atriz em dramas biográficos e suspenses psicossexuais que foram fracasso de crítica. Lohan mirou em projetos na televisão como documentários e pontas em seriados durante o restante da década. 

Em 2022, voltou a trabalhar em filmes de streaming nos gêneros de comédia e romance que a consagraram na juventude. Sexta-Feira 2, vamos chamar assim, é o seu primeiro lançamento como protagonista nos cinemas, após The Canyons (2013).

E com este novo ressurgimento no mercado hollywoodiano, temos duas mulheres que, através de uma obra que teve um impacto significativo em suas vidas profissionais, principalmente Lohan, querem provar que ainda possuem o mesmo carisma e energia como protagonistas. De fato, elas esbanjam isso neste filme.

As duas atrizes estão muito confortáveis em seus papéis e continuam ter a mesma química que as fizeram ser elogiadas na dinâmica original. Enquanto Curtis se diverte os divertidos choques de realidade da terceira idade, Lohan tem um papel muito mais central aqui - afinal, o primeiro plano do longa é uma visão idealizada de sua personagem para quem cresceu com o filme - visto que a narrativa foca na sua relação entre Anna e sua filha, assim também com seu noivo. No drama, nem sempre sua atuação flui, mas, na comédia, ela brilha.

Curtis e Lohan se entregam ao ridículo, à comédia corporal, com espontaneidade bastante latente, sem medo do caricato, sem amarras que limitam suas performances e nem o humor leve e bobo da obra. Uma das melhores cenas com as duas em cena envolve Lohan flertando com feições macarrônicas, enquanto Curtis se esconde atrás de vinil de Björk e de outras divas pop. 

Elas, já com uma experiência na atuação, também tem química com as novatas Julia Butters e Sophia Hammons, que conseguem se encaixar no tom do filme e seguraram bem seus papéis; simbolizando a triangulação entre intergeracional entre geração boomer, millenial e gen z que a trama quer promover, de forma orgânica. Aliás, os atores estão bem, nunca extrapolando aquilo que é pedido deles; entendendo quem são seus personagens, como devem agir em cena  e não perdendo o timing cômico de suas piadas. 

A diretora Nisha Ganatra, que tem experiência com filmes de comédia, entende muito bem para quem este longa-metragem está sendo feito e faz um trabalho competente em criar o clima da história. Há sim um apelo nostálgico a versão de 2003, mas, na direção de Ganatra, isso nunca se torna um tópico exagerado, em comparação com outros filmes apelam para a nostalgia e o fan service (detesto essa palavra!); aqui, somente o necessário. O roteiro aqui tem um contexto explicativo que poderia ser um pouco mais enxuto, mas funciona. Além disso, há um esforço da produção em remediar o orientalismo da versão anterior, colocando atores de ascendência asiática em papéis de destaque e agência, e trocando o dispositivo do bolinho da sorte por uma quiromante fracassada (uma participação divertida de Vanessa Bayer).

Comédias como Sexta-Feira 1 e 2, antigamente, eram feitas para ser lançadas diretamente no cinema e com o passar dos anos, tornou-se um gênero bastante nichado para o streaming. Então, é interessante ver um filme do gênero sendo produzido em formato cinematográfico, emulando um estilo de filme que não se produz muito no cenário atual. Porém, mesmo com investimento e uma boa direção, o filme tem um trabalho de fotografia um pouco aquém, menos ousado, se compararmos o longa de 2003; substituindo movimentos e jogos de câmera com efeitos visuais cafonas e baratos que parecem vindo de algum filtro do tiktok. 

A continuação de 2025, com seus acertos e erros, é uma comédia leve e divertida, que revisita seu antecessor, dando o devido respeito que lhe cabe na trama e personagens, com performances cômicas sólidas de seu elenco e sem exagerar demais no quesito da nostalgia. É um longa-metragem que nos lembra o motivo de termos gostado do primeiro filme, em primeiro lugar; mesmo que não tenha o mesmo frescor de outrora. Mesmo raio, contextos diferentes. 

O único questionamento que me permito a fazer, após o filme, é este: será que este estilo de narrativa de troca de corpos e amadurecimento seria um tema atemporal, ou será que é o efeito de mais uma sexta-feira louca nos cinemas? Talvez o tempo nos dará esta resposta.


                                                                  Autor:
                                  

Eduardo Cardoso é natural do Rio de Janeiro, Cidade Maravilhosa. Cardoso é graduado em Letras pela Universidade Federal Fluminense e mestre em Estudos de Linguagem na mesma instituição, ao investigar a relação entre a tragédia clássica com a filmografia de Yorgos Lanthimos. Também é escritor, tradutor e realizador queer. Durante a pandemia, trabalhou no projeto pessoal de tradução poética intitulado "Traduzindo Poesia Vozes Queer", com divulgação nas minhas redes sociais. E dirigiu, em 2025, seu primeiro curta-metragem, intitulado "atopos". Além disso, é viciado no letterboxd.

segunda-feira, 28 de julho de 2025

Quarteto Fantástico: Primeiros Passos — Quatro Heróis, Um Galactus Faminto e Zero Ligações com o MCU (E Tá Tudo Bem!)

Quarteto Fantástico: Primeiros Passos | Disney


Forçados a equilibrar seus papéis como heróis com a força dos laços familiares que os unem, eles devem defender a Terra de um voraz deus espacial chamado Galactus e seu enigmático arauto, a Surfista Prateada. E, se o plano de Galactus de devorar o planeta inteiro já não fosse ruim o suficiente, tudo fica ainda mais pessoal.

O Quarteto mais famoso dos quadrinhos teve uma trajetória conturbada nos cinemas. Nos anos 2000, a já extinta 20th Century Fox lançou dois filmes com um tom leve e voltado para o público jovem — verdadeiros clássicos da "sessão da tarde". Apesar das críticas, essas produções acabaram conquistando um espaço no coração de muitos fãs, especialmente por fazerem parte da infância de uma geração. 

Em 2015, o grupo retornou às telonas com um novo elenco e uma abordagem mais sombria. No entanto, o resultado foi um fracasso: o filme sofreu com um ritmo arrastado e pouca ação envolvendo o quarteto, frustrando as expectativas. Agora, dez anos depois, o Quarteto Fantástico está de volta aos cinemas com um visual mais fiel aos quadrinhos e uma estética retrô-futurista que remete à clássica animação. A promessa é de uma nova fase mais autêntica e empolgante para os fãs do grupo.

Embora o público já esteja familiarizado com a história de origem do grupo graças às adaptações anteriores, o novo filme opta por recontá-la — mas de forma mais dinâmica e criativa, evocando o estilo das aberturas das animações de 1967 e 1994. Achei essa escolha bastante interessante. É verdade que o filme poderia simplesmente ter começado com os personagens já estabelecidos, sem revisitar a origem, mas a forma como ela é apresentada — como se fosse a abertura de um programa de TV — dá um toque nostálgico e original que funciona muito bem.

A essência de cada membro do Quarteto Fantástico está bem representada nesta nova adaptação. Reed Richards, o homem mais inteligente do mundo, ganha profundidade ao ser retratado em um novo momento de sua vida: a paternidade. É interessante ver como ele não apenas lida com questões científicas, mas também com o desafio emocional de ser pai, demonstrando uma postura mais madura e assumidamente de liderança, algo que faltou em versões anteriores. Sue Storm, agora casada com Reed e grávida, finalmente recebe o destaque que merece. 

Ao contrário das adaptações dos anos 2000, onde a personagem de Jessica Alba foi excessivamente sexualizada e muitas vezes reduzida ao papel de "namorada do herói", aqui Sue é tratada com mais respeito e importância. Ela se mostra inteligente, determinada e emocionalmente centrada, funcionando como o coração do grupo. Johnny Storm continua sendo o mais irreverente e impulsivo do time, mantendo o humor característico do personagem. 

No entanto, a abordagem desta vez é mais equilibrada — seu deboche não ultrapassa o limite da chatice, como acontecia com a versão de Chris Evans nos filmes anteriores. Isso torna o personagem mais carismático e menos caricato, o que ajuda o público a se conectar melhor com ele. Ben Grimm, o Coisa, permanece como o membro mais trágico do quarteto. Sua transformação ainda carrega o peso emocional da perda da aparência humana, mas aqui a abordagem é um pouco mais suave. Embora continue a sofrer com o preconceito e a solidão, há um toque de ternura ao mostrar que, apesar de sua aparência intimidadora, ele é adorado pelas crianças. Isso acrescenta uma camada de humanidade e esperança ao personagem, que muitas vezes foi retratado apenas como o "bruto com coração mole".

Inicialmente, fiquei reticente com a decisão de ambientar o filme em um universo separado do MCU. No entanto, essa escolha acabou fazendo sentido. O filme funciona bem de forma independente, o que é ótimo para quem nunca assistiu a nenhuma outra produção do Universo Cinematográfico da Marvel. Além disso, ao se passar em um universo alternativo, a história evita conflitos e furos de roteiro na complexa linha do tempo do MCU.

O segundo ato do filme tropeça em um problema comum em produções de super-heróis: a sensação de estagnação narrativa. Após um início empolgante e visualmente criativo, o ritmo desacelera consideravelmente, dando lugar a uma sequência de cenas que parecem girar em torno dos mesmos dilemas e discussões, especialmente envolvendo tecnobaboseiras e debates científicos pouco acessíveis. Os diálogos, embora tentem transmitir a genialidade de Reed e o embasamento da missão do grupo, acabam sendo excessivamente expositivos e pouco dinâmicos, o que compromete a fluidez da trama.

A impressão é de que os personagens estão presos em um ciclo de conversas teóricas, repetindo variações dos mesmos argumentos, sem que isso leve a grandes descobertas ou mudanças concretas na história. Essa repetição compromete um pouco o engajamento do espectador, que espera mais ação, conflito e desenvolvimento emocional. Ainda assim, mesmo com essa barrigada narrativa, o filme consegue se recuperar a tempo para entregar um terceiro ato mais empolgante e visualmente impressionante.

Quarteto Fantástico: Primeiros Passos representa um recomeço promissor para a equipe nos cinemas. Com uma estética inspirada nos quadrinhos clássicos, caracterizações mais cuidadosas e uma abordagem emocionalmente mais madura, o filme acerta em resgatar a essência dos personagens sem abrir mão da inovação. Apesar dos tropeços no ritmo durante o segundo ato, a produção consegue entregar uma experiência nostálgica, envolvente e visualmente marcante. É um sopro de renovação que não só honra o legado do grupo, mas também aponta um caminho empolgante para seu futuro nas telonas — dentro ou fora do MCU.

Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

segunda-feira, 23 de junho de 2025

Elio - Amizade intergaláctica, roteiro meio espacial

Elio | Disney

Elio se vê transportado pela galáxia e é confundido com o embaixador intergaláctico da Terra.

A animação segue a fórmula clássica do estúdio: um personagem pequeno diante de um mundo muito maior. Um exemplo disso é Toy Story, em que Woody e Buzz, sendo brinquedos, precisam se esconder dos humanos para não revelarem sua verdadeira natureza. Em Elio, o protagonista — uma criança — viaja pelo espaço, o que remete a Wall-E, tanto pela grandiosidade do cenário quanto pela jornada solitária do personagem. O filme aborda de forma sensível a solidão do protagonista, uma criança órfã e sem amigos, que encontra no espaço uma forma de escapar de sua realidade. Movido por uma paixão genuína pelo universo, ele tenta se comunicar com formas de vida extraterrestre — os alienígenas — numa busca por conexão e pertencimento. Essa premissa traz uma camada emocional interessante à narrativa, tornando a ficção científica mais humana e tocante.

Elio aposta em uma ideia interessante ao explorar a solidão e o pertencimento através de uma aventura intergaláctica, um tema que sempre desperta a curiosidade do público ao misturar elementos de fantasia com questões humanas universais. O roteiro propõe uma reflexão sobre como nos sentimos sozinhos mesmo quando cercados por outros, e como a busca por conexão pode ultrapassar fronteiras e até mesmo espécies. No entanto, apesar da premissa interessante e do potencial para um desenvolvimento mais profundo, o filme sofre com um desenvolvimento narrativo superficial e apressado, que prejudica o envolvimento do espectador com a história. A construção do Comuniverso, embora visualmente criativa e rica em detalhes gráficos, acaba por não ir além da estética. 

A ambientação, que poderia ser um ponto forte para ampliar a imersão, torna-se um cenário vazio que não contribui significativamente para a construção dos personagens ou para o avanço da trama. Os personagens alienígenas, apesar de terem um design interessante e único, carecem de uma complexidade emocional e motivações claras, tornando difícil para o público se conectar verdadeiramente com eles ou entender as nuances de suas ações. Dessa forma, Elio acaba desperdiçando parte do potencial de sua premissa, entregando uma experiência que, embora divertida e visualmente atraente, não consegue deixar uma marca duradoura na memória do espectador. O filme se apresenta como uma aventura leve e acessível, indicada para quem busca entretenimento descomplicado, mas dificilmente será lembrado por sua profundidade ou originalidade. Com um roteiro mais elaborado e uma exploração mais cuidadosa dos temas centrais, Elio poderia ter sido uma obra muito mais impactante e significativa.

A relação entre Elio e Glordon, apesar de suas diferenças marcantes, evolui gradualmente para um vínculo especial — e literalmente de outro planeta. Desde o primeiro encontro, a interação entre os dois personagens revela uma dinâmica repleta de contrastes, mas também de complementaridades inesperadas. Elio, com sua curiosidade humana e fragilidade emocional, encontra em Glordon, um ser alienígena com uma cultura e comportamento totalmente distintos, um contraponto que instiga o crescimento de ambos. A conexão que se forma entre eles é construída com sensibilidade e leveza. Essa amizade interespécies se desenrola de maneira natural, com pequenos gestos e diálogos que revelam aos poucos o quanto, apesar das diferenças óbvias, há um terreno comum na busca por pertencimento e aceitação. Assim, o filme reforça uma mensagem poderosa e universal: a amizade verdadeira pode florescer mesmo entre seres completamente distintos, superando preconceitos e medos, e criando laços que transcendem mundos e origens.

Elio apresenta uma proposta visual interessante e aborda temas como solidão e amizade, mas seu roteiro superficial limita o impacto emocional da história. Embora a relação entre Elio e Glordon seja sensível e cativante, o filme acaba sendo uma aventura agradável, porém pouco memorável. Com um desenvolvimento mais profundo, poderia ter sido uma obra muito mais significativa.


Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

quinta-feira, 22 de maio de 2025

Lilo & Stitch (2025) - Finalmente a Disney Acertou, Apesar de Alguns Desafios Visuais

Lilo e Stich | Disney

O filme conta a história do vínculo afetivo entre uma garota humana solitária chamada Lilo e um alienígena geneticamente modificado chamado Stitch, criado para ser uma força de destruição. A trama envolve alienígenas em perseguição, assistentes sociais atentos e, sobretudo, a ideia de família como um elo construído, não apenas herdado.

O novo longa-metragem é mais uma tentativa da Disney de revisitar seu catálogo por meio de adaptações em live-action. Desta vez, o estúdio retorna a uma animação lançada nos anos 2000 — um período conhecido como a “Era Experimental” da Disney. Essa fase, compreendida entre o fim do chamado Renascimento (1989–1999) e o início da nova era de sucessos como Enrolados e Frozen, é considerada pela própria Disney como sua segunda era sombria. A primeira, entre 1970 e 1988, foi marcada por obras que deixaram legados afetivos, mas não atingiram o mesmo prestígio comercial e crítico dos clássicos da Era de Ouro.

Durante a Era Experimental, a Disney tentou se afastar da fórmula tradicional que havia consagrado o estúdio nos anos 1990. Investiu em novas linguagens, abordagens visuais diferentes e temas menos convencionais. Ainda que essas apostas tenham sido louváveis do ponto de vista criativo, muitas delas resultaram em bilheterias modestas e recepção crítica dividida. Lilo & Stitch (2002), no entanto, destacou-se como exceção: foi um sucesso de público e crítica, conquistou uma base fiel de fãs e tornou-se uma das marcas mais queridas da empresa nas últimas décadas.

A adaptação em live-action permanece bastante fiel à animação original, preservando os principais elementos que cativaram o público. Como é natural em qualquer transposição, algumas mudanças foram feitas — e, em geral, de maneira cuidadosa e respeitosa. Uma das alterações mais notáveis é a ausência do vilão Gantu, que, embora tivesse papel limitado no filme original (aparecendo mais no início e no final), acabou se tornando um dos antagonistas centrais na série derivada. Confesso que essa ausência me preocupou inicialmente, mas felizmente a narrativa encontrou outras formas de gerar tensão e conflito, sem comprometer a essência emocional e divertida da história. A substituição de Gantu por novos elementos abre espaço para uma abordagem diferente, que explora nuances inéditas dos personagens e do universo de Lilo & Stitch, mantendo seu espírito com uma perspectiva renovada.

Embora o filme apresente sua própria mitologia e elementos de ficção científica, o coração da trama continua sendo emocional, centrado no tema da família. É impossível ignorar a importância de Nani na narrativa — algo já marcante na animação original. Nani é uma verdadeira guerreira: cuida sozinha da irmã caçula, Lilo, enquanto luta para manter um emprego e garantir alguma estabilidade para ambas. Quando assistimos ao filme na infância, é comum enxergá-la como a “irmã chata”, sempre impondo regras e limites. No entanto, ao rever a história com um olhar mais maduro, fica claro que suas ações são movidas por amor, responsabilidade e sacrifício. Nani não está apenas tentando manter a ordem — ela está lutando com todas as forças por um futuro melhor para sua família. Essa profundidade emocional é o que torna Lilo & Stitch tão poderoso e atemporal, tocando diferentes gerações de maneiras distintas.

Um dos pontos que mais gerou expectativa e preocupação antes do lançamento foi o CGI, especialmente em relação ao Stitch. E, felizmente, o resultado surpreendeu positivamente. O personagem foi recriado com um equilíbrio notável entre fidelidade ao design original e adaptação ao realismo do live-action. A textura da pele, os olhos expressivos e a fluidez da movimentação deram vida ao Stitch de forma convincente, sem parecer artificial. O modelo 3D respeita as proporções caricatas do original, mas com um acabamento realista que se encaixa bem no novo ambiente. Além disso, o CGI consegue transmitir emoções com clareza, mantendo intacta a conexão emocional que o personagem sempre proporcionou. Em suma, o visual do Stitch é um dos grandes acertos da produção, demonstrando um cuidado especial em preservar a identidade do personagem sem comprometer a estética live-action.

Por outro lado, o CGI do Jumba e do Pleakley causa certa estranheza à primeira vista, tornando a transição para o live-action visualmente mais desafiadora. No caso de Jumba, sua estrutura corporal robusta e traços exagerados parecem um pouco deslocados no contexto realista do filme. Pleakley, com seu corpo alongado e feições excêntricas, também enfrenta dificuldades na adaptação, resultando em um visual inicialmente destoante. No entanto, à medida que a narrativa avança, essas escolhas visuais se tornam mais aceitáveis. Felizmente, o carisma da dupla permanece intacto: Jumba continua sendo o cientista maluco e impulsivo, enquanto Pleakley conserva seu entusiasmo contagiante pela Terra, quase como um especialista obcecado pelo planeta. Apesar das limitações visuais, a essência dos personagens e a dinâmica entre eles seguem divertidas e reconhecíveis.

Lilo & Stitch consegue respeitar o legado da animação original, mantendo a essência que conquistou o público, ao mesmo tempo em que traz uma nova visão sobre essa história atemporal. A adaptação live-action consegue equilibrar a fidelidade ao material original e a necessidade de atualização, explorando aspectos visuais e narrativos que ampliam a compreensão da trama. Ao longo do filme, a mensagem central sobre a família se fortalece, destacando que o verdadeiro significado de ser uma família vai além do laço sanguíneo: ela é construída por meio de escolhas, amor e dedicação, independentemente de onde você venha ou das circunstâncias. Essa abordagem renovada reforça a universalidade da história e a importância de criar vínculos genuínos, mostrando que, por mais diferentes que sejamos, a conexão humana é o que realmente define a família.

Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.




segunda-feira, 5 de maio de 2025

THUNDERBOLTS* - Quando "Heróis" Também Precisam de Terapia

THUNDERBOLTS | Disney


THUNDERBOLTS* é um grupo de anti-heróis – formado por Yelena Belova, Soldado Invernal, Agente Americano, Guardião Vermelho, Treinadora e a Fantasma. A Marvel Studios e uma equipe de veteranos independentes que se venderam apresentam uma equipe irreverente composta pela assassina deprimida Yelena Belova (Florence Pugh) e o grupo de desajustados menos aguardado do Universo Cinematográfico Marvel.

A premissa lembra inevitavelmente O Esquadrão Suicida, especialmente a versão de 2021 dirigida por James Gunn. Ambas as obras trazem personagens considerados vilões ou anti-heróis, reunidos pelo governo para executar missões secretas, perigosas e eticamente duvidosas — tarefas que os heróis convencionais jamais aceitariam. Assim como no filme da DC, Thunderbolts investe na ideia de redenção e no questionamento sobre o que realmente define alguém como herói ou vilão. E, novamente, vemos o conceito de usar “peças quebradas” para realizar o trabalho sujo.

Entre os personagens, John Walker (Agente Americano) continua com a mesma arrogância e impulsividade já mostradas na série Falcão e o Soldado Invernal. Ainda tentando se provar digno do legado do Capitão América, ele se impõe de maneira agressiva e autoritária, o que gera constantes atritos dentro da equipe — e certa antipatia por parte do público. Em contraste, Bob, inicialmente visto como um mero alívio cômico nos trailers e pôsteres, surpreende com uma construção mais emocional e humana. Desajeitado e deslocado entre figuras mais duronas, ele acaba se revelando um dos personagens mais cativantes da narrativa.

A relação entre Bob e Yelena é, talvez, um dos pontos mais sensíveis do filme. Enquanto os demais membros vivem em tensão constante, os dois desenvolvem um laço baseado na escuta, no respeito e na empatia. Essa amizade inesperada adiciona camadas de humanidade à história, oferecendo momentos de leveza e emoção que contrastam com a intensidade e o peso emocional do resto da trama.

Aliás, a doença mental é um elemento central em Thunderbolts*. Cada personagem carrega cicatrizes — físicas, emocionais ou morais — que os unem em silêncio. A ausência dos Vingadores é sentida como uma sombra constante, reforçando o clima de incerteza, esgotamento e desesperança. O filme surpreende ao colocar temas como depressão, trauma e vazio existencial no centro da narrativa, tratando a saúde mental não como um detalhe periférico, mas como parte essencial da jornada dos personagens.

No entanto, nem todos os membros da equipe recebem o mesmo cuidado narrativo. O Guardião Vermelho, apesar de entregar alguns momentos cômicos, acaba reduzido a esse papel, com pouca profundidade emocional ou relevância na trama. Já a Fantasma, com um passado marcado por sofrimento e habilidades únicas, surge com potencial, mas permanece subutilizada, deixando a sensação de que poderia ter contribuído muito mais.

Thunderbolts* Mesmo com esses desequilíbrios, se destaca por sua abordagem mais sombria e emocional dentro do universo Marvel. Ao invés de focar em grandes batalhas ou ameaças intergalácticas, o filme aposta em conflitos internos, relações humanas e a complexidade dos que vivem à margem do heroísmo. É uma história sobre falhas, sobre tentar fazer o certo mesmo sem ter certeza do que isso significa — e, sobretudo, sobre encontrar humanidade em meio ao caos.

Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator em formação e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

sexta-feira, 21 de março de 2025

Branca De Neve (2025) - Espelho, Espelho Meu, Quem É a Vilã Menos Intensa de Todas?

Branca de Neve | Disney


Inspirado no conto clássico dos Irmãos Grimm, Branca de Neve ganha uma nova adaptação live-action da Disney. A história acompanha a jovem princesa Branca de Neve (Rachel Zegler), cuja beleza desperta a inveja de sua madrasta, a Rainha Má (Gal Gadot). Determinada a eliminar a enteada, a vilã ordena sua morte, mas Branca de Neve consegue escapar e se refugia na floresta. Lá, encontra uma cabana onde vivem sete anões amigáveis, que a acolhem e se tornam seus aliados. No entanto, o perigo ainda ronda a princesa, pois a Rainha Má tem um plano cruel para eliminá-la de vez: uma maçã envenenada.

Nos últimos anos, a Disney tem investido fortemente em remakes live-action de seus clássicos animados, lançando adaptações bem-sucedidas, como Cinderela, Mogli e Aladdin. No entanto, nem todas as produções entregaram o que se esperava, como foi o caso de Mulan e O Rei Leão. É importante destacar que, embora O Rei Leão não seja tecnicamente um live-action, mas uma animação hiper-realista, ele se insere nesse movimento de revisitar obras anteriores da Disney. Agora, a companhia nos apresenta a versão live-action de um filme que muitos consideram o primeiro longa-metragem animado da história do cinema. Contudo, essa afirmação não é totalmente precisa: o filme em questão não foi o primeiro, nem o segundo, ou o terceiro. Embora tenha um papel fundamental tanto na história do cinema quanto no universo das animações, ele é, de fato, o primeiro longa-metragem animado da Disney.

A história, ao contrário da animação original, apresenta a infância da protagonista, explorando a origem de seu nome, que dá título ao filme, e revelando os eventos que marcaram o destino de seus pais. Dando a minha opinião um pouco controversa, a princesa da animação clássica nunca foi a minha princesa favorita, pois eu a achava muito sem sal, ela sempre me pareceu um tanto insípida, sem grandes características marcantes que a diferenciam de outras personagens femininas que a Disney criou mais tarde. Sua personalidade parecia ser bem passiva e, em muitos momentos, ela parecia depender mais da sorte ou da intervenção de outros personagens, como os animais ou os anões, do que agir de maneira autônoma para conquistar seus objetivos.

Ao contrário de outras princesas que mostravam coragem, inteligência ou habilidades únicas, ela parecia ser mais uma figura idealizada de "bondade pura", o que, embora positivo, a tornava um pouco monótona. princesa ganha muito mais carisma porque a personagem é construída de forma mais tridimensional, com mais espaço para expressar suas emoções e motivações. A atuação da atriz, muitas vezes mais madura e com nuances de personalidade, permite que a personagem se torne mais complexa e convincente.

Além disso, o filme live-action frequentemente explora mais a sua história, seus conflitos internos e suas escolhas, o que a torna mais ativa na narrativa, ao invés de ser apenas uma figura passiva à mercê dos acontecimentos. Essa versão também tende a humanizá-la mais, mostrando vulnerabilidades, dúvidas e momentos de autodescoberta que não eram tão evidentes na animação original. A protagonista no live-action se envolve mais diretamente nas situações, mostrando uma força emocional que conquista o público. Ao contrário da animação, onde sua personalidade podia parecer unidimensional, o live-action dá mais camadas à personagem, fazendo com que ela tenha suas próprias motivações e ações, o que naturalmente adiciona mais carisma.

Os sete anões, que chegaram a causar uma verdadeira polêmica na internet antes do lançamento do filme, são completamente criados em CGI, o que gerou bastante receio por parte dos fãs. Embora a escolha de utilizar tecnologia de animação digital para criar essas personagens não seja, de fato, um erro técnico ou criativo, é inegável que há algo um pouco estranho na forma como eles interagem com os atores de carne e osso. A diferença entre o realismo das performances humanas e a aparência digital dos anões cria um contraste que, inicialmente, pode soar desconfortável para o espectador.

Os anões, que na animação original eram personagens muito expressivos, com suas personalidades e movimentos amplificados de forma caricatural, aqui se tornam mais realistas, mas ao mesmo tempo, em certos momentos, parecem destoar da dinâmica do mundo real. Essa discrepância não chega a comprometer a experiência do filme, mas é um elemento que pode causar estranhamento nas primeiras cenas, principalmente para aqueles que têm uma forte conexão com o clássico animado. No entanto, com o desenrolar da trama, a interação entre os personagens vai se tornando mais natural, e é possível se acostumar com essa nova abordagem. À medida que a história avança, a tecnologia vai ganhando mais fluidez, e a presença dos anões, embora ainda digital, passa a ser mais integrada ao universo físico do filme.

Na animação, a Rainha Má possuía muito mais carisma do que a própria protagonista. Como mencionei no início da crítica, Branca de Neve na versão animada tinha uma personalidade bastante apagada, sem características marcantes que a destacassem, o que a tornava "sem sal". No entanto, na versão live-action, ela se torna muito mais carismática, apresentando uma presença e uma complexidade que cativam o público. Em contraste, a Rainha Má, que na animação era uma figura imponente e cheia de intensidade, acaba se revelando bem mais fraca aqui. Sua vilania perde grande parte da força que tinha na versão original, fazendo com que a dinâmica da história se inverta: enquanto a protagonista, antes ofuscada, brilha mais do que nunca, a vilã perde grande parte de seu impacto.

A interpretação de Gal Gadot como a Rainha Má não atinge o efeito esperado, e um dos principais motivos para isso é a performance da atriz. Embora tenha se destacado em papéis como a Mulher-Maravilha em Mulher-Maravilha e Liga da Justiça, Gadot não consegue transmitir a intensidade e a profundidade exigidas para um papel de vilã tão icônica. A Rainha Má, que deveria ser uma personagem ameaçadora, capaz de gerar medo e controle, acaba se tornando excessivamente suave e superficial. Isso enfraquece a credibilidade de sua ameaça, tornando a vilã menos impactante.

Além disso, a caracterização da Rainha Má no live-action não é tão bem desenvolvida quanto poderia ser. A personagem se apresenta de maneira previsível e rasa, sem explorar as camadas psicológicas que poderiam torná-la mais interessante e complexa. Uma vilã desse porte deveria ser multifacetada, com motivações mais profundas — quem sabe até com vestígios de humanidade —, mas a atriz não consegue explorar esses aspectos de forma convincente. O resultado é que a vilã se torna quase caricatural, sem a carga emocional necessária para realmente engajar o público. Em muitos momentos, a interpretação de Gadot parece faltar energia e força, o que compromete o impacto da personagem, que deveria ser avassalador. Isso enfraquece o confronto entre a protagonista e a vilã, tornando a narrativa menos envolvente e a tensão dramática mais fraca do que deveria ser.

Branca de Neve não é tão decepcionante quanto muitos previam, mas também não atinge um nível excepcional; fica apenas no campo do "bom". A protagonista ganhou mais profundidade e carisma, o que a torna mais cativante.  A performance de Gal Gadot como a Rainha Má não consegue capturar a intensidade da vilã original, o que enfraquece a dinâmica da história e diminui a tensão dramática. Assim, embora a adaptação traga uma Branca de Neve mais interessante, ela perde força no confronto com a vilã.


Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator em formação e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

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