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segunda-feira, 12 de maio de 2025

Ouija: Origem do Mal - O feitiço virou contra o feiticeiro

Ouija: Origem do Mal | Universal Pictures


Quando se trata de horror sobrenatural, é quase impossível não pensar em Mike Flanagan, responsável por títulos como A Maldição da Residência Hill (2018), A Maldição da Mansão Bly (2020) e, mais recentemente, a adaptação do clássico conto de Edgar Allan Poe, A Queda da Casa Usher (2023). Apesar de todos esses sucessos, o filme que irei analisar hoje é anterior à concepção desses projetos. Com direção, roteiro e montagem de Mike Flanagan, trago Ouija: Origem do Mal (2016).

O longa inicia-se nos apresentando a Alice Zander (Elizabeth Reaser), uma vidente que realiza uma sessão com um pai e sua filha em busca de contato com a falecida mãe da garota, esta, mais cética que o pai. A sessão é interrompida por algo que, à primeira vista, parece ser a manifestação de uma entidade. No entanto, logo após a saída dos clientes, descobrimos que todos os eventos sobrenaturais não passavam de uma encenação elaborada por Alice e suas filhas, Paulina Zander (Annalise Basso) e Doris Zander (Lulu Wilson), a caçula. Esta é a forma que a mãe encontrou de sustentar a família após a morte do patriarca. Essa introdução é muito eficaz, pois gera tensão logo nos primeiros minutos, quebra expectativas e apresenta a história e os personagens de maneira instigante e inusitada.

Por algum tempo, o filme foca em mostrar a relação entre mãe e filhas, sua rotina e como a ausência do pai afeta essa dinâmica, gerando uma conexão emocional entre o espectador e os dramas da família. A trama toma rumos ainda mais interessantes quando, em uma festa, Paulina tem contato com um tabuleiro Ouija. Apesar da expectativa de algo imediato, Flanagan brinca novamente com a ansiedade do espectador, distribuindo pistas sem revelar o destino da narrativa. Durante o jogo, nada acontece, mas logo em seguida vemos Doris sofrendo bullying na escola por conta do trabalho da mãe. Na sequência, Alice compra um tabuleiro Ouija. Essa ordem de eventos não é aleatória: a montagem brinca com a percepção do espectador e conecta os elementos de forma tão sutil que pode passar despercebida por olhos menos atentos.

À medida que o filme avança, Alice tenta interagir com o tabuleiro, sem sucesso. No entanto, vemos que a manifestação ocorre através de Doris, que está no quarto com Paulina. Até então, tudo bem, mas as coisas tomam um rumo mais bizarro quando a caçula afirma conseguir se comunicar com o pai. A partir daí, eventos estranhos e não manipulados começam a assombrar a rotina da família Zander. O que antes parecia um milagre passa a se revelar como uma possível maldição.

Quanto aos aspectos técnicos, é até difícil separá-los, já que Flanagan assina três funções fundamentais. Mas vale destacar os demais elementos, e não menos importantes. A direção de fotografia, assinada por Michael Fimognari, provoca curiosidade e apreensão ao manter o foco fixo em pontos específicos do cenário, estimulando o olhar de quem assiste, para depois usar luz e sombra como instrumentos de sugestão paranormal. Além disso, a câmera muitas vezes mostra simultaneamente o que acontece em primeiro e segundo plano, ampliando a tensão. Já o design de produção, assinado por David Yost, contribui muito para a imersão no universo do filme. A ambientação reproduz com eficácia a época em que a história se passa, que, embora nunca seja declarada abertamente, fica evidente através do figurino e decoração tratar-se de um período remoto. A casa, sombria e opressiva, transmite uma sensação constante de desconforto e confinamento, elementos que ajudam a reforçar a atmosfera de terror.

Em resumo, Ouija: Origem do Mal é um filme que cumpre com todos os requisitos técnicos e apresenta uma direção extremamente inspirada. Arrisco dizer que serviu de ensaio para os futuros trabalhos de Flanagan. É fato que a história em si não é inovadora, mas a maneira como ela é contada dá um toque especial ao que poderia ser apenas mais um filme genérico. As atuações são competentes: Elizabeth Reaser dá vida a uma mãe que ainda não superou o luto pela perda do marido — sua performance pode não ser repleta de nuances, mas tampouco prejudica a narrativa. Annalise Basso interpreta uma irmã mais velha que tenta viver sua puberdade enquanto lida com o próprio luto, os atritos com a mãe e a preocupação com a irmã mais nova; sua personagem, por vezes mimada, pode soar irritante. Já Lulu Wilson, apesar da pouca idade, rouba a cena: sua Doris é doce e misteriosa, despertando empatia no público ao mesmo tempo em que insinua algo inquietante por trás de sua figura inocente.

O filme entrega o que promete, e talvez até um pouco mais, com um plot twist que, embora não fosse necessário, desperta a curiosidade sobre o que virá a seguir. Em termos de qualidade, Ouija: Origem do Mal é uma obra ousada, que não deve nada ao seu antecessor Ouija: O Jogo dos Espíritos (2014) e que pode ser uma ótima escolha para quem está em busca de um bom terror sobrenatural.


Autor:


Mateus José é graduando de Licenciatura em Cinema e Audiovisual pela UFF, escritor, poeta, montador e aspirante a diretor de fotografia. Apaixonado pelas artes, literatura, música e principalmente o cinema, dedica-se a consumir, estudar e dissecar as camadas mais profundas do cinema e da arte.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

O Brutalista - "Nós Toleramos Vocês" define a história do império Americano em Decadência

O Brutalista | Universal Pictures


A obra retrata uma época dos Estado Unidos após a Segunda Guerra Mundial, com a imigração em massa por conta do holocausto e o conflito nos países europeus. Não atoa esse filme é lançado no momento que se tinha o medo da política de Trump contra imigração voltar nas ultimas eleições nos Estados Unidos e com o massacre propagado por Israel contra a Palestina, chamando atenção dos festivais europeus de cinema e com o Oscar de 2025. Além do formato de tentativa frustrada de um épico narrativo sobre a vida de imigrantes com uma estética próxima de "Era Uma Vez na América" de Sergio Leone

A trajetória de László Tóth como um imigrante austro-húngaro dentro da terra das oportunidades e dos sonhos industrializados tenta ser uma representação de uma direção e um roteiro tentando fazer um discurso de auto piedade sobre a história dos EUA. Um imigrante judeu que sofre a todo momento, algo que Hollywood sente um prazer obsceno em colocar nos seus filmes a qualquer custo(principalmente em torno do tema Holocausto), tentando sobreviver em um mundo que só usam e abusam de suas técnicas criativas, sem ligar realmente para quem é a sua figura humana além de um instrumento nas mãos daqueles que pagam por seu trabalho

O desenvolvimento da trajetória de László anda em conjunto com o seu projeto, que foi um pedido de um empresário que tinha acabado de perder sua mãe(nosso antagonista Harrison,  interpretado por Guy Pearce). Um espaço com um ginásio, uma biblioteca e uma igreja, um projeto desafiante para nosso protagonista que sofre pela ausência de sua mulher, que não consegue sair da Europa, e pelo uso de drogas para poder suportar seu cotidiano e as dores de seu nariz quebrado. 

É necessário também apontarmos que essa obra faz parte de uma leva de filmes que, não só mostram a falta de capacidade de condução da mise en scene que tem tomado o mundo do audiovisual como um todo, como também a falta de habilidade do mesmo em conseguir a obra ter algum sentimento genuinamente humano. Como a obra tenta ser uma jornada épica e melancólica de um imigrante e sua mulher, sendo que não existe um espaço na obra onde essa humanidade apareça além do básico? 

A fúria e os baques sentidos por nosso protagonista são elaborados de forma picotada e panfletária, não existe conexão com ninguém aparente ali. Principalmente nosso protagonista, que passa por tudo de ruim e ainda assim a direção não consegue fazer seu espectador sentir pena sobre ele(oque não tem nem como, e nem é ética essa intenção descabida). O desespero da direção é tanta, que precisa mostrar uma cena de estupro para dizer de forma mais patética possível como os grandes empresários sentem o prazer no controle e na destruição daqueles que são os verdadeiros responsáveis pela construção desse império podre chamado American Dream

A obra também navega nas múltiplas formas de direção para dar dinâmica a narrativa. Funciona até certo ponto que é possível reparar que a direção utiliza de vários efeitos, movimentos e condução da imagem para poder tirar a atenção do espectador sobre a hipocrisia retratada. Sem contar que o filme ao mesmo tempo que tenta se mostrar contra o discurso ante imigrante, elabora suas minorias da forma estereotipada a ponto de ser vergonhoso. O protagonista judeu sempre fica bêbado ou entorpecido pela heroína quando está acompanhado de outros imigrantes ou de seu melhor amigo negro. Sério isso? Pleno século 21 e ainda escrevem esse tipo de narrativa preguiçosa?  

A narrativa força a qualquer segundo possível a demonstrar os personagens protagonistas e coadjuvantes como "pobres coitados", "aqueles que não podem fazer nada, pois é um mundo cruel", é um filme americano tentando se mostrar caridoso dizendo saber toda monstruosidade que fez contra o povo que ajudou a moldar cada pedaço do país que os odeiam com todas as forças. 

O filme elabora um imenso discurso de contradições: Fala de como parte de minorias nos EUA sofrem, mas enfatiza especificamente em uma, e deixa as outras completamente de lado; Fala de como nosso personagem sofre por conta da discriminação e de suas dores, mas mostra o mesmo sendo adultero 70% no filme sem nenhum arrependimento; Fala de como o império norte americano foi construído e desenvolvido pelos mesmos que eles odeiam, mas jogam esse discurso de lado completamente para voltar a enfatizar em como o holocausto foi tenebroso para os judeus. 

A fotografia do filme é uma das poucas coisas que funciona sem muita aventura por parte da produção, tendo em vista que a maioria dos planos são constituídos por cores pastéis, cinza e marrom, como se toda a obra mostrasse o protagonista ainda aprisionado como no holocausto, mas agora em um espaço considerado um país livre. E alguns pontos de diálogo que puxam para o quesito cômico conseguem funcionar(acontece apenas duas vezes esse ponto efetivo na obra), mesmo em sua maioria sendo elaborado e escrito de forma rasa, para não dizer medíocre. 

O Brutalista não é só um filme hipócrita, é covarde. É um trabalho de direção que não consegue moldar um plano descente, carregado de utilizações baratas para dar dinâmica a narrativa. Os atores fazem de tudo para fazer um bom trabalho, e conseguem. Pois o problema do filme já se encontra na sua própria raiz: Um País que quer se mostrar solidário, mas completamente desesperado por saber que perderá sua majestade. 

TEXTO DE ADRIANO JABBOUR. 

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Herege - Suspense e Comédia

Herege | A24

No suspense Herege, Paxton(Chloe East) e Barnes (Sophie Thatcher) são duas jovens missionárias que dedicam seus dias a tentar atrair novos fiéis. No entanto, a tarefa se mostra difícil, pois o desinteresse da comunidade é evidente. Em uma de suas visitas, elas encontram o Sr. Reed (Hugh Grant), um homem aparentemente receptivo e até mesmo inclinado a converter-se. Contudo, a acolhida amistosa logo se revela um engano, transformando a missão das jovens em uma perigosa armadilha. Presas em uma casa isolada, Paxton e Barnes veem-se forçadas a recorrer à fé e à coragem para escapar de um intenso jogo de gato e rato. Em meio a essa luta desesperada, percebem que sua missão vai muito além de recrutar novos seguidores; agora, trata-se de uma batalha pela própria sobrevivência, na qual cada escolha e cada ato de coragem serão cruciais para escapar do perigo que as cerca.

 As missionárias possuem personalidades distintas, o que reflete diferentes formas de lidar com a fé. Paxton, a 'certinha' da dupla, adota uma visão mais pura e descomplicada da religião, talvez por nunca ter enfrentado grandes crises existênciais. Em contraste, Barnes foi introduzida á fé apenas após vivenciar um evento traumático, o que certamente adiciona uma camada de complexidadade ao seu entendimento e prática religiosa. Essa dualidade entre uma fé inabalável e simples e uma fé moldada pela dor levanta questões sobre como o sofrimento pode transformar a espiritualidade e até que ponto a vivência do trauma altera a percepção de crenças antes consideradas inquestionáveis.

 O filme consegue equilibrar habilidosamente elementos de terror e comédia, criando uma experiência única. O terror presente não se baseia em espíritos ou assombrações, mas em uma atmosfera de tensão psicológica e suspense, onde o personagem Sr. Reed, embora um "monstro" no sentido figurado, representa uma ameaça de uma forma mais soturna e intrigante. O filme segue uma linha de suspense, evitando a dependência dos jumpscares, uma técnica frequentemente usada de maneira preguiçosa em filmes do gênero.

 Por outro lado, a comédia se manifesta principalmente nos diálogos entre as missionárias e o "Anfitrião". Um exemplo disso é quando ele lhes apresenta sua coleção de jogos de tabuleiro, como o Monopoly, em um tom inesperado e cômico. Além disso, há uma referência ao musical polêmico da Broadway, The Book of Mormon, criado por Trey Parker e Matt Stone, os criadores de South Park. A alusão à peça é pertinente, pois ambos os enredos envolvem dois missionários da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias tentando pregar a fé a moradores de uma remota vila de Uganda, o que sugere até uma certa semelhança na abordagem irreverente e no humor satírico. Essa mistura de gêneros e referências culturais enriquece o filme, tornando-o mais complexo e divertido, ao mesmo tempo em que mantém uma tensão constante e uma crítica social subjacente.

O suspense é bem construído na primeira metade, explorando três cenários e a boa interação entre os personagens. Na segunda parte, o terror se intensifica, focando na busca das missionárias por respostas. No entanto, o ato final exagera nas reviravoltas e traz uma solução forçada, resultando em um desfecho exagerado e inverossímil.

 Herege mistura habilidosamente terror psicológico e comédia, explorando a fé de duas missionárias com personalidades distintas. Apesar das ideias originais e de uma crítica social interessante, o filme se perde em sua conclusão, optando por reviravoltas excessivamente forçadas que comprometem o desfecho. Esse final exagerado enfraquece o impacto da narrativa, deixando a história menos coesa e verossímil, o que diminui a eficácia da tensão construída ao longo do filme.

Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator em formação e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.



Todas as estradas de terra têm gosto de sal – Do que é feita a vida, afinal?

Todas as Estradas de Terra tem Gosto de Sal | A24

Um tempo atrás, vi em algum lugar a frase de autoria por mim desconhecida: Para todo mal, o sal. Para todo bem, também. Não pude não pensar nela ao ver Todas as estradas de terra têm gosto de sal que, antes de tudo, revela muitas mãos que acolhem, que empurram, que levantam, que se dão.  

Mãos, terra, água, tempo! Em ritmo lento, a história de Mackenzie, uma mulher negra, nos Estados Unidos dos anos sessenta, é contada a partir dela, por uma comunidade e muitas águas. Ao longo de uma trama inteira, ensinamentos, ancestralidade e silêncios (e sons) perpassam sua vida.

Mack, como é chamada, tem sua trajetória expressa em uma narrativa não linear, entre idas e vindas, entre passado e presente, morte e vida, desconsertando por vezes quem assiste, parte pelo ritmo, parte por deixar escapar algum detalhe na passagem de algum dos tempos que foi e que voltou.  

A história em si, por se comum, não tem algo de espetacular ou de diferente ao ponto de deixar qualquer queixo caído ou algo do tipo. Não obstante, é uma surpresa boa perceber que o dramático Todas as estradas de terra têm gosto de sal mostra, por meio de Mack, a vida humana mais crua e elementar, assim mesmo, como ela é.

Desde a infância até a fase adulta, passando pela encabulada juventude, vê-se uma Mack amadurecida, reflexiva, lidando com as consequências de decisões fortes, sem deixar de lado o sentir da chuva, do rio, na pele, nas mãos que se dão ao longo da trajetória.

É bonito de ver, apesar de, em algum grau, um pouco cansativo também. (Assim como a vida? Talvez!). São raros os diálogos, no entanto, de grande profundidade. Nessa toada, restam às imagens o ponto alto.

A história é de Mack, mas ela não está só, não anda só. O universo daqueles que a rodeiam compõe seu universo também, como uma composição mesmo, de amores, de tristezas, de poesias, de durezas. Todos juntos – ou não – caminhando vida adentro, mundo afora.

Todas as estradas de terra têm gosto de sal traz e instiga a ver a beleza da melancolia, da demora, do deleite, da calma e de como é se sujeito da própria história. Durante e ao final, cai a ficha de que, sim, somos feitos disso aí: barro, água e mãos. E tempo! Tempo também.

Autora:


Lá em 2004 participei do meu primeiro filme. Ali apaixonei pelo cinema, mas como toda boa paixão, à la Jack e Rose, naufragou. A vida toma rumos e acabei seguindo outra área. Mas nada apaga uma boa paixão, né isso? Me chamo Carol Sousa e hoje falo e escrevo sobre cinema, quem sabe isso quer dizer amor...

Telefone Preto 2 - Do Suspense Psicológico para a Hora do Pesadelo

Telefone Preto 2 | Universal Pictures Pesadelos assombram Gwen, de 15 anos, enquanto ela recebe chamadas do telefone preto e tem visões pert...