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quinta-feira, 2 de outubro de 2025

“Papai do ano” enfrenta país distópico em: Uma Batalha Após a Outra (2025)

Uma Batalha Após a Outra (2025) | Warner Bros. Pictures


Os Estados Unidos é um país bastante contraditório, quase dicotômico em sua organização cultural e social, em prol de um mito idealizador de uma grande nação e potência mundial. Porém, nem todos cineastas estadunidenses conseguem enxergar a contradição do próprio país como Paul Thomas Anderson.  

O realizador de 55 anos é fascinado pelas histórias que seu país proporciona e pelas questões culturais e sociais presentes em vários campos temporais. Seja pela mineração de petróleo no oeste norte-americano, o auge da era de ouro do cinema pornô, a solidão no contemporâneo, os corres e sonhos de uma juventude em meio uma crise financeira, os traumas da sociedade após a Segunda Guerra Mundial, ou até mesmo a ascensão de um culto manipulador e influente. Anderson costura comentários sobre os Estados Unidos a partir de parábolas, que muitas vezes, se passam em um passado recente. Mas agora, o diretor volta ao contemporâneo, após Embriagado de Amor (2001), e fala tão diretamente com o estado atual de seu mundo.

Assim como em seu Vício Inerente (2014), PTA retorna com a influência do escritor Thomas Pynchon (1937 -), desta vez, adaptando a ideia por trás do livro Vineland (1984). A obra é uma reflexão sobre o movimento da contracultura durante o governo Nixon, nos anos 60, e o contraste desta geração com os problemas enfrentados, agora, durante a reeleição de Reagan, nos anos 80. Por sua vez, o diretor recria a narrativa de Pynchon a um momento atual em que movimentos sociais de  antirracismo, antifascismo e pró imigração se enfrentam com um governo conservador e cada vez mais inclinado ao poderio fascista. E como os idealistas do passado podem não estar tão alinhados com os problemas atuais do mundo em que vivem. 

A partir dessa ideia e da transposição temporal, PTA cria sua própria Vineland. Em Uma Batalha Após a Outra (2025), lançamento da Warner Bros., Bob Ferguson (Leonardo DiCaprio) é um ex-integrante do French ‘75, um esquadrão de revolucionários contra o governo americano, e se vê na mira de um antigo inimigo, o coronel Lockjaw (Sean Penn), que está perseguindo-o, além de sua filha adolescente, Willa Ferguson (Chase Infiniti). Antes que seja tarde demais, Bob e Willa tentam se reencontrar, enquanto fogem de Lockjaw e atravessam em uma jornada pelas terras arenosas do deserto californiano.  

E de fato, é uma batalha após a outra, pois, além da corrida pela sua vida e de sua filha, a revolução mudou com o mundo, mas Bob continua estagnado em seu passado.

O Paul Thomas Anderson tem uma habilidade que nem todos os diretores possuem: ele consegue encaixar no filme uma variação de tons que vai da comédia à ação e ao drama de modo bastante suave. Afinal, os esforços de Lockjaw em achar os Ferguson são extremos e para fins puramente egóicos. Muitos filmes acabam se perdendo nessa mudança de tom, mas aqui todos esses elementos funcionam harmonicamente aqui; com base em uma montagem bastante ágil e suave, nos planos fluidos e muito bem posicionados (filmados em Vistavision!) que são marca registrada do diretor, na trilha sonora de Jonny Greenwood que marca o tom necessário para cada cena, e, principalmente, pelo elenco eletrizante que captura a atenção do espectador. 

Existe um gosto imensurável em ver o Leonardo DiCaprio como um pai semipresente, que, ao mesmo tempo, tem suas mágoas e traumas do passado e se aliena do mundo atual, através das entorpecentes. É um papel diferente para o ator que assume a manta de um herói esquecido e, por muitas vezes, incompetente. Benício del Toro e Regina Hall estão bem, mesmo em papéis secundários, a novata Chase Infinity brilha no terceiro ato do filme com uma força magnética; porém, os destaques do elenco são Sean Penn, como um antagonista que transita entre a hipocrisia e o cartunesco, e Teyana Taylor como Perfidia Beverly Hills, esposa de Bob e mãe de Willa, é uma força da natureza cativante.

O longa é uma parábola com várias camadas e significados, o abuso do poder, a falência das instituições, o preço da liberdade e da revolução, ou até mesmo uma batalha ao posto de “papai do ano”… Mas talvez a principal é como uma família pode ser fragmentada pelo poder abusivo do Estado contra sua mulheres, pessoas negras, imigrantes, pessoas LGBTQIAPN+, entre outros; e também como essa violência é informalmente normalizada. 

Se na primeira parte da narrativa acompanhamos a trajetória de Perfidia no auge do French ‘75, a segunda é focada na busca de Bob e Lockjaw, enquanto na terceira e última parte vemos a corrida de Willa para sobreviver. O roteiro de Anderson formaliza a relação entre família e Estado na própria estrutura da narrativa, em que temos uma hierarquia genealógica da tensão entre uma visão utópica e distópica do mundo. É dessa tensão que nascem as revoluções. E, se pensarmos no contexto político em que o filme está sendo lançado, é uma carta de amor aos idealistas e uma carta de ódio contra o governo atual.

Tal como Trama Fantasma (2017) e Licorice Pizza (2021), Uma Batalha é um dos filmes mais pessoais de PTA, porém, de certo, o seu mais político até aqui. Apesar do fôlego faltar um momento ou outro, o novo longa-metragem de Anderson é uma maratona, um épico moderno com toques de neo western; um cinema político engajante e dinâmico, cheio de personalidade e humor, longe de uma rigidez narrativa. Uma perseguição a um ideal, um filme de pai e filha, uma denúncia ao fascismo, uma pós tragédia, uma batalha pela sobrevivência contra um Estado assassino, um filme sobre a desilusão aos Estados Unidos. 

Não é à toa que a crítica está chamando o filme de “obra-prima” do cinema americano contemporâneo. Mas como foi dito antes, não é todo mundo que consegue enxergar os Estados Unidos do jeito que o PTA o faz e, por isso, ele tem a sua importância no cinema.


Autor:
                                  

Eduardo Cardoso é natural do Rio de Janeiro, Cidade Maravilhosa. Cardoso é graduado em Letras pela Universidade Federal Fluminense e mestre em Estudos de Linguagem na mesma instituição, ao investigar a relação entre a tragédia clássica com a filmografia de Yorgos Lanthimos. Também é escritor, tradutor e realizador queer. Durante a pandemia, trabalhou no projeto pessoal de tradução poética intitulado "Traduzindo Poesia Vozes Queer", com divulgação nas minhas redes sociais. E dirigiu, em 2025, seu primeiro curta-metragem, intitulado "atopos". Além disso, é viciado no letterboxd.

segunda-feira, 8 de setembro de 2025

Invocação do Mal 4: O Últmo Ritual- OU DELÍRIO COLETIVO?

 

Invocação do Mal 4: O Último Ritual | Warner Bros. Pictures


Tudo que há de bom, tem que acabar. Em alguns casos, a bonança já foi embora algum tempo atrás…

 Um fenômeno do mundo do terror nasceu em 2013, uma assombração que pegou o público desprevenido e implorando por mais: a franquia Invocação do Mal (The Conjuring, no original), encabeçado pelo diretor James Wan, que pariu duas outras sagas do gênero, Jogos Mortais, em 2004, e Sobrenatural, em 2010. 

A série paranormal de filmes acompanha alguns dos casos mais espinhosos do casal Ed e Lorraine Warren (Patrick Wilson e Vera Farmiga, respectivamente), especialistas, como eles dizem, do além e da demonologia. O primeiro filme arrecadou mais de 300 milhões de dólares mundiais contra um orçamento de 20, desencadeando, naturalmente, sequências e spin-offs interligados: como o da boneca Annabelle (2014-2019) e a demoníaca Valak, também conhecida como  A Freira (2018-2023). 

Os longas são dramatizações desses casos (o famoso/infame “baseado em fatos reais”) pela visão do casal, enraizada em crenças do catolicismo, que, por muito tempo, se envolveu em controvérsias sobre a documentação e veracidade dos fatos que tanto alegava para a mídia. Estas narrativas colocam os Warren como salvadores de um seio familiar diferente a cada filme, expurgando-lhes do mal que o devora por dentro: o caso da família Perron, no primeiro filme (2013); a possessão em Enfield, no segundo (2016); o julgamento de Arne Johnson, no terceiro (2021); e o poltergeist da família Smurl, agora nesta última parte (2025).

Ambientados nos anos 80, após os eventos do filme anterior, Ed e Lorraine Warren vivem uma pausa em sua carreira de investigadores paranormais, restringindo-se em realizar palestras sobre antigos casos, devido à problemas de saúde do patriarca. Lorraine começa a ter suspeitas de que a filha do casal, Judy (Mia Thomlison), que está prestes a se casar, esteja apresentando problemas em relação a sua mediunidade. Enquanto isso, em um subúrbio industrial da Pensilvânia, acompanhamos a assombração que atormenta os Smurl, uma família católica da classe operária; porém, a mesma entidade demoníaca tem uma ligação importante com o passado dos Warren e deseja reclamar Judy para si.

A franquia Invocação do Mal, desde os seus primórdios, usa da liberdade criativa, em graus variados ao longo dos filmes, para preencher as lacunas e incongruências dos relatos dos Warren e deixar a narrativa mais uniforme e linear; isto não é uma novidade. O que fez os primeiros capítulos desta saga funcionarem foram uma série de fatores estéticos e narrativos, muito além do “baseado em fatos”: a química entre Wilson e Farmiga como o casal de protagonistas; a direção afiada de James Wan que constrói com precisão a atmosfera sensorial da narrativa; o roteiro que desenvolve bem os personagens e arquiteta muito bem a suspensão da descrença, que é fundamental para um terror católico. 

Com a renovação da equipe criativa no terceiro filme -  sai Wan na direção e os irmãos Hayes no roteiro, respectivamente, e entra Michael Chaves e David Leslie Johnson-McGoldrick -  e duas das três qualidade citadas no parágrafo anterior são obliteradas por uma direção e um roteiro igualmente fracos. Deste modo, aproximando a qualidade da franquia principal com os seus derivados, que tiveram uma recepção mista em seus lançamentos. Agora, esta mesma equipe criativa tem a missão de encerrar o ciclo de narrativas dos Warrens, em um longa-metragem que promete muito e pouco se concretiza. Ou seja, o que não estava funcionando na obra anterior, ainda continua capenga.

Após a recepção divisiva de Invocação 3 entre críticos e fãs, principalmente pela estrutura de investigação procedural, a equipe, para este novo projeto, tenta a todo custo “voltar às origens”, ao estilo que fez a franquia ressoar bastante no público. Contudo, o filme apresenta uma narrativa que, ao mesmo tempo, é bastante redundante em si e mal desenvolvida ao ponto da franquia retomar a forma de outrora. 

Chaves tem uma direção mais direta e agressiva, cujo clima e tempo transcorrido é demasiado corriqueiro; enquanto o guião de Johnson-McGoldrick (e reescrito por Ian Goldberg e Richard Niang) é inflado, mas não tem muita sustância que o deixe firme. A interação entre os dois núcleos da trama é quase inexistente até o terceiro ato, deixando a sensação de que o espectador está assistindo a dois filmes completamente diferentes, amarrados de forma frouxa. 

Existe o sacrifício simbólico da relação entre os Warren e a família assombrada da vez, para focar na trajetória de Judy (e possível rosto do futuro da franquia), como uma vítima indefesa de uma possível e iminente tragédia, que é arquitetada pela obra. As relações interpessoais entre pessoas de diferentes contexto é substituída por um solipsismo piegas, projetado para a manipulação emocional escancarada do público. Os Smurl, como uma personagem coletiva, em contrapartida, são mal explorados aqui, uma escolha muito estranha; pois até o catolicismo é uma personagem mais proeminente na obra do que eles. O exagero na liberdade poética da produção acaba diminuindo o potencial narrativo e as situações parecem forçadas ao espectador, beirando ao sensacionalismo. A suspensão da descrença? Não existe aqui, desde que somos apresentados por uma cena com tons escancarados de “pró-vida” logo nos primeiros minutos. Que situação!

Apesar de ter poucos momentos bons, bem esparsos e todos envolvendo espelhos e cabos por sinal, os momentos de susto e de tensão são como uma piada sem graça: tem uma construção, mas não o punchline. Além disso, o filme usa referências e momentos dos capítulos anteriores como uma muleta: um punhado de truques baratos e soltos. Afinal, o longa não sabe se quer contar o caso ou ser uma homenagem que toma orgulho de se auto referenciar para agradar os fãs. São dois eixos que nunca acertam ao alvo, mas os quais a obra insiste em não querer largar a mão. 

O resultado final é um delírio maniqueísta que não consegue manter uma sobriedade, funcionando como um combustível reacionário de um conservadorismo religioso para questões atuais. É um filme que abraça e reforça a sua mediocridade narrativa e temática sem ter a vergonha de ser como tal; embalado como uma despedida a Wilson e Farmiga, como se fossem parte da sua família. A sensação que fica na boca é de um espectador que é obrigado a assistir ao final de novela religiosa da Record, enquanto mastiga cacos de vidro ao longo de sua enfadonha e incompreensível duração. A memória de que os filmes de Invocação foram minimamente bons, é coisa do passado. De certo, e sem chances de voltar atrás, essa franquia já virou um delírio coletivo.

                                                                  Autor:
                                  

Eduardo Cardoso é natural do Rio de Janeiro, Cidade Maravilhosa. Cardoso é graduado em Letras pela Universidade Federal Fluminense e mestre em Estudos de Linguagem na mesma instituição, ao investigar a relação entre a tragédia clássica com a filmografia de Yorgos Lanthimos. Também é escritor, tradutor e realizador queer. Durante a pandemia, trabalhou no projeto pessoal de tradução poética intitulado "Traduzindo Poesia Vozes Queer", com divulgação nas minhas redes sociais. E dirigiu, em 2025, seu primeiro curta-metragem, intitulado "atopos". Além disso, é viciado no letterboxd.

quarta-feira, 14 de maio de 2025

Premonição 6: Laços de sangue - Morte, Família e o Mortal 'Deja Vu'

Premonição 6: Laços de Sangue | Warner Bros. Pictures


Na década de 1960, uma avó prevê o desabamento de um prédio e salva um grupo de pessoas de uma morte certa. Décadas depois, sua neta começa a ter visões semelhantes sobre o destino fatal de seus familiares.

No primeiro filme, um grupo de estudantes escapa da explosão de um avião após o protagonista ter uma visão premonitória do desastre. Na sequência, motoristas e passageiros evitam um engavetamento fatal em uma rodovia graças a uma nova antecipação da tragédia. O terceiro longa acompanha jovens em um parque de diversões, salvos momentos antes de um acidente mortal em uma montanha-russa. Já no quarto capítulo, o desastre ocorre durante uma corrida automobilística, colocando em risco a vida dos espectadores.

No quinto filme, a catástrofe se dá com o colapso de uma ponte suspensa, também previsto momentos antes. Agora, no sexto título da franquia, uma estudante universitária começa a ter pesadelos intensos relacionados a um acidente ocorrido nos anos 60, envolvendo sua avó. Ao retornar à cidade natal, ela descobre que a Morte está à espreita de sua família. Determinada a interromper a sequência de fatalidades, ela precisa encontrar uma maneira de romper o ciclo antes que seus entes queridos sejam tragicamente levados.

Premonição é uma franquia que, na minha opinião, parte de uma premissa interessante, mas nunca conseguiu explorá-la com a profundidade ou consistência necessárias. Frequentemente, os filmes apresentam falhas de roteiro e ignoram regras previamente estabelecidas. Um exemplo notável acontece no terceiro filme, onde a causa do acidente na montanha-russa seria uma câmera derrubada por um dos passageiros, que acaba provocando a tragédia. No entanto, após a protagonista ter uma visão e sair do brinquedo junto com os amigos — incluindo o rapaz responsável pela câmera — o desastre ainda ocorre, o que contradiz a lógica do enredo e prejudica a consistência narrativa. Contudo, neste novo capítulo da saga, os realizadores entregam o melhor filme da franquia até o momento.

As mortes continuam repletas de humor ácido e criatividade, características que se tornaram marcas registradas da série. Embora a fórmula tenha começado a se mostrar cansativa em alguns momentos, este capítulo consegue renovar o interesse ao brincar com as expectativas do público. Em certos pontos, a narrativa leva o espectador a acreditar que algo trágico está prestes a acontecer, apenas para subverter a situação de maneira inesperada. Esses truques bem executados ajudam a manter a tensão e a surpresa, mesmo para quem já está familiarizado com os padrões da franquia.

Embora Premonição não se encaixe diretamente no gênero slasher — já que não há um assassino visível atrás das vítimas — ela adota muitos dos elementos típicos desse tipo de filme. Nos capítulos anteriores, é comum a presença de personagens estereotipados, como o atleta musculoso, o nerd inseguro, a patricinha fútil, entre outros. Embora essa abordagem seja eficaz para rapidamente estabelecer os perfis dos personagens, ela acaba reforçando clichês já bastante explorados no cinema de terror.

No entanto, neste novo capítulo, a trama tenta se distanciar desses estereótipos, concentrando-se em uma família que luta para escapar do destino trágico traçado pela Morte. Essa mudança adiciona um tom mais emocional à história, criando um senso maior de urgência e profundidade nos laços entre os personagens. Ao invés de apenas esperar pelas mortes criativas — que são a marca registrada da franquia — o público se vê mais envolvido com a busca por respostas e a proteção daqueles que se amam. Essa abordagem, se bem aproveitada, pode representar um novo fôlego para a franquia.

Premonição 6 se afasta habilidosamente dos estereótipos tradicionais do gênero ao priorizar a dinâmica familiar, oferecendo, além das mortes criativas que já são marca registrada da franquia, uma profundidade emocional que enriquece a trama. A capacidade do filme de subverter expectativas e manter a tensão, mesmo para os fãs que já estão acostumados com os padrões da série, é um dos elementos que o distingue. Se essa abordagem for bem explorada, a franquia pode encontrar um novo fôlego, transformando-se em algo mais do que uma sequência de tragédias – em uma história envolvente sobre destino, família e a luta contra a inevitabilidade.

Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

terça-feira, 29 de abril de 2025

Pecadores - Uma Mistura Que Só Coogler Conseguiria!

Pecadores | Warner Bros. Pictures


Tentando deixar suas vidas problemáticas para trás, os irmãos gêmeos retornam à sua cidade natal para recomeçar, apenas para descobrir que um mal ainda maior está esperando para recebê-los de volta.

A direção fica por conta de Ryan Coogler, o mesmo cineasta por trás de Pantera Negra, Creed: Nascido para Lutar e Fruitvale Station. Neste trabalho, Coogler entrega um filme autoral, no qual imprime de forma marcante sua visão pessoal. Diferente de adaptações de quadrinhos, biografias ou outros formatos preexistentes, este é um projeto original — com uma forte "assinatura" criativa que reflete seu estilo único de contar histórias.

Pecadores é como dois filmes em um. De um lado, acompanha a trajetória dos irmãos gêmeos Smoke e Stack — ambos interpretados por Michael B. Jordan. Smoke é o mais centrado: um estrategista dos negócios, sempre atento às consequências e protetor em relação ao irmão. Stack, por outro lado, é impulsivo, movido por adrenalina e instinto, vivendo sempre no limite. Juntos, eles se envolvem com gangues nas ruas de Chicago e acabam trabalhando para ninguém menos que Al Capone.

Mais tarde, os irmãos deixam o norte e retornam ao sul do Mississippi — um dos estados mais marcados pelo racismo da época. Levam consigo uma fortuna e um propósito: abrir uma casa de shows voltada para o público negro, um refúgio de celebração e liberdade em meio ao preconceito e à violência. Mas "Pecadores" vai além do drama criminal. Em paralelo, o filme mergulha no universo sombrio dos vampiros, misturando crime, crítica social e elementos sobrenaturais numa narrativa ousada e envolvente.

O filme retrata com maestria a alma do Blues — não apenas como gênero musical, mas como expressão visceral da dor, da luta e da resistência de um povo historicamente marginalizado. Cada nota arrastada, cada lamento cantado, carrega o peso de gerações que transformaram sofrimento em arte e invisibilidade em potência sonora. A casa de shows que os irmãos Smoke e Stack constroem no coração pulsante do Mississippi vai muito além de um simples empreendimento comercial — ela é um refúgio, um templo de criação, um santuário onde a ancestralidade encontra eco e onde o presente se reconcilia com o passado.

É nesse espaço carregado de suor, de fé e de promessas que os artistas negros finalmente encontram não só voz, mas pertencimento. No palco iluminado por holofotes precários, mas cheios de significado, o Blues deixa de ser apenas música e se torna linguagem de libertação, ponte para o sagrado, grito coletivo. E é ali, entre solos improvisados que parecem rasgar a alma, olhares suados que dizem mais que palavras e multidões em transe que se entregam à vibração de cada acorde, que o filme encontra seu verdadeiro coração — um coração que bate no ritmo ancestral do tambor, pulsando resistência, memória e esperança.

Os vampiros, aqui, não brilham com o glamour estereotipado das criaturas imortais que encantam os cinemas contemporâneos. Eles são, na verdade, parasitas sociais, cujas presenças corporificam as sombras de uma exploração histórica profunda, uma exploração que se arrasta como um pesadelo não resolvido, consumindo corpos, vidas e memórias com uma fome insaciável. Esses vampiros não são apenas predadores de carne, mas de tudo o que define a dignidade humana, personificando a dor e o sofrimento de um povo marcado pelo colonialismo, pela escravidão e pela opressão.

Eles são os fantasmas da escravidão, cujos ecos continuam a assombrar as estruturas sociais e as relações humanas. São os sussurros de medo que se perpetuam nas noites insones, e as figuras insidiosas que habitam as periferias da história, impelindo pactos de silêncio entre os opressores que preferem que a verdade permaneça enterrada. A obra, ao se debruçar sobre esses seres, revela significados multifacetados e complexos que só se tornam mais intensos e reveladores quando se considera o impacto da raça, da posição social e da ancestralidade. Ela nos convida a olhar além da superfície do mito e a compreender como esses vampiros, como metáforas de sistemas de dominação, estão entrelaçados com a construção das hierarquias sociais e raciais, deixando uma marca indelével que atravessa o tempo, as gerações e os corpos.

Pecadores é um filme que vai além do simples entretenimento, mergulhando nas complexas questões de identidade, resistência e na luta contra as forças históricas que moldam as vidas de seus personagens. Ryan Coogler nos entrega uma obra profunda e multifacetada, onde a violência do passado se entrelaça com a busca por um futuro mais digno. A narrativa não apenas explora a relação dos irmãos gêmeos Smoke e Stack com o crime e a cultura do Blues, mas também traça uma linha direta entre as feridas do passado e o presente, com os vampiros servindo como uma representação perturbadora dos fantasmas da escravidão e do racismo sistêmico.


Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator em formação e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

quinta-feira, 3 de abril de 2025

Um Filme Minecraft - Blocos, Risos e Personagens Que Precisam de um Pouco Mais de Construção

Minecraft | Warner Bros. Pictures


Um portal misterioso puxa quatro desajustados para o mundo superior, uma terra maravilhosa bizarra e cúbica que prospera na imaginação. Para voltar para casa, eles terão que dominar o terreno enquanto embarcam em uma jornada mágica com um artesão inesperado chamado Steve.

Adaptar um jogo de videogame para o cinema ou a televisão não é algo recente. Desde as décadas de 80 e 90, já surgiam essas tentativas, embora muitas delas não tenham sido bem-sucedidas. No entanto, nos últimos anos, vimos adaptações de sucesso, assim como outras que não atingiram o mesmo nível de aprovação. Existem diferentes abordagens para fazer essa transição: em vez de adaptar um jogo específico, é possível criar uma história nova utilizando o universo e os personagens do jogo, como foi feito nos filmes do Sonic e do Mario, que acabaram dando certo. Essa abordagem pode ser considerada canônica dentro do universo original, como aconteceu com a série de Fallout. Outra opção é seguir uma adaptação mais fiel, como na série The Last of Us, que, embora tenha mantido muitos elementos do jogo, acrescentaram novos detalhes.

Minecraft é um jogo eletrônico dos gêneros sandbox e sobrevivência, que oferece aos jogadores total liberdade para explorar e jogar sem objetivos fixos. O mundo do jogo é composto por blocos tridimensionais que representam materiais como pedra, água e lava, e os jogadores podem extrair e reposicionar esses blocos para construir e criar estruturas. O sistema de física do jogo é considerado irrealista, especialmente no comportamento dos líquidos. O mundo de Minecraft é praticamente infinito e gerado proceduralmente enquanto os jogadores o exploram. Embora existam limites para o movimento vertical, o jogo permite a criação de vastos mundos no plano horizontal. No filme, são apresentados tanto o mundo real quanto o mundo de Minecraft.

O protagonista, Steve, que no jogo é uma figura do universo pixelado, é retratado como uma pessoa do nosso mundo que acaba sendo transportada para esse mundo de blocos, onde assume o papel de guia para outros personagens que chegam ali. Além dele, o enredo também apresenta Garrett Garrison, um ex-campeão de videogame que alcançou o sucesso muito cedo, mas, com o tempo, não conseguiu recuperá-lo, o que resultou em um ego inflado e uma busca incessante por validação. A história inclui ainda Henry, um jovem criativo e inteligente, sua irmã mais velha, Natalie, que se tornou responsável por ele, e Dawn, uma mulher que apoia Natalie e desempenha vários empregos, incluindo o de veterinária.

A dinâmica entre Steve e Garrett é interessante e rende bons momentos cômicos. A arrogância de Garrett, por exemplo, contrasta de forma divertida com a abordagem mais prática e simples de Steve. Um exemplo disso é a cena em que Steve ensina Garrett a cozinhar no mundo de blocos. Steve prepara uma galinha cozida usando lava, mas, como era de se esperar, a comida fica extremamente quente, o que dificulta para Steve comer. Garrett, por outro lado, consegue comer, mas não por muito tempo, criando uma situação hilária em que a resistência de Garrett é posta à prova. Esse tipo de interação entre os dois traz leveza e humor à narrativa.

Natalie e Henry vivenciam a clássica subtrama entre irmãos: ambos são órfãos, e a irmã mais velha se vê forçada a assumir a responsabilidade de cuidar do irmão mais novo. Natalie, em sua tentativa de se ajustar à nova cidade, busca um emprego, enquanto Henry, tentando se enturmar na escola, acaba se metendo em uma grande confusão. Embora essa dinâmica de irmãos enfrentando dificuldades seja algo familiar e até comovente, a forma como é abordada cai em clichês, como a figura da irmã responsável e o irmão que acaba arrumando alguma encrenca.

Dawn não possui uma subtrama propriamente desenvolvida na história. Seu personagem é introduzido de forma superficial, com a informação de que ela desempenha diversos empregos, mas isso é tudo o que é revelado sobre ela. Não há exploração de suas motivações, desafios pessoais ou qualquer contexto que justifique suas escolhas ou ações. Isso a torna um tanto unidimensional, limitando seu impacto na trama. Para tornar a personagem mais interessante, seria necessário um maior aprofundamento, seja no aspecto emocional, nas relações com outros personagens, ou nas razões que a levam a assumir tantos empregos, além de uma contextualização mais rica sobre sua vida fora desse papel de apoio.

Outro ponto que me incomodou no filme foi o tratamento das personagens femininas. Em determinado momento, os personagens masculinos se separam das personagens femininas, e enquanto os rapazes estão envolvidos em grandes aventuras, as mulheres simplesmente encontram um lobo, que é o animal de estimação do Steve, e passam o tempo todo procurando por ele. Esse papel secundário e sem maiores desafios para as personagens femininas parece subaproveitar seu potencial e limita a profundidade de suas participações na trama.

Em relação ao CGI, ficou bem feito. No trailer, pode causar um certo estranhamento, mas, ao se acostumar com o universo de formato quadrado proposto, é possível apreciar o visual sem maiores dificuldades. Até mesmo o aldeão do filme, que inicialmente pode parecer fora de lugar, acaba se encaixando bem nesse estilo.

Um Filme Minecraft apresenta uma proposta interessante ao tentar transitar do universo dos jogos para o cinema, explorando a ideia de um mundo cúbico gerado de maneira procedural. No entanto, as subtramas e o desenvolvimento dos personagens não atendem plenamente às expectativas. Embora a obra tenha um grande potencial, falta-lhe profundidade nas relações interpessoais e nos próprios personagens. Ainda assim, é capaz de entregar uma experiência bastante divertida.

Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator em formação e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

segunda-feira, 31 de março de 2025

Resgate Implacável - Quando a Ação é Previsível, mas o Carisma é Explosivo!

Resgate Implacável | Warner Bros. Pictures


Levon Cade deixou para trás uma carreira militar condecorada nas operações secretas para viver uma vida simples de trabalho na construção civil. No entanto, quando traficantes de pessoas sequestram a filha de seu chefe, sua busca para trazê-la para casa revela um mundo de corrupção muito maior do que ele jamais poderia ter imaginado.

Jason Statham, que ganhou destaque no cinema de ação com Carga Explosiva (2002) de Louis Leterrier, tem mais de 20 anos de carreira. Durante esse tempo, trabalhou com diretores como Michael Mann, interpretou vilões, integrou a franquia Velozes e Furiosos e teve um spin-off de Velozes & Furiosos. O ator é parecido com Liam Neeson, devido ao tipo de papéis que ambos passaram a interpretar ao longo de suas carreiras, especialmente em filmes de ação. Assim como Neeson, que se tornou famoso por interpretar personagens mais maduros, durões e em busca de justiça (como na franquia Busca Implacável), Statham seguiu um caminho similar, estrelando filmes de ação em que seu personagem geralmente é um homem implacável em situações de alto risco. Ambos, com o tempo, foram associados a esse tipo de herói de ação mais envelhecido, mas igualmente eficaz, o que gera a comparação entre eles.

O filme falha em trazer qualquer inovação significativa, tanto na história quanto na ação, caindo na armadilha da previsibilidade. A trama segue um caminho já explorado em diversos filmes de ação, sem oferecer algo de novo ou surpreendente. No entanto, o verdadeiro ponto forte da produção é Jason Statham, que consegue dar vida ao seu personagem com sua presença carismática e peculiar. Ele mistura sua força física imponente com um ar de mistério, criando uma sensação de que seu personagem, embora pareça estar agindo por impulso, sempre está controlando a situação. Ele também é habilidoso em usar objetos ao seu redor para criar armadilhas e manipular gadgets de forma engenhosa, algo que acrescenta um toque de complexidade ao personagem. 

Sua performance é recheada de traços que os fãs adoram, como a voz rouca, os movimentos contidos e as frases curtas, frequentemente salpicadas com um humor irônico. Esse estilo, que é praticamente sua marca registrada, realmente prende a atenção no início, oferecendo uma dinâmica interessante para quem espera esse tipo de personagem. 

No entanto, à medida que a trama avança e o personagem entra de fato em ação, o filme perde força. A repetição dos mesmos elementos e a falta de evolução no enredo fazem com que a intensidade da história diminua. O filme, que começa com um ritmo envolvente, se arrasta quando se torna mais previsível e segue os clichês do gênero, fazendo com que o espectador perca o interesse. No fim, o carisma de Statham não é suficiente para manter o nível de emoção e empolgação que o filme tenta criar.

O clichê, por si só, não é necessariamente um ponto negativo, desde que seja bem explorado. No entanto, aqui, sabendo exatamente o que vai acontecer a cada momento, a experiência perde um pouco da graça e a previsibilidade acaba prejudicando o envolvimento. Não diria que não gostei do filme — pelo contrário, achei-o extremamente divertido. Contudo, ele não consegue alcançar o nível de excelência que poderia, ficando aquém do que poderia ser.

Resgate implacável embora divertido, cai na previsibilidade e falta de inovação. A trama segue clichês do gênero, o que prejudica a experiência, apesar da presença marcante de Jason Statham, que dá vida a um personagem carismático e imbatível. Seu estilo único mantém o interesse nos primeiros momentos, mas à medida que a história avança, ela se torna monótona. No fim, o filme não alcança seu potencial máximo, ficando abaixo das expectativas de um grande sucesso.

Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator em formação e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

SuperMan: A História de Christopher Reeve - Um ícone que se tornou ícone

SuperMan: A História de Christopher Reeve | Warner Bros. Pictures


Seria de extrema ingenuidade pensar que o filme Superman de 1978 não faz parte do repertório cultural de todos os entusiasta de cinema e cultura popular vivos hoje. Mesmo já tão distante, o rosto de Reeve sempre aparecerá na cabeça das pessoas do mundo todo ao ouvir o nome “Super-Homem”. O documentário - sendo esse a primeira promessa de Gunn e obra fundadora do que será agora o DC Studios, criado para competir com a já gigante porém decadente Marvel no grande e lucrativo mercado de filmes de super-heróis - É uma abordagem nova e corajosa, passa longe de ser um simples caça-níquel e honra e homenageia uma das histórias mais interessantes, tristes e comoventes da indústria cinematográfica, e aborda todo o tema com maestria e sensibilidade. 

O documentário é contado através de imagens de arquivo da vida e dos filmes que Reeve atuou, somados com filmagens atuais de seus familiares e alguns colegas de trabalho, e a narrativa começa nos mostrando o início de carreira de Reeve, em alto astral, fingindo que o acidente que mudaria a vida do ator para sempre nunca aconteceu, e nos enganando conforme o fazia. O que importava era a ascensão desse antigo porém novo personagem, e de um ator que passaria de quase desconhecido para ícone eterno do gênero e do cinema. 

Vemos seus romances, o nascimento de seus filhos e de como ele aproveitava a vida com um estilo muito ativo fisicamente. Tudo levando a nos chocar mais ainda com o evento futuro. Como é possível que uma coincidência tão assustadora pudesse acontecer? Talvez exista ainda um sentimento de negação a esse evento. O imaginário da humanidade é quase tão indestrutível quanto o homem de aço em si, e é quase impossível acreditar que esse símbolo de força e invulnerabilidade pudesse ter sofrido tão desastroso acidente, tornando sua história de vida quase tão icônica quanto o personagem em si.

Do meio para o final do filme acompanhamos a história após o acidente de hipismo que deixou Christopher Reeve tetraplégico. A montagem paralela que contrasta arquivos do filme do invencível Superman com filmagens da luta diária de Reeve com sua nova realidade provoca um sentimento que depois nos é mastigado no próprio enredo do documentário de que sua força e coragem inabaláveis se comparavam agora com seu personagem mais do que nunca. 

Apesar de completamente dependente vinte e quatro horas por dia, esse super homem permaneceu ativo na vida de sua família e lutou até o final dos seus dias pelos direitos dos estadunidenses que passam por deficiências físicas, e por conta de talvez uma eterna negação de seu estado somados com uma inabalável esperança de voltar a andar, foi peça fundamental para o financiamento de estudos revolucionários de medicina que podem ajudar pessoas como ele mesmo a recobrarem seus movimentos em sua totalidade. E mesmo após sua triste

Morte, suas ações em vida permanecem a ajudar. O documentário não falha em nos apresentar e até mesmo responder a questão que ele mesmo levanta: “O que é um herói?”. Como é possível ter na história da humanidade uma coincidência tão grande que debilitou um símbolo de indestrutibilidade? Que após seu acidente nos mostra que Reeve não apenas nasceu para interpretar esse símbolo, como também o símbolo do Superman nasceu para que fosse interpretado por Reeve.

Autor:


Henrique Linhales, licenciado em Cinema pela Universidade da Beira Interior - Covilhã, Portugal. Diretor e Roteirista de 6 curta-metragens com seleções e premiações internacionais. Eterno pesquisador e amante do cinema.

terça-feira, 1 de outubro de 2024

Coringa: Delírio a Dois - O Palhaço se afogando em sua própria loucura

Coringa: Delírio a Dois | WarnerBros. Pictures


Coringa: Delírio a Dois é a continuação do primeiro filme, lançado em 2019, contando a história de Arthur Fleck. Um comediante frustrado e que passou por uma sequência de abusos psicológicos e sexuais por sua mãe e ex companheiros, até o momento em que ele perde a cabeça e se transforma no símbolo do caos da cidade de Gotham. No segundo filme, conta a continuação de sua história 2 anos depois dos acontecimentos, tendo agora a personagem Lee, interpretada por Lady Gaga, que se torna sua parceira em suas loucuras enquanto acontece seu julgamento. 

O filme não tenta se distanciar esteticamente do primeiro filme, mesmo com as cenas musicais, a direção não tenta se desvincular completamente do que foi proposto na primeira obra. É necessário confirmar que o filme é realmente um musical, e essa escolha de narrativa em certos momentos faz certas conexões plausíveis a ver com o protagonista e todo seu contexto envolta. Porém, o filme se perde bastante em tentar desenvolver o protagonista que já conhecemos do primeiro filme.

Enquanto o primeiro filme faz uma conexão direta à clássicos como "Taxi Driver" e "O Rei da Comédia", ambos do diretor Martin Scorsese, o segundo continua com essa conexão no sentido estético, mas também se baseia no cinema americano musical dos anos 50 e 60, misturando com drama de tribunal. O resultado é como se Todd Phillips estivesse tentando se provar como um bom diretor em todas essas linguagens. Mas o espectador não está interessado em saber do que o diretor é capaz, e sim sobre oque vai ser do palhaço que começou o caos pulsante em Gotham. 

Joaquin Phoenix continua mostrando um bom trabalho, mas fica parado no mesmo Arthur Fleck do primeiro filme, seu desenvolvimento aqui se mostra pífio e sem caminhar para lugar algum. Enquanto Lee, interpretada pela Lady Gaga, é um dos pontos mais chamativos do filme. Não só pelo seu talento como cantora, mas sendo uma Arlequina diferente da proposta de ser uma figura como a das antigas animações e história em quadrinhos que mostram ela completamente obcecada e escrava do Coringa. Temos uma figura aqui tão caótica quanto o próprio Arthur Fleck e os outros coringas já mostrados em outros filmes. 

O filme tem muito menos violência do que o primeiro, pois Todd Phillips faz questão em mostrar que está mais interessado em dirigir os pensamentos do Coringa do que realmente acontece envolta dele. E a trilha sonora consegue se manter da mesma qualidade do primeiro filme, fazendo o espectador desejar muito mais ouvir a trilha de Hildur Guonadóttir do que os musicais propostos ao longo da narrativa. 

É necessário apontar o quão o primeiro filme faz críticas árduas sobre a falta de estrutura e investimento nas áreas ligadas à saúde mental nas grandes metrópoles, e como o segundo filme deixa isso completamente de lado. A potência do primeiro filme também era a de mostrar como o submundo dos Estados Unidos pode ser uma imensa fábrica de caos que se mantém quieta até um mártir aparecer. O segundo filme elabora isso apenas em seus últimos minutos, e de forma completamente desinteressada pela direção executada.  

Coringa: Delírio a Dois é uma continuação que se perde na própria loucura de Arthur Fleck, onde poderia ter adicionado muito mais camadas à história do rei do caos de Gotham, mas acaba sendo uma obra que não complementa oque foi apresentado no primeiro filme e coloca nosso protagonista de escanteio de uma forma amadora e desleixada. 

TEXTO DE ADRIANO JABBOUR.

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