Mostrando postagens com marcador netflix. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador netflix. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 1 de setembro de 2025

Mononoke: O Fantasma na Chuva - Uma experiência visual e sensorial


Mononoke: O Fantasma na Chuva | Netflix

Dirigido por Kenji Nakamura, Mononoke: O Fantasma na Chuva, é um filme que vai além de contar uma simples história: ele oferece uma experiência completa para o espectador. Com apenas 91 minutos de duração, o longa nos conduz a um universo que mistura o sobrenatural com uma estética marcante e experimental de uma forma única. Baseado no anime de 2007, é notável que Kenji se mantém fiel e preserva a essência da obra original com a atmosfera carregada de visuais que parecem pinturas em movimento. 

Um dos maiores impactos é a animação. O traço lembra um quadrinho vivo, repleto de cores e texturas. Muitos personagens que se tornam figurantes no filme, aparecem sem o rosto, sendo substituídos por uma espiral em um fundo azul ou preto. Este recurso estético reforça um mistério e uma sensação de estranhamento, aproximando a película de um sonho distorcido. 

Tanto a arte quanto a história por si só, buscam o estilo tradicional japonês com elementos psicodélicos, criando algo definitivamente único. Tal atmosfera funciona perfeitamente na prática pelo simples motivo de que os mononokes, espíritos nascidos de emoções humanas negativas, são representados como distorções do real. Cada cor e cada movimento transmitem sentimentos, transformando as emoções em imagens. Um dos personagens principais, que fica conhecido como O Boticário, é o centro da narrativa. Seu design é tão marcante quanto a sua presença, extremamente imponente. Não se torna necessário o uso excessivo de falas para ele; apenas a sua postura enigmática para guiar a história.

A trama inicialmente pode parecer confusa, principalmente para aqueles que não assistiram ao anime que antecede o filme, mas a obra consegue conduzir muito bem o espectador. As intrigas políticas do Ooku e o espírito vingativo dão o ritmo à narrativa, que se equilibra entre a tensão e o espetáculo visual. Não é uma obra que entrega explicações fáceis.

O grande destaque está na direção de arte. As cores vibrantes e os movimentos calculados fazem cada cena parecer uma pintura viva. O psicodelismo nunca soa como algo gratuito: ele representa o caos emocional que dá origem aos mononokes, tornando o filme uma experiência quase sensorial.

O final fica um pouco aberto, o que pode dividir muitas opiniões. Há espaço para uma continuação, como foi o caso com a continuação que estreou neste ano, mas também funciona como uma forma de manter o verdadeiro mistério da película. É uma escolha extremamente coerente perante a proposta da obra, que nunca buscou ser muito óbvia ou totalmente explicada.

No fim, Mononoke: O Fantasma na Chuva se destaca como uma experiência extraordinariamente única. Enigmático em alguns pontos, mas sempre envolvente, é um filme que prende o espectador atráves do olhar e pela forma como traduz os sentimentos humanos em imagens. Kenji Nakamura reafirma aqui o potencial de uma animação ir além da narrativa, visando em como é possível transformá-la em uma verdadeira arte em movimento. 

Autor:

Bárbara Borges é do Rio de Janeiro e estudante de Jornalismo. Apaixonada por cinema desde criança, sempre foi movida por histórias intensas, especialmente as de terror, seu gênero favorito. Em 2024, dirigiu o documentário Além do Recinto, que levanta questionamentos sobre o bem-estar de animais silvestres em zoológicos e o impacto do confinamento longe de seus habitats naturais. Gosta de pensar no cinema como uma forma de provocar, sentir e transformar. Vive atualizando seu Letterboxd com comentários sinceros e, às vezes, emocionados. Entre seus filmes favoritos estão Laranja Mecânica, Psicopata Americano, Pânico, Pearl e Premonição 3.






segunda-feira, 4 de agosto de 2025

Anima(2019) - Uma viagem visual e sonora sobre rotina, cansaço e o poder de um simples encontro

Anima | Netflix

Anima (2019) é um curta-metragem de 15 minutos dirigido por Paul Thomas Anderson e protagonizado pelo vocalista da banda Radiohead, Thom Yorke, é uma daquelas obras que são difíceis de serem descritas, mas são fáceis de serem sentidas. Lançado pela Netflix, o curta nos entrega um grande espetáculo visual, sonoro e coreográfico. A obra não é sobre uma narrativa convencional, e sim de uma viagem quase teatral, carregando simbolismos e um perfeccionismo estético. A proposta nada mais é do que transportar o telespectador para uma realidade paralela onde a monotonia do cotidiano assume uma outra forma. 

Anima é uma daquelas obras que não busca entregar respostas fáceis e diretas para aqueles que estão assistindo, mas é aquela que busca convidá-los a mergulhar nas sensações que Paul nos oferece. Com a sua estética impecável, suas músicas originais compostas por Yorke e sua atmosfera onírica, o curta-metragem transforma o cotidiano em algo poético. Pode parecer confuso para aqueles que buscam por algo linear, mas o filme não perde a sua força por conta disso. Por fim, Anima é um lembrete silencioso de que ainda existe beleza mesmo nas pequenas coisas, e que até mesmo em um gesto simples, mora um impacto profundo e emocionante.

Desde os primeiros segundos, a fotografia se torna o principal destaque. É imersiva e hipnotizante. Tudo parece ser muito bem calculado para criar uma atmosfera distópica e, ao mesmo tempo, similar a um sonho. O curta é repleto de dançarinos, e a coreografia contemporânea é um dos pontos mais altos a se notar, entregando a principal mensagem do filme: a repetição e o cansaço dos dias monótonos, o desejo de se libertar. Mesmo que seja um curta musical, tudo nele é vivo. 

O momento em que Thom finalmente se encontra com a mulher do início do curta, é de longe uma entrega super emocionante que Paul poderia entregar e, sem dúvidas, a parte mais tocante. Ambos dividem uma ação simples juntos, sem palavras, mas ainda assim nota-se a intensa carga emocional naquilo. É delicadamente belo, como se por um momento, no meio daquele caos urbano, surgisse um espaço para respirar e de admirar a beleza do amor. Definitivamente, essa cena é o coração do filme, e talvez este seja o principal motivo para emocionar tantos telespectadores: mesmo cercados de uma realidade rígida e sufocante, os personagens ainda são capazes de se conectarem assim que finalmente conseguem se encontrar.


Autor:

Bárbara Borges é do Rio de Janeiro e estudante de Jornalismo. Apaixonada por cinema desde criança, sempre foi movida por histórias intensas, especialmente as de terror, seu gênero favorito. Em 2024, dirigiu o documentário Além do Recinto, que levanta questionamentos sobre o bem-estar de animais silvestres em zoológicos e o impacto do confinamento longe de seus habitats naturais. Gosta de pensar no cinema como uma forma de provocar, sentir e transformar. Vive atualizando seu Letterboxd com comentários sinceros e, às vezes, emocionados. Entre seus filmes favoritos estão Laranja Mecânica, Psicopata Americano, Pânico, Pearl e Premonição 3.


segunda-feira, 17 de março de 2025

Two Lovers - A face não dita do amor

Two Lovers | Magnolia Pictures


Daqueles filmes que abrem portas para tantos debates pessoais, de forma que falar sobre qualquer um deles soa como diminuição da grande magnitude humana que exala esse filme. De qualquer forma, ainda assim, perante toda a minha incapacidade, quero escrever algo sobre ele, mesmo que insuficiente.

O mundo perfeitamente imperfeito de Gray, que escolhe filmar o amor, mas não o amor romântico, o realista. O amor que não se escolhe, se sente, e é aí que o personagem interpretado por Joaquin Phoenix se encontra, nessa face dolorida do amor, onde as emoções são mais complexas e as incertezas são maiores que as certezas.

Talvez o que mais me chame a atenção seja como Gray trabalha os espaços, a interação entre enquadramento e pessoa. Essa interação mostra-se evidente na forma como os porta-retratos oprimem o ambiente, especialmente quando Leonard está com uma de suas “amantes”, como se, embora fora do plano material, a família ainda tivesse influência na vida de Leonard.

A depressão entra como fator narrativo, pois o próprio personagem não poderia conceber aquela felicidade para si mesmo. Ou seja, a tragédia é premeditada a todo momento, e cada caminho que Leonard trilha o leva àquele final tão triste. Arriscaria dizer que é um dos mais tristes que já vi. Ele agora não só perdeu sua forma de desfrutar das novas possibilidades mundanas, mas terá de ficar preso naquele mesmo ambiente opressivo.

O grande olhar familiar que cerca Leonard se forma quase fantasmagórico, reprimindo-o de forma tão severa que suas próprias escolhas se tornam dúvidas, ou até mesmo na forma como lhe é imposto que deveria ficar com Sarah, para o bem da família e, óbvio, do capital. Mas então, o que escolher? O bem-estar do capital familiar ou o novo, o rebelde? Rebelde no sentido mais juvenil possível, já que, a partir das ações parentais, nota-se que a visão infantil é gritante. Mas o questionamento que fica é o de Amor X Capitalismo: é realmente possível amar numa sociedade capitalista, onde os bens materiais valem muito mais que o puro, o inviolável?

Autor:


Me chamo Gabriel Zagallo, tenho 18 anos, atualmente estou cursando o 3º ano do ensino médio e tenho o sonho de me tornar jornalista, sou apaixonado por cinema e desejo me especializar nisso. Meus filmes favoritos são Stalker, Johnny Guitar, Paixão e Rio, 40 graus.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

Maria Callas - A Complexa Busca por Identidade

Maria Callas | Netflix


Um drama biográfico de uma grande artista em busca de sua identidade. Angelina Jolie interpreta Maria Callas, uma das mais icônicas cantoras de ópera do século XX no filme Maria, dirigido pelo aclamado Pablo Larraín. O longa retrata o período em que a soprano greco-americana se refugia em Paris, após uma vida pública marcada pelo glamour e pela turbulência. O filme Maria Callas revisita os últimos dias da lendária artista, destacando o momento em que ela reflete sobre sua trajetória e identidade na Paris dos anos 1970. Depois de se dedicar ao público e à sua arte, Maria decide encontrar consigo mesma e encontrar sua própria voz e identidade. Esse é um retrato e uma investigação psicológica de uma mulher que teve o mundo ao seus pés e marcada pelos holofotes da fama.

A direção é de Pablo Larraín, cineasta responsável por outros dramas biográficos aclamados, como Jackie (2016), que retratou Jacqueline Kennedy lidando com o luto após a morte de seu marido, o presidente John F. Kennedy, e Spencer (2022), que acompanhou a Princesa Diana durante o Natal de 1991, em meio à crise em seu casamento com o Príncipe Charles e as pressões da monarquia. Neste filme, Larraín narra os últimos dias de Maria Callas em Paris, onde a soprano reflete sobre sua vida e busca reconectar-se com sua identidade, após uma carreira marcada pela fama e pela turbulência. A direção de Pablo Larraín, conhecida por sua habilidade em explorar figuras históricas e psicológicas complexas, oferece uma abordagem sensível e introspectiva sobre a figura de Maria Callas.

No entanto, a forma como Larraín narra os últimos dias da soprano em Paris pode ser vista como uma oportunidade para ir além da simples reconstrução biográfica e explorar as emoções e o turbilhão interno da protagonista com mais profundidade. Em filmes anteriores, como Jackie, o cineasta demonstrou uma habilidade rara de transformar a biografia em um retrato psicológico e emocional, e com Maria Callas, ele novamente se debruça sobre o dilema de uma figura pública que luta para equilibrar sua identidade pessoal com as expectativas e pressões externas.

O uso do preto e branco em algumas cenas do filme vai além de uma simples referência temporal; ele antecipa uma narrativa estética fragmentada, que se distancia das produções anteriores. Essa escolha de paleta de cores cria uma atmosfera que enfatiza o contraste entre passado e presente, memória e realidade, proporcionando ao público uma experiência sensorial única e multifacetada. Ao adotar uma estética fragmentada, Larraín não apenas revisita o legado histórico de Maria Callas, mas também explora as contradições que permeiam sua figura complexa. O preto e branco, portanto, torna-se um meio eficaz para mergulhar nas sutilezas de sua identidade, criando uma vivência emocional que desafia o espectador a se perder, assim como Callas, entre a luz e a sombra de seu legado e de sua vida pessoal.

O filme, marcado por influências do musical e do melodrama, mescla emoções mundanas com aspirações quase transcendentais. Angelina Jolie, ao adotar uma abordagem contida e evitando excessos, entrega uma performance que finca a narrativa na complexidade humana, equilibrando com precisão os momentos estilisticamente audaciosos. Sua dedicação ao papel é evidente: Jolie revelou ter treinado suas cordas vocais por quase sete meses, buscando, dentro de suas limitações, prestar uma homenagem autêntica à figura de Maria Callas. Essa entrega técnica, aliada à sua interpretação sutil, enriquece a obra, tornando-a mais sólida.

Maria Callas é um retrato emocional e introspectivo dos últimos dias de Maria Callas, explorando a complexidade da soprano, sua busca por identidade e as contradições entre sua vida pública e privada. A obra transcende a biografia, oferecendo uma reflexão profunda sobre fama, memória e autodescoberta.

Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator em formação e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

quarta-feira, 30 de outubro de 2024

Sorria - Sorriso Não Resplandecente

Sorria | Paramount Pictures


Após um paciente cometer um suicídio brutal em sua frente, a psiquiatra Rose é perseguida por uma entidade maligna que muda de forma. Enquanto tenta escapar desse pesadelo, Rose também precisa enfrentar seu passado conturbado para sobreviver.

 O longa-metragem é uma obra de terror psicológico dirigida por Parker Finn, cineasta também responsável pelo curta-metragem que originou o filme. A narrativa se aprofunda em temas complexos como trauma, culpa e desespero, levando o espectador a uma jornada de crescente angústia e reflexão. A trama gira em torno de Rose, que, ao ser confrontada por eventos perturbadores, começa a perder a distinção entre realidade e alucinação, mergulhando progressivamente em uma espiral de paranoia e medo inescapável. O filme se destaca por sua habilidade em evocar uma sensação de claustrofobia emocional, explorando como experiências traumáticas podem corroer a sanidade e a percepção da realidade. A direção de Finn é eficaz em criar uma atmosfera opressiva, onde a tensão se acumula gradualmente, refletindo a desintegração mental da protagonista.

 Os sorrisos do filme são profundamente perturbadores por sua estranheza desconcertante e natureza antinatural. O que deveria ser uma expressão de alegria e conforto é transformado em algo sinistro e ameaçador. Esses sorrisos são amplos, rígidos e fixos, criando uma sensação de que algo está muito errado. A forma como os personagens, sob a influência da entidade, mantém o sorriso enquanto seus olhos permanecem frios ou apáticos, gera uma dissonância aterrorizante, como se a expressão fosse uma máscara distorcida.

 A trilha sonora e o design de som desempenham um papel crucial na experiência do filme, com sons sutis e cuidadosamente elaborados que intensificam a sensação de perigo iminente e amplificam o clima de tensão. A utilização de ruídos inesperados e a manipulação de silêncios criam uma atmosfera inquietante, mantendo o espectador em constante estado de alerta. Esses elementos sonoros não apenas complementam a narrativa, mas também se tornam uma extensão da psicologia da protagonista, refletindo sua deterioração mental.

 Sosie Bacon, no papel principal como a Dra. Rose Cotter, oferece uma performance intensa e convincente, capturando com precisão o desespero e a deterioração mental de sua personagem à medida que a entidade sobrenatural a assombra. Ela transmite de forma eficaz a crescente paranoia e o isolamento de Rose, tornando a descida dela ao terror e à loucura crível e emocionalmente ressonante. Seus olhares perdidos, expressões de pânico contido e a vulnerabilidade em momentos de silêncio contribuem para criar uma conexão profunda com o público.

 O ponto negativo é o desenvolvimento raso de certos personagens e relações. A protagonista, Rose, é bem explorada, mas os coadjuvantes, incluindo o interesse amoroso e outros colegas de trabalho, são pouco desenvolvidos, servindo apenas como suporte para os conflitos internos da protagonista ou para impulsionar a trama. Isso resulta em um elenco que não contribui de forma significativa para a complexidade emocional do filme. Além disso, o filme se estende demais, tornando-se cansativo em sua segunda metade. O simbolismo relacionado ao trauma, que é central na trama, embora interessante, é tratado de forma superficial. A ideia de que a entidade maligna se alimenta do sofrimento humano poderia ser mais explorada, com uma abordagem mais profunda e sofisticada. O resultado é uma trama que parece prometer mais do que entrega, ficando presa a uma estrutura genérica e previsível. O filme pode ser criticado por sua dependência de clichês do gênero, o que pode diminuir o impacto de algumas de suas reviravoltas.

Sorria é um terror psicológico que mergulha o espectador em uma atmosfera densa, abordando de forma impactante temas como trauma e culpa, enquanto acompanha a inquietante jornada de deterioração mental da protagonista. Porém, a narrativa se alonga desnecessariamente, tornando a segunda metade repetitiva, com sustos previsíveis que diminuem a tensão e enfraquecem o impacto do medo. Ainda assim, Sorria deixa uma marca inquietante, ecoando suas mensagens sobre trauma e sanidade.

Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator em formação e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

quarta-feira, 23 de outubro de 2024

Abraço de Mãe - Sim, tem como fazer Terror Cósmico no Cinema Brasileiro

Abraço de Mãe | Lupa Filmes

O filme conta a história da bombeira Ana, que é interpretada pela atriz Marjorie Estiano. Depois de ter passado 2 meses afastada de seu cargo por causa de um problema ocorrido em um incêndio, ela consegue voltar com apoio da sua equipe. Até que acontece um pedido de resgate de um asilo por conta de um desabamento, mas o desabamento acaba sendo o menor dos problemas que toda a equipe deve enfrentar nessa chamada de socorro. Abraço de Mãe foi exibido no Festival do Rio de 2024 e tem lançamento hoje(23/10/2024) na Netflix.

É preciso dizer que o filme funciona seguindo dois caminhos: um dos caminhos é a jornada de luto da Ana com sua mãe, e o outro sendo o pânico de não saber oque acontece naquele asilo. Tem como imaginar a narrativa como uma jornada de luto da personagem? Claro, mas o filme consegue ir mais afundo do que a simples alegoria. Para começar que o filme tem como base influencias de John Carpenter(especificamente seus trabalhos como Príncipe das Trevas e O Enigma de Outro Mundo) e o mestre do terror H.P. Lovecraft, com muitas similaridades que não ficam boiando apenas como referências soltas. 

O filme gira em torno de uma casa que está a ponto de desabar e completamente habitada por pessoas loucas, em um cenário no qual não é possível confiar em ninguém(remete ao mesmo formato do grupo de trabalhadores no Ártico, como em Enigma de Outro Mundo), com uma chuva torrencial acontecendo no Rio de Janeiro, os aprisionando no local e sem a ajuda de outros bombeiros conseguirem chegar a tempo. Na sua essência o filme já consegue funcionar e com uma direção calma, que não vai com tanta sede ao pote e criando uma atmosfera pessimista, e destrutiva, em torno daquele espaço. 

O filme claramente não tem tamanho orçamento para efeitos práticos, mas tem efeitos especiais muito bem feitos e sem dever nada no quesito de qualidade. Mesma coisa vale para a ambientação do asilo, que a direção de arte e a fotografia tornam o espaço nojento apenas com as texturas das paredes e uma iluminação que mostra um trabalho maduro na decupagem. O trabalho de figurino e maquiagem também fazem sua função em conjunto com todo os tópicos técnicos. 

A jornada de luto da bombeira Ana consegue servir perfeitamente a alegoria proposta com a ameaça que existe dentro do asilo, a falta de capacidade em não saber oque aconteceu em uma noite traumatizante com a mãe, oque ela fez de errado, como Ana consegue se perdoar por algo que ela acredita ser culpada e tudo isso é respondido com o cordão narrativo de Ana tentando salvar Lia, uma garota que está lá por causa de seu pai, desse culto à um ser desconhecido. Funciona perfeitamente pela direção que consegue conduzir toda a narrativa com bastante tensão e suspense junto com a intepretação de Marjorie, que faz o espectador torcer pela personagem se superar naquele cenário sem esperança. 

O filme, mesmo tendo um trabalho geral bem sucedido, ainda tem pontas soltas dentro da narrativa que acontecem por adições desnecessárias ao todo proposto. Algumas dessas adições são alguns personagens que servem ou para aumentar a tensão em algum momento, ou para servirem de alívio cômico, mas não conseguem exercer nada durante a obra, nem mesmo quando um deles desaparece. Algo que, infelizmente, é normal acontecer em filme que tem muitos personagens. Mesmo com essa problemática, a obra não se perde na sua proposta narrativa inicial. 

Abraço de Mãe consegue ser uma luz para os fãs de terror cósmico no Brasil e consegue transmitir a tensão e a jornada do luto de mãos dadas, capturando a atenção do espectador para saber até onde a Ana é capaz de chegar para salvar alguém e para salvar sua própria consciência. 

TEXTO DE ADRIANO JABBOUR.


quinta-feira, 3 de outubro de 2024

Emilia Pérez - México necessita cantar

Emilia Pérez | Pathé

Emilia Pérez conta a jornada da advogada Rita, que é contratada para resolver os trâmites de uma cirurgia de mudança de sexo de um traficante conhecido no México. Porém, depois de quatro anos, a advogada Rita volta a se encontrar com a não mais traficante, com seu novo nome, Emilia Perez. Emilia pede a Rita para trazer de volta sua família, refugiada na Suécia, para todos viverem juntos no México de novo, mas as coisas não saem como planejado. 

A obra faz questão de mostrar o cenário conturbado de violência que México vive por conta do tráfico de drogas e pelas questões políticas logo na primeira sequência. Necessário apontar que o filme não se envergonha em se assumir um musical logo de cara, com Zoe Saldaña cantando e dançando coreografias bem dirigidas, mostrando sem delongas a insatisfação que a personagem tem sobre sua vida e sobre a situação a sua volta. 

A atuação das três personagens principais (Rita, Emilia Pérez e Jess) conseguem transmitir nas entrelinhas o caos interno que vive o México. A incerteza de como vai ser o futuro, a mentira tendo que existir para se ter paz, os homens como meros piões bobos de algo muito maior do que eles. A obra é fantasiosa como um musical, mas que grita verdades de um México ocultado por um cenário hipócrita e sujo. Mas, mesmo com ótimas atuações de suas protagonistas, e com um conjunto técnico que consegue dançar com todo o resto, o filme se torna bem sucedido por completo?

A direção faz questão em fazer coreografias muito bem conectadas pela condução das câmeras e pela montagem, oque faz o filme manter um ritmo ágil, mas não frenético. Mesmo com o quesito técnico sendo bem efetivo no que entrega ao filme e como se conecta a narrativa, a própria em certo momento não sabe como seguir em frente. Principalmente com a personagem Jess, interpretada pela Selena Gomez, que conduz os principais conflitos do filme, mas ao mesmo tempo faz a obra se perder no tom proposto até metade do filme.

Sem contar que a obra também sofre as consequências do tempo em que o cinema vive, onde tudo é necessário ter explicação em seus mínimos detalhes. Mesmo com ótimas coreografias e músicas compostas de forma madura, muitas das músicas servem apenas para enfatizar mais o óbvio do que é jogado na cara do espectador durante as duas horas de filme. Oque em certo momento começa a incomodar profundamente e a causar desinteresse pelo que acontece durante a narrativa para o espectador. 

Ao mesmo tempo que a obra mostra várias facetas de um México muito pouco falado, o seu discurso vai perdendo potência pela falta de confiança sobre a capacidade de entendimento do espectador e com um novo caminho de condução narrativa que faz a obra se distanciar quase por completo do que foi entregue até metade do filme. Mesmo a obra entregando protagonistas tão potentes, a direção faz com que o fim da jornada delas se torne pouco pra grandiosidade que elas eram em suas raízes na história. 

Emilia Pérez é um espetáculo musical que representa toda a América Latina, mas que tem um maestro que não está a altura de todos os músicos ali presentes. 

TEXTO DE ADRIANO JABBOUR.

Telefone Preto 2 - Do Suspense Psicológico para a Hora do Pesadelo

Telefone Preto 2 | Universal Pictures Pesadelos assombram Gwen, de 15 anos, enquanto ela recebe chamadas do telefone preto e tem visões pert...