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terça-feira, 19 de agosto de 2025

Neeson brilha e manda avisar: “Corra que a polícia vem aí! (2025)”

Corra que a Polícia Vem Aí (2025) | Paramount Pictures


Sons de tiros. Um assalto ao banco em um dia ensolarado. Os ladrões chegam atirando no local. Fecham tudo, fazem reféns. O chefe da gangue arromba um cofre, pega um dispositivo e sai de fininho. Logo depois, a equipe da SWAT chega e cerca os arredores do recinto e tenta negociar uma rendição. Uma cena clássica, senão já batida do gênero. Eis que me aparece uma garotinha, com pirulito na mão, andando pela área cercada. Os policiais, confusos, tentam avisá-la para não ficar por perto. A mocinha, mesmo assim, entra no edifício. Os assaltantes também ficam confusos com a sua presença. Não tarda muito para aquela menina, vestida com um uniforme de colegial, revelar-se como Liam Neeson, com seus 1,93m de altura, antes de combater seus oponentes. É assim que começa a versão de 2025 de
Corra que a polícia vem aí! 

  Na virada dos anos 80 para os 90, o diretor David Zucker, juntamente com Jim Abrahams e Jerry Zucker, após o sucesso de Apertem os cintos, o piloto sumiu (Airplane, 1980) lançaram uma paródia de filmes policiais intitulada Naked Gun, no original. Nos filmes dessa franquia de humor, acompanhamos as trapalhadas de um esquadrão de polícia da cidade de Los Angeles, sempre envolvendo o tenente Frank Drebin, interpretado por Leslie Nielsen. 

A ideia vinha de um seriado de Zucker-Abrahams-Zucker (grupo conhecido também como ZAZ) lançado na televisão americana no início da década de 80, Police Squad!, mas que foi cancelado após a exibição de pouquíssimos episódios. O conceito e personagens são realizados na versão cinematográfica, e, diferente da sua contraparte televisiva, o primeiro filme, lançado em 1988, foi um sucesso para o estúdio. 

Sua repercussão foi importante para o gênero do humor estadunidense no cinema e também na consolidação de Nielsen, que era conhecido por papéis mais dramáticos, como um comediante, com uma performance que contrasta perfeitamente com o tom cartunesco da obra. Houveram duas continuações, uma em 1991 e outra em 1994, respectivamente. Porém, ao longo das décadas subsequentes, diversas tentativas de continuar e revitalizar a franquia para um novo público parecia nunca sair do papel. Até mesmo Zucker, uma das mentes por trás de Naked Gun, teve suas ideias rejeitadas pelo estúdio da Paramount, que, por sua vez, em 2021, ficou interessada nos planos do produtor Seth MacFarlane em revisitar a franquia.

O Corra que a polícia vem aí! de 2025 é dirigida por Akiva Schaffer e produzida pela produtora de MacFarlane, a Fuzzy Door. O longa-metragem apresenta como protagonista desta vez o filho da personagem de Nielsen, Frank Drebin, Jr., interpretado pelo já mencionado Liam Neeson, que deve salvar o esquadrão de polícia de fechar as portas, enquanto tenta seguir os passos de seu pai. 

Para esta nova empreitada, Schaffer se reúne com os roteiristas Dan Gregor e Doug Mand, com quem já havia trabalhado no filme Tico e Teco de 2022 para o Disney Plus, e o resultado dessa parceria é positivo. O roteiro desta nova versão acerta no tom pastelão do humor, marca registrada das versões anteriores, e também consegue fazer uma paródia do gênero policial no cinema de forma cartunesca; calcando no uso de clichês e vícios de linguagem que filmes e séries do gênero apresentam. A gramática do filme transita entre várias estéticas: o noir, a ação megalomaníaca e até mesmo “documental”. Aqui, o pessoal da produção se prova bem afiado nas referências à cultura pop. Além disso, o uso da comédia física e de piadas visuais continuam sendo a cereja do bolo da franquia.

Para não dizer que o filme é basicamente uma versão live action de desenho animado ou de um besteirol divertido fechado em si mesmo, vale ressaltar que está é a versão mais política da franquia, uma vez que os roteiristas deixam claro que o antagonista de Drebin, Richard Cane (Danny Huston), é uma caricatura de bilionários que existem no mundo real, a inspiração, com certeza, o Elon Musk. Cane tem como plano criar uma nova versão do mundo para os super ricos, enquanto o restante da população é afligida com um mal que a deixa mais próxima da primitividade. A tensão cômica as personagens de Neeson e Huston é cômica, e ilustra justamente o embate do homem com o avanço tecnológico cada vez mais mais invasivo e desnecessário, ao mesmo tempo que o longa “tira sarro” da  masculinidade frágil de homens héteros cis na sociedade.

Mudando o foco para o protagonista do longa, o Liam Neeson foi uma escalação perfeita para viver Frank Drebin, uma vez que possui um semblante tão sério, tão autocentrado, em momentos inusitados e/ou constrangedores. O que ele faz aqui é o equivalente da performance de Nielsen, porém Neeson usa de sua bagagem como um ator de filmes de ação, que vão de medianos a péssimos, nas últimas décadas para dar esse tom ao personagem. Foi uma escolha acertada por parte da produção, em apostar nesta escalação: Neeson brilha como um comediante.

Outro nome de peso no elenco é de Pamela Anderson, que interpreta a personagem Beth Davenport e irá se envolver com a investigação de Drebin ao longo da narrativa. Mais conhecida pela série Baywatch (1989-2001), Anderson é uma atriz que, após passar vários anos longe da atuação, encontrou um novo ressurgimento em sua carreira nos últimos anos e tem arriscado mais em papéis mais desafiadores e diversos nos palcos e no cinema. Na última temporada de premiações, por exemplo, ela foi reconhecida pelo seu papel no filme The Last Showgirl (2024). Aqui, a personagem de Anderson acena para a figura da femme fatale, porém colocando-a em pé de igualdade e em contraponto com a personagem de Neeson. Anderson aqui se entrega e participa da brincadeira, sem ser, em algum momento, o alvo da piada. 

Como qualquer outro longa-metragem que capitaliza ou dá continuidade a uma propriedade intelectual já existente no cinema, a nova versão de Corra que a polícia vem aí!  tem vários momentos de homenagem aos filmes anteriores, sejam eles diretos ou indiretos, para mostrar que a produção desta nova versão é fã dos filmes de Zucker. Inclusive, há uma montagem romântica entre Neeson e Anderson, fazendo um paralelo a um momento parecido ao primeiro filme com Leslie Nielsen e Priscilla Presley, que toma um rumo inesperadamente surreal e maníaco, com um personagem bastante conhecido do imaginário estadunidense.

Apesar de não ser um filme perfeito e do longa sofrer muito com um tom mais sério e repetições e/ou a duração de algumas das piadas visuais bem rapidamente, Schaffer e sua equipe conseguem reanimar a comédia pastelão em que, assim como um detetive confuso embolado em vários fios e causando alguma confusão no caminho, ainda é muito divertida. Parece que a polícia nunca deixou de ser incompetente nessa passagem de tempo e a diversão é a nossa.

Disclaimer: A convite da Paramount Pictures, a Koro Filmes foi convidada para uma cabine no escritório no Rio de Janeiro, em que foi passada a versão dublada do longa, cuja localização de dublagem foi feita por Antônio Tabet. 

    Autor:
                                  

Eduardo Cardoso é natural do Rio de Janeiro, Cidade Maravilhosa. Cardoso é graduado em Letras pela Universidade Federal Fluminense e mestre em Estudos de Linguagem na mesma instituição, ao investigar a relação entre a tragédia clássica com a filmografia de Yorgos Lanthimos. Também é escritor, tradutor e realizador queer. Durante a pandemia, trabalhou no projeto pessoal de tradução poética intitulado "Traduzindo Poesia Vozes Queer", com divulgação nas minhas redes sociais. E dirigiu, em 2025, seu primeiro curta-metragem, intitulado "atopos". Além disso, é viciado no letterboxd.

segunda-feira, 28 de julho de 2025

Fuga Para Odessa - A Tragédia Sagrada de James Gray

Fuga Para Odessa | Paramount Pictures

Fuga Para Odessa (1994) retrata, por meio de tradições da tragédia russa, a vida do jovem Reuben (Edward Furlong) no bairro de Brighton Beach, no Brooklyn, que vê o regresso de seu irmão Joshua (Tim Roth) após anos sem contato. A ocasião é desconfortável, pois a mãe de ambos (Vanessa Redgrave) está no leito de morte, e o pai dos dois (Maximilian Schell) não se mostra nem um pouco complacente com a presença de Joshua, que se tornou um criminoso nos anos de ausência.

James Gray – o diretor do filme - retrata o Brooklyn de uma maneira muito menos encantada que diretores como Martin Scorsese ou até mesmo Brian De Palma o retrataram. A fumaça dos bueiros é tóxica, o ambiente é desconfortavelmente frio, e os espaços mais vazios daquele movimentado lugar são inóspitos. As pessoas daquele bairro são traiçoeiras, e o protagonista Reuben soa tão passivo a essa situação quanto os espectadores.

Os ambientes claustrofóbicos da casa da família Shapira, ajudam a reforçar o aspecto de desconforto que o filme causa. Reuben é frequentemente agredido pelo seu pai, porém essas agressões se mostram escondidas entre as paredes e portas. Recurso este que poderia soar como covarde, porém servem de agregador ao sentimento de passividade do espectador diante aos acontecimentos, essencial nessa tragédia.

O filme, além de um drama familiar, possui elementos de filme de máfia, porém ele rejeita por muito a tradição clássica do gênero, e a subverte com influencias da tradição moderna. As mortes não são glamorosas como em Os Bons Companheiros (1990), mas frias e realistas como em Roma, Cidade Aberta (1945) ou os maiores clássicos do neorrealismo italiano.

E não é só nas ocasiões mais típicas do gênero de máfia que Gray mostra suas inspirações modernas. Nas relações religiosas que Gray estabelece no filme – provenientes da cultura judaica dos protagonistas – é visto uma clara referencia do autor a cineastas como Bresson e Visconti, que reconheciam a importância do rito religioso como uma força cinematográfica.

A tragédia é filmada nos últimos minutos do filme da mesma forma que Gray filmou o Brooklyn, seco e frio. Nada é moralista, como nos filmes de Scorsese, nem tenta mostrar uma evolução do protagonista, como nos filmes do Coppola. É só o cumulo de tudo aquilo que Gray nos mostra em aprox. 90 minutos de rodagem, com várias perguntas, e uma única resposta: “É isso aí”. 

Fuga Para Odessa é a obra-prima do cineasta James Gray, que recentemente buscou fazer filmes de estúdio, como Ad Astra – Rumo às Estrelas (2019) e Armageddon Time (2022), mas que nas suas origens possui trabalhos de cunho realmente singular, e que por muitas vezes são ignorados pela critica americana. Porém que não devem ser ignorados pela cinefilia, que sempre deve buscar o resgate da memória da linguagem cinematográfica.

Autor:


Meu nome é Rodolfo Luiz Vieira, tenho 17 anos e curso o terceiro ano do Ensino Médio. Produzo alguns curtas-metragens e escrevo textos sobre cinema. Meus filmes favoritos são: Em Ritmo de Fuga; La Haine; Eu Vos Saúdo, Maria e Pai e Filha.

quarta-feira, 26 de março de 2025

Novocaine: À Prova de Dor - Quando a Falta de Dor Se Torna o Maior Perigo (E a Melhor Piada)

Novocaine: À Prova de Dor | Paramount Pictures



Nathan Caine (Jack Quaid) é um homem introvertido e gentil que nasceu com CIPA, uma rara condição genética que o torna incapaz de sentir dor física. Crescendo sob proteção constante, ele desenvolveu estratégias para lidar com os desafios diários de sua condição, como usar um cronômetro para lembrar-se de necessidades básicas e tomar cuidado para não se machucar inadvertidamente. Apesar das limitações, Nathan construiu uma vida tranquila como executivo bancário. No entanto, sua rotina muda drasticamente quando seu local de trabalho é alvo de um assalto e um colega de trabalho é feito refém. Determinado a salvá-lo, Nathan descobre que sua condição, antes considerada uma vulnerabilidade, pode ser sua maior força. Imune à dor e disposto a enfrentar qualquer perigo, ele embarca em uma missão de resgate inesperada, desafiando limites físicos e emocionais.

A história do filme é simples, mas envolvente, sendo uma comédia de ação que se destaca pela originalidade e pelo humor. O protagonista é portador de uma condição rara, a Insensibilidade Congênita à Dor com Anidrose (CIPA), que o torna imune à dor e à sensação de temperatura. Esse fator, que poderia ser apenas um ponto curioso, é habilidosamente explorado ao longo do filme, trazendo situações inesperadas e muito divertidas. A escolha dessa condição como base para a trama confere um toque de frescor e criatividade à narrativa, permitindo aos roteiristas criar cenas de ação dinâmicas e engraçadas. O equilíbrio entre ação e comédia é bem executado, e o filme consegue manter o espectador interessado, enquanto faz uma abordagem leve e bem-humorada de uma condição médica rara. 

Para aqueles que são mais sensíveis à violência, o filme pode não ser a melhor escolha, apesar de o protagonista não sentir dor. Embora essa característica da trama seja usada de forma cômica e criativa, as cenas de ação intensas podem gerar uma sensação de desconforto no espectador. A maneira como a dor e a violência são retratadas, mesmo sem o protagonista experimentar essas sensações, cria uma tensão que pode ser agoniada. Esse contraste entre a falta de dor do protagonista e a reação do público diante das situações extremas adiciona uma camada interessante ao filme, tornando-o mais envolvente para aqueles que apreciam um humor mais ousado e ação de impacto.

Jack Quaid, conhecido por sua interpretação de Hughie em The Boys, traz à vida um personagem inicialmente introvertido, nerd e apático, que, imerso em uma rotina sem grandes propósitos, se limita a consumir apenas bebidas líquidas. No entanto, ao conhecer uma garota, sua vida passa por uma transformação profunda, marcando um divisor de águas em sua jornada. Ao abraçar de vez a persona do jovem com cara de bom moço, mas que se vê envolvido em situações extremas, Quaid se destaca ainda mais como o ator ideal para esse tipo de papel. Em sua interpretação de Nathan Caine, ele prova novamente seu talento ao navegar com naturalidade por esses cenários intensos e desafiadores, entregando uma performance que cativa e conquista o público.

Novocaine: À Prova de Dor oferece uma experiência única ao combinar ação, comédia e um toque de originalidade, graças à condição rara do protagonista. A trama, embora simples, é envolvente e traz uma abordagem criativa e divertida sobre o que significa ser imune à dor, explorando com destreza tanto o lado cômico quanto o suspense da história. Para quem aprecia uma mistura de humor ousado e cenas de ação intensas, o filme certamente vale a pena, oferecendo uma narrativa leve, mas cheia de momentos emocionantes. No entanto, é importante estar ciente de que, devido à violência gráfica, pode não ser adequado para todos os públicos, especialmente aqueles mais sensíveis a esse tipo de conteúdo.

Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator em formação e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

sábado, 8 de março de 2025

Better Man: A História de Robbie Williams - O Animal por trás do Homem

Better Man | Paramount Pictures


Primatas são figuras comuns no universo do cinema. Sejam encarnados no famoso e alegórico King Kong, ou em posições dominantes, como em “Planeta dos Macacos”, tais presenças, mais habituais em ficções científicas, não são estranhas aos olhos humanos. Entretanto, uma celebridade musical escolher ser referenciada no papel de um macaco é, no mínimo, curiosa. “Better Man - A História de Robbie Williams”, de Michael Gracey, opta por tal irreverência com o aval total do cantor que dá nome à obra.

Sem qualquer estranheza por parte dos demais, Robbie Williams, interpretado aqui por Jonno Davies, já na pele do animal por intermédio de um ótimo CGI, é um jovem talento descoberto pelo grupo britânico Take That, que o fez obter ascensão meteórica em sua carreira. Porém, após os vislumbres de extravagância que a fama traz, o protagonista se perde e se encontra em uma velocidade disfuncional. De maneira não cronológica, passagens de sua vida são contadas com uma realidade que só é parada pela barreira criada pela fantasia que o próprio filme propõe. Estes momentos, que englobam uma série de aderência a vícios e um sofrimento atroz por parte de Robbie, são tratados de maneira visceral e explicativa, assim como artisticamente belos.


O arco de construção da persona do cantor, que passa de um menino inseguro para uma estrela da música no qual o brilho do reconhecimento o cegou, é apressada, mas compreensível. A ênfase não está apenas no dom de Robbie, mas sim nas consequências, desde familiares até em outros âmbitos sociais, que o fizeram decair significativamente após seu contato com a fama. Sua família, aliás, traz um núcleo de pai e filho que auxilia no crescimento e na formação do corpo da trama, agregando a dramaticidade e um fundamento necessário para que tomemos partido da situação.


Ainda que no palco Robbie fosse um fenômeno, sua vida pessoal, como apresenta a biografia, era conturbada e permeada por dependências, compulsões, autossabotagem e pensamentos intrusivos. Contudo, com a presença dos números musicais, era impossível esquecer que ali também se tratava de um musical com apego à sensibilidade e à sonoridade fantástica do artista, além de sempre nos relembrar que estávamos diante de uma história com seu “quê” fantástico. As canções nem sempre funcionam, visto que, em certo ponto, parecem amontoadas, causando uma possível dispersão do espectador.


Michael Gracey, que já esteve à frente de “Rocketman” e “O Rei do Show”, sabe bem como captar a atenção certa no momento certo para a situação certa. As circunstâncias musicalizadas são caprichosas, embora as ocasiões do dia a dia se resolvessem de maneira um tanto fácil, provando que todo problema tem uma resposta direta e positiva. Como trata-se de um clássico caso de um artista diferenciado e influente em busca de redenção, o filme não se distancia tanto dos demais na mesma linha de pensamento. Todavia, quando o realiza, é com cuidado; não em relação a imagem de Robbie, mas essencialmente na forma de filmagem e zelo com a história.


“Better Man - A História de Robbie Williams” adentra o imaginário de Robbie Williams, que compartilha com o espectador a chance de o conhecer melhor, mesmo na imagem de um macaco. Em um bom passeio pelos altos e baixos de sua vida, percebemos a tentativa de humanizar, mesmo que por meios “animalescos”, uma personalidade inesquecível porém ainda discreta quanto a sua própria história. Embalado por canções do próprio artista, o âmbito musical seria concretizado com maestria se não unisse tantos números em um curto espaço de tempo. Mesmo assim, é possível se entreter com imagens inventivas e uma trajetória cinematográfica interessante. De fato, nada é impossível para o audiovisual.


Autora:


Laisa Lima 

25 anos, formada em cinema, roteirista, crítica, videomaker e moradora do Rio de Janeiro, minha paixão pelo cinema transcende as telas. 
De “Guarda-Chuvas do Amor” até “Laranja Mecânica”, meu amor pela arte não se prende a nenhum gênero, mas sim ao que me toca. 
Também sou apaixonada pelos pormenores da vida, que se apresentam sem nenhum roteiro. 
Logo, imaginação não falta em mim. 
Sou de tudo um pouco, e procuro sempre expor minha versão mais democrática, que enfrenta a realidade com a maior criatividade possível.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

Setembro 5 - Distância Emocional no Retrato do Massacre de Munique

Setembro 5 | Paramount Pictures


Em Setembro 5, uma equipe de jornalistas esportivos precisa mudar sua cobertura radicalmente quando atletas são feitos de reféns dentro da Vila Olímpica. O drama histórico conta a história do Massacre de Munique, atentado que aconteceu nos Jogos Olímpicos de Verão de 1972 na Alemanha, a partir do ponto de vista da equipe de transmissão da ABC Sports. Na noite de 5 de setembro de 1972, um grupo terrorista chamado Setembro Negro invadiu a Vila Olímpica e fez 11 atletas da delegação israelense de reféns. Então, os jornalistas esportivos que estavam cobrindo o evento tiveram que transformar a abordagem de suas pautas para noticiar ao vivo o que estava acontecendo durante o sequestro que viria a se tornar o maior atentado terrorista a acontecer em um evento esportivo até hoje.

O filme aborda os acontecimentos da noite de 5 de setembro de 1972, quando o grupo terrorista "Organização Setembro Negro" invadiu a Vila Olímpica em Munique e fez atletas da delegação israelense reféns. A crise foi transmitida para aproximadamente 900 milhões de pessoas, pois a emissora estadunidense ABC, juntamente com outras de diferentes países, estava presente para cobrir o evento e mostrou cenas ao vivo de ameaças, perseguições e negociações. O ponto de vista central é dos jornalistas esportivos, acompanhando a trajetória daqueles que precisaram adaptar suas coberturas para relatar o sequestro em tempo real. Ao contrário do filme Munique, de Steven Spielberg, que adota a perspectiva de um agente do esquadrão da Mossad (Agência de Inteligência de Israel) na busca por outros possíveis envolvidos no caso.

O filme, assim, não só destaca o papel crucial da mídia na transmissão de crises globais, mas também questiona a crescente influência da imprensa em momentos de tensão extrema, quando a linha entre informar e explorar se torna tênue. Para quem estuda ou trabalha com jornalismo, o filme oferece uma reflexão profunda sobre as responsabilidades da mídia e os dilemas éticos enfrentados pelos profissionais, especialmente em situações de grande pressão e risco. 

A direção adota uma abordagem "neutra", tentando manter a "objetividade" ao retratar os eventos, o que significa que o filme se foca mais nos aspectos técnicos da cobertura jornalística, como os bastidores, o uso de equipamentos e a preparação para a transmissão. Isso desperta interesse, pois permite ao público entender como a notícia foi manipulada e transmitida ao vivo. No entanto, essa ênfase nos aspectos técnicos acaba tornando o filme distante e emocionalmente frio. Apesar da escolha por uma câmera instável (que busca uma sensação de proximidade com a ação) e da imagem granulada com alto contraste (que pode sugerir tensão e drama), o filme não consegue criar uma conexão mais profunda com o público, parecendo mais uma exposição de fatos do que uma imersão emocional nos acontecimentos.

Setembro 5 retrata o Massacre de Munique de 1972 a partir da perspectiva dos jornalistas esportivos que cobriam os Jogos Olímpicos, focando nos bastidores da cobertura ao vivo do sequestro dos atletas israelenses. Embora ofereça uma reflexão importante sobre a responsabilidade da mídia e os dilemas éticos enfrentados em situações extremas, a abordagem técnica e "neutra" do filme, com ênfase nos aspectos operacionais da transmissão, resulta em uma falta de conexão emocional, o que torna a obra distante e menos impactante.

Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator em formação e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

Sonic 3 - Shadow Chegou, Robotnik Está de Volta e a Velocidade Não Para!

Sonic 3 | Paramount Pictures

Sonic, Tails e Knuckles devem enfrentar um adversário misterioso, Shadow, o Ouriço, enquanto o Dr. Robotnik ressurge após sua derrota com um novo plano. 

Sonic, desde o lançamento de seu primeiro filme em 2020, tornou-se um dos exemplos bem-sucedidos de adaptações de jogos para o cinema. No entanto, inicialmente, seu design gerou estranhamento, o que levou a críticas do público. O estúdio, atento às reclamações, ouviu os fãs e ajustou o visual do personagem, resultando em um design mais amigável e menos realista. O primeiro filme apresentava uma premissa típica de "Sessão da Tarde", com uma criatura de outro planeta, o Sonic, e um ser humano. A conexão com os jogos estava no embate entre Sonic e o Dr. Robotnik. 

No segundo filme, os personagens humanos, que eram exclusivos da adaptação cinematográfica, foram mais afastados, a fim de dar mais espaço para o Sonic, além de Tails e Knuckles, que foram os novos personagens introduzidos no filme. No terceiro filme, os personagens humanos foram relegados a um papel secundário, mas sua reintrodução na trama ocorre de maneira mais coerente, alinhada com o desenvolvimento da história. 

Os filmes anteriores não seguiram uma adaptação literal dos primeiros jogos da franquia dos anos 90, mas incorporaram de maneira inteligente elementos que agradaram tanto aos fãs de longa data quanto ao público mais amplo. No segundo filme, por exemplo, a introdução de Tails, previamente anunciada na cena pós-créditos do primeiro longa, foi um acerto ao expandir o universo de Sonic. Além disso, o enredo traz influências de jogos como Sonic Adventure, onde o personagem chega à Terra, e Sonic Adventure 2, com o confronto entre Sonic e Shadow. 

Essas referências não apenas mantêm a essência dos jogos, mas também fortalecem a conexão dos filmes com a mitologia original de forma eficaz, agradando aos fãs sem perder a oportunidade de introduzir novos elementos e desenvolver a trama de maneira envolvente. O uso desses elementos do jogo enriquece a narrativa e mostra um respeito pela franquia, ao mesmo tempo em que a adapta de maneira criativa para o cinema.

O Shadow está impressionante, fiel aos jogos. Ele é, sem dúvida, o personagem mais icônico e complexo da franquia. Como contraparte de Sonic, Shadow compartilha habilidades semelhantes às do herói, como sua supervelocidade, além de técnicas características, como o Spin Dash. Essa técnica, que pode ser traduzida como "Ataque Giratório", consiste em o personagem se enrolar em forma de bola e se lançar rapidamente contra os inimigos, enquanto gira. Outra habilidade notável é o Homing Attack, ou "Ataque com Mira", um movimento no qual o personagem salta e, ao se aproximar de um inimigo, o ataca automaticamente, se dirigindo para ele com precisão.

Uma das principais diferenças entre Shadow e Sonic está nos tênis de Shadow, cuja origem é misteriosa, mas que possuem propulsores, permitindo-lhe até voar. Nos jogos, Shadow também utiliza armas de fogo, o que causou surpresa e até choque na comunidade na época, já que foi a primeira vez que o anti-herói foi retratado com uma arma. Essa decisão gerou um debate acalorado, com alguns defendendo que se tratava de uma evolução natural do personagem, enquanto outros consideravam isso uma tentativa forçada de tornar a série mais "adulta". No entanto, no longa-metragem, o personagem utiliza apenas um revólver, sem disparar tiros reais.

A história de Shadow nos jogos revela que ele foi criado na Colônia Espacial ARK como uma arma biológica, sendo designado "a forma de vida suprema". O objetivo principal do projeto era descobrir a fórmula da imortalidade. O Professor Gerald Robotnik, avô de Dr. Eggman, liderava as pesquisas com a intenção de usar os resultados para curar sua neta, Maria, que sofria de uma doença autoimune. No entanto, no longa-metragem, Maria, a única amiga de Shadow, não está doente, embora a tragédia subsequente seja a mesma. Quando esse arco foi adaptado no anime Sonic X, ele foi censurado ao chegar ao Ocidente. Isso fez com que o filme e o arco de Shadow adquirissem um tom mais sombrio, ao mesmo tempo em que se distanciaram da proposta original da franquia, resultando em uma obra mais obscura e dramática em comparação aos seus predecessores. 

Robotnik retorna com um visual mais fiel aos jogos. No primeiro filme, ele apresentava cabelos castanho-escuros e um bigode fino com cachos nas extremidades. No segundo filme, o personagem adotou uma aparência significativamente diferente: raspou a cabeça completamente careca, deixou seu bigode crescer de forma desleixada, mais espesso e de tom avermelhado, e seu nariz passou a exibir uma notável queimadura de sol de tom rosado-avermelhado, aproximando-se mais do visual dos jogos. No terceiro filme, o personagem ganha peso, e seu visual vai se tornando progressivamente mais fiel ao dos jogos. 

Jim Carrey continua a se destacar no papel, com suas expressões faciais e gestos caricatos característicos. Além de interpretar o próprio Robotnik, Carrey também assume o papel de Gerald Robotnik, o avô do personagem, que, de certa forma, é uma versão mais envelhecida de Robotnik, lembrando a interpretação de María Antonieta de las Nieves, que no seriado Chaves interpretava tanto a personagem Chiquinha quanto sua avó. No entanto, isso funciona devido ao tom exagerado do filme, que é essencialmente caricatural, especialmente no que se refere à interpretação do personagem Robotnik. 

Sonic 3 mantém a essência da franquia ao introduzir Shadow de forma fiel aos jogos, explorando seu passado misterioso e complexo. A trama expande o universo de Sonic com a participação de Tails e Knuckles, enquanto Robotnik retorna com um visual mais fiel aos jogos. O filme equilibra ação, humor e drama, com Jim Carrey continuando a brilhar como Robotnik. A adaptação respeita a mitologia, agradando aos fãs de longa data, ao mesmo tempo em que oferece uma experiência divertida e acessível para todos.

Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator em formação e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Gladiador 2 - Uma Trajetória Política além da Nostalgia

Gladiador 2 | Paramount Pictures


Gladiador 2 não foge de ser uma grande homenagem ao primeiro filme, com algumas pequenas referências, mas não o utiliza apenas como um afago nostálgico barato. Aqui o objetivo de Scott tem como foco mostrar uma jornada do mundo da Roma antiga, mas que converse com o tempo de seu lançamento e com uma nova geração que possa se interessar por aquele universo. A obra em nenhum momento foge de sua proposta que chega a ser bem próxima do primeiro filme, mostrando lutas com bastante sangue, bem coreografadas e agora utilizando muito mais o CGI. Importante enfatizar que mesmo com a utilização exacerbada dos efeitos especiais, não é algo que afete tanto a experiência visual, já que Scott dá espaço para a parte técnica na tela. 

Um dos pontos que o filme também tem à seu favor é o trabalho de elenco, onde todos conseguem ter espaço para atuar, ter um desenvolvimento de personagem sucinto e conseguem entregar atuações maduras e que casam com o espaço em que acontece a história. Enfatizo aqui o trabalho de Denzel Washington que faz o personagem mais articulado e tem como função ser um dos condutores de toda a narrativa acontecer como deve acontecer. 

Paul Mescal consegue ser um personagem principal que faz jus ao seu antecessor, Maximus, e consegue servir como uma nova forma de condução do discurso de Scott nesse filme. Enquanto a primeira obra segue Maximus em busca de vingança pela morte de seu filho e sua mulher, aqui Lucius toma outro caminho. Mesmo com o começo sendo um filme que parece querer seguir a mesma linha de motivação do protagonista anterior, aqui vemos uma condução completamente oposta. 

Enquanto a vingança era o pilar principal do primeiro filme, aqui o foco se encontra em uma busca de uma utopia que foi entregue à um garoto que se decepciona com a realidade. A corrupção continua, o entretenimento com a violência é maior do que nunca, doenças se alastrando, fome e a raiva do povo em crescente. Além dos dois imperadores antagonistas, Geta e Caracalla, que são o perfeito estereotipo de crianças mimadas governando um império, mostrando Scott zombando das figuras de poder que prevalecem até hoje. 

Lucius busca no início de sua jornada, vingança. Mas ao longo de sua jornada, o seu foco é a busca de uma Roma que tenha dignidade e que possa finalmente prevalecer em paz. Claro que não faz sentido tentar conectar esse filme com a realidade histórica, já que a proposta desde o primeiro filme é uma releitura fictícia de fatos históricos, mas é pertinente a forma que Scott faz um retrato digno de um cenário passado sendo bem atualizado depois de 24 anos.  

O filme em nenhum momento se esconde em prover um entretenimento pirotécnico com suas batalhas exageradas, assim como também não se esquiva em conduzir uma narrativa focada na condução política. A jornada do personagem Macrinus, de Denzel Washington, mostra como aqueles que são oprimidos por um império, podem fazer de tudo para que ele despenque. Sua trajetória se torna um dos pontos feitos com melhor exatidão comparado com os outros. 

Necessário apontar também o fato da direção condensar muitos pontos narrativos em momentos rápidos e acelerados de forma deslocada, principalmente na última meia-hora de filme e na relação de Lucius com a sua mãe, Lucilla(ainda sendo interpretada pela Connie Nielsen). A conclusão da obra também fica deslocada em comparação com toda a obra, sem contar a primeira motivação da trajetória de Lucius que se torna mal concluída e posta de lado. 

Gladiador 2 não chega a ser algo do mesmo nível de seu antecessor, mas consegue ser diferente de forma positiva. Sendo um entretenimento para os amantes do primeiro filme, tendo o exagero nas lutas e nos efeitos especiais e tendo ótimas atuações que conseguem ofuscar algumas das problemáticas do filme. 

TEXTO DE ADRIANO JABBOUR.

quarta-feira, 30 de outubro de 2024

Sorria - Sorriso Não Resplandecente

Sorria | Paramount Pictures


Após um paciente cometer um suicídio brutal em sua frente, a psiquiatra Rose é perseguida por uma entidade maligna que muda de forma. Enquanto tenta escapar desse pesadelo, Rose também precisa enfrentar seu passado conturbado para sobreviver.

 O longa-metragem é uma obra de terror psicológico dirigida por Parker Finn, cineasta também responsável pelo curta-metragem que originou o filme. A narrativa se aprofunda em temas complexos como trauma, culpa e desespero, levando o espectador a uma jornada de crescente angústia e reflexão. A trama gira em torno de Rose, que, ao ser confrontada por eventos perturbadores, começa a perder a distinção entre realidade e alucinação, mergulhando progressivamente em uma espiral de paranoia e medo inescapável. O filme se destaca por sua habilidade em evocar uma sensação de claustrofobia emocional, explorando como experiências traumáticas podem corroer a sanidade e a percepção da realidade. A direção de Finn é eficaz em criar uma atmosfera opressiva, onde a tensão se acumula gradualmente, refletindo a desintegração mental da protagonista.

 Os sorrisos do filme são profundamente perturbadores por sua estranheza desconcertante e natureza antinatural. O que deveria ser uma expressão de alegria e conforto é transformado em algo sinistro e ameaçador. Esses sorrisos são amplos, rígidos e fixos, criando uma sensação de que algo está muito errado. A forma como os personagens, sob a influência da entidade, mantém o sorriso enquanto seus olhos permanecem frios ou apáticos, gera uma dissonância aterrorizante, como se a expressão fosse uma máscara distorcida.

 A trilha sonora e o design de som desempenham um papel crucial na experiência do filme, com sons sutis e cuidadosamente elaborados que intensificam a sensação de perigo iminente e amplificam o clima de tensão. A utilização de ruídos inesperados e a manipulação de silêncios criam uma atmosfera inquietante, mantendo o espectador em constante estado de alerta. Esses elementos sonoros não apenas complementam a narrativa, mas também se tornam uma extensão da psicologia da protagonista, refletindo sua deterioração mental.

 Sosie Bacon, no papel principal como a Dra. Rose Cotter, oferece uma performance intensa e convincente, capturando com precisão o desespero e a deterioração mental de sua personagem à medida que a entidade sobrenatural a assombra. Ela transmite de forma eficaz a crescente paranoia e o isolamento de Rose, tornando a descida dela ao terror e à loucura crível e emocionalmente ressonante. Seus olhares perdidos, expressões de pânico contido e a vulnerabilidade em momentos de silêncio contribuem para criar uma conexão profunda com o público.

 O ponto negativo é o desenvolvimento raso de certos personagens e relações. A protagonista, Rose, é bem explorada, mas os coadjuvantes, incluindo o interesse amoroso e outros colegas de trabalho, são pouco desenvolvidos, servindo apenas como suporte para os conflitos internos da protagonista ou para impulsionar a trama. Isso resulta em um elenco que não contribui de forma significativa para a complexidade emocional do filme. Além disso, o filme se estende demais, tornando-se cansativo em sua segunda metade. O simbolismo relacionado ao trauma, que é central na trama, embora interessante, é tratado de forma superficial. A ideia de que a entidade maligna se alimenta do sofrimento humano poderia ser mais explorada, com uma abordagem mais profunda e sofisticada. O resultado é uma trama que parece prometer mais do que entrega, ficando presa a uma estrutura genérica e previsível. O filme pode ser criticado por sua dependência de clichês do gênero, o que pode diminuir o impacto de algumas de suas reviravoltas.

Sorria é um terror psicológico que mergulha o espectador em uma atmosfera densa, abordando de forma impactante temas como trauma e culpa, enquanto acompanha a inquietante jornada de deterioração mental da protagonista. Porém, a narrativa se alonga desnecessariamente, tornando a segunda metade repetitiva, com sustos previsíveis que diminuem a tensão e enfraquecem o impacto do medo. Ainda assim, Sorria deixa uma marca inquietante, ecoando suas mensagens sobre trauma e sanidade.

Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator em formação e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

sexta-feira, 18 de outubro de 2024

Sorria 2 - A Sequência que Ultrapassa o Original em Perturbação e Qualidade

Sorria 2 | Paramount Pictures

Prestes a embarcar em uma nova turnê mundial, a sensação pop global Skye Riley começa a vivenciar eventos cada vez mais aterrorizantes e inexplicáveis. Sobrecarregada pelos horrores e pressões crescentes da fama, ela deve enfrentar seu passado sombrio para retomar o controle de sua vida antes que ela saia do controle.

Enquanto o primeiro filme abordava traumas pessoais e uma entidade sobrenatural que se manifestava através de sorrisos perturbadores, essa sequência introduz temas como a fama, a pressão psicológica e o terror de um passado sombrio. O enredo original focava em uma maldição ligada a traumas e culpa, mas a continuação expande essa premissa ao explorar os desafios emocionais da vida sob os holofotes e o terror psicológico decorrente das pressões públicas. A trama mistura elementos sobrenaturais com uma crítica social sobre a cultura das celebridades. Essa mudança de cenário levanta questões sobre como o terror pode servir para criticar a indústria do entretenimento e a exploração da imagem pública. Contudo, há o risco de que o foco em uma figura famosa possa diluir a profundidade emocional do primeiro filme, que se destacou pelo tratamento sensível de temas universais e pessoais.


O filme evita jumpscares gratuitos, aqueles que surgem sem uma construção adequada de tensão ou relevância para a trama. Aqui, os sustos são astutos, eficazes graças ao uso cuidadoso de efeitos visuais e sonoros, além dos diversos artifícios que a entidade utiliza para gradualmente desestabilizar sua vítima, levando-a ao limite da sanidade. Esses momentos funcionam não apenas pelo choque imediato, mas também pela forma inteligente com que a tensão é construída. A entidade manipula o ambiente ou surge em momentos estrategicamente calculados, criando uma atmosfera opressiva e constante. Cada aparição vai além de ser apenas um susto, servindo como uma peça de um complexo quebra-cabeça psicológico, que desestabiliza a protagonista e faz o público compartilhar de sua paranoia e desespero crescentes. O terror não se limita ao susto passageiro, mas se estende, deixando o espectador em constante estado de alerta, preso em um medo duradouro e difícil de escapar.


O filme peca por alongar demais seu ritmo, tornando-se cansativo em vários momentos e prejudicando a fluidez da narrativa. Sequências que poderiam ser mais ágeis acabam se estendendo sem propósito claro, fazendo com que o espectador perca o envolvimento com a trama.


Naomi Scott está excepcional no papel, entregando com maestria o medo e o sofrimento que sua personagem enfrenta. Seu olhar expressa o terror de maneira marcante, caracterizado por uma combinação poderosa de sutilezas e intensidade. O olhar assombrado dela é uma verdadeira janela para a vulnerabilidade da personagem, capturando a inquietação e o desespero que a situação provoca. Além disso, Naomi utiliza o silêncio e a pausa de forma eficaz, criando momentos de tensão que permitem ao espectador absorver a gravidade da situação. Essa entrega genuína transforma sua atuação em um dos pontos altos do filme, tornando-a memorável e impactante, enquanto sua vulnerabilidade ressoa profundamente com o público.


Sorria 2 se destaca pela expansão inteligente dos temas de seu antecessor, misturando terror sobrenatural com uma crítica afiada à cultura da fama e às pressões psicológicas que acompanham o estrelato. A nova abordagem adiciona uma camada de profundidade à narrativa, ao explorar como o horror se manifesta em um contexto de celebridade, trazendo novos elementos que enriquecem a trama. Ao fazer essa transição, o filme não apenas mantém o suspense e o terror psicológico, mas também amplia a discussão sobre os impactos da fama na saúde mental. Dessa forma, consegue superar seu antecessor ao combinar sustos eficazes com uma crítica social relevante e atual.


Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator em formação e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

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