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quarta-feira, 9 de outubro de 2024

Os Enforcados - Se o Jogo do Bicho fosse uma tragédia de Shakespeare

Os Enforcados | Globo Filmes

Os Enforcados conta a história de um casal, estrelados por Leandra Leal e Irandhir Santos, que está afogado em dívidas e precisam dar um jeito para não perderem toda a casa de luxo que já estava em construção. Para isso, o casal começa a utilizar métodos perigosos que os vão afundando cada vez mais e perdendo a confiança de todos aqueles que estão ao seu lado, sendo os melhores amigos ou os parentes. A direção é de Fernando Coimbra, responsável pelo filme "O Lobo Atrás da Porta".

Necessário enfatizar que a obra não funcionária sem o trabalho de atuação de Leandra Leal e Irandhir Santos, ambos conseguem entregar ainda mais potência à imagem do que a direção de Coimbra já entrega. Mesmo o filme sendo uma releitura de obras como Hamlet e Macbeth, em nenhum momento o filme cai para o lado teatral como muitas vezes acontece quando se aborda elementos vindos de sua origem. Regina, personagem de Leandra Leal, tem um desenvolvimento de personagem em conjunto com todo o resto da obra quase como uma incrível maestra do caos, fazendo o espectador em nenhum momento tendo tempo de respirar e tirar os olhos da tela. 

Além de que Coimbra utiliza a casa dos protagonistas como um personagem a parte. A casa até certo ponto do filme fica parada em sua construção, com as afiações instaladas só até algumas partes e a infiltração nas paredes que são elementos pontuais, elementos que fazem parte do crescer da paranoia de Regina do início ao fim do filme. Até mesmo quando a casa fica completamente pronta, da mesma forma que Regina via em uma revista, entramos na mesma paranoia de Regina em notar que em um local tão limpo, esteja tão lotado de sujeira. 

Os enquadramentos do filme se conectam plenamente com cada sequência na obra, capturando o casal conversando entre uma parede ainda em reforma, pegando eles tomando um rumo para cada corredor em uma mansão imensa, ou até mesmo depois de um tiroteio e Regina fugindo de seu carro com a câmera a capturando pelo canto da janela, quase como o plano de John Wayne saindo pela porta em Rastros de Ódio de John Ford. 

A construção do suspense também consegue atingir seu apogeu com o jogo de desconfiança entre o casal, terminando com o mais puro suco de violência que tem um pouco de referência de Trono Sujo de Sangue do Akira Kurosawa. Onde a única saída que se encontra para tudo aquilo que está entregue em uma sala de estar é a completa aniquilação. Onde nem mesmo o ser mais inocente de todo aquele ambiente consegue fugir do que está por vir.  

Os Enforcados é uma tragédia de Shakespeare no Rio de Janeiro, com interpretações potentes e que fazem parte de uma direção tão forte quanto. Com a mistura de suspense, humor e violência, a obra consegue colocar o espectador em êxtase e querendo sentir mais mesmo o filme entregando tudo aquilo que o espectador está a procura na sala de cinema: Um caos pulsante.  

TEXTO DE ADRIANO JABBOUR.

terça-feira, 17 de setembro de 2024

Sofia Foi - E nunca mais será

 

Sofia Foi | Vitrine Filmes

Antes de mais, vale relembrar que o cinema é uma arte que vive em eterno paradoxo entre a arte expressiva e o meio comercial. E desde sempre parece que são nas obras com menos recursos monetários que se encontram as maiores e mais interessantes cargas de valor artístico e expressão dos autores. A presença do nome do diretor Pedro Geraldo e da protagonista e também roteirista Sofia Tomic em várias outras funções de equipe técnica somada à própria estética visual do filme, que remonta uma aparência do início da era digital, mostra como não são os equipamentos e recursos que fazem um bom filme, e sim as mentes e corações inquietos, e Sofia Foi não falha.

Vencedor do prêmio de Primeiro Filme do Festival Internacional de Cinema de Marseille, vemos a história de Sofia, uma jovem que acaba de ser despejada de seu apartamento e suspende seus estudos para oferecer seus serviços como tatuadora dentro da própria universidade para conseguir sobreviver, enquanto passa pela confusão emocional de um luto decorrente da perda de sua namorada. Ela vaga sem rumo pelo campus da universidade e se permite ser devorada pelas lembranças da sua história de amor que não pôde ter um final, a deixando numa eterna angústia de não saber o que sentir ou o que fazer. O filme apresenta uma relação de reflexo entre as duas meninas, como se com essa morte, Sofia tivesse perdido metade dela mesma, mas não deixando de ser uma personagem verossímil que ri, conversa com seus amigos e sonha quando dorme, pois não resta escolha para os que continuam vivos, a não ser continuar a viver.

Apesar de lento e contemplativo, o filme prende o espectador pela estética e profundidade da personagem, em como ele nos conta essa história de desaparecimento. Desaparecimento de tudo que tem, até o desaparecimento de quem é. Sofia luta para continuar seguindo sua vida, mas a realidade a oprime. O filme relaciona lindamente a relação do espaço com o corpo, que é o que, na forma mais material possível, como a humanidade experiencia a vida e junta a noção de existência e realidade com aquilo que se pode tocar e sentir.

Geraldo se mostra um diretor autor inteligente que domina seu meio para contar a história de Sofia com clareza, sem necessidade de explicação verbal, ou até, em momentos, o uso das falas dos seus personagens para transmitir a ideia contrária do argumento, como num momento pontual onde a protagonista fala com naturalidade sobre o evento da morta da sua namorada para uma cliente durante uma sessão de tatuagem, como se o acontecimento tivesse sido algo mundano e superado, mas a câmera só mostra Sofia da boca para baixo, em close-up, escondendo seus olhos e mascarando seu verdadeiro sentimento.

Outros recursos espetacularmente usados são a falta de movimento de câmera e enquadramento em 3:4 que nos prende junto à Sofia em seu mundo parado e sem perspectiva de avanço, o recurso fotográfico de não produzir a luz, como se faz num cinema mais comercial, mas sim de encontrar a luz, em determinado lugar e em determinado tempo, parra ilustrar a caminhada da personagem de ambientes iluminados, ou seja, alegres e visíveis, para a solidão e tensão do escuro, como também as lentas transições de dissolução, que mesclam momentos de passados e futuro assim como elipses de tempo dentro do próprio decorrer do dia de Sofia, como se ela estivesse não só presa ao seu espaço, mas também presa no tempo, mostrando conhecimento e reflexão sobre a importância da montagem no método de contar a história em forma de filme.

Sofia Foi glorifica a arte do cinema com sua beleza e inteligência narrativa, que nos conecta com nossa vivência de sermos humanos, nessa história que não apenas nos conta, mas claramente nos mostra, a história de um momento em que Sofia foi feliz.

                         
                               Autor:

Henrique Linhales, licenciado em Cinema pela Universidade da Beira Interior - Covilhã, Portugal. Diretor e Roteirista de 6 curta-metragens com seleções e premiações internacionais. Eterno pesquisador e amante do cinema.

 

segunda-feira, 16 de setembro de 2024

Quando Eu Me Encontrar - A Presença da Ausência

Quando eu Me Encontrar | Embaúba Filmes

A partida de Dayane se desenrola na vida daqueles que ela deixou para trás. Sua mãe, Marluce, faz de tudo para não demonstrar o choque que a partida da filha lhe causou. A irmã mais nova de Dayane, Mariana, enfrenta alguns problemas na nova escola onde está estudando. Antônio, noivo de Dayane, se vê num vazio diante da partida dela e busca obsessivamente por respostas.Com base na sinopse, é evidente que o filme se concentra no desaparecimento da personagem Dayane. Enquanto a trama principal a apresenta como um personagem central ausente, o enredo também explora subtramas envolvendo sua irmã, mãe e noivo, oferecendo uma visão abrangente das consequências emocionais desse evento.

Notavelmente, Dayane não aparece no longa-metragem, nem mesmo em flashbacks ou imagens; sua voz é ouvida apenas na cena inicial, o que acentua a sensação de sua ausência. Esta abordagem cria um luto não relacionado à morte, mas à incerteza e ao vazio gerados pela falta de informações sobre o paradeiro de Dayane. A presença ausente de Dayane é constantemente perceptível na vida dos três personagens principais, promovendo uma reflexão profunda sobre o impacto do desaparecimento.

O filme adota o estilo Slice-of-life, conhecido por capturar a vida cotidiana de forma realista, mostrando experiências e emoções dos personagens de maneira íntima, permitindo uma conexão profunda e reflexiva com suas vidas diárias. Não só aproxima o público das experiências dos personagens, mas também destaca a persistência das dificuldades da vida, mesmo diante de uma crise pessoal. A forma como o filme mantém Dayane como uma figura ausente, mas constantemente presente, demonstra uma habilidade narrativa que envolve o espectador emocionalmente com a ausência e suas implicações.

A produção, portanto, não apenas explora a dor do desaparecimento, mas também oferece uma crítica sutil sobre como os indivíduos enfrentam a ausência e a incerteza. Marluce, que trabalha durante o dia em uma lanchonete e vende quitutes à noite, sente-se cada vez mais isolada em seus papéis de mulher, mãe e filha, especialmente após a perda de contato com sua mãe.

Mariana, sua irmã, enfrenta preconceito e exclusão na escola de classe média alta onde estuda. Antônio, vendedor em uma loja de calçados, vê o casamento como uma fuga das dificuldades diárias e guarda com esforço o enxoval em seu pequeno apartamento. O desaparecimento de Dayane provoca uma ruptura ou revela mais claramente as fragilidades em suas vidas.

Quando Eu Me encontrar retrata o luto do desaparecimento, explorando a profunda dor dos personagens, apresentando de forma realista as lutas diárias dos personagens e a persistência das adversidades. Convidando o espectador a refletir  sobre a resiliência humana e a complexidade do luto, oferecendo uma visão íntima e tocante das experiências de perda e superação.


Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator em formação e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

sexta-feira, 13 de setembro de 2024

Ligação Sombria - Um filme precisa mais do que a loucura de Nicolas Cage

Ligação Sombria | Diamond Films

Ligação Sombria conta a história de um motorista que está a caminho de acompanhar sua mulher em um parto, até que aparece um Passageiro com uma arma que o obriga a dirigir até certo lugar, que nem mesmo o motorista sabe qual é. O filme é protagonizado pelo ator Joel Kinnaman e tem o antagonista interpretado pelo famoso Nicolas Cage. Muitos vão comparar o filme com a obra "Colateral" de Michal Mann, mas o filme não chega ao mesmo nível nem no quesito direção, nem em narrativa e nem em interpretação. 

Existe aqui múltiplas tentativas do filme ser diferente em alguma coisa de outros filmes com o mesmo estilo de narrativa, seja no personagem exótico de Nicolas Cage, seja na direção que faz questão em todo plano contrastar bastante a cor azul e vermelha sempre que possível, ou seja na narrativa em botar uma certa reviravolta pois o filme não tinha outro caminho para seguir. Mas mesmo com todas as suas problemáticas, o filme ainda consegue se manter por conta do personagem de Cage.

O Passageiro é um personagem que tem as características que todos buscam em um filme com a participação do Nicolas Cage, sejam suas caretas, seus tiques nervosos com sons e seus exageros, que fazem o filme se diferenciar em suas esquisitices, mas não é algo que mantém a obra como um todo. Por exemplo, a sua motivação de tudo aquilo estar acontecendo faz toda a proposta ir por água abaixo, pelo simples fato de Nicolas Cage fazer um personagem insano em todo o filme. E do nada a narrativa quer dar um porque do que ele está fazendo oque está fazendo com o protagonista na forma mais preguiçosa possível. 

Os diálogos funcionam em pequenos momentos, em outros são compostos de forma bem forçada para enfatizar o lado eufórico do personagem de Cage, fazendo filme balançar em não saber exatamente que tipo de filme o autor quer fazer. Até mesmo nas escolhas da direção fotográfica que vai de planos parados fechados ou em conjunto ao longo de toda a obra, ou tenta algumas sequências com a câmera na mão tentando mostrar mais tensão as vezes de forma pífia. 

Mas o filme, mesmo com todas suas problemáticas listadas, é um filme propriamente ruim? Ligação Sombria é um filme que ainda funciona em entreter com pequenos momentos de tensão e ação ao longo da obra, mesmo sendo momentos muito pontuais. E mesmo com as facilitações entregues pelo roteiro, o filme ainda consegue funcionar na linearidade proposta desde o início da obra. 

Ligação Sombrosa tenta navegar por várias direções, mas se perde em todas elas. Ainda assim, consegue funcionar pela interpretação eufórica de Nicolas Cage, seu trabalho de construção de ambiente(em certos momentos), e nas cenas que envolvem mais violência e ação. Um entretenimento barato, mas funcional. 

TEXTO DE ADRIANO JABBOUR.

Assexybilidade - Um discurso necessário, executado de forma esquecível

Assexybilidade | Globo Filmes
 Assexybilidade é um documentário dirigido pelo Daniel Gonçalves, que é conhecido pelo seu documentário "Eu, Daniel" de 2018. O documentário fala exatamente sobre o seu título, como funciona a sexualidade para as pessoas portadoras de alguma deficiência física, sendo elas físicas ou mentais. O filme vai além e aponta as dificuldades que caminham junto além da deficiência, como questões envolvendo oque seria o "corpo padrão", cor, sexualidade, entre outras questões sociais que os envolvem diariamente. 

O documentário não tenta se aventurar em sua linguagem, o máximo que o Daniel tenta realmente colocar algo além do proposto é com dois entrevistados que também fazem performances artísticas e tem elas filmadas e colocadas no filme, algo que remete até mesmo o documentário "Deus tem Aids" dos diretores Gustavo Vinagre e Fabio Leal, em 2021. O filme começa de forma bem provocante mostrando o ato sexual de uma pessoa com nanismo e uma outra mulher que não parece ser portadora de alguma deficiência, mas com um véu na frente, deixando só as silhuetas falarem por si só. 

Mesmo começando de forma bem provocante e o tema ser um imenso tabu na sociedade branca hétero sexual, o diretor Daniel não provoca o bastante nem seus convidados entrevistados, e muito menos seus espectadores. É quase como se fosse um filme confortável de se assistir, oque não faz sentido, já que a proposta inicial é os espectadores saírem querendo procurar saber mais sobre esse cenário e até constranger os que fazem parte do que chamamos de conservadores. Mas isso não acontece.

O filme segue exatamente oque já é mostrado nos documentários de programas de TV por exemplo, não se aventuram nem mesmo no quesito técnico. A provocação parte mais das performances dos artistas que estão participando do que da própria direção e da produção. Até as perguntas que Daniel faz para os entrevistados são perguntas o tanto óbvias, e não se aprofundam em saber quem são aquelas pessoas que estão ali. 

É como se o filme tivesse uma ausência de humanidade ali, o espectador vai assistir o filme e vai saber que aquelas pessoas são portadoras de deficiência e que tem a sexualidade deles resolvidas, mesmo com tudo que ocorre contra eles. Mas acabando o filme, você não sabe quem são aquelas pessoas além do que é mostrado no filme. É quase como se fosse uma vitrine, que tem muito a contar e não conta nada além do óbvio. 

Assexybilidade é um filme que tem potencial no discurso que se propõe, mas é feito de forma acovardada e rasa, fazendo o espectador sair da sessão da mesma forma que entrou. A obra mostra que mesmo tendo um tema necessário, é necessário muito a mais para ser um documentário necessário. Dar voz àqueles que sofrem qualquer que seja a opressão é uma camada do discurso, é necessário mais. E esse mais foi completamente ignorado pela direção de Daniel Gonçalves. 
 

TEXTO DE ADRIANO JABBOUR.

segunda-feira, 9 de setembro de 2024

A Substância - Hollywood como uma Ouroboros Etarista

A Substância | Imagem Filmes

 Não é novidade a forma que Hollywood trata de forma desprezível as mulheres no meio audiovisual, principalmente as com mais idade. No caso de "A Substância" não só aborda o tema do etarimo dentro do audiovisual, como o método de cirurgias plásticas como uma forma louca de tentar se rejuvenescer de qualquer jeito, mesmo que custe sua vida. O filme tem um trabalho de edição que lembra bastante o estilo hiphop cut que Darren Aronofsky utiliza no filme "Requiem Para um Sonho" dos anos 2000. Muitos cortes rápidos e em close-ups em cenas envolvendo corpo e comida. Sem contar que a direção utiliza de muitos elementos vindos dos anos 80, remetendo até mesmo o body horror de David Cronenberg. 

É necessário apontar que o filme, mesmo tendo um trabalho técnico muito bom, principalmente no quesito maquiagem, é necessário deixarmos a técnica de lado e prestarmos atenção em sua narrativa e em seu discurso. A obra, mesmo com um discurso necessário para os dias atuais, é um filme que tem não apenas a exposição falada, mas a imagética. Por exemplo: Mesmo o filme sendo dirigido por uma mulher, Coralie Fargeat, o filme trata suas personagens femininas da forma mais hipersexualizada possível. Contendo um exagero no número de closes nas genitálias e as colocando nuas sempre que possível de forma que ao mesmo faz sentido, se torna cansativo, pois a obra se concentra em se provar como uma crítica social. 

O filme consegue ter uma boa utilização na metalinguagem trabalhando com as atrizes Demi Moore(que se encontra hoje com 61 anos e com uma carreira já consolidada como atriz) e a atriz Margaret Qualley(que é um dos novos talentos e rostos bonitos de Hollywood), mostrando a facilidade que Hollywood tem em substituir suas atrizes e seus sex symbols em um estalar de dedos. Sem contar que a atuação das duas conseguem se corresponder com a narrativa e a estética proposta. 

Dennis Quaid faz o papel mais estereotipado de dono de emissora machista e nojento que se pode imaginar, e Dennis parece se divertir bastante com isso ao longo da obra, até por conta do fim do filme ser uma boa resposta para oque ele diz à um sócio sentado ao seu lado na apresentação de fim de ano "-Vocês não vão se decepcionar com ela. Eu construí ela.". 

O fim do filme trabalha de forma completamente diferente de todo o resto da obra, adotando a linguagem de filmes de terror trash, sendo na resolução das personagens, como a violência entregue e o próprio trabalho de maquiagem. Uma mistura interessante de body horror com o trash, indo de "A Mosca" de David Cronenberg, até mesmo um pouco do cômico e louco de "Basket Case" de 1982. 

"A Substância" toma muitos caminhos com a utilização da técnica como principal aliada para o filme aterrorizar e entreter o espectador, mas a crítica expositiva em quase todo o filme e a desmedida do tom proposto do meio para o final da obra tornam o filme uma bagunça com várias problemáticas. Mesmo assim, consegue incomodar e ser louco em alguns momentos certeiros que fazem o filme ficar na sua cabeça por um bom tempo. 

TEXTO DE ADRIANO JABBOUR.

terça-feira, 3 de setembro de 2024

Os Fantasmas Ainda se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice - Tim Burton se diverte em homenagear a si mesmo

 

Os Fantasmas Ainda se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice | Warner Bros. Pictures 

Não é nada de novo a necessidade de Hollywood em fazer continuações, reboots e prequels para saciar a sede do público em nostalgia e conseguir conquistar bilheteria de forma prática e fácil. Na maioria das vezes, os filmes conseguem estragar o legado do que a obra original resultou em tal época, mas em certos casos os filmes conseguem entregar algo satisfatório ou até a frente do filme original. Beetlejuice Beetlejuice é uma continuação que se mantém na corda bamba. 

Beetlejuice Beetlejuice é uma sequência que tem a noção de que é uma história que acontece em 2024, mas que não esquece em nenhum momento a essência do filme clássico, oque funciona muito bem aqui. A narrativa não faz questão em simplesmente entregar os personagens da narrativa originária e satisfazer os fãs de forma simplória como muitas sequências fazem, Tim Burton faz questão de construir uma nova narrativa com novos rumos e novos personagens sem parecer em nenhum momento desleixado em sua proposta. 

Até mesmo o personagem Beetlejuice se encontra com novas piadas que funcionam, oque é um mérito não só do Michael Keaton(que é o elemento mais cativante do filme) mas de algumas escolhas certeiras da direção de Tim Burton. Elementos que vão do timing das piadas, até elementos musicais e estéticos. Sem contar que os efeitos práticos, a direção de arte e a maquiagem não servem apenas de utensílio nostálgico, mas conseguem cativar os espectadores de forma muito maior que o próprio filme clássico e tornam o filme um deleite para amantes da estética e dos efeitos dos filmes produzidos na década de 80. 

Então Beetlejuice Beetlejuice é tão bom quanto o primeiro filme? Por pouco o filme consegue isso, mas isso não acontece por algumas escolhas de narrativa e de número de personagens na trama. Para muitos que perceberam antes do filme ser lançado, o número de personagens ficou muito maior do que o filme original. 

William Dafoe como o ator morto Wolf Jackson serve como mais um alívio cômico do que para qualquer coisa para a obra, mesmo tendo sua presença, ele não é necessário ali. Monica Bellucci como Delores, ex-mulher de Beetlejuice, tem um grande potêncial para ser um elemento aterrorizante para Beetlejuice é descartada de qualquer jeito no final junto com o personagem Rory, feito pelo ator Justin Theroux. Rory ajuda a ser um fio condutor na narrativa na relação entre Lydia e Astrid, mas nada além disso, nem mesmo como alívio cômico. 

A jornada de Astrid com o personagem Jeremy consegue ser feita sem parecer algo invasivo na narrativa no geral, e consegue expandir um pouco esse submundo criado por Tim Burton. Além de dar ênfase aos conflitos de mãe e filha e entregar um resultado sem parecer piegas ou preguiçoso como poderia resultar de forma muito parecida com outras obras do próprio diretor. 

"Os Fantasmas Ainda se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice" é um filme divertido que não se esquece de suas raízes e faz questão de abraçar o púbico amante do clássico e uma nova geração, é uma obra que consegue tirar boas risadas do espectador e ainda tem a capacidade de os colocar em imersão estética como o primeiro filme, mesmo se perdendo em seus excessos de caminhos narrativos. 

TEXTO DE ADRIANO JABBOUR.

segunda-feira, 26 de agosto de 2024

Alien: Romulus - O Mundo esta sedento por nostalgia, e a Disney sabe disso

Alien: Romulus | 20th Century Studios


 O último filme da franquia Alien, Alien: Covenant, seguia uma linha diferente de jornada que estava sendo proposta pelo diretor, também responsável por Alien: o 8° Passageiro, Ridley Scott. Por conta de sua própria condução sobre a narrativa e questões de estúdio, o filme foi um fracasso de bilheteria e crítica. Depois de 7 anos, a franquia continua com nova direção e com a linha narrativa voltando para a proposta do primeiro filme de 1979. Mas ai vem a pergunta: Seria isso mais uma apelação nostálgica proposta pela Disney? E seria isso ruim?

Fede Alvarez, diretor responsável por Alien: Romulus, fez questão de fazer o filme utilizando de efeitos práticos invés do CGI, oque não é só uma questão de estética(e que funciona de forma belíssima), mas também uma questão de aplicar o método que já funcionou uma vez, torando o primeiro filme um clássico do terror cósmico. 

Ao fazer essa escolha, além de tornar o filme muito mais aterrorizante em seu resultado final, que consegue, Alvarez faz questão de 2 coisas. A primeira é que ele sabe que necessita resgatar o espectador novo para essa franquia, que mal se lembra dos últimos filmes da franquia, ou nem mesmo assistiu o primeiro filme. A segunda é que, mesmo que muitos reclamem disso, a Disney sabe que a nostalgia vende. E mesmo que exista gente contra essa forma de produzir, os números em ingressos favorecem essa linha de produção que a Disney tem seguido, mesmo em muitos casos com pouquíssima qualidade. 

Mas aqui, Disney com parceria do diretor, conseguiu o resultado que tanto visavam. Alien: Romulus não é só uma recapitulação do primeiro filme, mas uma nova experiência que consegue agradar ambos os públicos. Tendo muito pouco CGI, e muito mais focado na ideia do terror claustrofóbico como o primeiro filme, Alien: Romulus consegue ser agonizante e acompanhado de um ótimo trabalho técnico, com atuações bastante maduras(sem contar o bom trabalho de criação dos personagens).

Mesmo com toda a técnica e com a linearidade do roteiro, mais as atuações, é capaz de dizer que é um filme bom? Para aqueles que buscam a mais pura nostalgia e até a mesma experiência que é proposta no primeiro filme, chega a ser o melhor filme da saga depois de Alien: o 8° Passageiro. Mas para aqueles que buscavam um novo rumo da franquia, sem o mais do mesmo, Alien: Romulus continua sendo só mais um filme qualquer da franquia Alien. 

Mesmo com o final do filme mostrando um dos sibiontes mais aterrorizantes de toda a franquia, o filme segue a forma quase idêntica do primeiro, e isso afeta muito a experiência do espectador que buscava uma forma diferente de sentir medo ou assombro na narrativa da franquia Alien que pouco se reinventa e, quando se reinventa, acaba entregando um resultado que divide o público e afeta a sua continuação, como o caso de Prometheus e Alien: Covenant. 

É importante enfatizar a influência do jogo Alien: Isolation nessa obra de Alvares, que foi uma ótima base para esse filme, que tem uma ótima condução de tensão e ansiedade em boa parte da narrativa. Sem contar que o trabalho de atuação de David Jonsson como Andy, o androide irmão de Rain( atuação de Cailee Spaeny), consegue ser o ponto chave do filme. Onde o personagem robô, passa a ser aquele que em muitos momentos durante a narrativa tem a empatia do espectador como se fosse mais humano do que os outros personagens(que são todos humanos). Sua dualidade ao longo da narrativa e sua jornada é justa, além de faer o espectador sempre torcer por sua vitória, até mais do que a protagonista Rain. 

O trabalho de CGI quando utilizado, também é muito bem executado. Tem uma cena em que é trabalhado o sangue acido dos xenomorphos junto com a ausência de gravidade que é uma das sequências mais belas do filme. O mesmo se fala do trabalho de som, que mesmo na sua ausência, funciona como uma camada importante de imersão do espectador dentro da nave completamente infectada por essas criaturas. 

Alien: Romulus tem uma direção madura e exemplar de um grande fã da franquia Alien, um trabalho técnico que comprova a sua efetividade acima do excesso de CGI utilizado ultimamente em Hollywood, com um bom trabalho de jornada dos personagens, mais atuações sérias e que fazem jus ao roteiro entregue. Mas, não acrescenta nada muito além do que já se sabe do mundo da franquia e continua tão esquecível como outros filmes da franquia. 

TEXTO DE ADRIANO JABBOUR.

quinta-feira, 22 de agosto de 2024

Long Legs: Vínculo Mortal - O Diabo está nas entrelinhas

Long Legs: Vínculo Mortal | Diamond Films
 
"Long Legs: Vínculo Mortal" conta a história de uma agente do FBI que começa a investigar assassinatos de famílias causados por um serial killer chamado Long Legs. Porém a agente Lee Harker começa a perceber que os casos envolvem elementos que vão muito além da compreensão humana, envolvendo até ela mesma. A direção e o roteiro foram feitos por Oz Perkins, tendo Nicolas Cage como Long Legs e Maika Monroe como agente Lee Harker.

A obra carrega um conjunto de referências principalmente ligadas ao terror europeu, trabalhando a ideia de um terror com uma atmosfera mórbida e esbranquiçada, além de ter um trabalho de som que consegue colocar o espectador em uma imersão sensorial, em conjunto com o trabalho de luz do filme, de forma efetiva. Transformando aquele espaço, mesmo quando não tem violência presente, em algo apático e vazio, quase como se fosse um limbo. 

Claro que é necessário apontar a efetividade dentro do trabalho de decupagem em conjunto com a montagem que conseguem entregar o ritmo certeiro para oque é proposto pela narrativa. Uma narrativa que parece se propor à quase que um thriller, mas na verdade foca em ser um filme de terror sobrenatural. Sendo esse um dos pontos que conseguem fisgar o espectador para a tela em querer saber qual que é o verdadeiro "mal" nessa história.

A direção de arte do filme em conjunto com o trabalho de iluminação dão a camada essencial que conecta ao roteiro onde quer propor que o "Mal" humano não funciona sozinho, esse "mal" é contagioso e pode parecer macabro em alguns momentos, mas pode aparecer como uma simples moça querendo dar um presente da igreja para alguém. O terror não está no sobrenatural em si, mas na sua presença quando ele sempre acontece. 

A forma que Perkins conduz a escolha dos planos com a narrativa é a principal chave que faz o filme funcionar. Ao mesmo tempo que os primeiros planos, os closes e os planos sequência em cima da agente Harker faz a gente entender que esse "Mal" está cercando ela em todo lugar, os planos gerais mostrando na maior parte do tempo a protagonista se locomovendo de carro pelas ruas e os bairros onde tudo ocorre faz o espectador se questionar sobre a frase que a Mãe da personagem protagonista fala durante uma ligação com a filha "- Você tem orado? Sabe que a oração nos protege dos demônios". Mas o espectador logo na introdução do filme consegue ver a contradição, não existe sinal de "Deus" naquele lugar. 

Necessário apontar o ótimo trabalho de atuação do Nicolas Cage como Long Legs e a evolução na atuação da atriz Maika Monroe que já é conhecida desde seu trabalho em A Corrente do Mal, de 2014. O trabalho de ambos no filme, mesmo sendo completamente antagônicos, conseguem trazer seriedade e perturbação sempre quando necessários, principalmente em Cage nos momentos que Long Legs dá pequenos surtos ao longo da narrativa em momentos pontuais. Picos emocionais que dão mais medo desse serial killer do que simplesmente algo gratuito. 

Long Legs: Vínculo Mortal não foca em ser um terror mostrando sanguinolência ou jumpscares de demônios e fantasmas aparecendo, é um terror sobrenatural que faz questão de lembrar que o "Mal" não funciona sem a humanidade. Não é o demônio que mata, mas aqueles que estão caminhando pelas calçadas, as vezes parecendo um louco completamente distorcido, um policial, ou uma enfermeira. O "Mal" se encontra nas entrelinhas, que estão escritas até mesmo nas nossas histórias. Histórias que as vezes só esquecemos, ou fazemos questão de esquecer. 

terça-feira, 20 de agosto de 2024

Estômago 2: O Poderoso Chefe - Sustenta o espectador, mesmo com falta de Tempero

 

Estômago 2: O Poderoso Chefe | Paris Filmes

No primeiro filme, existia uma criação de atmosfera e de tensão sobre a jornada do personagem protagonista, Raimundo Donato, na qual o espectador se encontrava imerso esperando saber o que o personagem fez para acabar preso. Quando a narrativa do primeiro acaba, todos ficam surpresos e perplexos pelo que foi entregue. Não só pela jornada do personagem, mas em ver um lado dele que ninguém esperava. A beleza do protagonista, se encontrava nessa ideia de um talento inesperado, pronto para qualquer coisa que ficasse a sua frente e a frente de sua comida. 

Então a jornada de Raimundo Donato, conhecido como Alecrim, continua dentro da prisão como cozinheiro de todos aqueles que fazem a prisão funcionar. Sendo cozinheiro do chefe da prisão, até mesmo dos carcereiros e do criminoso mais conhecido da área, "Etc". Até o momento que aparece um Mafioso Italiano dentro da cadeia e existe uma disputa entre seu líder e "Etc" para medir forças dentro do lugar. 

E então começa aquela que deveria ser a jornada do nosso cozinheiro louco dentro da cadeia tentando sobreviver nesse conflito. Mas Marcos Jorge decide tomar uma direção completamente diferente nessa obra, oque pode causar um certo desapontamento com os fãs do personagem Raimundo Donato. O roteiro utiliza de Raimundo como apenas uma âncora para o desenvolver de uma história relativamente parecida com a do primeiro filme, mas sendo a jornada do líder da máfia. Seguindo a estrutura quase idêntica à do primeiro filme:

Um amor louco, um recomeço de vida, o crime, toda estrutura segue quase idêntica, com algumas mudanças pontuais e se sustentando com aquilo que fica na dúvida em ser uma sátira ou apenas a utilização mal aplicada do estereótipo italiano mafioso. A ideia consegue se manter até o momento em que existe um desejo em ver mais do Raimundo, que é apenas um elemento de disputa no meio da cadeia entre o líder da máfia e o "Etc". 

Além das problemáticas narrativas, o filme tenta forçar uma intimidade nos diálogos da mesma forma que o primeiro mas sem sutileza. Com utilização de palavrões em quase todos os diálogos e o caricato dentro do diálogo misturado de italiano com português. Marco Jorge tenta se reinventar em uma formula já aplicada mas acaba criando uma narrativa que não acrescenta em nada ao protagonista, que aqui se encontra como coadjuvante. 

É necessário falar que o filme se auto censura sempre que pode, sendo na violência e até nas cenas de sexo. É como se a direção quisesse colocar o filme com o mesmo tom do primeiro, mas sem a mesma coragem. Ou como uma tentativa de Marcos Jorge em tornar um Estômago uma jornada que seja cômica para toda família, oque não faz jus ao primeiro capítulo da história de Raimundo. 

Estômago 2 tenta satirizar os filmes de máfia, mas falha; não existe desenvolvimento do protagonista Raimundo dentro da narrativa proposta; A estética suja e mais realista do primeiro aqui é deixada completamente de lado, e a apresentação para um novo personagem entra de forma pouco orgânica. Mesmo com suas várias problemáticas, o filme ainda consegue divertir o espectador em poucos diálogos e em algumas cenas de violência mais gráfica. O que antes era um prato tão saboroso, se tornou um simples fast food.

TEXTO DE ADRIANO JABBOUR.

Sting: Aranha Assassina - Quando o Terror Se Perde em Tentativas de Humor e Drama Familiar

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