segunda-feira, 7 de outubro de 2024

Mambembe - Cinema e Circo de Mãos dadas no caos Tropical

Mambembe | Fabio Meira

Mambembe conta a tentativa do diretor Fabio Meira em fazer um longa metragem de ficção a ver com a temática circense, mostrando em paralelo os desafios de conseguir fazer um filme com a vida dura daqueles que vivem como artistas de circo. O filme mostra em seus primeiro minutos a proposta de misturar a ficção com a linguagem documental, além de mostrar que o projeto pensado de início não ser concluído como o diretor visava.

O diretor faz questão de mostrar os artistas circenses de forma honesta, tentando seguir o mesmo estilo de filmagem dos personagens não fictícios como Eduardo Coutinho tinha costume de fazer em seus filmes: conversas fora da formalidade e buscando saber sobre a vida daqueles que estão ali em frente à câmera. É o ponto do filme que mais prende a atenção dos espectadores pela forma cativante que cada personagem é e pelas trajetórias de vida que vão de aceitação da própria sexualidade, à traição entre outros tópicos sociais.

Outro ponto que faz o filme ter uma camada sentimental a mais abordando pontos metalinguísticos cinematográficos é o diretor mostrando as circunstâncias que fez o filme não ser concluído da forma que ele queria, mas jamais cogitando a ideia de fazer aquilo que foi filmado desaparecesse. Para quem vive no meio técnico de fazer cinema entende perfeitamente o sentimento de Moreira em fazer esse filme que mescla realidade e ficção. 

Um ponto cômico do filme, que chega a ser irônico(além do humor entre os personagens presentes) é Fabio contando qual seria a história do filme, e a vida real dos personagens serem todas melhores do que a que ele mesmo estava propondo desde o início. Sem contar a fala de uma das donas de um dos circos que aparecem responder a pergunta de Fabio da seguinte maneira:

"-Para você oque não pode faltar em um filme de circo?"

"-Alguém que realmente é do circo sendo responsável pelo filme."

A fala da personagem que soa quase como uma faca no peito do próprio diretor mostra o quão real é a ideia de que a Verdade dentro do cinema nunca vai acontecer. Nessa resposta ela fala algo que muitos artistas entendem perfeitamente. É uma paixão e um estilo de vida que só quem faz parte é capaz de entender e contar. Fabio ao ouvir isso se mostra incomodado por trás das câmeras com a mudança de seu tom de voz mostrando insegurança, mas que não afeta a obra em nenhum sentido ligado à esse tópico. 

Claro que tal ideia de "lugar de fala" sobre o filme não significa que se caso o diretor responsável fosse circense faria um filme melhor. Até pelo fato de que estar no mesmo lugar não é saber se comunicar em formato audiovisual, que é a camada mais crucial para o filme acontecer. Mas conseguiu em um pequeno espaço de tempo causar uma provocação à cineastas e ao próprio diretor, mostrando a coragem da direção de mostrar que o diretor está disposto em se mostrar como só mais um personagem comum no filme, assim como todos seus personagens. 

Mas percebe-se também que muitos personagens reais apresentados foram colocados de forma deslocada e perdida em comparação com o Circo protagonista e os personagens que fazem parte do lado fictício. Alguns desses personagens não aparecem mais de 2 minutos no filme, e o diretor os coloca no filme sem saber como colocá-los. Soando quase como uma tentativa de fazer o longa ter mais tempo, resultando em algo pouco pensado e sendo um dos poucos problemas do filme.

Mambembe consegue seduzir e abraçar os amantes circenses e cineastas, mesmo com suas problemáticas ligadas a montagens e certas sequências mal elaboradas. Uma obra que consegue satisfazer seu espectador principalmente pela honestidade existente na conversa entre filme e espectador.  

TEXTO DE ADRIANO JABBOUR.

domingo, 6 de outubro de 2024

O Quarto ao Lado - Encontros e Despedidas

O Quarto ao Lado | Warner Bros. Pictures


Ingrid (Julianne Moore) e Martha (Tilda Swinton) eram amigas muito próximas durante a juventude, quando trabalhavam juntas na mesma revista. Enquanto Ingrid tornou-se escritora, Martha seguiu carreira como repórter de guerra e as circunstâncias da vida as separaram. Após anos sem contato, elas se reencontram em uma situação extrema, porém estranhamente doce.

A direção é do diretor espanhol Pedro Almodóvar que frequentemente aborda temas como identidade, sexualidade, amor e relações familiares. Seus filmes costumam apresentar personagens complexos e multifacetados, muitas vezes explorando a experiência feminina e questões LGBTQ+. Aqui envolve a relação entre a Ingrid e Martha, onde a presença de Ingrid como amiga íntima que observa e tenta mediar o conflito é uma temática que Almodóvar frequentemente aborda. Ele retrata a solidariedade e os desafios nas relações entre mulheres, mostrando como essas conexões podem ser profundas e complicadas.


A amizade entre as duas personagens cativa o público, pois é facilmente identificável, uma vez que muitas pessoas já passaram por situações em que, após um longo período sem contato, voltam a se comunicar com um amigo ou amiga. Além disso, o fato de Martha estar morrendo torna-se doloroso de assistir, pois, desde o início, o espectador não se sente preparado para ver a personagem partir, mesmo que ela já tenha aceitado a morte. A fragilidade da vida e a inevitabilidade da morte criam um pano de fundo intenso que torna a reconexão das duas ainda mais significativa. Assim, o filme não apenas explora o tema da amizade, mas também provoca uma profunda reflexão sobre como valorizamos nossos laços afetivos e a necessidade de resolver pendências emocionais antes que seja tarde demais. Essa profundidade emocional é o que torna a história tão ressonante e impactante para o público.


Os momentos cômicos nos filmes de Almodóvar são caracterizados pelo sarcasmo, uma de suas marcas registradas que contribui para o tom único de suas obras. Por exemplo, há uma cena em que as personagens estão em uma livraria, e Martha, que está prestes a morrer, menciona que não terá tempo de concluir o livro que viu na loja. O humor ácido e a leveza com que Almodóvar aborda temas pesados permitem que o público encontre alívio em meio à dor, criando um espaço onde a comédia e o drama coexistem.


Ao utilizar o sarcasmo, ele não apenas proporciona risadas, mas também provoca reflexões sobre a condição humana, mostrando como o riso pode ser uma forma de resistência diante da tragédia. Essa habilidade de transitar entre o cômico e o trágico torna suas obras profundamente ressonantes, capturando a complexidade das emoções humanas de maneira singular. Portanto, cada momento humorístico, mesmo que envolva uma realidade sombria, contribui para um entendimento mais profundo dos personagens e de suas lutas, enriquecendo a experiência do espectador.


O filme é baseado no livro O que você está enfrentando, que narra a história de uma mulher que acolhe relatos de pessoas enfrentando dificuldades, enquanto lida com o pedido inusitado de uma amiga com câncer terminal. Juntas, elas encaram a morte com racionalidade e humor. Embora eu não tenha lido o livro, ao analisar sua sinopse, percebi semelhanças com o longa-metragem. Ambas as obras exploram temas universais de amizade, conflito e reconciliação.


O Quarto ao Lado destaca a importância das conexões humanas em tempos difíceis, desafiando o público a refletir sobre suas próprias relações e a maneira como enfrentam os desafios da vida. Almodóvar também nos lembra que, mesmo diante da dor e da perda, o amor e a solidariedade podem florescer, oferecendo conforto e esperança.

Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator em formação e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

sexta-feira, 4 de outubro de 2024

Coringa - Uma Análise Profunda da Mente Humana e da Sociedade

Coringa | Warner Bros. Pictures

Isolado, intimidado e desconsiderado pela sociedade, o fracassado comediante Arthur Fleck inicia seu caminho como uma mente criminosa após assassinar três homens em pleno metrô. Sua ação inicia um movimento popular contra a elite de Gotham City, da qual Thomas Wayne é seu maior representante.


A direção é de Todd Phillips, conhecido por comédias como a trilogia Se Beber, Não Case e Caindo na Estrada. No entanto, o diretor toma um rumo completamente diferente ao trabalhar com o vilão mais icônico da DC Comics e da cultura pop, o Coringa. O filme não adapta uma história em quadrinhos específica, mas cria uma narrativa inédita para o personagem.


Fugindo do convencional dos filmes de super-heróis, o longa adota um estilo de drama psicológico com elementos de thriller. Curiosamente, atraiu um público que talvez não se interessasse por obras desse gênero, mas foi ver Coringa devido ao apelo do personagem. Em seu ano de lançamento, tornou-se o filme para maiores de idade de maior bilheteria, superando Deadpool 2, lançado no ano anterior. Não critico os espectadores que foram atraídos pela popularidade do personagem, apenas apresento os fatos.


O longa explora a trajetória de um homem com transtornos mentais que, aos poucos, se transforma em um palhaço assassino. É impossível não traçar paralelos com Taxi Driver, de Martin Scorsese. Ambos os filmes apresentam protagonistas solitários e marginalizados pela sociedade, que enfrentam dificuldades em estabelecer conexões humanas, o que os leva a uma espiral de violência. As obras também abordam temas como desigualdade, corrupção e abandono social. Em Taxi Driver, Nova York é retratada como uma cidade decadente, assim como Gotham em Coringa, onde crime e injustiça são predominantes.


Tanto Arthur quanto Travis, o protagonista de Taxi Driver, lutam contra doenças mentais, agravadas pelas circunstâncias ao seu redor, e são construídos de modo a provocar, ao mesmo tempo, empatia e desconforto no público, à medida que se tornam mais violentos. A violência, em ambos os casos, representa o ápice de suas frustrações e desespero. Travis tenta "purificar" a cidade em um acesso de raiva, enquanto Arthur encontra sua verdadeira identidade como Coringa após um ato violento no metrô. Além disso, a presença de Robert De Niro, que interpretou Travis e agora atua como o apresentador Murray Franklin em Coringa, reforça ainda mais a conexão entre as duas obras. Essas semelhanças evidenciam como o longa se inspira na obra de Martin Scorsese, reinterpretando temas clássicos de alienação e violência urbana.


Para os fãs do Batman, o filme traz alguns nomes familiares da mitologia do Cavaleiro das Trevas, além do próprio Coringa, que é o protagonista. Entre eles, estão Thomas Wayne e o jovem Bruce Wayne. Não é necessário conhecer as histórias do Batman para apreciar o filme, mas essas referências certamente são um deleite para os fãs da franquia.


Joaquin Phoenix se destacou em Coringa com uma atuação excepcional, marcada por uma impressionante transformação física e emocional. A perda de peso não apenas alterou sua aparência, mas também intensificou a fragilidade e vulnerabilidade de Arthur Fleck. Phoenix entregou uma performance complexa, equilibrando a dor e a solidão do personagem com explosões de violência. A risada, uma condição incontrolável que reflete seu sofrimento, tornou-se um traço marcante. Sua atuação, merecidamente premiada com o Oscar de Melhor Ator em 2020, é considerada uma das melhores de sua carreira.


Coringa vai além de um típico filme de super-herói, oferecendo uma análise profunda sobre a saúde mental e as questões sociais que envolvem seu protagonista. Com uma direção ousada de Todd Phillips e uma atuação impecável de Joaquin Phoenix, o filme se destaca pela sua complexidade e pelo impacto psicológico que causa. Em breve, o público poderá conferir a sequência nos cinemas.


Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator em formação e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

quinta-feira, 3 de outubro de 2024

Nazarín - A ingenuidade eclesiástica.

 

Nazarin | Películas Nacionales


Obra que gerou rebuliço entre a alta classe religiosa mundial, mas ironicamente não com discussões, ameaças e falsas acusações ao autor diretor Luís Buñuel, como ele já estava acostumado, mas por uma interpretação equivocada de que o filme teria sido sua tentativa de reconciliação com o tema. Engano esse pois talvez Nazarín tenha sido o trabalho mais crítico à religiosidade que o diretor espanhol já tenha feito, mas dessa vez de forma discreta.

O filme recebeu o grande prêmio internacional de Cannes, que foi inaugurado especialmente em decorrência da exibição desse filme. O texto é uma adaptação do romance homônimo escrito por Benito Pérez Galdós, com algumas adições de referências externas, como “Diálogo entre um padre e um moribundo”, de Marquês de Sade – em uma cena específica, onde uma mulher doente à beira da morte, recusa Deus e chama por seu marido - mais inspirações vindas da própria mente política e adepta do movimento surrealista de Buñuel.

O filme nos introduz o protagonista, padre Nazário, interpretado por Francisco Rabal, como sendo um suposto símbolo de bondade e altruísmo. Ele mora em um albergue extremamente pobre, a ponto de seus vizinhos de porta serem incapazes até de cometer suicídio, pois as vigas de madeira das casas estão podres e se partem com a mais simples pressão, momento que nos lembra também que nenhum filme de Buñuel fica sem um ou dois momentos de humor ácido, característica recorrente de suas obras. 

A trama avança quando uma de suas vizinhas, uma prostituta, comete assassinato e pede santuário para o padre, que, é claro, a acolhe. As autoridades passam a procurá-lo e ele é forçado a partir em uma peregrinação, onde perde cada vez mais, tanto seus poucos bens, pois os dá a quem precisa, quanto sua própria moral. O encontram e passam e segui-lo duas ex-moradoras do mesmo albergue, a própria assassina que causou seu exílio, e a moça depressiva que tentou o suicídio. Quanto mais tempo elas passam com ele, mais se tornam religiosas, supersticiosas e devotas a Nazário, que por sua vez, mesmo sendo um clérigo, tenta as convencer de que a fé delas é tolice.

Em contraponto com suas seguidoras, as autoridades e figuras clericais que encontra pelo caminho o perseguem, criticam e lincham, criando assim um microcosmo da história do próprio Jesus Cristo, motivo esse, talvez, que fez a elite eclesiástica acreditar que o filme fora feito para eles, quando na verdade Buñuel retrata a essa mesma elite como hipócrita, duvidando até da legitimidade dos valores religiosos da missão pessoal de Nazário. 

Não só humilhado por seus iguais, o padre também é afastado pelos desfavorecidos que encontra, sejam trabalhadores do campo ou aldeões doentes, que ironicamente se apresentam como pessoas crentes e devotas, onde apesar de serem adeptas a dogmas que pregam os cuidados entre uns aos outros, suspeitam das intenções por trás das ações de Nazário, que no decorrer de tanta hipocrisia, passa a desacreditar gradualmente de sua própria moral, elemento transmitido não de maneira mastigada pelo texto em si, mas pela irrepreensível atuação de Rabal.

Buñuel termina seu filme com um ponto final, como um discurso incontestado. A obra final, claramente inspirada pela relação entre religiosidade cega e extrema pobreza, muito comum em países das Américas como o México, onde foi filmado, afirma que às vezes a mais cética das pessoas são capazes de compreender e praticar melhor os ensinamentos e valores defendidos pelo cristianismo, em oposição àqueles que se colocam dentro da sociedade como ícones dessa fé de humildade enquanto escalam a posições de soberba, hipócritas e ingênuos os suficiente para não reconhecerem nem uma alfinetada dada nos próprios olhos.


Autor:


Henrique Linhales, licenciado em Cinema pela Universidade da Beira Interior - Covilhã, Portugal. Diretor e Roteirista de 6 curta-metragens com seleções e premiações internacionais. Eterno pesquisador e amante do cinema.

Emilia Pérez - México necessita cantar

Emilia Pérez | Pathé

Emilia Pérez conta a jornada da advogada Rita, que é contratada para resolver os trâmites de uma cirurgia de mudança de sexo de um traficante conhecido no México. Porém, depois de quatro anos, a advogada Rita volta a se encontrar com a não mais traficante, com seu novo nome, Emilia Perez. Emilia pede a Rita para trazer de volta sua família, refugiada na Suécia, para todos viverem juntos no México de novo, mas as coisas não saem como planejado. 

A obra faz questão de mostrar o cenário conturbado de violência que México vive por conta do tráfico de drogas e pelas questões políticas logo na primeira sequência. Necessário apontar que o filme não se envergonha em se assumir um musical logo de cara, com Zoe Saldaña cantando e dançando coreografias bem dirigidas, mostrando sem delongas a insatisfação que a personagem tem sobre sua vida e sobre a situação a sua volta. 

A atuação das três personagens principais (Rita, Emilia Pérez e Jess) conseguem transmitir nas entrelinhas o caos interno que vive o México. A incerteza de como vai ser o futuro, a mentira tendo que existir para se ter paz, os homens como meros piões bobos de algo muito maior do que eles. A obra é fantasiosa como um musical, mas que grita verdades de um México ocultado por um cenário hipócrita e sujo. Mas, mesmo com ótimas atuações de suas protagonistas, e com um conjunto técnico que consegue dançar com todo o resto, o filme se tora bem sucedido por completo?

A direção faz questão em fazer coreografias muito bem conectadas pela condução das câmeras e pela montagem, oque faz o filme manter um ritmo ágil, mas não frenético. Mesmo com o quesito técnico sendo bem efetivo no que entrega ao filme e como se conecta a narrativa, a própria em certo momento não sabe como seguir em frente. Principalmente com a personagem Jess, interpretada pela Selena Gomez, que conduz os principais conflitos do filme, mas ao mesmo tempo faz a obra se perder no tom proposto até metade do filme.

Sem contar que a obra também sofre as consequências do tempo em que o cinema vive, onde tudo é necessário ter explicação em seus mínimos detalhes. Mesmo com ótimas coreografias e músicas compostas de forma madura, muitas das músicas servem apenas para enfatizar mais o óbvio do que é jogado na cara do espectador durante as duas horas de filme. Oque em certo momento começa a incomodar profundamente e a causar desinteresse pelo que acontece durante a narrativa para o espectador. 

Ao mesmo tempo que a obra mostra várias facetas de um México muito pouco falado, o seu discurso vai perdendo potência pela falta de confiança sobre a capacidade de entendimento do espectador e com um novo caminho de condução narrativa que faz a obra se distanciar quase por completo do que foi entregue até metade do filme. Mesmo a obra entregando protagonistas tão potentes, a direção faz com que o fim da jornada delas se torne pouco pra grandiosidade que elas eram em suas raízes na história. 

Emilia Pérez é um espetáculo musical que representa toda a América Latina, mas que tem um maestro que não está a altura de todos os músicos ali presentes. 

TEXTO DE ADRIANO JABBOUR.

quarta-feira, 2 de outubro de 2024

Ato Final - A obsessão é vermelha

Ato Final | Connoisseur Films


Deep End (1970), dirigido por Jerzy Skolimowski, retrata de forma intensa a complexidade das relações humanas, a transição da adolescência para vida adulta, a sexualidade, etc. Tudo isso, a partir de Michael e seu local de trabalho, onde com o passar do tempo se sente mais e mais obcecado por Susan, sua parceira de trabalho.

O protagonista se sente cada vez mais consumido pelo desejo sexual por sua colega, e dessa forma vemos seu amadurecimento, e o virar de chave para sua sexualidade, e a partir desse desejo de Michael, Skolimowski retrata os desejos primitivos do ser humano e a forma com que lidamos com eles. Michael, por sua vez, se sente no direito de sua colega, em certos momentos invadindo claramente seu espaço pessoal, assim vemos a Psicopatia de Michael escalar.

As cores, por muitas vezes são utilizadas como um espelho para as emoções de personagens, nesse caso, o vermelho é utilizado como reflexo das emoções dos personagens. Quando as emoções naquele recinto chegam em seu ápice, sendo a obsessão de Michael, a raiva da secretaria, o descontentamento de Susan etc, as paredes são pintadas de vermelho.

O close-up é uma técnica “simples”, mas que quando utilizada tem intenção de nos colocar mais próximos dos personagens, de forma com que possamos sentir suas emoções mais veemente, Jerzy Skolimowski faz uso de algo parecido, deixando sempre a câmera muito próxima dos personagens, nos deixando de alguma forma, mais conectados com suas emoções, causando de certa forma, uma empatia inconsciente.

Todo enredo e emoções de Michael, nos levam até a cena final, o clímax, não só do filme, mas de suas emoções, naquele momento seu corpo já não era capaz de reter aqueles sentimentos, é então onde vemos o vermelho derramado lentamente sobre a piscina, como se ali Michael tivesse expelido todo seu ódio, tesão e ciúmes.

O protagonista vive uma profunda sensação de alienação, se sentindo muitas vezes desconectado não só do seu redor, mas dos seus próprios sentimentos. Michael busca desesperadamente por intimidade, e dessa forma Jerzy Skolimowski evidência a pressão social em adolescentes, e seus efeitos. Esse estado de isolamento do personagem é intensificado por constantes ambientes claustrofóbicos e uma narrativa mais “desorientada”.


Autor:


Me chamo Gabriel Zagallo, tenho 18 anos, atualmente estou cursando o 3º ano do ensino médio e tenho o sonho de me tornar jornalista, sou apaixonado por cinema e desejo me especializar nisso. Meus filmes favoritos são Stalker, Johnny Guitar, Paixão e Rio, 40 graus.

terça-feira, 1 de outubro de 2024

Coringa: Delírio a Dois - O Palhaço se afogando em sua própria loucura

Coringa: Delírio a Dois | WarnerBros. Pictures


Coringa: Delírio a Dois é a continuação do primeiro filme, lançado em 2019, contando a história de Arthur Fleck. Um comediante frustrado e que passou por uma sequência de abusos psicológicos e sexuais por sua mãe e ex companheiros, até o momento em que ele perde a cabeça e se transforma no símbolo do caos da cidade de Gotham. No segundo filme, conta a continuação de sua história 2 anos depois dos acontecimentos, tendo agora a personagem Lee, interpretada por Lady Gaga, que se torna sua parceira em suas loucuras enquanto acontece seu julgamento. 

O filme não tenta se distanciar esteticamente do primeiro filme, mesmo com as cenas musicais, a direção não tenta se desvincular completamente do que foi proposto na primeira obra. É necessário confirmar que o filme é realmente um musical, e essa escolha de narrativa em certos momentos faz certas conexões plausíveis a ver com o protagonista e todo seu contexto envolta. Porém, o filme se perde bastante em tentar desenvolver o protagonista que já conhecemos do primeiro filme.

Enquanto o primeiro filme faz uma conexão direta à clássicos como "Taxi Driver" e "O Rei da Comédia", ambos do diretor Martin Scorsese, o segundo continua com essa conexão no sentido estético, mas também se baseia no cinema americano musical dos anos 50 e 60, misturando com drama de tribunal. O resultado é como se Todd Phillips estivesse tentando se provar como um bom diretor em todas essas linguagens. Mas o espectador não está interessado em saber do que o diretor é capaz, e sim sobre oque vai ser do palhaço que começou o caos pulsante em Gotham. 

Joaquin Phoenix continua mostrando um bom trabalho, mas fica parado no mesmo Arthur Fleck do primeiro filme, seu desenvolvimento aqui se mostra pífio e sem caminhar para lugar algum. Enquanto Lee, interpretada pela Lady Gaga, é um dos pontos mais chamativos do filme. Não só pelo seu talento como cantora, mas sendo uma Arlequina diferente da proposta de ser uma figura como a das antigas animações e história em quadrinhos que mostram ela completamente obcecada e escrava do Coringa. Temos uma figura aqui tão caótica quanto o próprio Arthur Fleck e os outros coringas já mostrados em outros filmes. 

O filme tem muito menos violência do que o primeiro, pois Todd Phillips faz questão em mostrar que está mais interessado em dirigir os pensamentos do Coringa do que realmente acontece envolta dele. E a trilha sonora consegue se manter da mesma qualidade do primeiro filme, fazendo o espectador desejar muito mais ouvir a trilha de Hildur Guonadóttir do que os musicais propostos ao longo da narrativa. 

É necessário apontar o quão o primeiro filme faz críticas árduas sobre a falta de estrutura e investimento nas áreas ligadas à saúde mental nas grandes metrópoles, e como o segundo filme deixa isso completamente de lado. A potência do primeiro filme também era a de mostrar como o submundo dos Estados Unidos pode ser uma imensa fábrica de caos que se mantém quieta até um mártir aparecer. O segundo filme elabora isso apenas em seus últimos minutos, e de forma completamente desinteressada pela direção executada.  

Coringa: Delírio a Dois é uma continuação que se perde na própria loucura de Arthur Fleck, onde poderia ter adicionado muito mais camadas à história do rei do caos de Gotham, mas acaba sendo uma obra que não complementa oque foi apresentado no primeiro filme e coloca nosso protagonista de escanteio de uma forma amadora e desleixada. 

TEXTO DE ADRIANO JABBOUR.

Sting: Aranha Assassina - Quando o Terror Se Perde em Tentativas de Humor e Drama Familiar

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