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segunda-feira, 21 de julho de 2025

A Melhor Mãe do Mundo - O Sofrimento Periférico como Propaganda de Margarina

A Melhor Mãe do Mundo | Galeria Distribuidora

Em A Melhor Mãe do Mundo se encontra a prática batida de narrativa que já prevalece no cinema nas últimas duas décadas. Não que seja um problema abordar no cinema questões envolvendo maternidade, pobreza, relacionamento tóxico, violência contra mulher, são temas de extrema importância que devem aparecer nas telas do cinema e que sejam trazidas para debate. Mas algo que já tem acontecido na crítica e no cenário audiovisual desde os anos 90, é trabalhar a ideia de filme como uma matemática simples: se o filme tem temas sociais explícitos, logo ele é bom.

Como assim? A que ponto reduzimos cinema a algo tão raso e tão limitado a ponto de qualquer filme abordando pobreza e seu sofrimento da forma mais simplista possível em um convite imediato para os maiores festivais de cinema pelo mundo? Aqui, Anna Muylaerte dirige o filme sem nenhuma profundidade ou construção imagética além da atuação de Shirley Cruz, que é o único fator do filme que tem algum atrativo. Muylaerte faz aqui, o principal chamariz apelativo para uma obra audiovisual segurar seu espectador.

O filme começa com a protagonista Gal depondo em uma delegacia sobre seu companheiro, Leandro, por tê-la agredido. Depois disso, Gal vai até a escola que seus filhos estudam para buscá-los a levá-los para uma "aventura", que na verdade é uma fuga até a casa de uma prima de Gal, que mora no outro lado de São Paulo. A obra gira em torno dessa jornada onde Gal leva seus filhos e precisa fazer de tudo para não mostrar sua vulnerabilidade e nem a pobreza à sua volta para seus dois filhos. 

Muylaerte faz questão de mostrar uma cidade suja e completamente acinzentada, com muitos planos aéreos ou que capturem os personagens em plano conjunto, mas com uma visualização do horizonte um pouco mais livre sobre a cabeça daqueles que aparecem em cena. Sem contar que Muylaerte, sempre que possível, fecha o plano no rosto de nossa protagonista para mostrar o quanto ela está de esforçando e como está cansada a cada passo nessa jornada de fugir do seu antigo relacionamento tóxico e em busca de uma vida nova com seus filhos. 

Mas Muylarte grava seus protagonistas nessa jornada, como uma gama de cineastas atuais, que precisam da contemplação do sofrimento de pessoas pobres e pretas para se manter. Digo isso porque o filme não tem profundidade na sua construção imagética, são imagens sem construção, são planos sem profundidade, não existe construção de cores ou qualquer forma de construção dentro daquele cenário. Muylaerte coloca sua protagonista sofrendo em silêncio a todo tempo e tenta forçar seu desenvolvimento com a participação das crianças e sua ingenuidade sobre toda a situação. 

O filme pega um tema delicado com uma ótima atuação e não tenta ir além. Não é sobre complexidade na direção mas sobre a profundidade da mesma sobre a capacidade de responder aquele mundo com a imagem, Muylaerte faz parte do sintoma atual da direção de filmes com temas sociais explícitos que usam o tema como resposta total. Em meio a uma crise com o aumento estrondoso de moradores de rua nas ruas de São Paulo, a direção e o roteiro decidem fazer uma história de superação em um mundo onde ninguém superou nada. 

Tem uma cena onde Gal com seus dois filhos decidem brincar de se molhar em um chafariz que liga e desliga de noite, e Muylaerte dirige essa sequência com muitos planos conjuntos e slow-motion para mostrar como todos os personagens estão alegres em poder finalmente estar se banhando e se divertindo uns com os outros. Não é sobre o filme tentar dar um jeito em não se mostrar uma vitrine de sofrimentos para o espectador aplaudir, mas é sobre tornar essa jornada, algo belo. 

Esse filme faz parte da leva de criações audiovisuais que foram criados pensando em mostrar para o espectador brasileiro que mesmo você sendo uma catadora de lixo reciclável, com dois filhos e um companheiro abusivo, e alcoólatra, ainda tem um futuro lindo pela frente. Estarmos no ano de 2025 com diretores de cinema fazendo filme propaganda neoliberalismo barato chega a ser trágico. Mas o mais trágico é a direção vender essa ideia e nem se esforçar para fazer esse discurso torpe. 

Quando nos remetemos às outras obras da diretora, como Que Horas Ela Volta?, Durval Discos, até mesmo seu último curta Nosso Pai, existia pelo menos a importância do monumento para a narrativa. Existia posição de atores e trabalho de figurino para dizer que a imagem por si só tinha algo. Mas Muylaerte decide fazer uma propaganda motivacional com a expressão mais acinzentada que a cidade paulista pode entregar. Para que no final, dê tudo certo e a família pode estar junta de novo, assistindo o time do coração jogar. 

Cinema e Verdade dificilmente andam a lado, na teoria cinematográfica nem pensamos em coloca-los de mãos dadas. Mas nunca desvinculamos Cinema de Política, pois ambos estão amarrados, grampeados e grudados sem a possibilidade de não estarem juntos. E nesse filme, Muylaerte não foi somente displicente como alguém que tem como obrigação pensar a imagem sobre oque vai dizer, mas se mostrou desonesta politicamente. 

TEXTO DE ADRIANO JABBOUR.

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