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segunda-feira, 11 de agosto de 2025

Juntos - Nem Freud explica essa mistura

Juntos | Diamond Films


Após se mudarem para o campo, um encontro sobrenatural começa a transformar o amor de um casal, suas vidas e sua carne.

O filme se insere no subgênero body horror, um tipo de terror que aborda a transformação, mutilação e degradação do corpo humano, frequentemente por meio de imagens gráficas e perturbadoras. Esse estilo explora angústias existenciais profundas, usando o corpo como metáfora para temas como doenças, envelhecimento e a perda de controle sobre si mesmo. Juntos, essa abordagem ganha uma dimensão literal: O casal protagonista experimenta uma união física desconcertante, em que beijos fazem seus lábios se fundem de forma dolorosa e mãos penetram na pele do outro como se fossem matéria maleável. Esses momentos causam forte desconforto, não apenas pelo aspecto visual, mas pelo simbolismo da fusão amorosa levada ao extremo — onde a intimidade e a invasão se tornam indistinguíveis.


Millie Wilson é uma mulher decidida, afetuosa e resiliente. Ao pedir Tim em casamento em sua festa de despedida no início do filme, ela demonstra coragem emocional e desejo de estabilidade, mesmo diante da hesitação dele. Sua capacidade de tomar a iniciativa e se adaptar a mudanças — como aceitar um novo emprego e se mudar para o interior — mostra uma personalidade prática e determinada. Ainda assim, há uma certa vulnerabilidade em sua tentativa de manter o relacionamento funcionando a todo custo, como se quisesse salvar algo que está escorregando por entre os dedos. Millie é sensível e acolhedora, como se vê no modo como lida com Jamie, o novo colega, mostrando abertura para novas conexões e tentando se inserir num novo ambiente com naturalidade.


Tim, por outro lado, é um homem emocionalmente retraído, ainda lidando com um luto profundo e um trauma mal resolvido relacionado à morte dos pais. Como aspirante a músico, ele carrega em si uma natureza introspectiva e sensível, mas está num momento em que parece paralisado, desconectado de seus sentimentos e do mundo ao redor. A hesitação diante do pedido de Millie reflete não apenas insegurança, mas talvez uma recusa inconsciente à intimidade. As lembranças bizarras e perturbadoras que ele revive — como a imagem da mãe ao lado do cadáver do pai — revelam a profundidade de seus traumas, que ele reprimiu por tanto tempo que agora retornam distorcidos e intesificados. Tim parece confuso, passivo, carregando culpa ou medo que não consegue nomear, o que o torna cada vez mais instável.


A dinâmica entre Millie e Tim é marcada por um desequilíbrio crescente. Enquanto ela tenta manter os dois próximos e construir uma nova vida, ele se afasta, afundando-se em um território emocional sombrio. A caverna onde passam a noite pode ser vista como uma metáfora do inconsciente — um espaço onde segredos, traumas e desejos reprimidos começam a se manifestar. Ambos emergem dessa experiência diferentes, ainda que tentem fingir o contrário. A tensão crescente entre o desejo de normalidade e o peso do passado parece prestes a explodir, ameaçando o relacionamento e a própria sanidade deles.


Juntos transforma a intimidade em uma experiência visceralmente incômoda, onde o desejo de proximidade se confunde com a perda de limites, identidade e controle. Essa abordagem radical não apenas atualiza os códigos do Body Horror, mas também desafia ideias romantizadas de conexão e entrega emocional. O desconforto visual das transformações físicas é apenas a superfície de um mal-estar mais profundo: a sensação de que, ao tentar se fundir completamente com o outro, o ser humano corre o risco de desaparecer. É nesse ponto que o filme se revela mais perturbador — não por seus efeitos grotescos, mas por aquilo que eles simbolizam. Ao fim, resta menos uma resposta do que uma inquietação persistente: até onde é possível amar sem se destruir?


Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.


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