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terça-feira, 19 de agosto de 2025

Neeson brilha e manda avisar: “Corra que a polícia vem aí! (2025)”

Corra que a Polícia Vem Aí (2025) | Paramount Pictures


Sons de tiros. Um assalto ao banco em um dia ensolarado. Os ladrões chegam atirando no local. Fecham tudo, fazem reféns. O chefe da gangue arromba um cofre, pega um dispositivo e sai de fininho. Logo depois, a equipe da SWAT chega e cerca os arredores do recinto e tenta negociar uma rendição. Uma cena clássica, senão já batida do gênero. Eis que me aparece uma garotinha, com pirulito na mão, andando pela área cercada. Os policiais, confusos, tentam avisá-la para não ficar por perto. A mocinha, mesmo assim, entra no edifício. Os assaltantes também ficam confusos com a sua presença. Não tarda muito para aquela menina, vestida com um uniforme de colegial, revelar-se como Liam Neeson, com seus 1,93m de altura, antes de combater seus oponentes. É assim que começa a versão de 2025 de
Corra que a polícia vem aí! 

  Na virada dos anos 80 para os 90, o diretor David Zucker, juntamente com Jim Abrahams e Jerry Zucker, após o sucesso de Apertem os cintos, o piloto sumiu (Airplane, 1980) lançaram uma paródia de filmes policiais intitulada Naked Gun, no original. Nos filmes dessa franquia de humor, acompanhamos as trapalhadas de um esquadrão de polícia da cidade de Los Angeles, sempre envolvendo o tenente Frank Drebin, interpretado por Leslie Nielsen. 

A ideia vinha de um seriado de Zucker-Abrahams-Zucker (grupo conhecido também como ZAZ) lançado na televisão americana no início da década de 80, Police Squad!, mas que foi cancelado após a exibição de pouquíssimos episódios. O conceito e personagens são realizados na versão cinematográfica, e, diferente da sua contraparte televisiva, o primeiro filme, lançado em 1988, foi um sucesso para o estúdio. 

Sua repercussão foi importante para o gênero do humor estadunidense no cinema e também na consolidação de Nielsen, que era conhecido por papéis mais dramáticos, como um comediante, com uma performance que contrasta perfeitamente com o tom cartunesco da obra. Houveram duas continuações, uma em 1991 e outra em 1994, respectivamente. Porém, ao longo das décadas subsequentes, diversas tentativas de continuar e revitalizar a franquia para um novo público parecia nunca sair do papel. Até mesmo Zucker, uma das mentes por trás de Naked Gun, teve suas ideias rejeitadas pelo estúdio da Paramount, que, por sua vez, em 2021, ficou interessada nos planos do produtor Seth MacFarlane em revisitar a franquia.

O Corra que a polícia vem aí! de 2025 é dirigida por Akiva Schaffer e produzida pela produtora de MacFarlane, a Fuzzy Door. O longa-metragem apresenta como protagonista desta vez o filho da personagem de Nielsen, Frank Drebin, Jr., interpretado pelo já mencionado Liam Neeson, que deve salvar o esquadrão de polícia de fechar as portas, enquanto tenta seguir os passos de seu pai. 

Para esta nova empreitada, Schaffer se reúne com os roteiristas Dan Gregor e Doug Mand, com quem já havia trabalhado no filme Tico e Teco de 2022 para o Disney Plus, e o resultado dessa parceria é positivo. O roteiro desta nova versão acerta no tom pastelão do humor, marca registrada das versões anteriores, e também consegue fazer uma paródia do gênero policial no cinema de forma cartunesca; calcando no uso de clichês e vícios de linguagem que filmes e séries do gênero apresentam. A gramática do filme transita entre várias estéticas: o noir, a ação megalomaníaca e até mesmo “documental”. Aqui, o pessoal da produção se prova bem afiado nas referências à cultura pop. Além disso, o uso da comédia física e de piadas visuais continuam sendo a cereja do bolo da franquia.

Para não dizer que o filme é basicamente uma versão live action de desenho animado ou de um besteirol divertido fechado em si mesmo, vale ressaltar que está é a versão mais política da franquia, uma vez que os roteiristas deixam claro que o antagonista de Drebin, Richard Cane (Danny Huston), é uma caricatura de bilionários que existem no mundo real, a inspiração, com certeza, o Elon Musk. Cane tem como plano criar uma nova versão do mundo para os super ricos, enquanto o restante da população é afligida com um mal que a deixa mais próxima da primitividade. A tensão cômica as personagens de Neeson e Huston é cômica, e ilustra justamente o embate do homem com o avanço tecnológico cada vez mais mais invasivo e desnecessário, ao mesmo tempo que o longa “tira sarro” da  masculinidade frágil de homens héteros cis na sociedade.

Mudando o foco para o protagonista do longa, o Liam Neeson foi uma escalação perfeita para viver Frank Drebin, uma vez que possui um semblante tão sério, tão autocentrado, em momentos inusitados e/ou constrangedores. O que ele faz aqui é o equivalente da performance de Nielsen, porém Neeson usa de sua bagagem como um ator de filmes de ação, que vão de medianos a péssimos, nas últimas décadas para dar esse tom ao personagem. Foi uma escolha acertada por parte da produção, em apostar nesta escalação: Neeson brilha como um comediante.

Outro nome de peso no elenco é de Pamela Anderson, que interpreta a personagem Beth Davenport e irá se envolver com a investigação de Drebin ao longo da narrativa. Mais conhecida pela série Baywatch (1989-2001), Anderson é uma atriz que, após passar vários anos longe da atuação, encontrou um novo ressurgimento em sua carreira nos últimos anos e tem arriscado mais em papéis mais desafiadores e diversos nos palcos e no cinema. Na última temporada de premiações, por exemplo, ela foi reconhecida pelo seu papel no filme The Last Showgirl (2024). Aqui, a personagem de Anderson acena para a figura da femme fatale, porém colocando-a em pé de igualdade e em contraponto com a personagem de Neeson. Anderson aqui se entrega e participa da brincadeira, sem ser, em algum momento, o alvo da piada. 

Como qualquer outro longa-metragem que capitaliza ou dá continuidade a uma propriedade intelectual já existente no cinema, a nova versão de Corra que a polícia vem aí!  tem vários momentos de homenagem aos filmes anteriores, sejam eles diretos ou indiretos, para mostrar que a produção desta nova versão é fã dos filmes de Zucker. Inclusive, há uma montagem romântica entre Neeson e Anderson, fazendo um paralelo a um momento parecido ao primeiro filme com Leslie Nielsen e Priscilla Presley, que toma um rumo inesperadamente surreal e maníaco, com um personagem bastante conhecido do imaginário estadunidense.

Apesar de não ser um filme perfeito e do longa sofrer muito com um tom mais sério e repetições e/ou a duração de algumas das piadas visuais bem rapidamente, Schaffer e sua equipe conseguem reanimar a comédia pastelão em que, assim como um detetive confuso embolado em vários fios e causando alguma confusão no caminho, ainda é muito divertida. Parece que a polícia nunca deixou de ser incompetente nessa passagem de tempo e a diversão é a nossa.

Disclaimer: A convite da Paramount Pictures, a Koro Filmes foi convidada para uma cabine no escritório no Rio de Janeiro, em que foi passada a versão dublada do longa, cuja localização de dublagem foi feita por Antônio Tabet. 

    Autor:
                                  

Eduardo Cardoso é natural do Rio de Janeiro, Cidade Maravilhosa. Cardoso é graduado em Letras pela Universidade Federal Fluminense e mestre em Estudos de Linguagem na mesma instituição, ao investigar a relação entre a tragédia clássica com a filmografia de Yorgos Lanthimos. Também é escritor, tradutor e realizador queer. Durante a pandemia, trabalhou no projeto pessoal de tradução poética intitulado "Traduzindo Poesia Vozes Queer", com divulgação nas minhas redes sociais. E dirigiu, em 2025, seu primeiro curta-metragem, intitulado "atopos". Além disso, é viciado no letterboxd.

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