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segunda-feira, 21 de julho de 2025

Eu sei o que vocês fizeram no verão passado (2025) - Afiado, porém enferrujado

 

Eu Sei O Que Vocês Fizeram no Verão Passado (2025) | Sony Pictures

O cheiro da maresia, uma brisa suave, o som das ondas batendo nas rochas, os fogos de artifício explodindo no céu do quatro de julho… Não importa que seja em 1997 ou 2025, se você for jovem e dirigir pela estrada da cidadezinha de Southport é bem provável que cause a morte de um desconhecido e este mesmo indivíduo queira retribuir o favor com chantagem e sangue.

 Após o sucesso de Pânico (Scream, 1996), o roteirista Kevin Williamson apresentou para os executivos da Columbia Pictures a ideia de adaptar o livro infanto-juvenil de Lois Duncan sobre um dilema moral em uma nova franquia de slasher. Eis que surge a versão de 1997 do clássico terror teen Eu sei o que vocês fizeram no verão passado, em que quatro amigos são perseguidos por um stalker vestido de pescador sobre um crime que cometeram um ano antes e acobertam desde então.

Após uma recepção morna da crítica, o primeiro filme foi um sucesso de público e bilheteria. O estúdio lança uma continuação apressada no ano seguinte, Eu ainda sei o que vocês fizeram no verão passado (1998), que é detonada pela crítica e desagrada parte dos espectadores do longa anterior. A franquia entra em um limbo, nunca se concretizando como uma franquia longeva de sucesso, mesmo fazendo parte do imaginário pop dos anos 90. Houveram duas tentativas de ressuscitá-la: como uma continuação em um filme para Home Video em 2006 e como um reboot no formato de série, produzido por James Wan, para Amazon Prime Video em 2021. Ambas falharam.

Após o cancelamento da série de streaming, a diretora Jennifer Kaytin Robinson apresentou aos produtores da franquia sua ideia para revivê-la no cinema, bem no estilo do que ocorreu na franquia Pânico, sua concorrente, em 2022. Interessados no conceito, apesar do fracasso recente, anunciam a produção da nova versão da franquia, que a Sony lança mundialmente, em pleno verão estadunidense.

O longa-metragem de 2025 pega o ponto de partida do primeiro: após causarem um acidente de carro fatal, cinco  amigos (Madelyn Cline, Chase Sui Wonders, Jonah Hauer-King, Tyriq Withers, Sarah Pidgeon) prometem guardar segredo sobre a tragédia que causaram e seguir em frente com suas vidas. Mas, um ano depois, o passado volta para assombrá-los quando são perseguidos pela figura do pescador. Enquanto as autoridades ignoram que uma nova onda de assassinatos esteja acontecendo na cidade, os jovens vão atrás dos dois únicos sobreviventes do Massacre de Southport para conseguirem ajuda: Julie James (Jennifer Love Hewitt) e Ray Bronson (Freddie Prinze Jr.).

Robinson, que também corroteiriza esta versão, parece ter um carinho com o filme original, mas que, dentro da lógica do soft reboot, não consegue transparecer tão bem em tela. A sensação, durante o decorrer da narrativa, é que não se sabe até certo ponto quando o filme entra na homenagem de suas raízes ou no modo paródico. O tom do filme parece, a todo custo, ir de um ponto ao outro. Não é um problema exclusivo desta franquia, mas que se repete aqui.

Se a versão de 97 explora o imaginário das lendas urbanas, as tensões morais e psicológicas, classes sociais e o choque de realidade de suas personagens, a de 25 utiliza do fator nostalgia para fazer um comentário raso a fenômenos que vivemos desde a década passada: gentrificação, a ascensão do true crime, podcasters, o apagamento de histórias e traumas coletivos, a crítica aos ricos. São temas pertinentes, se fossem bem desenvolvidos. As questões morais e de classe aparecem, mas não por muito tempo.

O roteiro aqui tem sua sagacidade, mas é frágil. Ele emula a narrativa do primeiro filme, mas sem as suas nuances. Recorre a situações que aconteceram em versões anteriores. As personagens são arquétipos que servem, muitas das vezes, como reflexos geracionais, desconstruídos ou não, da primeira interação. A figura do pescador é mais agressiva, contudo, menos sociopata. Tem composições interessantes. As cenas das perseguições e mortes, no geral, são satisfatórias, mas não atmosféricas o suficiente para serem memoráveis. A tensão existe, mas é bem encurtada.

Apesar de Robinson tomar escolhas arriscadas no terceiro ato, o que é interessante, elas não se sustentam. A revelação do pescador? Poderia ser melhor. O que aconteceu exatamente entre Julie e Ray em duas décadas? Nunca saberemos. Muitas informações são jogadas sem uma corroboração que seja satisfatória, e outras sem o desenvolvimento apropriado.  É incerto definir se a trama faz um comentário sobre nostalgia ou se apropria puramente dela.

A direção é pautada na ironia, o que é, ao mesmo tempo, o diferencial e o erro do longa. Ela brinca com humor e a tensão durante sequências em que personagens estão correndo risco de vida (como edição paralela da cena do ataque de arpão cortando para outra personagem na banheira alheia ao ataque, por exemplo). Há um flerte com o camp, mas sem se comprometer em ser de fato (o que é um crime!), principalmente em uma cena envolvendo uma personagem icônica para alegria de muitos. Além disso, a carga dramática que foi essencial para o desenvolvimento da versão original é deixada de lado, o que esvazia a obra de alguma conexão genuína e humana. Sutilezas que poderiam elevar uma narrativa.

Mesmo com uma boa interação mútua do elenco, as personagens de Ava e Danica são as mais desenvolvidas na nova versão e suas intérpretes, Wonders e Cline respectivamente, fazem maravilhas com as limitações do roteiro: uma é a protagonista, a outra é o alívio cômico que rouba a cena. O mesmo não pode ser dito para as personagens de Hauer-King, Withers e Pidgeon, que não possibilitam os atores a saírem da caixinha.  A ponta de Gabbriette é divertida. É ótimo ver Hewitt e Prinze Jr. retornarem como Julie e Ray, mas, apesar de serem importantes à trama, seus papéis sofrem de uma escrita fraca, deixando-os deslocados em relação ao novo elenco.

É um filme divertido, sem “barrigas”, para ver com amigos, mas que ainda não encontrou a sua identidade própria. É um reboot ou uma paródia? É genuíno ou irônico? Quer ser cunty, mas sem a garra necessária? Tem alguns acertos, principalmente de elenco, porém é perdido na base de sua proposta, que é bem oca. O problema é o que virá a seguir: o final deixa pontas abertas para uma possível continuação, mas será que a versão de Robinson terá fôlego para carregar uma nova franquia nas costas? O gancho do pescador ainda está afiado, porém enferrujado. Funciona, mas precisa ser mais polido de vez em quando.

                                                                  Autor:
                                  

Eduardo Cardoso é natural do Rio de Janeiro, Cidade Maravilhosa. Cardoso é graduado em Letras pela Universidade Federal Fluminense e mestre em Estudos de Linguagem na mesma instituição, ao investigar a relação entre a tragédia clássica com a filmografia de Yorgos Lanthimos. Também é escritor, tradutor e realizador queer. Durante a pandemia, trabalhou no projeto pessoal de tradução poética intitulado "Traduzindo Poesia Vozes Queer", com divulgação nas minhas redes sociais. E dirigiu, em 2025, seu primeiro curta-metragem, intitulado "atopos". Além disso, é viciado no letterboxd.

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