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terça-feira, 7 de outubro de 2025

Queens Of The Dead (2025) - Uma homenagem imperfeita

Queens Of The Dead (2025) | Imovision

Uma caminhoneira, uma drag queen, uma gay padrão, uma mulher trans entram em um bar… Parece até mesmo uma piada pronta. Meio manjada, talvez? A RuPaul riria se alguma queen fizesse essa piada no Drag Race, bem provável. Porém, além disso, o que aconteceria nesse cenário com essas personagens durante uma infestação zumbi? Essa é a premissa de Queens Of The Dead (2025), filme de Tina Romero que contará com distribuição da Imovision no Brasil.

A diretora do longa é filha de George A. Romero, cineasta que popularizou a figura do zumbi, ou morto-vivo, no cinema de terror com dois filmes fundamentais: A Noite dos Mortos Vivos (1968) e Despertar dos Mortos (1978). São filmes revolucionários na história do horror, não só um subgênero foi criado e deixou sua marca no imaginário popular, mas também as narrativas eram metáforas para problemas socioeconômicos da sociedade como o racismo e o capitalismo desenfreado. 

Além disso, o cinema de terror, em geral, tem a capacidade de atrair um público LGBTQIAPN+ fiel, já que as metáforas sobre a monstruosidade e o medo do diferente ressoam com as experiências individuais da comunidade. Portanto, é bastante oportuno realizar um filme que dialoga com o universo de Romero para um público queer

No longa, Dre (Katy O’Brien) é uma promoter em crise de uma boate no cenário club kid do Brooklyn, cuja nova empreitada para seus negócios é uma festa encabeçada pela influencer Yasmine (Dominique Jackson) e o retorno da drag Samoncé (Jaquel Spivey), também chamada “out of drag” de Sam, que havia abandonado aos palcos por uma crise de pânico. Porém, tudo muda com a erupção de um apocalipse zumbi e o grupo eclético de personagens, de diferentes bolhas da comunidade, deve “superar suas diferenças” em meio a adversidade que o cerca. 

Tina Romero acerta em configurar um filme como uma comédia de terror, mirando no em uma leitura queer camp. Romero consegue construir o set up de cenários e situações de forma satisfatória: o som dos sintetizadores, o uso de cores neon vivas na iluminação, o clima atmosférico da entrada de um morto-vivo em cena; sua direção consegue estabelecer bem a situação central e não tem medo do ridículo, seja drag queens fazendo cruising em uma igreja, ou seja um casal de influencers oportunistas, ou seja um personagem atirando um machado em um zumbi e errando o alvo em outra pessoa, ou seja por ratazanas ou bebês zumbis. São situações exageradas que conseguem ser honestamente divertidas.

Romero amplia a metáfora do consumismo herdada de seu pai para a era das redes sociais em que a população está cada vez mais viciada nas vidas das blogueiras e influenciadoras e em sua relação parassocial, que tanto é vista como alienadora quanto parasitária. As aparências viram o entretenimento das massas, portanto essas figuras possuem um valor monetário, corpos que lucram pela própria existência e imagem. No caso em específico de pessoas LGBTQIAPN+, elas representam um status de progressão social e são usadas como tokens ambulantes por pessoas de fora da comunidade. O roteiro também toca na concepção do “fracasso queer” que atravessa as personagens e este é o principal ponto que as une em um momento crítico em especial. 

Se em sua temática, Queens Of The Dead consegue atualizar o conceito do universo através de uma sátira descarada, a narrativa não consegue dar um arco dramático a suas personagens.  

O filme tem bons performers em seu elenco como O’Brien (de Love Lies Bleeding), Spivey (da versão musical de Mean Girls), Nina West (de Drag Race), Jack Heaven (de I Saw The TV Glow), a comediante Margaret Cho e Dominique e Cheyanne Jackson (não são parentes!), entre outros; mas seus personagens são escritos de forma tão unidimensional, que a maioria não sustenta uma virada dramática. Talvez o arco que funcione mais e a relação entre as personagens de Spivey e West e o dilema entre Sam, a pessoa pública, e Samoncé, a drag queen. Apesar disso, a atriz e ícone Dominique Jackson rouba a cena do filme ao interpretar uma versão caricata de si mesma (e ainda estarei aplaudindo de pé e com um leque na mão).

Apesar de suas falhas ou ideias que não dão tão certo, Queens Of The Dead é um filme que mistura o trash e o camp, o sangue com o glitter, o drama com o absurdo em que, por uma ironia, um death drop pode ser fatal. Em suma, assim como as queers fracassadas de sua trama, é uma homenagem imperfeita e não há nenhum problema nisso.

*Esta crítica faz parte da cobertura do 27o Festival do Rio, realizado em 2025.

Autor:
                                  

Eduardo Cardoso é natural do Rio de Janeiro, Cidade Maravilhosa. Cardoso é graduado em Letras pela Universidade Federal Fluminense e mestre em Estudos de Linguagem na mesma instituição, ao investigar a relação entre a tragédia clássica com a filmografia de Yorgos Lanthimos. Também é escritor, tradutor e realizador queer. Durante a pandemia, trabalhou no projeto pessoal de tradução poética intitulado "Traduzindo Poesia Vozes Queer", com divulgação nas minhas redes sociais. E dirigiu, em 2025, seu primeiro curta-metragem, intitulado "atopos". Além disso, é viciado no letterboxd.

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