![]() |
Desconhecidos | Magenta Light Studios |
Quando
fazemos análise de filmes temos que levar em consideração que o roteiro conta a
história, mas a direção decide de que maneira essa história será contada. O diretor
e também escritor do filme JT Mollner ganha crédito ao saber disso, pois se não
fosse pelo artifício cinematográfico de apresentar o enredo de forma não-linear
– escolha muito incomum no cinema americano-, sua história não teria sabor
nenhum, mas é também graças a esse roteiro não espetacular que a ordem de
eventos escolhida ganha valor, colocando vários acontecimentos do filme em
posição de plot twist, sendo que se contada a história de forma
cronológica, não seriam surpresa nenhuma. Ou seja, não é a história em si do
filme que agrada ao espectador, mas sim a escolha específica de apresentação
dos eventos que o torna interessante e diferente.
O filme começa com a personagem de Willa Fitzgerald, The Lady, já ferida, sendo perseguida pelo até então antagonista, batizado de The Demon, interpretado por Kyle Gallner. Ambas as performances são adequadas aos papéis e entregam um bom e envolvente trabalho. Porém, por conta da não-linearidade da disposição de eventos, logo descobrimos que tal perseguição se tratava de uma exagerada e vingativa legítima defesa por parte do demônio, pois a Lady era uma serial killer conhecida que não contava com os artifícios de sua mais nova vítima.
Após o final do filme, com a história montada na ordem cronológica, o filme acaba por perder força, pois seu único artifício interessante pesa mais na balança para o lado dessa desordem criativa de acontecimentos. A decupagem de planos parece gratuita, o roteiro é extremamente básico tendo talvez um trecho de diálogo com mais de uma dimensão, onde a criminosa admite ter medo de ser presa e morrer mesmo após todas as suas vítimas, e os simbolismos visuais, como o uso da cor vermelho para indicar a ameaça, seja com a luz, filtros ou o uso e remoção de uma peruca como indicativo de troca de posição de lugar de vítima são válidos e criativos, mas quase invisíveis no resumo da ópera.
Uma curiosidade que vale a pena ser comentada sobre o filme é a inclusão muito à luz do dia de uma opinião não muito comumente retratada em obras atuais e certamente contrária às ondas de discussão social no audiovisual, que seria uma crítica negativa à ideia de sororidade, quando em determinado momento na metragem, a personagem Lady é encontrada pela polícia (interpretados por Madisen Beaty e Steven Michael Quesada) e finge ter sido vítima de estupro para explicar dois de seus assassinatos. A policial feminina prontamente a ajuda a se recuperar enquanto o policial masculino suspeita e obedece a parceira, relutantemente.
Ambos acabam mortos pela assassina do thriller mas não sem antes ouvirmos o personagem de Quesada chamar sua colega de profissão de, e eu cito - "vadia estúpida". Fazendo essa cena, somada ao contexto do próprio filme nos fazer pensar que Lady inicialmente é uma vítima, tornar um comentário do tipo "o crime não tem rosto e é necessário tomar cuidado com tudo" parecer mais como "sororidade é estúpido e pode te matar". Certamente uma jogada crítica corajosa, apesar de extremamente retrógrada e reduzida a uma piada.
Desconhecidos
agrada pelo que se vende a ser, um thriller/slasher e garante
divertimento no decorrer da obra, mas ao sair da sala de cinema, tende a cair
no grande vale do esquecimento, se prestando a ser uma sangrenta viagem só de ida.