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Twinless (2025) | Sony Pictures |
A primeira cena oculta a ação dos olhos do espectador, no entanto, depredemos que ocorreu um acidente de trânsito, antes a edição nos transportar para um funeral. Roman (Dylan O'Brien) perdeu seu irmão gêmeo gay, Rocky, naquele acidente. A situação é triste e extremamente desconfortável para ele. Não só porque todos os presentes ali o deixam assim, mas o Roman tá passando por um luto brutalíssimo, no qual a dor e a raiva dele são uma única coisa. A morte do irmão é como se tivessem tirado parte de sua própria identidade afetiva.
Aos trancos e barrancos, ele busca alternativas de lidar com esse período e ele começa a frequentar um grupo de apoio de pessoas que perderam seus irmãos gêmeos. Lá, ele conhece o Dennis (James Sweeney), um rapaz tímido e taciturno que parece a se afeiçoar ao Roman desde o primeiro instante, sendo muito solicito e agradável. Por sua vez, Roman projeta um sentimento fraternal no Dennis, pois ele acaba correlacionando algumas coisas neste novo amigo com o irmão dele. Porém, a sinergia que há entre dois nunca tá bem calibrada de fato, e o motivo que haver com o acidente de Rocky.
Twinless (2025) é o longa-metragem dirigido e escrito por James Sweeney, lançado no Festival de Sundance deste ano e conquistou o prêmio popular. O realizador já tinha feito outros projetos, mas este aqui catapultou o nome dele. Quando um artista tem várias funções múltiplas dentro e fora da câmera, o resultado nem sempre é bom ou é considerado um "projeto de vaidade". O caso de Twinless é o contrário, Sweeney tem um bom senso de direção e o seu roteiro possui uma escrita inteligente e "quirky" e trabalha muito em cima da tensão que existe entre as duas protagonistas.
Existem dois pontos de vista que a narrativa se divide que guiam a trama: a do Roman e a do Dennis; inclusive, quando ocorre a mudança desse pov, a chave da história que estava sendo contada até aqui muda drasticamente, em uma sequência de erros consecutivos que levam ao início da narrativa. Dylan O'Brien é o coração do filme, enquanto James Sweeney é o ponto central. A obra não funcionaria sem um ou outro.
O'Brien traz camadas muito diversas e eficazes nos dois personagem que interpreta: traz á tona todo luto e confusão que assola Roman, enquanto traz uma personalidade mais confiante e sexualmente aparente como Rocky. Por outro lado, Sweeney tem a performance de uma pessoa solitária (possivelmente neuro divergente) e anseia por uma conexão para preencher um vazio existencial; ao mesmo tempo que sua personagem seja arrogante e condescendente com os outros ao seu redor, em especial com Marcie (Aisling Franciosi), sua colega de trabalho.
Há uma química muito palpável entre os atores principais seja em contexto de amizade, seja em um contexto mais íntimo. A situação entre os dois muda quando Dennis deixa alguém de sua vida entrar no caminho de Roman, arriscando mudar a percepção e a providência de sua relação. A partir desse ponto, começa um jogo de sedução e culpa que irá, eventualmente, afetar a amizade existente entre as protagonistas. Sweeney trabalha com temas complexos que o roteiro tenta balancear entre o drama e a comédia, sem que um tom não sobreponha ao outro. Enquanto o retrato de luto é convincente em sua abordagem, o debate mesmo é como o público irá reagir pelas ações egóicas e problemáticas de Dennis que, apesar do roteiro mostrar de onde a personagem parte emocional e mentalmente, beiram ao invasivo e o antiético.
Twinless não só marca bem essa fronteira com também a bagunça e revira de ponta cabeça, entre o ser e o não ser, a verdade e a mentira. Somente superando essa barreira é que Roman e Dennis podem finalmente entrar em sincronia. Certamente, é um filme que vai dialogar mais com certas bolhas e gerações do que outras.
*Esta crítica faz parte da cobertura do 27o Festival do Rio, realizado em 2025, visto em cabine de imprensa.
Eduardo Cardoso é natural do Rio de Janeiro, Cidade Maravilhosa. Cardoso é graduado em Letras pela Universidade Federal Fluminense e mestre em Estudos de Linguagem na mesma instituição, ao investigar a relação entre a tragédia clássica com a filmografia de Yorgos Lanthimos. Também é escritor, tradutor e realizador queer. Durante a pandemia, trabalhou no projeto pessoal de tradução poética intitulado "Traduzindo Poesia Vozes Queer", com divulgação nas minhas redes sociais. E dirigiu, em 2025, seu primeiro curta-metragem, intitulado "atopos". Além disso, é viciado no letterboxd.