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segunda-feira, 20 de outubro de 2025

Twinless (2025) - O Vazio da Alma Gêmea

Twinless (2025) | Sony Pictures

A primeira cena oculta a ação dos olhos do espectador, no entanto, depredemos que ocorreu um acidente de trânsito, antes a edição nos transportar para um funeral. Roman (Dylan O'Brien) perdeu seu irmão gêmeo gay, Rocky, naquele acidente. A situação é triste e extremamente desconfortável para ele. Não só porque todos os presentes ali o deixam assim, mas o Roman tá passando por um luto brutalíssimo, no qual a dor e a raiva dele são uma única coisa. A morte do irmão é como se tivessem tirado parte de sua própria identidade afetiva.  

Aos trancos e barrancos, ele busca alternativas de lidar com esse período e ele começa a frequentar um grupo de apoio de pessoas que perderam seus irmãos gêmeos. Lá, ele conhece o Dennis (James Sweeney), um rapaz tímido e taciturno que parece a se afeiçoar ao Roman desde o primeiro instante, sendo muito solicito e agradável. Por sua vez, Roman projeta um sentimento fraternal no Dennis, pois ele acaba correlacionando algumas coisas neste novo amigo com o irmão dele. Porém, a sinergia que há entre dois nunca tá bem calibrada de fato, e o motivo que haver com o acidente de Rocky.

Twinless (2025) é o longa-metragem dirigido e escrito por James Sweeney, lançado no Festival de Sundance deste ano e conquistou o prêmio popular. O realizador já tinha feito outros projetos, mas este aqui catapultou o nome dele. Quando um artista tem várias funções múltiplas dentro e fora da câmera, o resultado nem sempre é bom ou é considerado um "projeto de vaidade". O caso de Twinless é o contrário, Sweeney tem um bom senso de direção e o seu roteiro possui uma escrita inteligente e "quirky" e trabalha muito em cima da tensão que existe entre as duas protagonistas.

 Existem dois pontos de vista que a narrativa se divide que guiam a trama: a do Roman e a do Dennis; inclusive, quando ocorre a mudança desse pov, a chave da história que estava sendo contada até aqui muda drasticamente, em uma sequência de erros consecutivos que levam ao início da narrativa. Dylan O'Brien é o coração do filme, enquanto James Sweeney é o ponto central. A obra não funcionaria sem um ou outro. 

O'Brien traz camadas muito diversas e eficazes nos dois personagem que interpreta: traz á tona todo luto e confusão que assola Roman, enquanto traz uma personalidade mais confiante e sexualmente aparente como Rocky. Por outro lado, Sweeney tem a performance de uma pessoa solitária (possivelmente neuro divergente) e anseia por uma conexão para preencher um vazio existencial; ao mesmo tempo que sua personagem seja arrogante e condescendente com os outros ao seu redor, em especial com Marcie (Aisling Franciosi), sua colega de trabalho. 

Há uma química muito palpável entre os atores principais seja em contexto de amizade, seja em um contexto mais íntimo. A situação entre os dois muda quando Dennis deixa alguém de sua vida entrar no caminho de Roman, arriscando mudar a percepção e a providência de sua relação. A partir desse ponto, começa um jogo de sedução e culpa que irá, eventualmente, afetar a amizade existente entre as protagonistas. Sweeney trabalha com temas complexos que o roteiro tenta balancear entre o drama e a comédia, sem que um tom não sobreponha ao outro. Enquanto o retrato de luto é convincente em sua abordagem, o debate mesmo é como o público irá reagir pelas ações egóicas e problemáticas de Dennis que, apesar do roteiro mostrar de onde a personagem parte emocional e mentalmente, beiram ao invasivo e o antiético. 

Twinless não só marca bem essa fronteira com também a bagunça e revira de ponta cabeça, entre o ser e o não ser, a verdade e a mentira. Somente superando essa barreira é que Roman e Dennis podem finalmente entrar em sincronia. Certamente, é um filme que vai dialogar mais com certas bolhas e gerações do que outras.

*Esta crítica faz parte da cobertura do 27o Festival do Rio, realizado em 2025, visto em cabine de imprensa.

Autor:
                                  

Eduardo Cardoso é natural do Rio de Janeiro, Cidade Maravilhosa. Cardoso é graduado em Letras pela Universidade Federal Fluminense e mestre em Estudos de Linguagem na mesma instituição, ao investigar a relação entre a tragédia clássica com a filmografia de Yorgos Lanthimos. Também é escritor, tradutor e realizador queer. Durante a pandemia, trabalhou no projeto pessoal de tradução poética intitulado "Traduzindo Poesia Vozes Queer", com divulgação nas minhas redes sociais. E dirigiu, em 2025, seu primeiro curta-metragem, intitulado "atopos". Além disso, é viciado no letterboxd. 

 

segunda-feira, 15 de setembro de 2025

A Grande Viagem Da Sua Vida (2025) - Entre o real e a performance

 

A Grande Viagem da Sua Vida | Sony Pictures

Nos primeiros minutos do filme, conhecemos David (Colin Farrell), um homem balzaquiano, solteiro, preparando-se para ir a um evento. Ele descobre que o carro dele foi multado e vai até uma agência, muito suspeita por sinal, para alugar um automóvel. A atendente da empresa (Phoebe Waller-Bridge) é bem peculiar, trata David, um cliente, como se fosse uma diretora de casting, e oferece um modelo de carro antigo com GPS a ele.

David, não tendo outra alternativa, aluga o carro e chega ao evento: um casamento de um amigo, no qual ele nota Sarah (Margot Robbie), pela primeira vez. Eles acabam se conhecendo um pouco e há uma certa química no ar; mas, como os dois são emocionalmente indisponíveis, há também uma certa distância. A partir do ponto em que o GPS do carro de David sugere que ele tem de socorrer Sarah, cujo automóvel para de funcionar no meio do caminho, e seguir por meio de uma jornada mística, o nosso filme, de fato, começa.

A Grande Viagem Da Sua Vida (2025) é o novo filme dirigido pelo Kogonada, de Columbus (2017) e After Yang (2021); e quem conhece o trabalho do diretor vai notar que este lançamento da Sony é, ao mesmo tempo, uma mudança de ângulo e uma continuação temática de sua filmografia. Kogonada tem um profundo olhar estético do cinema como forma: o modo que decupa, filma e edita é formidável; e seus filmes de ficção buscam pela essência das relações humanas ou/e pelo sentimento de humanidade. 

O roteiro assinado Seth Reiss, de O Menu (2022), se apropria de arquétipos e de metáforas já manjadas para criar novas ideias mais interessantes, apesar do texto soar muito como livro de autoajuda em um momento ou outro; muito açucarado para o meu gosto. Porém, a abordagem da narrativa através do fantástico talvez seja o maior trunfo do roteiro, já que as regras do mundo dito real não se aplicam na lógica da obra e permite novas camadas a serem exploradas.

A viagem que David e Sarah embarcam é para dentro de si e de entender qual é o próprio papel em sua respectiva narrativa. São pessoas diferentes: ele aparenta ser mais soturno, ela bem solar. David foi uma criança superprotegida pelos pais, tem problemas com rejeição e um complexo de conquistador; enquanto Sarah tem questões pessoais mal resolvidas por não estar presente e se culpa eternamente por isso, levando a não criar nenhum vínculo emocional com ninguém. Para poderem se conectar e se misturar, eles precisam justamente entrar em seus próprios mundos e olhar para a pessoa que um dia foram com outro par de olhos. 

David e Sarah são tratados como dois performers que ainda não acharam a identidade de suas personagens, e, portanto, não podem começar um relacionamento. Há um jogo bastante interessante aqui. O amor não é só um sentimento, mas também uma performance afetiva. Por trás da fantasia, há um jogo de cena em que precisam tomar partido. 

As protagonistas acabam encarando recriações de seus passados para conseguir ter o vislumbre de como devem agir, sentir e portar em sua performance. O amor torna-se a fantasia que David e Sarah devem justamente incorporar; e, a cada porta que abrem, eles ficam a passos mais próximos, ou distantes, de não só se conectarem, mas de transformar essa fantasia em realidade. Esse jogo metalinguístico, mesmo que sutil, se torna mais claro ao espectador à medida que a narrativa se desenrola. Estariam eles se apaixonando ou próximos de interpretar uma versão apaixonada de si mesmos?

Em mãos menos habilidosas, A Grande Viagem poderia se tornar um filme bem qualquer coisa, pesando a mão no sentimentalismo barato em busca de uma “edificação” do espírito; mas Kogonada soube bem equilibrar o tom meio “sessão da tarde” com o existencialismo, muito próximo de seus projetos anteriores. O diretor cria toda uma atmosfera colorida, cheia de vida, mas traz consigo a sensação da distância, do silêncio, das pausas e do uso da trilha sonora do fabuloso compositor Joe Hisaishi, dando um ar mais sofisticado à narrativa.

Apesar do filme ser um experimento voltado ao mainstream, nem tudo no filme funciona como esperado e, por sinal, alguns pontos chegam a ser rasos; mas ainda há uma sinergia em tela que não deixa o longa afundar dentro de si tão profundamente. Farrell e Robbie parecem estar confortáveis com seus papéis, caindo de cabeça no conceito da trama e suas variantes, e sem a química que há entre eles, a história não funcionaria desde o início. 

A Grande Viagem é aquele tipo de “filme conforto” que, entre acertos e tropeços, atinge de alguma forma o espectador que está disposto a embarcar na jornada. É necessário um pouco de paciência, mas o caminho vale a pena.


Autor:
                                  

Eduardo Cardoso é natural do Rio de Janeiro, Cidade Maravilhosa. Cardoso é graduado em Letras pela Universidade Federal Fluminense e mestre em Estudos de Linguagem na mesma instituição, ao investigar a relação entre a tragédia clássica com a filmografia de Yorgos Lanthimos. Também é escritor, tradutor e realizador queer. Durante a pandemia, trabalhou no projeto pessoal de tradução poética intitulado "Traduzindo Poesia Vozes Queer", com divulgação nas minhas redes sociais. E dirigiu, em 2025, seu primeiro curta-metragem, intitulado "atopos". Além disso, é viciado no letterboxd

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