Mostrando postagens com marcador comedia. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador comedia. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 11 de agosto de 2025

Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda (2025) - Mesmo raio, contextos diferentes

Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda | Disney


Ao entrar na cabine deste filme, este crítico caiu em lembranças longínquas de ir ao cinema, quando criança que aprendeu a não ter medo do escuro, acompanhado de sua mãe e avó. Muitos dos filmes vistos nesse breve período de tempo, se tornaram marcos cinematográficos de uma geração de jovens. Um desses filmes foi Sexta-Feira Muito Louca, lançado em 2003, que se tornou um clássico entre os late millenials que cresceram nos anos 2000 e foi revisitado pela gen z pela sua estética Y2K nos últimos anos. Mas a história desse filme vem muito antes do século XXI.

Freaky Friday, título no original, é um livro infanto-juvenil escrito por Mary Rodgers, lançado em 1972, que teve seus direitos comprados pela Disney logo após sua publicação. A obra foi adaptada, desde os anos 70, para o cinema, televisão e teatro. Suas duas principais adaptações para o cinema foram: Se eu fosse minha mãe (1976), com Barbara Harris e Jodie Foster; e o já mencionado filme de 2003, com Jamie Lee Curtis e Lindsay Lohan no elenco. 

Na trama desta última versão, Curtis e Lohan são Tess e Anna Coleman, respectivamente, uma mãe psicóloga e uma filha roqueira, que não se dão bem às vésperas do novo casamento de Tess. Após ambas lerem uma profecia em um biscoito da sorte, elas acordam no corpo uma da outra, no dia seguinte. Assim, mãe e filha devem descobrir como reverter a profecia, enquanto tentam convencer a todos em seus novos papéis. Reavaliando antes de assistir sua sequência, é um filme que continua bastante divertido e energético, apesar de apresentar elementos orientalistas, que acabam sendo centrais no decolar da narrativa. 

No entanto, antes de assistir a versão de 2025, este crítico se perguntava de vez em quando: “por que fazer uma continuação desse filme?” Afinal, é um questionamento válido em que a indústria cinematográfica, especialmente a estadunidense, mercantiliza a nostalgia por filmes de épocas passadas, com remakes e continuações. Além disso, precisamos lembrar que estamos falando da Disney, que qualquer animação com mais de dez anos de lançamento seja considerada para ser transformada em um live action. Então, a chance de ser mais uma jogada “caça níquel” da empresa é alta. Felizmente, este não é o caso.

Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda (2025), título brasileiro imenso por sinal, é uma continuação que parte diretamente da adaptação de 2003, e não dos outros livros de Rodgers. 

Vinte e dois anos depois dos eventos do primeiro filme, Anna Coleman (Lindsay Lohan) agora é uma ex-guitarrista e agente musical de uma gravadora de sucesso que cuida de sua filha Harper (Julia Butters), com a ajuda de sua mãe Tess (Jamie Lee Curtis). Após Anna conhecer o viúvo Eric (Manny Jacinto), eles entram em um relacionamento e, meses depois, decidem se casar. Porém, sua filha e sua futura enteada, Lily (Sophia Hammons), se detestam e odeiam o fato de que seus pais irão se unir em matrimônio. E durante os desafios que surgem da união de duas famílias, Tess e Anna descobrem que um raio cai sim duas vezes no mesmo lugar, uma vez que as quatros mulheres, jovens e maduras, trocam de corpos entre si. Enquanto isso, Harper e Lily fazem de tudo para que o casamento de seus pais não aconteça.

Como a sinopse sugere, a nova versão não só continua a história das personagens do primeiro quanto também funciona como um soft reboot ou uma legacy sequel, uma vez que o roteiro de Jordan Weiss se apropria da base narrativa, quase identicamente, do longa anterior. Então, para continuar esta análise, devemos fazer uma pergunta: “quais são os motivos por trás desse filme e o querem provar com isso?”

Sexta-Feira de 2003 foi um sucesso de crítica especializada e público e Jamie Lee Curtis e Lindsay Lohan ficaram imortalizadas em seus papéis. Apesar de serem artistas bastante diferentes, as carreiras de Curtis e Lohan passaram por altos e baixos em mais de vinte anos.

Este foi um dos últimos papéis de Curtis antes de sua brevíssima aposentadoria, por cerca de dois anos, e voltou à atuação em filmes que foram mal de crítica. Trabalhou também na televisão e em dublagens de animação. Sua carreira começou a ter mais visibilidade novamente com a série cult de “terrir” Scream Queens (2015-16) e os legacy sequels da franquia Halloween (2018-22). Em 2023, Curtis ganhou o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante no divisivo Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo (2022). 

Já a carreira de Lohan chegou a um apogeu como uma estrela teen com o lançamento de Sexta-Feira e de Meninas Malvadas (2004), ambos filmes dirigidos por Mark Waters por sinal. Além da atuação, ela também tentou uma carreira musical. Porém, por problemas de ordens pessoais e midiáticas, afastou-se da atuação por um breve tempo para se recuperar. Entre melhoras e recaídas, a atriz tentou, no início da década de 2010, retomar como atriz em dramas biográficos e suspenses psicossexuais que foram fracasso de crítica. Lohan mirou em projetos na televisão como documentários e pontas em seriados durante o restante da década. 

Em 2022, voltou a trabalhar em filmes de streaming nos gêneros de comédia e romance que a consagraram na juventude. Sexta-Feira 2, vamos chamar assim, é o seu primeiro lançamento como protagonista nos cinemas, após The Canyons (2013).

E com este novo ressurgimento no mercado hollywoodiano, temos duas mulheres que, através de uma obra que teve um impacto significativo em suas vidas profissionais, principalmente Lohan, querem provar que ainda possuem o mesmo carisma e energia como protagonistas. De fato, elas esbanjam isso neste filme.

As duas atrizes estão muito confortáveis em seus papéis e continuam ter a mesma química que as fizeram ser elogiadas na dinâmica original. Enquanto Curtis se diverte os divertidos choques de realidade da terceira idade, Lohan tem um papel muito mais central aqui - afinal, o primeiro plano do longa é uma visão idealizada de sua personagem para quem cresceu com o filme - visto que a narrativa foca na sua relação entre Anna e sua filha, assim também com seu noivo. No drama, nem sempre sua atuação flui, mas, na comédia, ela brilha.

Curtis e Lohan se entregam ao ridículo, à comédia corporal, com espontaneidade bastante latente, sem medo do caricato, sem amarras que limitam suas performances e nem o humor leve e bobo da obra. Uma das melhores cenas com as duas em cena envolve Lohan flertando com feições macarrônicas, enquanto Curtis se esconde atrás de vinil de Björk e de outras divas pop. 

Elas, já com uma experiência na atuação, também tem química com as novatas Julia Butters e Sophia Hammons, que conseguem se encaixar no tom do filme e seguraram bem seus papéis; simbolizando a triangulação entre intergeracional entre geração boomer, millenial e gen z que a trama quer promover, de forma orgânica. Aliás, os atores estão bem, nunca extrapolando aquilo que é pedido deles; entendendo quem são seus personagens, como devem agir em cena  e não perdendo o timing cômico de suas piadas. 

A diretora Nisha Ganatra, que tem experiência com filmes de comédia, entende muito bem para quem este longa-metragem está sendo feito e faz um trabalho competente em criar o clima da história. Há sim um apelo nostálgico a versão de 2003, mas, na direção de Ganatra, isso nunca se torna um tópico exagerado, em comparação com outros filmes apelam para a nostalgia e o fan service (detesto essa palavra!); aqui, somente o necessário. O roteiro aqui tem um contexto explicativo que poderia ser um pouco mais enxuto, mas funciona. Além disso, há um esforço da produção em remediar o orientalismo da versão anterior, colocando atores de ascendência asiática em papéis de destaque e agência, e trocando o dispositivo do bolinho da sorte por uma quiromante fracassada (uma participação divertida de Vanessa Bayer).

Comédias como Sexta-Feira 1 e 2, antigamente, eram feitas para ser lançadas diretamente no cinema e com o passar dos anos, tornou-se um gênero bastante nichado para o streaming. Então, é interessante ver um filme do gênero sendo produzido em formato cinematográfico, emulando um estilo de filme que não se produz muito no cenário atual. Porém, mesmo com investimento e uma boa direção, o filme tem um trabalho de fotografia um pouco aquém, menos ousado, se compararmos o longa de 2003; substituindo movimentos e jogos de câmera com efeitos visuais cafonas e baratos que parecem vindo de algum filtro do tiktok. 

A continuação de 2025, com seus acertos e erros, é uma comédia leve e divertida, que revisita seu antecessor, dando o devido respeito que lhe cabe na trama e personagens, com performances cômicas sólidas de seu elenco e sem exagerar demais no quesito da nostalgia. É um longa-metragem que nos lembra o motivo de termos gostado do primeiro filme, em primeiro lugar; mesmo que não tenha o mesmo frescor de outrora. Mesmo raio, contextos diferentes. 

O único questionamento que me permito a fazer, após o filme, é este: será que este estilo de narrativa de troca de corpos e amadurecimento seria um tema atemporal, ou será que é o efeito de mais uma sexta-feira louca nos cinemas? Talvez o tempo nos dará esta resposta.


                                                                  Autor:
                                  

Eduardo Cardoso é natural do Rio de Janeiro, Cidade Maravilhosa. Cardoso é graduado em Letras pela Universidade Federal Fluminense e mestre em Estudos de Linguagem na mesma instituição, ao investigar a relação entre a tragédia clássica com a filmografia de Yorgos Lanthimos. Também é escritor, tradutor e realizador queer. Durante a pandemia, trabalhou no projeto pessoal de tradução poética intitulado "Traduzindo Poesia Vozes Queer", com divulgação nas minhas redes sociais. E dirigiu, em 2025, seu primeiro curta-metragem, intitulado "atopos". Além disso, é viciado no letterboxd.

quinta-feira, 3 de abril de 2025

Um Filme Minecraft - Blocos, Risos e Personagens Que Precisam de um Pouco Mais de Construção

Minecraft | Warner Bros. Pictures


Um portal misterioso puxa quatro desajustados para o mundo superior, uma terra maravilhosa bizarra e cúbica que prospera na imaginação. Para voltar para casa, eles terão que dominar o terreno enquanto embarcam em uma jornada mágica com um artesão inesperado chamado Steve.

Adaptar um jogo de videogame para o cinema ou a televisão não é algo recente. Desde as décadas de 80 e 90, já surgiam essas tentativas, embora muitas delas não tenham sido bem-sucedidas. No entanto, nos últimos anos, vimos adaptações de sucesso, assim como outras que não atingiram o mesmo nível de aprovação. Existem diferentes abordagens para fazer essa transição: em vez de adaptar um jogo específico, é possível criar uma história nova utilizando o universo e os personagens do jogo, como foi feito nos filmes do Sonic e do Mario, que acabaram dando certo. Essa abordagem pode ser considerada canônica dentro do universo original, como aconteceu com a série de Fallout. Outra opção é seguir uma adaptação mais fiel, como na série The Last of Us, que, embora tenha mantido muitos elementos do jogo, acrescentaram novos detalhes.

Minecraft é um jogo eletrônico dos gêneros sandbox e sobrevivência, que oferece aos jogadores total liberdade para explorar e jogar sem objetivos fixos. O mundo do jogo é composto por blocos tridimensionais que representam materiais como pedra, água e lava, e os jogadores podem extrair e reposicionar esses blocos para construir e criar estruturas. O sistema de física do jogo é considerado irrealista, especialmente no comportamento dos líquidos. O mundo de Minecraft é praticamente infinito e gerado proceduralmente enquanto os jogadores o exploram. Embora existam limites para o movimento vertical, o jogo permite a criação de vastos mundos no plano horizontal. No filme, são apresentados tanto o mundo real quanto o mundo de Minecraft.

O protagonista, Steve, que no jogo é uma figura do universo pixelado, é retratado como uma pessoa do nosso mundo que acaba sendo transportada para esse mundo de blocos, onde assume o papel de guia para outros personagens que chegam ali. Além dele, o enredo também apresenta Garrett Garrison, um ex-campeão de videogame que alcançou o sucesso muito cedo, mas, com o tempo, não conseguiu recuperá-lo, o que resultou em um ego inflado e uma busca incessante por validação. A história inclui ainda Henry, um jovem criativo e inteligente, sua irmã mais velha, Natalie, que se tornou responsável por ele, e Dawn, uma mulher que apoia Natalie e desempenha vários empregos, incluindo o de veterinária.

A dinâmica entre Steve e Garrett é interessante e rende bons momentos cômicos. A arrogância de Garrett, por exemplo, contrasta de forma divertida com a abordagem mais prática e simples de Steve. Um exemplo disso é a cena em que Steve ensina Garrett a cozinhar no mundo de blocos. Steve prepara uma galinha cozida usando lava, mas, como era de se esperar, a comida fica extremamente quente, o que dificulta para Steve comer. Garrett, por outro lado, consegue comer, mas não por muito tempo, criando uma situação hilária em que a resistência de Garrett é posta à prova. Esse tipo de interação entre os dois traz leveza e humor à narrativa.

Natalie e Henry vivenciam a clássica subtrama entre irmãos: ambos são órfãos, e a irmã mais velha se vê forçada a assumir a responsabilidade de cuidar do irmão mais novo. Natalie, em sua tentativa de se ajustar à nova cidade, busca um emprego, enquanto Henry, tentando se enturmar na escola, acaba se metendo em uma grande confusão. Embora essa dinâmica de irmãos enfrentando dificuldades seja algo familiar e até comovente, a forma como é abordada cai em clichês, como a figura da irmã responsável e o irmão que acaba arrumando alguma encrenca.

Dawn não possui uma subtrama propriamente desenvolvida na história. Seu personagem é introduzido de forma superficial, com a informação de que ela desempenha diversos empregos, mas isso é tudo o que é revelado sobre ela. Não há exploração de suas motivações, desafios pessoais ou qualquer contexto que justifique suas escolhas ou ações. Isso a torna um tanto unidimensional, limitando seu impacto na trama. Para tornar a personagem mais interessante, seria necessário um maior aprofundamento, seja no aspecto emocional, nas relações com outros personagens, ou nas razões que a levam a assumir tantos empregos, além de uma contextualização mais rica sobre sua vida fora desse papel de apoio.

Outro ponto que me incomodou no filme foi o tratamento das personagens femininas. Em determinado momento, os personagens masculinos se separam das personagens femininas, e enquanto os rapazes estão envolvidos em grandes aventuras, as mulheres simplesmente encontram um lobo, que é o animal de estimação do Steve, e passam o tempo todo procurando por ele. Esse papel secundário e sem maiores desafios para as personagens femininas parece subaproveitar seu potencial e limita a profundidade de suas participações na trama.

Em relação ao CGI, ficou bem feito. No trailer, pode causar um certo estranhamento, mas, ao se acostumar com o universo de formato quadrado proposto, é possível apreciar o visual sem maiores dificuldades. Até mesmo o aldeão do filme, que inicialmente pode parecer fora de lugar, acaba se encaixando bem nesse estilo.

Um Filme Minecraft apresenta uma proposta interessante ao tentar transitar do universo dos jogos para o cinema, explorando a ideia de um mundo cúbico gerado de maneira procedural. No entanto, as subtramas e o desenvolvimento dos personagens não atendem plenamente às expectativas. Embora a obra tenha um grande potencial, falta-lhe profundidade nas relações interpessoais e nos próprios personagens. Ainda assim, é capaz de entregar uma experiência bastante divertida.

Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator em formação e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

Telefone Preto 2 - Do Suspense Psicológico para a Hora do Pesadelo

Telefone Preto 2 | Universal Pictures Pesadelos assombram Gwen, de 15 anos, enquanto ela recebe chamadas do telefone preto e tem visões pert...