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terça-feira, 7 de outubro de 2025

Love Kills (2025) - Anjos da Noite na Cracolândia não surte efeito

Love Kills (2025) | Filmland International


Como diria Lady Gaga, na era The Fame Monster, este filme me deixou "speechless"...

Love Kills (2025) é o primeiro longa-metragem da diretora Luisa Shelling Tubaldini, que produziu diversos projetos como Qualquer Gato Vira-Lata (2011), O Vendedor de Sonhos (2016), Divórcio (2017) e Motorrad (2017), e é uma adaptação do quadrinho de mesmo nome de Danilo Beyruth, lançado pela Darkside em 2019. A história trata de vampiros vivendo no centro de um grande centro urbano brasileiro. Portanto, uma adaptação potencialmente queer de uma obra de uma editora de certa importância no gênero terror apresenta-se como uma proposta interessantíssima.

Mas como preconiza a letra da Vera Fischer Era Clubber, ao som da voz de Crystal: "Eu sem depressão, sou uma outra proposta..."  E por mais que a citação ao lado seja uma piada interna deste crítico, realmente o que foi proposto não chega ao resultado final de pé (ou com cabeça) e "depreciativo" aos meus olhos.

No centro de São Paulo, devastado pelo crack, uma vampira, Helena (Thaís Lago), assombra um café sujo, cativando um garçom ingênuo, Marcus (Gabriel Stauffer). À medida que ele descobre os segredos dela, assim como o submundo da cidade, passa a ser atraído para um mundo perigoso de intrigas imortais, liderado por um "ex" comparsa dela, Leander (Erom Cordeiro).

O lado positivo dessa experiência é que Tubaldini tem um ótimo olho para fotografia e iluminação das cenas compostas aqui e, além disso, tem as referências de obras vampirescas do cinema na ponta da língua, recriando um estilo neo gótico Y2K que foi popular em filmes dos anos 90 e 2000 como Matrix (1998-2001) e, muito especialmente, a franquia Anjos da Noite (Underworld, 2001-2016). 

Tal como as personagens de Kate Beckinsale e Scott Speedman, no primeiro filme da franquia, há a mesma dinâmica em que um humano mortal acaba entrando no meio de um submundo no qual o desconhece, a ingenuidade de Marcus equivale ao fascínio. Em uma trama em que Helena, uma vampira milenar, deveria assumir o protagonismo, o filme foca mais na personagem masculina e em seus dilemas como um ex-enfrator que recomeça sua vida em um emprego de merda. Porém, tal figura do outsider, seja bem batida a esse ponto (péssimas recordações de quando assisti Eu, Frankenstein nos cinemas séculos atrás...), mais atrapalha do que a ajuda a progressão narrativa.

Se a personagem de Marcus seria o único elo entre o filme e a Cracolândia Paulistana, honestamente, é um desperdício de ambientação. Apesar de ser uma realidade social bastante proeminente no município, a Cracolândia é vista - na verdade, o centro histórico de São Paulo no geral - como um ambiente dispensável, usada por razões puramente estética do que uma grande personagem espacial. 

Existe uma correlação entre o vampirismo e da decadência e o estar à margem da sociedade (este último um tema bastante recorrente e presente nas vivências queer) que, surpreendentemente, é mal feita e em detrimento de plot points que a equipe criativa julga mais essenciais. Há figuras representativas da comunidade no longa, por mais que sejam tão acessórios e mal utilizadas. Do que adianta ter une vamprie chefe não-binarie cheio da grana e de atitude, se o roteiro trata esta personagem como figurante de luxo? Pessoas e personagens LGBTQIAPN+ e periféricos precisam sim ocupar espaços e narrativas. Exemplos não faltam, bons inclusive. Esse não é um deles.

Por mais que a história tenha referências ao lore vampiresco, a obra falha em justamente dar a sua própria versão da mitologia da figura do vampiro, há muitos diálogos expositivos e falas vagas, as regras e as relações do submundo são quase inexistentes. O pior que é o expectador nunca sabe o certo retraduzir os acontecimentos do filme de forma inteligível, afinal como Helena transformou e deu poderes a Leander? Qual é o propósito desse vilão gostoso?  (Sério, Erom Cordeiro caracterizado numa mistura anacrônica de Conde Orlok com Drácula de Lugosi me deixou interessado, em um personagem que só aprece nos últimos dez minutos e... vocês já sabem o resto.) 

Há claramente ruídos no roteiro e a direção é engessada. Para ser caridoso com a diretora, não sei se ela ficou refém do material de partida ou de uma visão mercadológica para uma visibilidade financeira e comercial da produção; afinal, o filme será distribuído pela Warner no ano que vem. No entanto, o filme é limpo demais para ser trash, se leva muito a sério para ser camp, possuí uma estética acima de substância, e impessoal demais para que seja uma reflexão ou metáfora para os espectadores.

Em suma, Love Kills é uma tentativa de cinema comercial brasileiro, com potenciais promissores, mas que nunca são entregues por uma narrativa sem atmosfera e personalidade sedutoras, deixando de sublinhar os pontos de interesse do gênero do horror e da ação. Um estética que vende algo que não é. Um banquete mofado trancafiado no armário. 

Logo... "what doesn't kill you, makes you stronger?" Hum... não sei. 

Te deixa anêmico? Talvez.

*Esta crítica faz parte da cobertura do 27o Festival do Rio, realizado em 2025.

Autor:
                                  

Eduardo Cardoso é natural do Rio de Janeiro, Cidade Maravilhosa. Cardoso é graduado em Letras pela Universidade Federal Fluminense e mestre em Estudos de Linguagem na mesma instituição, ao investigar a relação entre a tragédia clássica com a filmografia de Yorgos Lanthimos. Também é escritor, tradutor e realizador queer. Durante a pandemia, trabalhou no projeto pessoal de tradução poética intitulado "Traduzindo Poesia Vozes Queer", com divulgação nas minhas redes sociais. E dirigiu, em 2025, seu primeiro curta-metragem, intitulado "atopos". Além disso, é viciado no letterboxd.

Queens Of The Dead (2025) - Uma homenagem imperfeita

Queens Of The Dead (2025) | Imovision

Uma caminhoneira, uma drag queen, uma gay padrão, uma mulher trans entram em um bar… Parece até mesmo uma piada pronta. Meio manjada, talvez? A RuPaul riria se alguma queen fizesse essa piada no Drag Race, bem provável. Porém, além disso, o que aconteceria nesse cenário com essas personagens durante uma infestação zumbi? Essa é a premissa de Queens Of The Dead (2025), filme de Tina Romero que contará com distribuição da Imovision no Brasil.

A diretora do longa é filha de George A. Romero, cineasta que popularizou a figura do zumbi, ou morto-vivo, no cinema de terror com dois filmes fundamentais: A Noite dos Mortos Vivos (1968) e Despertar dos Mortos (1978). São filmes revolucionários na história do horror, não só um subgênero foi criado e deixou sua marca no imaginário popular, mas também as narrativas eram metáforas para problemas socioeconômicos da sociedade como o racismo e o capitalismo desenfreado. 

Além disso, o cinema de terror, em geral, tem a capacidade de atrair um público LGBTQIAPN+ fiel, já que as metáforas sobre a monstruosidade e o medo do diferente ressoam com as experiências individuais da comunidade. Portanto, é bastante oportuno realizar um filme que dialoga com o universo de Romero para um público queer

No longa, Dre (Katy O’Brien) é uma promoter em crise de uma boate no cenário club kid do Brooklyn, cuja nova empreitada para seus negócios é uma festa encabeçada pela influencer Yasmine (Dominique Jackson) e o retorno da drag Samoncé (Jaquel Spivey), também chamada “out of drag” de Sam, que havia abandonado aos palcos por uma crise de pânico. Porém, tudo muda com a erupção de um apocalipse zumbi e o grupo eclético de personagens, de diferentes bolhas da comunidade, deve “superar suas diferenças” em meio a adversidade que o cerca. 

Tina Romero acerta em configurar um filme como uma comédia de terror, mirando no em uma leitura queer camp. Romero consegue construir o set up de cenários e situações de forma satisfatória: o som dos sintetizadores, o uso de cores neon vivas na iluminação, o clima atmosférico da entrada de um morto-vivo em cena; sua direção consegue estabelecer bem a situação central e não tem medo do ridículo, seja drag queens fazendo cruising em uma igreja, ou seja um casal de influencers oportunistas, ou seja um personagem atirando um machado em um zumbi e errando o alvo em outra pessoa, ou seja por ratazanas ou bebês zumbis. São situações exageradas que conseguem ser honestamente divertidas.

Romero amplia a metáfora do consumismo herdada de seu pai para a era das redes sociais em que a população está cada vez mais viciada nas vidas das blogueiras e influenciadoras e em sua relação parassocial, que tanto é vista como alienadora quanto parasitária. As aparências viram o entretenimento das massas, portanto essas figuras possuem um valor monetário, corpos que lucram pela própria existência e imagem. No caso em específico de pessoas LGBTQIAPN+, elas representam um status de progressão social e são usadas como tokens ambulantes por pessoas de fora da comunidade. O roteiro também toca na concepção do “fracasso queer” que atravessa as personagens e este é o principal ponto que as une em um momento crítico em especial. 

Se em sua temática, Queens Of The Dead consegue atualizar o conceito do universo através de uma sátira descarada, a narrativa não consegue dar um arco dramático a suas personagens.  

O filme tem bons performers em seu elenco como O’Brien (de Love Lies Bleeding), Spivey (da versão musical de Mean Girls), Nina West (de Drag Race), Jack Heaven (de I Saw The TV Glow), a comediante Margaret Cho e Dominique e Cheyanne Jackson (não são parentes!), entre outros; mas seus personagens são escritos de forma tão unidimensional, que a maioria não sustenta uma virada dramática. Talvez o arco que funcione mais e a relação entre as personagens de Spivey e West e o dilema entre Sam, a pessoa pública, e Samoncé, a drag queen. Apesar disso, a atriz e ícone Dominique Jackson rouba a cena do filme ao interpretar uma versão caricata de si mesma (e ainda estarei aplaudindo de pé e com um leque na mão).

Apesar de suas falhas ou ideias que não dão tão certo, Queens Of The Dead é um filme que mistura o trash e o camp, o sangue com o glitter, o drama com o absurdo em que, por uma ironia, um death drop pode ser fatal. Em suma, assim como as queers fracassadas de sua trama, é uma homenagem imperfeita e não há nenhum problema nisso.

*Esta crítica faz parte da cobertura do 27o Festival do Rio, realizado em 2025.

Autor:
                                  

Eduardo Cardoso é natural do Rio de Janeiro, Cidade Maravilhosa. Cardoso é graduado em Letras pela Universidade Federal Fluminense e mestre em Estudos de Linguagem na mesma instituição, ao investigar a relação entre a tragédia clássica com a filmografia de Yorgos Lanthimos. Também é escritor, tradutor e realizador queer. Durante a pandemia, trabalhou no projeto pessoal de tradução poética intitulado "Traduzindo Poesia Vozes Queer", com divulgação nas minhas redes sociais. E dirigiu, em 2025, seu primeiro curta-metragem, intitulado "atopos". Além disso, é viciado no letterboxd.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

Queer - O descobrimento através do surreal

Queer | A24

Do diretor que abriu o ano com seu aclamadissimo filme “Rivais”, Luca Guadagnino decide mostrar o quão diferente suas obras podem ser, e de forma incrível conta em película o livro “Queer” de Burroughs, um conto que foge totalmente do “padrão” Guadagnino.

Me encanta muito a primeira parte do filme, principalmente na construção do personagem de Lee, vemos um homem que sofreu e sofre tanta descriminação que por muitas vezes se sente culpado por ser quem é, e por isso age da forma que vemos. Outro ponto que me atrai bastante é a materialização dos desejos de William Lee, como aqueles pensamentos mais puros deles se materializam em tela de forma quase espiritual.

Um filme que começa numa espécie de realismo bem centrado na relação de seu protagonista com sua sexualidade, porém que transita para um surrealismo totalmente surpreendente, afinal a primeira metade não nos prepara para algo assim, e isso é maravilhoso.

Personagens apresentados de forma fechada e fria, quando a conexão mundana não é capaz de suprir os desejos dos personagens, a solução é escapar para o surreal, onde não há limitações de alma e corpo, onde não é preciso se expressar verbalmente, apenas sentir.

Na minha visão o filme ganha muita força quando abraça o surrealismo de forma total, quando você se entrega totalmente ao que está vendo, é como se estivesse junto à eles naquela viagem. Cada cena é visualmente espetacular e única, personagens vomitando corações, corpos que se abraçam e se unem, Lee observando ele mesmo no apartamento, entre muitas outras.

Guadagnino mesmo que filme de forma bastante clássica, observamos uma desconstrução moderna em sua narrativa. Os corpos são postos em cena como principal meio de expressão dos sentimentos, além disso a forma com que o tesao do filme se sustenta apenas no físico, nos corpos que compõe a cena, diferentemente de Rivais.

Autor:


Me chamo Gabriel Zagallo, tenho 18 anos, atualmente estou cursando o 3º ano do ensino médio e tenho o sonho de me tornar jornalista, sou apaixonado por cinema e desejo me especializar nisso. Meus filmes favoritos são Stalker, Johnny Guitar, Paixão e Rio, 40 graus.

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