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segunda-feira, 22 de setembro de 2025

Ne Zha 2: O Renascer Da Alma - Entre a Confusão e o Topo da Bilheteria

Ne Zha 2 | A2 Filmes


Após uma grande catástrofe, as almas de Ne Zha e Ao Bing são salvas, mas seus corpos enfrentam a ruína. Para lhes dar uma nova vida, Taiyi Zhenren recorre à mística lótus de sete cores em uma ousada tentativa de reconstruí-los e mudar seus destinos.

A sequência retoma imediatamente os eventos do primeiro filme, iniciando com a épica batalha entre Ne Zha e Ao Guang, o Rei Dragão do Mar do Leste. Esse começo direto reforça a conexão com o longa anterior e demonstra respeito pela narrativa já estabelecida. Ao continuar exatamente de onde parou, o filme aprofunda o conflito e expande a trama com intensidade e ritmo consistentes, mantendo a tensão e o envolvimento do público. Após os acontecimentos finais do primeiro filme, Ne Zha e Ao Bing restaram apenas como almas.

Ambos tentam recuperar seus corpos, mas apenas Ne Zha tem sucesso. Sem alternativa, Ao Bing é forçado a habitar temporariamente o corpo de Ne Zha. Diante dessa situação, Ao Guang propõe um cessar-fogo: Ne Zha e Ao Bing deverão compartilhar o corpo por sete dias e enfrentar três provações para alcançar a imortalidade. Caso sejam bem-sucedidos, receberão uma poção capaz de restaurar o Lótus Sagrado e criar um novo corpo para Ao Bing — o que levará as forças de Ao Guang a recuarem. Trata-se de uma continuação que respeita o legado do original, mas que também se arrisca a expandir seu universo de forma ambiciosa e satisfatória.

No primeiro filme, Ne Zha era retratado como um encrenqueiro rejeitado por todos da vila, visto com desconfiança por ser um "demônio". Na continuação, embora sua personalidade rebelde e provocadora permaneça, nota-se um sutil amadurecimento do personagem. Ele começa a compreender o valor de ajudar os outros e demonstra, ainda que relutantemente, traços de empatia e responsabilidade. Essa transição, no entanto, é tratada com cuidado pelo roteiro, que evita transformá-lo repentinamente em um herói tradicional. Em vez disso, o filme mantém sua essência desbocada e irreverente — o que, embora possa parecer exagerado em alguns momentos, reforça a coerência com seu arco anterior. Um exemplo emblemático desse contraste ocorre quando Ne Zha e seu mestre, Taiyi, chegam ao sagrado Palácio Yuxu, onde o protagonista enfrentará importantes provações.

Mesmo diante da solenidade do lugar, ele urina em um canto do palácio, evidenciando seu desrespeito pelas convenções e sua tendência a romper com o esperado. Essa cena, embora cômica e propositalmente provocativa, pode dividir opiniões: para alguns, reforça o carisma anárquico do personagem; para outros, pode parecer um exagero que enfraquece a seriedade do momento. Ainda assim, essa abordagem irreverente é parte fundamental da identidade do filme, que opta por equilibrar elementos de comédia e fantasia com uma jornada de crescimento pessoal. Ne Zha continua sendo um anti-herói instável, mas é justamente nesse conflito interno que reside o interesse por sua trajetória.

Diferentemente do filme anterior, que tinha cerca de uma hora e cinquenta minutos, esta sequência é mais longa, com duração de duas horas e vinte e quatro minutos. Embora a extensão maior permita um desenvolvimento mais detalhado da história, em certos momentos o ritmo acaba se tornando arrastado, tornando a experiência um pouco cansativa. Acredito que uma edição mais enxuta teria ajudado a manter o interesse do público ao longo de toda a projeção.

Ne Zha 2: O Renascer Da Alma mantém a essência ousada do primeiro filme, ampliando seu universo com profundidade e respeito à narrativa original. Apesar da duração maior, que por vezes torna o ritmo mais lento, o filme entrega uma história envolvente, equilibrando ação, emoção e fantasia, sendo uma continuação satisfatória para fãs e novos espectadores.

Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

Irmão Urso - A Joia Subestimada da Era Experimental da Disney

Irmão Urso | Disney


Kenai é um jovem índigena que tem aversão a ursos. Após um trágico evento envolvendo seu irmão Sitka, Kenai se vê transformado em um urso. Agora, ele precisa contar com a ajuda de Koda, um filhote de urso, para chegar a uma montanha mágica onde acredita poder voltar à sua forma humana.

Irmão Urso foi um dos filmes lançados durante a era experimental da Disney, um período em que muitos filmes não receberam o reconhecimento merecido em sua época, mas com o passar dos anos se tornaram cultuados. Lançado nos anos 2000, o filme pode ser considerado injustiçado, pois carrega uma mensagem profunda sobre amadurecimento e autodescoberta. A história de Kenai, que inicialmente não entende o significado do seu totem (o urso do amor), reflete a luta contra uma masculinidade tóxica que o impede de aceitar sentimentos mais profundos, como o amor.

A animação ensina que o amor transcende barreiras e que, assim como os humanos, os ursos também são capazes de amar. Percebendo isso ao conhecer Koda, um urso filhote alegre e carinhoso, Kenai começa a entender o verdadeiro significado de seu totem. Koda, que o vê como um irmão mais velho, cria um vínculo genuíno e afetuoso com Kenai, desafiando suas crenças anteriores. 

A obra se destaca pelo seu estilo de arte belíssimo e expressivo. O filme apresenta paisagens deslumbrantes inspiradas na natureza selvagem da América do Norte, com florestas densas, montanhas majestosas, rios cristalinos e céus coloridos pela aurora boreal. A animação aposta em cores vibrantes e contrastes marcantes, criando uma atmosfera visual rica que reforça o tom espiritual e poético da história. Um detalhe artístico notável é a mudança sutil no formato da imagem ao longo do filme: no início, a tela tem proporções mais estreitas e cores mais frias, refletindo a visão limitada e endurecida de Kenai. Quando ele se transforma em urso, o formato se expande para widescreen e a paleta de cores se torna mais quente e viva, simbolizando sua abertura a uma nova perspectiva e conexão com o mundo natural.

Desde criança, nunca enxerguei Denahi — o irmão mais velho de Kenai — como o vilão. Na verdade, sua motivação é compreensível: ele acredita que Kenai foi morto por um urso, sem saber que seu irmão havia sido transformado em um. Movido pela dor da perda e pelo desejo de vingança, Denahi parte em busca do animal, sem imaginar a verdade por trás da situação. Logo no início, já é possível perceber a dinâmica entre os irmãos. Kenai e Denahi vivem se provocando, com Denahi frequentemente implicando com o irmão caçula de forma bem-humorada, como parte daquela típica rivalidade fraterna. Essas interações ajudam a construir uma relação crível e afetuosa entre eles, tornando os acontecimentos seguintes ainda mais impactantes emocionalmente.

Para Koda, que desconhece o passado de Kenai como humano, Denahi parece ser o verdadeiro vilão da história. No entanto, é importante entender que Denahi é, na verdade, um antagonista — e antagonista não é sinônimo de vilão. Um antagonista é simplesmente alguém (ou algo) que se opõe ao protagonista e representa um obstáculo em sua jornada. Ele não necessariamente age por maldade, mas por ter objetivos ou crenças que entram em conflito com os do personagem principal. Nesse sentido, Denahi representa mais uma figura trágica do que mal-intencionada, reforçando a complexidade emocional do filme e a forma como ele trata temas como dor, perda, amadurecimento e reconciliação.

Irmão Urso é muito mais do que uma simples animação infantil — é uma obra sensível e reflexiva que aborda temas universais como amadurecimento, empatia, perdão e a capacidade de amar. Com personagens cativantes, uma direção de arte deslumbrante e uma narrativa emocionalmente envolvente, o filme convida o espectador a olhar o mundo com outros olhos, assim como Kenai aprende a fazer ao longo de sua jornada. Mesmo tendo sido subestimado em seu lançamento, a profundidade da sua mensagem e a beleza de sua execução fazem com que a animação mereça ser redescoberta e valorizada como uma das joias emocionais da era experimental da Disney.

Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

segunda-feira, 18 de agosto de 2025

Os Caras Malvados 2 - Redenção difícil, zoeira garantida.

Os Caras Malvados 2 | Universal Pictures

Os Caras Malvados estão lutando para encontrar confiança e aceitação em suas novas vidas como mocinhos quando são retirados da aposentadoria e forçados a fazer “um último trabalho” por um esquadrão do crime composto apenas por mulheres.

No filme anterior, o grupo principal era rotulado como malvado principalmente por conta do preconceito que sofriam por serem animais considerados naturalmente selvagens, perigosos e, portanto, indesejados pela sociedade. Essa marginalização os empurrou para uma vida criminosa, já que, independentemente de suas intenções, eles nunca foram verdadeiramente aceitos ou compreendidos. No entanto, mesmo após sua redenção e os esforços genuínos para se tornarem heróis e fazerem o bem, Os Caras Malvados 2 mostra que a sociedade ainda não está pronta para perdoar ou esquecer o passado deles. A desconfiança persiste, revelando que mudar quem você é por dentro nem sempre é o suficiente quando o mundo ao seu redor continua preso a estigmas e julgamentos antigos. Esse conflito reforça a mensagem de que, muitas vezes, a maior batalha não é contra vilões ou obstáculos externos, mas contra os preconceitos profundamente enraizados nas estruturas sociais.

Esse filme é outro exemplo de sequência que supera seu antecessor, elevando tanto o humor quanto a profundidade emocional dos personagens. Os Caras Malvados 2 mergulha mais fundo nos dilemas internos do grupo, mostrando como cada um lida com a tentação de retornar à antiga vida de crimes enquanto tenta se manter no caminho da redenção. O filme traz o humor ousado característico da DreamWorks, como já vimos em Shrek, por exemplo, na cena em que Shrek chega a Duloc, repara no tamanho da torre do Lorde Farquaad e faz uma piada insinuando que ele estaria tentando compensar alguma coisa. Em Os Caras Malvados 2, o tom é semelhante, especialmente na relação entre o Sr. Cobra e a Sina (ou Susan). Apesar de serem espécies diferentes — algo recorrente nos filmes do estúdio, como o romance entre Melman, a girafa, e Glória, o hipopótamo, em Madagascar — aqui a parceria romântica é entre uma cobra e uma ave. Uma das cenas que melhor exemplifica esse humor mais ousado é os dois se beijando de forma exagerada, com o Sr. Cobra envolvendo totalmente o bico dela com a boca. Em outro momento, durante uma missão em que estão invadindo um cofre, os dois se comunicam por rádio, e o Sr. Cobra faz uma piada com duplo sentido sobre "arrombar o cofre". A conversa acaba sendo ouvida pelo Sr. Piranha, que, chocado, interrompe e pergunta se eles estão mesmo falando do cofre. Enquanto o primeiro filme foi bem mais tímido com esse tipo de piada, aqui os roteiristas se mostraram claramente mais à vontade para ousar — e o resultado é um humor mais afiado, provocativo e divertido.

Aqui, a animação traz bem mais cenas de ação, ao contrário do primeiro filme, que, embora tivesse sequências incríveis — como a cena inicial dos Caras Malvados fugindo da polícia e a da Diane na prisão derrubando os guardas —, apresentava poucas cenas desse tipo. Já nesta continuação, a ação ganha muito mais espaço. Logo no início, há uma sequência ambientada anos antes, quando o grupo ainda era do mal, durante um roubo eletrizante. Além disso, destaca-se a cena da luta livre, em que eles tentam impedir o roubo de um cinturão, trazendo ritmo e intensidade à trama.

A animação continua sendo um verdadeiro espetáculo visual, mantendo a estilosa mistura de 2D com 3D. Há momentos de humor visual bem marcantes, como, por exemplo, quando um dos personagens, em completo desespero, aparece gritando com uma expressão exagerada — totalmente em 2D —, criando um contraste cômico e expressivo com o restante da cena.

Os Caras Malvados 2 consegue ir além do que se espera de uma continuação, entregando um filme que é ao mesmo tempo mais ousado, mais engraçado e mais profundo que o original. Ele não apenas expande o universo e desenvolve ainda mais os personagens, como também reforça temas relevantes sobre identidade, preconceito e aceitação. Com uma animação vibrante, cenas de ação mais intensas e um humor afiado que não tem medo de brincar com os limites, o filme mostra que é possível evoluir sem perder o charme do que veio antes. Seja pela estética marcante, pelas relações inusitadas entre os personagens ou pela crítica social embutida na trama, essa sequência prova que os "caras malvados" ainda têm muito a dizer — e fazer — no mundo dos heróis improváveis. 

Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

segunda-feira, 23 de junho de 2025

Elio - Amizade intergaláctica, roteiro meio espacial

Elio | Disney

Elio se vê transportado pela galáxia e é confundido com o embaixador intergaláctico da Terra.

A animação segue a fórmula clássica do estúdio: um personagem pequeno diante de um mundo muito maior. Um exemplo disso é Toy Story, em que Woody e Buzz, sendo brinquedos, precisam se esconder dos humanos para não revelarem sua verdadeira natureza. Em Elio, o protagonista — uma criança — viaja pelo espaço, o que remete a Wall-E, tanto pela grandiosidade do cenário quanto pela jornada solitária do personagem. O filme aborda de forma sensível a solidão do protagonista, uma criança órfã e sem amigos, que encontra no espaço uma forma de escapar de sua realidade. Movido por uma paixão genuína pelo universo, ele tenta se comunicar com formas de vida extraterrestre — os alienígenas — numa busca por conexão e pertencimento. Essa premissa traz uma camada emocional interessante à narrativa, tornando a ficção científica mais humana e tocante.

Elio aposta em uma ideia interessante ao explorar a solidão e o pertencimento através de uma aventura intergaláctica, um tema que sempre desperta a curiosidade do público ao misturar elementos de fantasia com questões humanas universais. O roteiro propõe uma reflexão sobre como nos sentimos sozinhos mesmo quando cercados por outros, e como a busca por conexão pode ultrapassar fronteiras e até mesmo espécies. No entanto, apesar da premissa interessante e do potencial para um desenvolvimento mais profundo, o filme sofre com um desenvolvimento narrativo superficial e apressado, que prejudica o envolvimento do espectador com a história. A construção do Comuniverso, embora visualmente criativa e rica em detalhes gráficos, acaba por não ir além da estética. 

A ambientação, que poderia ser um ponto forte para ampliar a imersão, torna-se um cenário vazio que não contribui significativamente para a construção dos personagens ou para o avanço da trama. Os personagens alienígenas, apesar de terem um design interessante e único, carecem de uma complexidade emocional e motivações claras, tornando difícil para o público se conectar verdadeiramente com eles ou entender as nuances de suas ações. Dessa forma, Elio acaba desperdiçando parte do potencial de sua premissa, entregando uma experiência que, embora divertida e visualmente atraente, não consegue deixar uma marca duradoura na memória do espectador. O filme se apresenta como uma aventura leve e acessível, indicada para quem busca entretenimento descomplicado, mas dificilmente será lembrado por sua profundidade ou originalidade. Com um roteiro mais elaborado e uma exploração mais cuidadosa dos temas centrais, Elio poderia ter sido uma obra muito mais impactante e significativa.

A relação entre Elio e Glordon, apesar de suas diferenças marcantes, evolui gradualmente para um vínculo especial — e literalmente de outro planeta. Desde o primeiro encontro, a interação entre os dois personagens revela uma dinâmica repleta de contrastes, mas também de complementaridades inesperadas. Elio, com sua curiosidade humana e fragilidade emocional, encontra em Glordon, um ser alienígena com uma cultura e comportamento totalmente distintos, um contraponto que instiga o crescimento de ambos. A conexão que se forma entre eles é construída com sensibilidade e leveza. Essa amizade interespécies se desenrola de maneira natural, com pequenos gestos e diálogos que revelam aos poucos o quanto, apesar das diferenças óbvias, há um terreno comum na busca por pertencimento e aceitação. Assim, o filme reforça uma mensagem poderosa e universal: a amizade verdadeira pode florescer mesmo entre seres completamente distintos, superando preconceitos e medos, e criando laços que transcendem mundos e origens.

Elio apresenta uma proposta visual interessante e aborda temas como solidão e amizade, mas seu roteiro superficial limita o impacto emocional da história. Embora a relação entre Elio e Glordon seja sensível e cativante, o filme acaba sendo uma aventura agradável, porém pouco memorável. Com um desenvolvimento mais profundo, poderia ter sido uma obra muito mais significativa.


Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

quinta-feira, 22 de maio de 2025

Lilo & Stitch (2025) - Finalmente a Disney Acertou, Apesar de Alguns Desafios Visuais

Lilo e Stich | Disney

O filme conta a história do vínculo afetivo entre uma garota humana solitária chamada Lilo e um alienígena geneticamente modificado chamado Stitch, criado para ser uma força de destruição. A trama envolve alienígenas em perseguição, assistentes sociais atentos e, sobretudo, a ideia de família como um elo construído, não apenas herdado.

O novo longa-metragem é mais uma tentativa da Disney de revisitar seu catálogo por meio de adaptações em live-action. Desta vez, o estúdio retorna a uma animação lançada nos anos 2000 — um período conhecido como a “Era Experimental” da Disney. Essa fase, compreendida entre o fim do chamado Renascimento (1989–1999) e o início da nova era de sucessos como Enrolados e Frozen, é considerada pela própria Disney como sua segunda era sombria. A primeira, entre 1970 e 1988, foi marcada por obras que deixaram legados afetivos, mas não atingiram o mesmo prestígio comercial e crítico dos clássicos da Era de Ouro.

Durante a Era Experimental, a Disney tentou se afastar da fórmula tradicional que havia consagrado o estúdio nos anos 1990. Investiu em novas linguagens, abordagens visuais diferentes e temas menos convencionais. Ainda que essas apostas tenham sido louváveis do ponto de vista criativo, muitas delas resultaram em bilheterias modestas e recepção crítica dividida. Lilo & Stitch (2002), no entanto, destacou-se como exceção: foi um sucesso de público e crítica, conquistou uma base fiel de fãs e tornou-se uma das marcas mais queridas da empresa nas últimas décadas.

A adaptação em live-action permanece bastante fiel à animação original, preservando os principais elementos que cativaram o público. Como é natural em qualquer transposição, algumas mudanças foram feitas — e, em geral, de maneira cuidadosa e respeitosa. Uma das alterações mais notáveis é a ausência do vilão Gantu, que, embora tivesse papel limitado no filme original (aparecendo mais no início e no final), acabou se tornando um dos antagonistas centrais na série derivada. Confesso que essa ausência me preocupou inicialmente, mas felizmente a narrativa encontrou outras formas de gerar tensão e conflito, sem comprometer a essência emocional e divertida da história. A substituição de Gantu por novos elementos abre espaço para uma abordagem diferente, que explora nuances inéditas dos personagens e do universo de Lilo & Stitch, mantendo seu espírito com uma perspectiva renovada.

Embora o filme apresente sua própria mitologia e elementos de ficção científica, o coração da trama continua sendo emocional, centrado no tema da família. É impossível ignorar a importância de Nani na narrativa — algo já marcante na animação original. Nani é uma verdadeira guerreira: cuida sozinha da irmã caçula, Lilo, enquanto luta para manter um emprego e garantir alguma estabilidade para ambas. Quando assistimos ao filme na infância, é comum enxergá-la como a “irmã chata”, sempre impondo regras e limites. No entanto, ao rever a história com um olhar mais maduro, fica claro que suas ações são movidas por amor, responsabilidade e sacrifício. Nani não está apenas tentando manter a ordem — ela está lutando com todas as forças por um futuro melhor para sua família. Essa profundidade emocional é o que torna Lilo & Stitch tão poderoso e atemporal, tocando diferentes gerações de maneiras distintas.

Um dos pontos que mais gerou expectativa e preocupação antes do lançamento foi o CGI, especialmente em relação ao Stitch. E, felizmente, o resultado surpreendeu positivamente. O personagem foi recriado com um equilíbrio notável entre fidelidade ao design original e adaptação ao realismo do live-action. A textura da pele, os olhos expressivos e a fluidez da movimentação deram vida ao Stitch de forma convincente, sem parecer artificial. O modelo 3D respeita as proporções caricatas do original, mas com um acabamento realista que se encaixa bem no novo ambiente. Além disso, o CGI consegue transmitir emoções com clareza, mantendo intacta a conexão emocional que o personagem sempre proporcionou. Em suma, o visual do Stitch é um dos grandes acertos da produção, demonstrando um cuidado especial em preservar a identidade do personagem sem comprometer a estética live-action.

Por outro lado, o CGI do Jumba e do Pleakley causa certa estranheza à primeira vista, tornando a transição para o live-action visualmente mais desafiadora. No caso de Jumba, sua estrutura corporal robusta e traços exagerados parecem um pouco deslocados no contexto realista do filme. Pleakley, com seu corpo alongado e feições excêntricas, também enfrenta dificuldades na adaptação, resultando em um visual inicialmente destoante. No entanto, à medida que a narrativa avança, essas escolhas visuais se tornam mais aceitáveis. Felizmente, o carisma da dupla permanece intacto: Jumba continua sendo o cientista maluco e impulsivo, enquanto Pleakley conserva seu entusiasmo contagiante pela Terra, quase como um especialista obcecado pelo planeta. Apesar das limitações visuais, a essência dos personagens e a dinâmica entre eles seguem divertidas e reconhecíveis.

Lilo & Stitch consegue respeitar o legado da animação original, mantendo a essência que conquistou o público, ao mesmo tempo em que traz uma nova visão sobre essa história atemporal. A adaptação live-action consegue equilibrar a fidelidade ao material original e a necessidade de atualização, explorando aspectos visuais e narrativos que ampliam a compreensão da trama. Ao longo do filme, a mensagem central sobre a família se fortalece, destacando que o verdadeiro significado de ser uma família vai além do laço sanguíneo: ela é construída por meio de escolhas, amor e dedicação, independentemente de onde você venha ou das circunstâncias. Essa abordagem renovada reforça a universalidade da história e a importância de criar vínculos genuínos, mostrando que, por mais diferentes que sejamos, a conexão humana é o que realmente define a família.

Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.




quinta-feira, 3 de abril de 2025

Um Filme Minecraft - Blocos, Risos e Personagens Que Precisam de um Pouco Mais de Construção

Minecraft | Warner Bros. Pictures


Um portal misterioso puxa quatro desajustados para o mundo superior, uma terra maravilhosa bizarra e cúbica que prospera na imaginação. Para voltar para casa, eles terão que dominar o terreno enquanto embarcam em uma jornada mágica com um artesão inesperado chamado Steve.

Adaptar um jogo de videogame para o cinema ou a televisão não é algo recente. Desde as décadas de 80 e 90, já surgiam essas tentativas, embora muitas delas não tenham sido bem-sucedidas. No entanto, nos últimos anos, vimos adaptações de sucesso, assim como outras que não atingiram o mesmo nível de aprovação. Existem diferentes abordagens para fazer essa transição: em vez de adaptar um jogo específico, é possível criar uma história nova utilizando o universo e os personagens do jogo, como foi feito nos filmes do Sonic e do Mario, que acabaram dando certo. Essa abordagem pode ser considerada canônica dentro do universo original, como aconteceu com a série de Fallout. Outra opção é seguir uma adaptação mais fiel, como na série The Last of Us, que, embora tenha mantido muitos elementos do jogo, acrescentaram novos detalhes.

Minecraft é um jogo eletrônico dos gêneros sandbox e sobrevivência, que oferece aos jogadores total liberdade para explorar e jogar sem objetivos fixos. O mundo do jogo é composto por blocos tridimensionais que representam materiais como pedra, água e lava, e os jogadores podem extrair e reposicionar esses blocos para construir e criar estruturas. O sistema de física do jogo é considerado irrealista, especialmente no comportamento dos líquidos. O mundo de Minecraft é praticamente infinito e gerado proceduralmente enquanto os jogadores o exploram. Embora existam limites para o movimento vertical, o jogo permite a criação de vastos mundos no plano horizontal. No filme, são apresentados tanto o mundo real quanto o mundo de Minecraft.

O protagonista, Steve, que no jogo é uma figura do universo pixelado, é retratado como uma pessoa do nosso mundo que acaba sendo transportada para esse mundo de blocos, onde assume o papel de guia para outros personagens que chegam ali. Além dele, o enredo também apresenta Garrett Garrison, um ex-campeão de videogame que alcançou o sucesso muito cedo, mas, com o tempo, não conseguiu recuperá-lo, o que resultou em um ego inflado e uma busca incessante por validação. A história inclui ainda Henry, um jovem criativo e inteligente, sua irmã mais velha, Natalie, que se tornou responsável por ele, e Dawn, uma mulher que apoia Natalie e desempenha vários empregos, incluindo o de veterinária.

A dinâmica entre Steve e Garrett é interessante e rende bons momentos cômicos. A arrogância de Garrett, por exemplo, contrasta de forma divertida com a abordagem mais prática e simples de Steve. Um exemplo disso é a cena em que Steve ensina Garrett a cozinhar no mundo de blocos. Steve prepara uma galinha cozida usando lava, mas, como era de se esperar, a comida fica extremamente quente, o que dificulta para Steve comer. Garrett, por outro lado, consegue comer, mas não por muito tempo, criando uma situação hilária em que a resistência de Garrett é posta à prova. Esse tipo de interação entre os dois traz leveza e humor à narrativa.

Natalie e Henry vivenciam a clássica subtrama entre irmãos: ambos são órfãos, e a irmã mais velha se vê forçada a assumir a responsabilidade de cuidar do irmão mais novo. Natalie, em sua tentativa de se ajustar à nova cidade, busca um emprego, enquanto Henry, tentando se enturmar na escola, acaba se metendo em uma grande confusão. Embora essa dinâmica de irmãos enfrentando dificuldades seja algo familiar e até comovente, a forma como é abordada cai em clichês, como a figura da irmã responsável e o irmão que acaba arrumando alguma encrenca.

Dawn não possui uma subtrama propriamente desenvolvida na história. Seu personagem é introduzido de forma superficial, com a informação de que ela desempenha diversos empregos, mas isso é tudo o que é revelado sobre ela. Não há exploração de suas motivações, desafios pessoais ou qualquer contexto que justifique suas escolhas ou ações. Isso a torna um tanto unidimensional, limitando seu impacto na trama. Para tornar a personagem mais interessante, seria necessário um maior aprofundamento, seja no aspecto emocional, nas relações com outros personagens, ou nas razões que a levam a assumir tantos empregos, além de uma contextualização mais rica sobre sua vida fora desse papel de apoio.

Outro ponto que me incomodou no filme foi o tratamento das personagens femininas. Em determinado momento, os personagens masculinos se separam das personagens femininas, e enquanto os rapazes estão envolvidos em grandes aventuras, as mulheres simplesmente encontram um lobo, que é o animal de estimação do Steve, e passam o tempo todo procurando por ele. Esse papel secundário e sem maiores desafios para as personagens femininas parece subaproveitar seu potencial e limita a profundidade de suas participações na trama.

Em relação ao CGI, ficou bem feito. No trailer, pode causar um certo estranhamento, mas, ao se acostumar com o universo de formato quadrado proposto, é possível apreciar o visual sem maiores dificuldades. Até mesmo o aldeão do filme, que inicialmente pode parecer fora de lugar, acaba se encaixando bem nesse estilo.

Um Filme Minecraft apresenta uma proposta interessante ao tentar transitar do universo dos jogos para o cinema, explorando a ideia de um mundo cúbico gerado de maneira procedural. No entanto, as subtramas e o desenvolvimento dos personagens não atendem plenamente às expectativas. Embora a obra tenha um grande potencial, falta-lhe profundidade nas relações interpessoais e nos próprios personagens. Ainda assim, é capaz de entregar uma experiência bastante divertida.

Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator em formação e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

Abá e sua Banda - Entre Músicas, Frutas e Revolução, A Política Nunca Foi Tão Animada!

Abá e sua Banda | Globo Filmes


Abá é um jovem príncipe em conflito com seus sonhos musicais e suas responsabilidades. Após romper com o pai, ele foge para se apresentar no Festival da Primavera ao lado dos amigos e descobre os planos de seu tio para acabar com a diversidade de Pomar.

A animação ensina política para as crianças por meio de uma analogia que compara o reino a uma cidade ou país. Nesse cenário, a população está revoltada com o governante devido às suas ações autoritárias, injustiças ou falhas na administração. A resistência, composta por cidadãos comuns e grupos organizados, busca derrubar esse governante para promover mudanças e garantir mais direitos e liberdade para todos. No entanto, a lição que Abá transmite vai além da simples abordagem de revoltas ou revoluções. 

Ele ensina às crianças que, para que a mudança seja realmente positiva, é necessário compreender as razões por trás da insatisfação. A política não se resume apenas a quem ocupa o poder, mas a como esse poder é exercido e quais valores ele promove. O filme também destaca a importância de cuidar do planeta e respeitar todos os seres vivos ao nosso redor, transmitindo a mensagem de que o meio ambiente é fundamental para nossa sobrevivência e bem-estar. Além disso, enfatiza a necessidade de união para que a sociedade evolua, mostrando que colaboração e solidariedade global são essenciais para resolver os desafios que enfrentamos.

O título Abá e sua Banda sugere que o protagonista faz parte de uma banda musical, indicando que o filme se insere no universo da música. Para os fãs desse gênero, o longa traz referências a bandas, frequentemente acompanhadas de trocadilhos relacionados a frutas. No entanto, como filme musical, ele acaba deixando a desejar ao não apresentar uma melodia marcante, com uma trilha sonora que, infelizmente, se revela bastante esquecível. 

A única música que realmente me agradou foi O Rap dos Rebeldes. Essa faixa é um manifesto dos jovens rebeldes que, por meio das rimas e da batida, expressam suas dificuldades, as injustiças que percebem ao seu redor e seus sonhos de mudança. Toca em temas como liberdade, igualdade e resistência ao sistema — conceitos comuns no rap, mas também apresenta uma abordagem de resistência positiva, que foca no poder da união e da ação coletiva. 

O estilo de rap se torna uma poderosa forma de expressão das angústias e desejos dos personagens. Suas rimas abordam questões como a rebeldia contra normas opressoras, a busca por um mundo melhor e a valorização de uma juventude que se une para transformar a realidade ao seu redor. O Rap dos Rebeldes não é apenas uma música, mas um símbolo do movimento dos protagonistas, que, como membros de uma banda, utilizam a música como forma de protesto e, ao mesmo tempo, como um meio para conscientizar outros jovens sobre o poder da união e da transformação. A canção reforça o tema central da animação: a importância de lutar pelos próprios ideais, mesmo que isso signifique ir contra a corrente.

O estilo visual da animação é amplamente inspirado na arte indígena brasileira. Isso se reflete nas formas geométricas simples, padrões simétricos e o uso de linhas orgânicas e fluidas. As ilustrações de personagens e cenários fazem uso de uma paleta de cores vivas e saturadas, que lembram as tintas e pigmentos naturais usados pelas culturas indígenas para pintar corpos e artefatos. Os traços são muitas vezes arredondados e orgânicos, com algumas representações de personagens que possuem características estilizadas que lembram as pinturas corporais e as esculturas tradicionais das tribos. As formas dos personagens são simplificadas e destacam-se pela estilização, sem perder a essência cultural e simbólica. 

A animação utiliza uma paleta de cores quentes e intensas, dominadas por tons de laranja, vermelho, amarelo e verde, representando tanto o calor tropical do Brasil quanto as cores vibrantes da natureza. A paleta é pensada para evocar a energia da terra e da floresta, com destaque para os cenários naturais, como as florestas tropicais e rios, que são representados com tons de verde e azul em harmonia. A paleta de cores também varia de acordo com as emoções e momentos da história. Durante cenas mais agitadas ou de crescimento, as cores são mais saturadas e intensas. Já em momentos mais introspectivos ou reflexivos, há um uso mais suave de tons pastéis e sombras mais suaves.

Abá e sua Banda é uma animação que aborda temas como política, resistência e preservação ambiental de forma educativa. A obra transmite importantes lições sobre união, transformação social e o cuidado com o meio ambiente, convidando as crianças a refletirem sobre a importância da colaboração e da justiça. Ao entrelaçar esses valores, a animação se estabelece como uma poderosa ferramenta para sensibilizar as novas gerações sobre a responsabilidade coletiva e o impacto das escolhas individuais na construção de um futuro mais justo e sustentável.

Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator em formação e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

terça-feira, 18 de março de 2025

Deu Preguiça! - Recomeços e Laços Familiares

Deu Preguiça! | Imagem Filmes

Em Deu Preguiça!, após uma tempestade devastadora que destrói sua casa, Laura, a preguiça mais veloz de sua comunidade, decide recomeçar sua vida na cidade grande. Junto de sua família excêntrica, ela se muda para a nova cidade em seu velho e enferrujado food truck, com a esperança de transformar seu negócio em um sucesso. A trama acompanha a jornada de Laura e seus entes queridos enquanto enfrentam os desafios de um novo começo. Ao tentar se estabelecer e conquistar clientes, eles descobrem que a verdadeira força reside na união familiar e na determinação para vencer as adversidades. A deliciosa comida preparada por Laura logo chama a atenção, mas, além de novos clientes, outros desafios surgem, colocando à prova a coragem da família. 

Deu Preguiça! faz parte da franquia “The Tales from Sanctuary City”, iniciada em 2020, esse sendo o quinto longa desse universo. Embora eu não tenha assistido aos filmes anteriores, o filme consegue funcionar de maneira independente, oferecendo uma experiência completa e acessível para quem está entrando no universo agora. A obra se sustenta por si mesma, sem a necessidade de um conhecimento prévio da franquia, o que é uma qualidade importante para atrair novos públicos. No entanto, para os fãs da série, é possível que alguns elementos e referências aos filmes anteriores enriqueçam ainda mais a narrativa.


A narrativa se concentra na relação entre Laura, a filha, e sua mãe, Gabriella, após a mudança para a cidade grande. Enquanto Laura quer aproveitar o tempo para brincar com seus amigos e viver novas experiências, ela se vê obrigada a priorizar as necessidades da família. Esse conflito entre suas vontades pessoais e as responsabilidades familiares é um dos principais temas do filme, ressaltando como, muitas vezes, os desafios do dia a dia exigem sacrifícios. A história, portanto, não só aborda as dificuldades de recomeçar, mas também a importância da união familiar e como os laços familiares podem influenciar nossas escolhas e perspectivas.

Em paralelo, a trama introduz Dotti, uma vilã ambiciosa e proprietária de uma rede de fast-food popular, que luta para manter sua relevância no mercado diante de inúmeros prejuízos e o fechamento de várias unidades. Desesperada para reverter sua situação, Dotti se depara com a família de preguiças, que, ao chegar na cidade, rapidamente conquista o público com sua comida deliciosa. Em um movimento de pura rivalidade e ganância, ela tenta roubar a receita secreta da família, que é transmitida de geração em geração. Embora a vilã se encaixe no estereótipo de empresária inescrupulosa em busca de sucesso a qualquer custo, sua presença no filme não chega a inovar o gênero. A dinâmica entre ela e a família de preguiças, embora eficaz para criar tensão, cai na previsibilidade de sua trama. O conflito entre o pequeno empreendedorismo e a grande corporação é um tema recorrente, e, embora seja relevante dentro do contexto da história, poderia ser explorado de maneira mais criativa, fugindo um pouco dos clichês típicos dessa disputa.

O filme transmite uma mensagem tocante sobre a importância de valorizar a família, mostrando como os laços familiares são essenciais para enfrentar dificuldades e alcançar objetivos. Embora o tema da união familiar seja bastante explorado, o longa consegue abordá-lo de forma genuína, sem cair em excessos melodramáticos. A trama destaca como o apoio mútuo e o trabalho conjunto podem ser a chave para superar desafios, o que ressoa de maneira positiva, especialmente em um contexto de recomeço. Mesmo sendo uma ideia recorrente, a forma como a história se desenrola, com momentos de cumplicidade e sacrifício, reforça de maneira eficaz essa mensagem, tocando no coração do público de maneira simples e verdadeira.

Deu Preguiça! é uma obra leve e divertida que, embora não se reinvente em todos os aspectos, consegue entregar uma experiência envolvente e positiva. A combinação de uma narrativa simples, com personagens carismáticos e uma mensagem sincera sobre a importância da união familiar, cria uma história que ressoa com o público, especialmente para aqueles em busca de uma produção com valores familiares.

Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator em formação e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

O Homem-Cão - Um Herói Peludo e um Mundo de Nonsense!

O Homem Cão | Universal Pictures


Quando um policial e seu fiel cão policial se machucam no cumprimento do dever, uma cirurgia maluca, mas que salva vidas, os une -- e Homem Cão nasce. Conforme o Homem cão aprende a aceitar sua nova identidade, ele deve impedir que o supervilão felino Pepê, o Gato, se clone e saia em uma onda de crimes.

O filme é uma adaptação do livro homônimo, que por sua vez é um derivado da famosa série literária Capitão Cueca, criada por Dav Pilkey. Essa série, que conquistou uma legião de fãs ao longo dos anos, também recebeu uma adaptação para o cinema pela DreamWorks Animation. Que contava a história de George e Harold, dois meninos travessos e criativos que, com suas peripécias, acabam criando um super-herói improvável. Homem Cão com um humor irreverente e repleto de ação, a adaptação cinematográfica visa capturar a essência da obra original, ao mesmo tempo em que apresenta uma nova perspectiva que vai além do humor bobo e das situações inusitadas. Embora o filme seja eficaz em manter o espírito irreverente da série, ele também questiona e subverte algumas convenções dos filmes de super-heróis tradicionais, trazendo à tona um diálogo interessante sobre amizade, responsabilidade e identidade. Apesar disso, Homem Cão cumpre seu papel como entretenimento leve e divertido, ainda que de forma previsível em muitos momentos. 


A comédia presente no longa é leve, ingênua e absurda, frequentemente se utilizando de um humor exagerado que beira o nonsense, mas também se permite zombar de clichês e situações óbvias. Embora consiga arrancar alguns risos – como no caso do local 'secreto' do vilão Pepê, cujo esconderijo é facilmente identificado por luzes brilhantes que o revelam de forma óbvia –, o humor, em sua maioria, permanece simples e previsível. Em comparação com outras animações do estúdio, como Shrek e Madagascar, que se destacam por um humor mais ousado, com piadas sutis que fazem referência a temas mais adultos e complexos, Homem Cão opta por um tom mais acessível, porém, por vezes, um tanto raso. Enquanto as produções anteriores do estúdio equilibram com maestria elementos que agradam tanto crianças quanto adultos, Homem Cão parece limitado ao seu público-alvo mais jovem, com um humor que, embora eficaz para a faixa etária, pode deixar os adultos menos engajados. A falta de camadas mais sofisticadas de comédia ou de referências mais elaboradas pode ser vista como uma escolha criativa, mas também como uma oportunidade desperdiçada de oferecer uma experiência mais rica e diversificada para todos os públicos.

Os traços da animação do longa, que lembram os de Capitão Cueca, são simples e eficazes, capturando a essência do estilo de Pilkey e adaptando-os para uma animação em Stop-motion. O design dos personagens é exagerado e caricatural, o que realça o humor visual e intensifica as cenas de ação. O cenário, vibrante e cheio de cor, utiliza uma paleta de tons brilhantes que cria uma atmosfera lúdica e envolvente. Além disso, os ambientes são ricamente detalhados, contribuindo para uma experiência imersiva e dinâmica.

O filme oferece uma série de momentos emocionantes e tocantes, como quando Homem-Cão sente a saudade de seu antigo dono, uma cena que explora a profundidade de seu vínculo com ele, destacando a lealdade e o afeto entre eles. Além disso, a relação entre o protagonista e Pepêzinho, o clone do Pepê, também é cheia de sentimentos, mostrando como o amor e a amizade podem se manifestar de maneiras inusitadas e até com um toque de humor. Essa conexão entre os personagens é recheada de momentos de cumplicidade, desafios e descobertas, que, mesmo sendo leves e engraçadas, possuem uma carga emocional significativa. Fazendo com que o público se sinta conectado com cada um dos personagens e suas jornadas.

O Homem Cão é uma adaptação cinematográfica divertida e leve, fiel ao estilo irreverente da série de livros de Dav Pilkey. A animação, com personagens caricatos e humor absurdo, explora temas como amizade, lealdade e identidade de forma acessível para crianças, embora com um humor previsível e simples. Enquanto não atinge a sofisticação de outras animações da DreamWorks, o filme cumpre seu papel de entreter e emocionar, especialmente para o público infantojuvenil, com momentos de comédia e emoção que conectam os espectadores aos personagens.

Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator em formação e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim - Uma Jornada Sem Magia e Surpresas

O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim | Warner Bros. Pictures


O Senhor dos Anéis: A Guerra de Rohirrim acompanha a história não contada por trás do famoso Abismo de Helm, a fortaleza icônica que ajudou na jornada de Aragon, Legolas e Gimli centenas de anos antes da fatídica Guerra dos Rohirrim, contando a vida e os tempos sangrentos de seu fundador, Helm Hammerhand, o rei histórico de Rohan. 183 anos antes das aventuras de Frodo e dos eventos da trilogia original de filmes, O Senhor dos Anéis: A Guerra de Rohirrim acompanha o destino do povo do reino de Rohan e a saga de seu rei Helm, ambos em guerra com Wulf, lorde do povo Dunlending que busca vingança pela morte de seu pai. Será Hera, filha de Helm, porém, quem irá liderar a resistência contra os ataques desse implacável inimigo antes que seja tarde demais.

Após a famosa trilogia de livros de Tolkien, ambientada na Terra-média, ser adaptada para o cinema entre 2001 e 2003, ela se tornou um dos maiores ícones da cultura pop e inspirou diversos jogos de RPG. Sob a direção de Kenji Kamiyama, conhecido por seu trabalho em Star Wars: Visions, e com a produção executiva de Peter Jackson, o mesmo diretor de O Senhor dos Anéis, O Hobbit e King Kong (2005), o filme não tem a intenção de ser uma continuação de O Senhor dos Anéis. Ao contrário, busca contar uma história independente, ambientada em uma antiga guerra no reino de Rohan. 

Para isso, os criadores introduzem uma personagem presente nas obras de J.R.R. Tolkien: a filha de Helm Mão-de-Martelo, Hera. Como fã de animações e de anime, fiquei muito empolgado quando o projeto foi anunciado. No entanto, infelizmente, a obra não atendeu às minhas expectativas. O conflito familiar e a luta entre líderes de diferentes "casas" dentro do mesmo reino fazem com que A Guerra dos Rohirrim se assemelhe mais a Game of Thrones. A fantasia perde destaque, sendo substituída por uma trama centrada em traições, amores não correspondidos e mortes impactantes.

A trama do filme é razoável, tentando alcançar algo grandioso, mas segue caminhos previsíveis quanto ao destino de certos personagens e ao desenvolvimento de outros. Um exemplo disso é o vilão, cuja conexão com Hera é rasa, e sua motivação se resume apenas à vingança, sem uma exploração mais profunda. Isso faz com que seu arco seja monótono e o final, sem surpresas.

A protagonista Héra é uma personagem forte, com uma personalidade marcante, o que representa uma evolução em relação às primeiras obras de Tolkien. Sua jornada, embora eficaz, segue um caminho um tanto genérico, encaixando-se no clichê da princesa rebelde, sem explorar completamente seus desejos e habilidades. O enredo não se limita a ela, mas também destaca Olwyn, uma guerreira do passado, ressaltando que mulheres como ela desempenharam papéis cruciais na defesa de Rohan. Em um cenário de guerra, onde os homens muitas vezes minimizam o papel das mulheres, essas guerreiras são chamadas de volta à ação, trazendo uma nova dinâmica para a Terra-média. O vilão Wulf segue o estereótipo do guerreiro movido por vingança, enquanto os arquétipos masculinos se dividem entre heróis honrados e os gananciosos, dispostos a matar sem considerar o bem maior.

Logo no início de A Guerra dos Rohirrim, a exibição do título é acompanhada pela trilha sonora icônica de O Senhor dos Anéis, composta por Howard Shore, oferecendo uma dose de nostalgia para os fãs da franquia. A música, épica e emocional, com seus elementos orquestrais e corais, evoca a grandiosidade da Terra Média, estabelecendo imediatamente um vínculo com o público. 

No entanto, quando a trilha segue com a composição de Stephen Gallagher, editor de música da trilogia O Hobbit de Jackson, fica claro que ele tenta manter o estilo de Shore, mas sem o mesmo impacto. Embora o retorno ao tema de Rohan seja bem-vindo, a música de Gallagher, por mais competente que seja, acaba sendo uma réplica segura demais do que já conhecemos, sem conseguir oferecer uma identidade única para o novo filme. A familiaridade da trilha sonora traz conforto, mas também revela uma falta de inovação, o que pode deixar os mais exigentes com uma sensação de déjà-vu.

O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim tenta explorar uma nova parte da história de Rohan, mas se afasta dos elementos de fantasia que tornaram a obra original única, focando mais em intrigas políticas e conflitos familiares. A protagonista e os temas de guerra e vingança trazem uma nova dinâmica, mas a trama perde a mística da Terra Média. 

Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator em formação e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

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