quinta-feira, 3 de abril de 2025

Código Preto - Novos Filmes sobre Espionagem são sempre Bem-vindos

Código Preto | Universal Studios


Novos filmes sobre espionagem são sempre bem-vindos. O estilo, que se reinventa a cada obra, não se resume apenas a “007”, “Missão Impossível”, Hitchcock, e afins. Vemos uma gama intensa, atualmente, de longas-metragens que trazem novidades para a categoria que, se não cuidada primorosamente, pode soar piegas. “Código Preto”, de Steven Soderbergh, lançado há pouco tempo, é um dos exemplos de thrillers que mais acrescentam do que reduzem.

George (Michael Fassbender) é um espião casado com Kathryn (Cate Blanchett). Em um matrimônio tranquilo e cheio de carinho, ambos mantém seus próprios segredos, visto que a mulher atua na mesma profissão. Entretanto, quando George se vê diante da tarefa de descobrir um traidor e delator inserido em seu meio de trabalho, Kathryn é uma das principais suspeitas. Não apenas ela; alguém próximo foi responsável por vazar informações importantes destinadas apenas à inteligência. Resta, então, adentrar em um jogo de gato e rato sofisticado, eloquente e até divertido aos olhos dos demais.

Em “Código Preto”, é necessário paciência. Enquanto as camadas dos personagens se desdobram, o espectador é conduzido através de cenas longas, focadas somente nos diálogos afiados e duvidosos, amarradas por uma tensão constante. Junto de Kathryn e George, outros possíveis criminosos são apresentados, como a psicóloga Zoe (Naomie Harris), o companheiro de profissão do casal, James (Regé-Jean Page), e a jovem Clarissa (Marisa Abela). A princípio, ninguém é confiável, e a cautela apresentada nas cenas, a exemplo de uma ambientada no jantar frequentado pelos suspeitos, reverbera o clima de questionamento, procurando instigar cada vez mais o público.


Andando ao lado da atividade de detetive impregnada em George, existe seu casamento com Kathryn. Fassbender e Blanchett, aqui, exibem uma dupla apaixonada tanto por seu parceiro quanto por seus mistérios, não abrindo mão de ares questionáveis inclusive de seu caráter. Os atores, então, hiperdimensionam a personalidade de suas figuras, trazendo ao filme uma profundidade que preza pelo benefício da dúvida a todo momento. Não obstante, os demais personagens nunca demonstram uma única face, o que é sustentado pelo ótimo elenco, aparentemente escolhido a dedo. 

Steven Soderbergh, como já havia provado em seus longas anteriores, detém a capacidade de conduzir de forma classuda, direta e provocativa, histórias que, em tese, parecem simples e clichês. Não é revolucionária a ideia de abordar falhas na inteligência britânica, porém, o corpo que o diretor dá à obra, condensando enigmas que confundem a mente a todo passo dado pelos protagonistas, transforma a experiência de assistir ao filme, inquietante ao passo que é silenciosa. O tom mais quente e estático da fotografia, além disso, combina com a diretiva mensagem de que não se pode confiar em ninguém.


“Código Preto” é capaz de ser tido como uma boa surpresa para o universo dos thrillers de espionagem, dada a boa gerência da produção, que conta ainda com um elenco afiado e comprometido em embolar os pensamentos de quem o vê sem fazer um esforço grandioso. O que o faz monumental, entretanto, é a qualidade da maneira que a trama simples é contada, sendo Cate Blanchett e Michael Fassbender as cerejas do bolo de uma narrativa sedutora e de prender a atenção. Nisso tudo, quem se deleita com um presente, é o espectador. 


Autora:


Laisa Lima 

25 anos, formada em cinema, roteirista, crítica, videomaker e moradora do Rio de Janeiro, minha paixão pelo cinema transcende as telas. 
De “Guarda-Chuvas do Amor” até “Laranja Mecânica”, meu amor pela arte não se prende a nenhum gênero, mas sim ao que me toca. 
Também sou apaixonada pelos pormenores da vida, que se apresentam sem nenhum roteiro. 
Logo, imaginação não falta em mim. 
Sou de tudo um pouco, e procuro sempre expor minha versão mais democrática, que enfrenta a realidade com a maior criatividade possível.



terça-feira, 1 de abril de 2025

Onda Nova - Sexo, drogas, futebol feminino e quebra de tabu

Onda Nova | Vitrine Filmes


Sinopse: ONDA NOVA, 1983, é uma comédia erótica e anárquica que reúne histórias das jogadoras do Gayvotas Futebol Clube, um time de futebol feminino recém-formado em plena ditadura militar, no ano em que o esporte foi regulamentado no Brasil, depois de ter sido banido por 40 anos. Com o apoio de renomados jogadores da época como Casagrande, Pitta e Wladimir, elas enfrentam os preconceitos de uma sociedade conservadora. Paralelamente, lidam com seus problemas pessoais e familiares, e se preparam para um simbólico jogo internacional contra a seleção italiana.

Após sua primeira exibição na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em 1983, Onda Nova foi censurado pela ditadura militar, por ser considerado “subversivo e amoral”. Dessa forma, estreou apenas quarenta e dois anos depois de sua produção, o que diz muito sobre o passado e o presente. Em uma época de ascensão da extrema direita, temas como os retratados no filme correm o risco de serem suprimidos novamente.  


Sob direção de José Antonio Garcia e Ícaro Martins, o elenco conta com nomes como Wladimir Rodrigues dos Santos, Walter Casagrande e Olívio Pitta, ícones da Democracia Corintiana, além do narrador Osmar Santos e de Caetano Veloso, figura fundamental na oposição à ditadura, especialmente no meio musical.  


Nesse contexto, somos apresentados ao Gayvotas Futebol Clube, um time fictício de futebol feminino carioca, treinado por Casagrande. Gradualmente, o filme nos introduz aos personagens, suas vidas e dilemas. Se, por um lado, o simples fato de retratar o futebol feminino já era considerado problemático e transgressor para a época, o longa vai além ao abordar temas como sexualidade, consumo de drogas, aborto e não monogamia, tudo de maneira explícita e sem pudores. O próprio nome do time, “Gayvotas”, já carrega uma sátira por si só.  


Há quem diga que as cenas de sexo em Onda Nova são excessivas e despropositadas, mas é essencial considerar o contexto em que o filme foi realizado e sua ressonância até os dias atuais. Em uma sociedade onde a vida era restringida por limites arbitrários e uma moralidade imposta que não tolerava certas pautas, o longa surge com a proposta de romper totalmente com o que era considerado aceitável e resgatar o imaginário de uma juventude liberal, que desafia os pais e tem sua própria maneira de enxergar o mundo.  


Entre as discussões levantadas pelo roteiro, uma das mais presentes é o espaço que as mulheres ocupam. Um dos melhores exemplos disso é a personagem Lilli (Cristina Mutarelli), goleira do Gayvotas, que corta o cabelo curto, beija meninas e tem diversos atritos com sua mãe (Patrício Bisso), interpretada por um ator de traços grosseiramente masculinos. Essa escolha reforça um contraponto, promovendo uma “inversão de papéis” e desmistificando os rótulos sociais.  


Nos aspectos técnicos, o longa se destaca pela direção de fotografia excepcional, que capta belos planos da vida urbana noturna do Rio de Janeiro, além de criativas passagens oníricas que, ora comunicam uma mensagem objetiva, ora apenas “viajam”. Em linhas gerais, Onda Nova não é um filme que agradará a todos os públicos, mas levanta debates importantes e contemporâneos de maneira engenhosa e ousada, além de oferecer uma experiência desafiadora e provocativa para aqueles dispostos a abrir a mente para sua proposta.  


                                                              Autor:


Mateus José é graduando de Licenciatura em Cinema e Audiovisual pela UFF, escritor, poeta, montador e aspirante a diretor de fotografia. Apaixonado pelas artes, literatura, música e principalmente o cinema, dedica-se a consumir, estudar e dissecar as camadas mais profundas do cinema e da arte.



Milton Bituca Nascimento - Um Tributo Em Vida ao Grande Músico Brasileiro

 

Milton Bituca Nascimento | Gullane Filmes

O documentário do grande cantor e compositor brasileiro, Milton Bituca Nascimento, homenageia o astro ainda em vida e mostra como sua música atravessou fronteiras e conquistou milhares de fãs ao redor do mundo. Seus versos líricos e ritmos inconfundíveis foram inspiração para diversos cantores, inclusive no âmbito do jazz, onde o músico tem fortes raízes e influenciou uma geração de instrumentistas que se admiraram com suas músicas e arranjos excepcionais.

No último dia 2 de fevereiro, Milton passou por uma grande polêmica na 67ª edição do Grammy. O cantor estava indicado na categoria de Melhor Álbum de Jazz com Vocal, em parceria com a cantora americana Esperanza Spalding. Entretanto, Milton não teve um lugar reservado no salão principal ao lado de Esperanza na cerimônia em Los Angeles. Isso repercutiu mundialmente e muitos se perguntaram como um cantor desse calibre e um ícone da música brasileira teve um assento negado ao lado de Esperanza, que apareceu com um cartaz com a foto de Milton em protesto, escrito: "Esta lenda viva deveria estar sentada aqui."

Esperanza também é uma das convidadas que aparece no documentário reverenciando o grande Bituca. Ao lado dela, vários expoentes da música brasileira também surgem, como: Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Djavan, entre outros. Narrado pela incrível Fernanda Montenegro, o filme reflete o impacto que Milton causou em vários artistas e seus fãs ao longo de sua carreira. Se no Grammy o cantor foi completamente esnobado, aqui ele brilha e tem sua voz escutada, além de suas músicas totalmente contempladas.

Todavia, o documentário tropeça em alguns momentos, como, por exemplo, no saudosismo exacerbado sobre a figura de Bituca. É fato que o cantor é um dos maiores compositores e multi-instrumentistas do país, mas quando se tem tantas reverências e elogios em torno da figura do cantor mineiro, acaba-se saturando esse ponto de vista e transparecendo uma competição de quem o homenageia da melhor forma.

O documentário não se preocupa em mostrar as dificuldades que Milton enfrentou em sua carreira, suas decepções, seus álbuns que não tiveram grande repercussão. Em uma obra como essa, é importante sabermos não apenas seus pontos altos, mas também seus baixos. Isso, de certa forma, acaba humanizando mais ainda o artista.

Além disso, a narração de Fernanda Montenegro se torna um tanto problemática em certos trechos. A extensão de seu discurso acaba se alongando e tornando-se cansativa. Em um instante, ela narra enquanto um dos convidados está conversando com Milton Nascimento, e não entendemos o que eles estão de fato dizendo. A edição não se atentou a esse problema e acabou se enrolando nessa questão.

O filme também se limita a demonstrar tantos cantores norte-americanos citando a inspiração que Milton trouxe para suas carreiras. Acredito que esses registros foram coletados durante a turnê mundial que Bituca realizou quando passou pelos Estados Unidos. Entretanto, Milton Nascimento foi referência musical para muito além de outros países, não apenas nos Estados Unidos. Ainda assim, é interessante perceber como seu repertório no estilo jazz contribuiu tanto para o cenário musical da região.

O ícone da música popular brasileira tem seu devido tributo representado neste documentário. Apesar de a película não destacar outros momentos da carreira do cantor e apontar outros lados que também são pertinentes para entendermos a trajetória de Milton, como suas inspirações, sua busca por reconhecimento, a escolha de gravadoras. O filme, contudo, cumpre seu papel em retratar a grandeza de suas músicas e o afeto de tantos amigos e familiares que foram tocados por sua arte ao longo de gerações. Uma pena para o Grammy, que não soube reconhecer esse artista legendário.


Autor:


Meu chamo Leonardo Veloso, sou formado em Administração, mas tenho paixão pelo cinema, a música e o audiovisual. Amante de filmes coming-of-age e distopias. Nas horas vagas sou tecladista. Me dedico à exploração de novas formas de expressão artística. Espero um dia transformar essa paixão em carreira, sempre buscando me aperfeiçoar em diferentes campos criativos.

segunda-feira, 31 de março de 2025

Resgate Implacável - Quando a Ação é Previsível, mas o Carisma é Explosivo!

Resgate Implacável | Warner Bros. Pictures


Levon Cade deixou para trás uma carreira militar condecorada nas operações secretas para viver uma vida simples de trabalho na construção civil. No entanto, quando traficantes de pessoas sequestram a filha de seu chefe, sua busca para trazê-la para casa revela um mundo de corrupção muito maior do que ele jamais poderia ter imaginado.

Jason Statham, que ganhou destaque no cinema de ação com Carga Explosiva (2002) de Louis Leterrier, tem mais de 20 anos de carreira. Durante esse tempo, trabalhou com diretores como Michael Mann, interpretou vilões, integrou a franquia Velozes e Furiosos e teve um spin-off de Velozes & Furiosos. O ator é parecido com Liam Neeson, devido ao tipo de papéis que ambos passaram a interpretar ao longo de suas carreiras, especialmente em filmes de ação. Assim como Neeson, que se tornou famoso por interpretar personagens mais maduros, durões e em busca de justiça (como na franquia Busca Implacável), Statham seguiu um caminho similar, estrelando filmes de ação em que seu personagem geralmente é um homem implacável em situações de alto risco. Ambos, com o tempo, foram associados a esse tipo de herói de ação mais envelhecido, mas igualmente eficaz, o que gera a comparação entre eles.

O filme falha em trazer qualquer inovação significativa, tanto na história quanto na ação, caindo na armadilha da previsibilidade. A trama segue um caminho já explorado em diversos filmes de ação, sem oferecer algo de novo ou surpreendente. No entanto, o verdadeiro ponto forte da produção é Jason Statham, que consegue dar vida ao seu personagem com sua presença carismática e peculiar. Ele mistura sua força física imponente com um ar de mistério, criando uma sensação de que seu personagem, embora pareça estar agindo por impulso, sempre está controlando a situação. Ele também é habilidoso em usar objetos ao seu redor para criar armadilhas e manipular gadgets de forma engenhosa, algo que acrescenta um toque de complexidade ao personagem. 

Sua performance é recheada de traços que os fãs adoram, como a voz rouca, os movimentos contidos e as frases curtas, frequentemente salpicadas com um humor irônico. Esse estilo, que é praticamente sua marca registrada, realmente prende a atenção no início, oferecendo uma dinâmica interessante para quem espera esse tipo de personagem. 

No entanto, à medida que a trama avança e o personagem entra de fato em ação, o filme perde força. A repetição dos mesmos elementos e a falta de evolução no enredo fazem com que a intensidade da história diminua. O filme, que começa com um ritmo envolvente, se arrasta quando se torna mais previsível e segue os clichês do gênero, fazendo com que o espectador perca o interesse. No fim, o carisma de Statham não é suficiente para manter o nível de emoção e empolgação que o filme tenta criar.

O clichê, por si só, não é necessariamente um ponto negativo, desde que seja bem explorado. No entanto, aqui, sabendo exatamente o que vai acontecer a cada momento, a experiência perde um pouco da graça e a previsibilidade acaba prejudicando o envolvimento. Não diria que não gostei do filme — pelo contrário, achei-o extremamente divertido. Contudo, ele não consegue alcançar o nível de excelência que poderia, ficando aquém do que poderia ser.

Resgate implacável embora divertido, cai na previsibilidade e falta de inovação. A trama segue clichês do gênero, o que prejudica a experiência, apesar da presença marcante de Jason Statham, que dá vida a um personagem carismático e imbatível. Seu estilo único mantém o interesse nos primeiros momentos, mas à medida que a história avança, ela se torna monótona. No fim, o filme não alcança seu potencial máximo, ficando abaixo das expectativas de um grande sucesso.

Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator em formação e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

quarta-feira, 26 de março de 2025

Presença - Soderbergh navega entre Tensão, Drama e Planos Sequências

Presença | Neon

O novo lançamento do diretor Steven Soderbergh mostra uma direção mais contida, mesmo sendo certa parcela de sua obra em pequenos planos sequências, utilizando uma trama convencional. A utilização de uma trama convencional do gênero de drama e terror espiritual não é uma problemática aqui, até porque se formos colocar a reutilização de tramas como um termômetro a nossa visão sobre os últimos anos para o cinema seria algo bem pessimista. A ideia de como Soderbergh conduz a ideia da presença espiritual em meio a uma família americana disfuncional por inúmeras questões, é o chamariz principal para o filme chamar a atenção do espectador.

Uma história sendo contada pelo ponto de vista desse ser que se encontra na residência e a utilização dos planos sequências para a obra consegue desenvolver uma boa tensão sobre tudo que acontece naquele espaço. Acredito que a capacidade técnica de Soderbergh compensa a falta de desenvolvimentos propostos na própria trama, aqui se encontra temas como divórcio, luto, drogas, manipulação, entre outros, e muitos são só "pontos" para trazer mais dramaticidade para a narrativa, mas não tendo uma função realmente útil em meio à tensão e ao drama final proposto. 

A forma em como Soderbergh trabalha tal figura presente de forma espiritual é madura até a sequência final onde a obra explica sem necessidade quem é tal figura. Enquanto ele como enigma, funcionava perfeitamente como causa de ansiedade e interesse do espectador, sendo um dos elementos que fazia a tensão da obra ser criada de forma efetiva. O enigma funciona também na jornada do personagem Ryan, que tem uma atuação surpreendente de Mulholland como antagonista, sendo uma surpresa positiva no meio dos pontos dramáticos soltos pelo diretor. 

A trilha sonora do filme acaba sendo evasiva em certas sequências, além de não acrescentar muito a dramaticidade exigida em certos momentos da trama onde acontece discussão entre os pais e os irmãos. A jornada do irmão do protagonista afeta o produto final por conta de como o roteiro desenvolve a sua figura como algo bastante problemático. Existe em sua resolução uma tentativa de perdão por parte do espectador que é pouco funcional, até por ser um filme curto e que não deixa muito espaço para se conectar aos personagens. 

O trabalho de fotografia aqui é um fator que chama atenção pela calma e execução que os planos acontecem, contando também pelo ensaio de câmera com os atores que consegue ser uma facilitação simples de espectador com personagem, mas sem parecer algo apelativo. O trabalho dos atores Lucy Liu e Chris Sullivan como os pais funciona a medida do que é permitido por Soderbergh, que cria uma atmosfera melodramática entre os personagens e sobre o futuro de seu casamento, mas que o roteiro, junto com a direção, decidem não dar mais espaço para facilitar a finalização da narrativa. 

A maior problemática da obra se encontra em ser um filme básico que se perde em qualquer momento que tentar seguir alguma linha fora do proposto, como dito anteriormente. Funciona a ideia de um ser desconhecido estar na casa e ser um mero espectador de uma família que tem seus problemas, mas quando chega o momento de dar espaços aos seres humanos se torna uma mistura de drama adolescente e familiar carregados de conflitos sem solução. A forma de desenvolvimento narrativo em cada uma das sequências, de forma picotada, parece intuito de Soderbergh em fazer um filme conforto para espectadores de Tiktok. 

Acaba que no final das contas, é um filme que se mantém na risca de ser uma obra simples com certa parcela de drama efetiva. Mas não foge de fazer parte da cinematografia de Soderbergh como mais um produto vendável e esquecível onde a técnica simples se torna um dos chamariz para não diminuir sua obra, mais do que a própria se diminui.  

TEXTO DE ADRIANO JABBOUR. 

Novocaine: À Prova de Dor - Quando a Falta de Dor Se Torna o Maior Perigo (E a Melhor Piada)

Novocaine: À Prova de Dor | Paramount Pictures



Nathan Caine (Jack Quaid) é um homem introvertido e gentil que nasceu com CIPA, uma rara condição genética que o torna incapaz de sentir dor física. Crescendo sob proteção constante, ele desenvolveu estratégias para lidar com os desafios diários de sua condição, como usar um cronômetro para lembrar-se de necessidades básicas e tomar cuidado para não se machucar inadvertidamente. Apesar das limitações, Nathan construiu uma vida tranquila como executivo bancário. No entanto, sua rotina muda drasticamente quando seu local de trabalho é alvo de um assalto e um colega de trabalho é feito refém. Determinado a salvá-lo, Nathan descobre que sua condição, antes considerada uma vulnerabilidade, pode ser sua maior força. Imune à dor e disposto a enfrentar qualquer perigo, ele embarca em uma missão de resgate inesperada, desafiando limites físicos e emocionais.

A história do filme é simples, mas envolvente, sendo uma comédia de ação que se destaca pela originalidade e pelo humor. O protagonista é portador de uma condição rara, a Insensibilidade Congênita à Dor com Anidrose (CIPA), que o torna imune à dor e à sensação de temperatura. Esse fator, que poderia ser apenas um ponto curioso, é habilidosamente explorado ao longo do filme, trazendo situações inesperadas e muito divertidas. A escolha dessa condição como base para a trama confere um toque de frescor e criatividade à narrativa, permitindo aos roteiristas criar cenas de ação dinâmicas e engraçadas. O equilíbrio entre ação e comédia é bem executado, e o filme consegue manter o espectador interessado, enquanto faz uma abordagem leve e bem-humorada de uma condição médica rara. 

Para aqueles que são mais sensíveis à violência, o filme pode não ser a melhor escolha, apesar de o protagonista não sentir dor. Embora essa característica da trama seja usada de forma cômica e criativa, as cenas de ação intensas podem gerar uma sensação de desconforto no espectador. A maneira como a dor e a violência são retratadas, mesmo sem o protagonista experimentar essas sensações, cria uma tensão que pode ser agoniada. Esse contraste entre a falta de dor do protagonista e a reação do público diante das situações extremas adiciona uma camada interessante ao filme, tornando-o mais envolvente para aqueles que apreciam um humor mais ousado e ação de impacto.

Jack Quaid, conhecido por sua interpretação de Hughie em The Boys, traz à vida um personagem inicialmente introvertido, nerd e apático, que, imerso em uma rotina sem grandes propósitos, se limita a consumir apenas bebidas líquidas. No entanto, ao conhecer uma garota, sua vida passa por uma transformação profunda, marcando um divisor de águas em sua jornada. Ao abraçar de vez a persona do jovem com cara de bom moço, mas que se vê envolvido em situações extremas, Quaid se destaca ainda mais como o ator ideal para esse tipo de papel. Em sua interpretação de Nathan Caine, ele prova novamente seu talento ao navegar com naturalidade por esses cenários intensos e desafiadores, entregando uma performance que cativa e conquista o público.

Novocaine: À Prova de Dor oferece uma experiência única ao combinar ação, comédia e um toque de originalidade, graças à condição rara do protagonista. A trama, embora simples, é envolvente e traz uma abordagem criativa e divertida sobre o que significa ser imune à dor, explorando com destreza tanto o lado cômico quanto o suspense da história. Para quem aprecia uma mistura de humor ousado e cenas de ação intensas, o filme certamente vale a pena, oferecendo uma narrativa leve, mas cheia de momentos emocionantes. No entanto, é importante estar ciente de que, devido à violência gráfica, pode não ser adequado para todos os públicos, especialmente aqueles mais sensíveis a esse tipo de conteúdo.

Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator em formação e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

sexta-feira, 21 de março de 2025

Branca De Neve (2025) - Espelho, Espelho Meu, Quem É a Vilã Menos Intensa de Todas?

Branca de Neve | Disney


Inspirado no conto clássico dos Irmãos Grimm, Branca de Neve ganha uma nova adaptação live-action da Disney. A história acompanha a jovem princesa Branca de Neve (Rachel Zegler), cuja beleza desperta a inveja de sua madrasta, a Rainha Má (Gal Gadot). Determinada a eliminar a enteada, a vilã ordena sua morte, mas Branca de Neve consegue escapar e se refugia na floresta. Lá, encontra uma cabana onde vivem sete anões amigáveis, que a acolhem e se tornam seus aliados. No entanto, o perigo ainda ronda a princesa, pois a Rainha Má tem um plano cruel para eliminá-la de vez: uma maçã envenenada.

Nos últimos anos, a Disney tem investido fortemente em remakes live-action de seus clássicos animados, lançando adaptações bem-sucedidas, como Cinderela, Mogli e Aladdin. No entanto, nem todas as produções entregaram o que se esperava, como foi o caso de Mulan e O Rei Leão. É importante destacar que, embora O Rei Leão não seja tecnicamente um live-action, mas uma animação hiper-realista, ele se insere nesse movimento de revisitar obras anteriores da Disney. Agora, a companhia nos apresenta a versão live-action de um filme que muitos consideram o primeiro longa-metragem animado da história do cinema. Contudo, essa afirmação não é totalmente precisa: o filme em questão não foi o primeiro, nem o segundo, ou o terceiro. Embora tenha um papel fundamental tanto na história do cinema quanto no universo das animações, ele é, de fato, o primeiro longa-metragem animado da Disney.

A história, ao contrário da animação original, apresenta a infância da protagonista, explorando a origem de seu nome, que dá título ao filme, e revelando os eventos que marcaram o destino de seus pais. Dando a minha opinião um pouco controversa, a princesa da animação clássica nunca foi a minha princesa favorita, pois eu a achava muito sem sal, ela sempre me pareceu um tanto insípida, sem grandes características marcantes que a diferenciam de outras personagens femininas que a Disney criou mais tarde. Sua personalidade parecia ser bem passiva e, em muitos momentos, ela parecia depender mais da sorte ou da intervenção de outros personagens, como os animais ou os anões, do que agir de maneira autônoma para conquistar seus objetivos.

Ao contrário de outras princesas que mostravam coragem, inteligência ou habilidades únicas, ela parecia ser mais uma figura idealizada de "bondade pura", o que, embora positivo, a tornava um pouco monótona. princesa ganha muito mais carisma porque a personagem é construída de forma mais tridimensional, com mais espaço para expressar suas emoções e motivações. A atuação da atriz, muitas vezes mais madura e com nuances de personalidade, permite que a personagem se torne mais complexa e convincente.

Além disso, o filme live-action frequentemente explora mais a sua história, seus conflitos internos e suas escolhas, o que a torna mais ativa na narrativa, ao invés de ser apenas uma figura passiva à mercê dos acontecimentos. Essa versão também tende a humanizá-la mais, mostrando vulnerabilidades, dúvidas e momentos de autodescoberta que não eram tão evidentes na animação original. A protagonista no live-action se envolve mais diretamente nas situações, mostrando uma força emocional que conquista o público. Ao contrário da animação, onde sua personalidade podia parecer unidimensional, o live-action dá mais camadas à personagem, fazendo com que ela tenha suas próprias motivações e ações, o que naturalmente adiciona mais carisma.

Os sete anões, que chegaram a causar uma verdadeira polêmica na internet antes do lançamento do filme, são completamente criados em CGI, o que gerou bastante receio por parte dos fãs. Embora a escolha de utilizar tecnologia de animação digital para criar essas personagens não seja, de fato, um erro técnico ou criativo, é inegável que há algo um pouco estranho na forma como eles interagem com os atores de carne e osso. A diferença entre o realismo das performances humanas e a aparência digital dos anões cria um contraste que, inicialmente, pode soar desconfortável para o espectador.

Os anões, que na animação original eram personagens muito expressivos, com suas personalidades e movimentos amplificados de forma caricatural, aqui se tornam mais realistas, mas ao mesmo tempo, em certos momentos, parecem destoar da dinâmica do mundo real. Essa discrepância não chega a comprometer a experiência do filme, mas é um elemento que pode causar estranhamento nas primeiras cenas, principalmente para aqueles que têm uma forte conexão com o clássico animado. No entanto, com o desenrolar da trama, a interação entre os personagens vai se tornando mais natural, e é possível se acostumar com essa nova abordagem. À medida que a história avança, a tecnologia vai ganhando mais fluidez, e a presença dos anões, embora ainda digital, passa a ser mais integrada ao universo físico do filme.

Na animação, a Rainha Má possuía muito mais carisma do que a própria protagonista. Como mencionei no início da crítica, Branca de Neve na versão animada tinha uma personalidade bastante apagada, sem características marcantes que a destacassem, o que a tornava "sem sal". No entanto, na versão live-action, ela se torna muito mais carismática, apresentando uma presença e uma complexidade que cativam o público. Em contraste, a Rainha Má, que na animação era uma figura imponente e cheia de intensidade, acaba se revelando bem mais fraca aqui. Sua vilania perde grande parte da força que tinha na versão original, fazendo com que a dinâmica da história se inverta: enquanto a protagonista, antes ofuscada, brilha mais do que nunca, a vilã perde grande parte de seu impacto.

A interpretação de Gal Gadot como a Rainha Má não atinge o efeito esperado, e um dos principais motivos para isso é a performance da atriz. Embora tenha se destacado em papéis como a Mulher-Maravilha em Mulher-Maravilha e Liga da Justiça, Gadot não consegue transmitir a intensidade e a profundidade exigidas para um papel de vilã tão icônica. A Rainha Má, que deveria ser uma personagem ameaçadora, capaz de gerar medo e controle, acaba se tornando excessivamente suave e superficial. Isso enfraquece a credibilidade de sua ameaça, tornando a vilã menos impactante.

Além disso, a caracterização da Rainha Má no live-action não é tão bem desenvolvida quanto poderia ser. A personagem se apresenta de maneira previsível e rasa, sem explorar as camadas psicológicas que poderiam torná-la mais interessante e complexa. Uma vilã desse porte deveria ser multifacetada, com motivações mais profundas — quem sabe até com vestígios de humanidade —, mas a atriz não consegue explorar esses aspectos de forma convincente. O resultado é que a vilã se torna quase caricatural, sem a carga emocional necessária para realmente engajar o público. Em muitos momentos, a interpretação de Gadot parece faltar energia e força, o que compromete o impacto da personagem, que deveria ser avassalador. Isso enfraquece o confronto entre a protagonista e a vilã, tornando a narrativa menos envolvente e a tensão dramática mais fraca do que deveria ser.

Branca de Neve não é tão decepcionante quanto muitos previam, mas também não atinge um nível excepcional; fica apenas no campo do "bom". A protagonista ganhou mais profundidade e carisma, o que a torna mais cativante.  A performance de Gal Gadot como a Rainha Má não consegue capturar a intensidade da vilã original, o que enfraquece a dinâmica da história e diminui a tensão dramática. Assim, embora a adaptação traga uma Branca de Neve mais interessante, ela perde força no confronto com a vilã.


Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator em formação e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

Telefone Preto 2 - Do Suspense Psicológico para a Hora do Pesadelo

Telefone Preto 2 | Universal Pictures Pesadelos assombram Gwen, de 15 anos, enquanto ela recebe chamadas do telefone preto e tem visões pert...