Abraço de Mãe | Lupa Filmes |
O filme conta a história da bombeira Ana, que é interpretada pela atriz Marjorie Estiano. Depois de ter passado 2 meses afastada de seu cargo por causa de um problema ocorrido em um incêndio, ela consegue voltar com apoio da sua equipe. Até que acontece um pedido de resgate de um asilo por conta de um desabamento, mas o desabamento acaba sendo o menor dos problemas que toda a equipe deve enfrentar nessa chamada de socorro. Abraço de Mãe foi exibido no Festival do Rio de 2024 e tem lançamento hoje(23/10/2024) na Netflix.
É preciso dizer que o filme funciona seguindo dois caminhos: um dos caminhos é a jornada de luto da Ana com sua mãe, e o outro sendo o pânico de não saber oque acontece naquele asilo. Tem como imaginar a narrativa como uma jornada de luto da personagem? Claro, mas o filme consegue ir mais afundo do que a simples alegoria. Para começar que o filme tem como base influencias de John Carpenter(especificamente seus trabalhos como Príncipe das Trevas e O Enigma de Outro Mundo) e o mestre do terror H.P. Lovecraft, com muitas similaridades que não ficam boiando apenas como referências soltas.
O filme gira em torno de uma casa que está a ponto de desabar e completamente habitada por pessoas loucas, em um cenário no qual não é possível confiar em ninguém(remete ao mesmo formato do grupo de trabalhadores no Ártico, como em Enigma de Outro Mundo), com uma chuva torrencial acontecendo no Rio de Janeiro, os aprisionando no local e sem a ajuda de outros bombeiros conseguirem chegar a tempo. Na sua essência o filme já consegue funcionar e com uma direção calma, que não vai com tanta sede ao pote e criando uma atmosfera pessimista, e destrutiva, em torno daquele espaço.
O filme claramente não tem tamanho orçamento para efeitos práticos, mas tem efeitos especiais muito bem feitos e sem dever nada no quesito de qualidade. Mesma coisa vale para a ambientação do asilo, que a direção de arte e a fotografia tornam o espaço nojento apenas com as texturas das paredes e uma iluminação que mostra um trabalho maduro na decupagem. O trabalho de figurino e maquiagem também fazem sua função em conjunto com todo os tópicos técnicos.
A jornada de luto da bombeira Ana consegue servir perfeitamente a alegoria proposta com a ameaça que existe dentro do asilo, a falta de capacidade em não saber oque aconteceu em uma noite traumatizante com a mãe, oque ela fez de errado, como Ana consegue se perdoar por algo que ela acredita ser culpada e tudo isso é respondido com o cordão narrativo de Ana tentando salvar Lia, uma garota que está lá por causa de seu pai, desse culto à um ser desconhecido. Funciona perfeitamente pela direção que consegue conduzir toda a narrativa com bastante tensão e suspense junto com a intepretação de Marjorie, que faz o espectador torcer pela personagem se superar naquele cenário sem esperança.
O filme, mesmo tendo um trabalho geral bem sucedido, ainda tem pontas soltas dentro da narrativa que acontecem por adições desnecessárias ao todo proposto. Algumas dessas adições são alguns personagens que servem ou para aumentar a tensão em algum momento, ou para servirem de alívio cômico, mas não conseguem exercer nada durante a obra, nem mesmo quando um deles desaparece. Algo que, infelizmente, é normal acontecer em filme que tem muitos personagens. Mesmo com essa problemática, a obra não se perde na sua proposta narrativa inicial.
Abraço de Mãe consegue ser uma luz para os fãs de terror cósmico no Brasil e consegue transmitir a tensão e a jornada do luto de mãos dadas, capturando a atenção do espectador para saber até onde a Ana é capaz de chegar para salvar alguém e para salvar sua própria consciência.
TEXTO DE ADRIANO JABBOUR.
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