sexta-feira, 20 de junho de 2025

O Grande Golpe do Leste - Uma Sandra Hüller Totalmente Desperdiçada

Um Grande Golpe do Leste | Synapse Distribution

Baseado em uma história real, O Grande Golpe do Leste se passa no final dos anos 1990, após a queda do Muro de Berlim. O filme acompanha a trajetória de Maren (Sandra Hüller), Robert (Max Riemelt) e Volker (Ronald Zehrfeld), que, ao encontrarem um bunker abandonado contendo uma grande quantia em dinheiro, decidem roubá-lo antes que as cédulas percam o valor devido à reunificação da Alemanha. Para isso, contam com o auxílio dos vizinhos do condomínio, que compartilham ideais comunistas, para encontrar um destino para o montante antes que seja tarde demais.

A fotografia de Martin Langer busca retratar com vivacidade o calor do ambiente da antiga Alemanha Oriental, utilizando uma paleta de cores quentes que evoca nostalgia e otimismo. É interessante notar como certos elementos do design de produção e dos figurinos contrastam com esse cenário ensolarado, através do uso de tons pastéis que quebram a monotonia de maneira harmônica e visualmente cinematográfica. Na minha opinião, esse parece ser o maior trunfo do longa.

Contudo, o mesmo não pode ser dito sobre o roteiro e a direção de Natja Brunckhorst. A narrativa se desenvolve de forma rasa, sem grandes picos emocionais, e falha em criar uma atmosfera minimamente envolvente. Mesmo durante as sequências de invasão ao bunker que, embora desprovido de um sistema de segurança eficaz, ainda é vigiado por guardas, o filme não consegue reproduzir a urgência que sequências de assaltos à bancos geralmente causam. Logo, fracassa em se definir como uma película de ação ou comédia, limitando-se a expor apenas os conflitos políticos do período.

Apesar da presença de Sandra Hüller, indicada ao Oscar, a obra não aproveita o talento da atriz, tampouco do restante do elenco, que demonstra potencial e carisma. Isso é particularmente frustrante, pois como sabemos ao menos da capacidade de Hüller, especialmente após sua temporada notável nas premiações, com atuações brilhantes em Anatomia de uma Queda e Zona de Interesse, é nítido que poderíamos ver ela entregar muito mais do que se obteve.

À medida que a trama avança, vemos os protagonistas recorrerem à ajuda dos vizinhos para tentar dar um destino ao dinheiro antes que ele se torne inútil. A partir disso, é organizada uma espécie de "reunião de condomínio", onde revelam a origem das cédulas e dão início a um debate coletivo. Todos, então, decidem colaborar na empreitada.

Essa dinâmica reflete a instabilidade política vivida naquele momento. Em um cenário pós-Guerra Fria, marcado por dificuldades econômicas e altos índices de desemprego, muitos cidadãos perdem a confiança no Estado, que falha em implementar políticas públicas voltadas às classes menos favorecidas. Em O Grande Golpe do Leste, isso é evidenciado pela precariedade das condições de vida e pelo desejo de algumas pessoas em emigrar para regiões mais desenvolvidas, em busca de recomeços. A corrupção também é simbolizada por meio de um político que, ao descobrir o esquema dos protagonistas, opta por se aliar aos moradores do prédio, ilustrando a fragilidade ética que permeava o período.

Em suma, O Grande Golpe do Leste parte de uma premissa instigante, com potencial para explorar temas históricos, sociais e políticos de forma envolvente, mas esbarra em uma execução sem vigor narrativo. Apesar da estética visual cativante e de um elenco talentoso, o filme não consegue alcançar humor, tensão e crítica social de maneira eficaz e a direção também parece não se preocupar com nenhum desses fatores. Fica a sensação de uma oportunidade desperdiçada, que, mesmo tratando de um período turbulento e cheio de nuances da antiga Alemanha, além de possuir uma atriz de alto escalão em seu elenco, opta por uma abordagem morna e tampouco memorável.

Autor:


Meu chamo Leonardo Veloso, sou formado em Administração, mas tenho paixão pelo cinema, a música e o audiovisual. Amante de filmes coming-of-age e distopias. Nas horas vagas sou tecladista. Me dedico à exploração de novas formas de expressão artística. Espero um dia transformar essa paixão em carreira, sempre buscando me aperfeiçoar em diferentes campos criativos.

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