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Fuga Para Odessa | Paramount Pictures |
Fuga Para Odessa (1994) retrata, por meio de tradições da tragédia russa, a vida do jovem Reuben (Edward Furlong) no bairro de Brighton Beach, no Brooklyn, que vê o regresso de seu irmão Joshua (Tim Roth) após anos sem contato. A ocasião é desconfortável, pois a mãe de ambos (Vanessa Redgrave) está no leito de morte, e o pai dos dois (Maximilian Schell) não se mostra nem um pouco complacente com a presença de Joshua, que se tornou um criminoso nos anos de ausência.
James Gray – o diretor do filme - retrata o Brooklyn de uma maneira muito menos encantada que diretores como Martin Scorsese ou até mesmo Brian De Palma o retrataram. A fumaça dos bueiros é tóxica, o ambiente é desconfortavelmente frio, e os espaços mais vazios daquele movimentado lugar são inóspitos. As pessoas daquele bairro são traiçoeiras, e o protagonista Reuben soa tão passivo a essa situação quanto os espectadores.
Os ambientes claustrofóbicos da casa da família Shapira, ajudam a reforçar o aspecto de desconforto que o filme causa. Reuben é frequentemente agredido pelo seu pai, porém essas agressões se mostram escondidas entre as paredes e portas. Recurso este que poderia soar como covarde, porém servem de agregador ao sentimento de passividade do espectador diante aos acontecimentos, essencial nessa tragédia.
O filme, além de um drama familiar, possui elementos de filme de máfia, porém ele rejeita por muito a tradição clássica do gênero, e a subverte com influencias da tradição moderna. As mortes não são glamorosas como em Os Bons Companheiros (1990), mas frias e realistas como em Roma, Cidade Aberta (1945) ou os maiores clássicos do neorrealismo italiano.
E não é só nas ocasiões mais típicas do gênero de máfia que Gray mostra suas inspirações modernas. Nas relações religiosas que Gray estabelece no filme – provenientes da cultura judaica dos protagonistas – é visto uma clara referencia do autor a cineastas como Bresson e Visconti, que reconheciam a importância do rito religioso como uma força cinematográfica.
A tragédia é filmada nos últimos minutos do filme da mesma forma que Gray filmou o Brooklyn, seco e frio. Nada é moralista, como nos filmes de Scorsese, nem tenta mostrar uma evolução do protagonista, como nos filmes do Coppola. É só o cumulo de tudo aquilo que Gray nos mostra em aprox. 90 minutos de rodagem, com várias perguntas, e uma única resposta: “É isso aí”.
Fuga Para Odessa é a obra-prima do cineasta James Gray, que recentemente buscou fazer filmes de estúdio, como Ad Astra – Rumo às Estrelas (2019) e Armageddon Time (2022), mas que nas suas origens possui trabalhos de cunho realmente singular, e que por muitas vezes são ignorados pela critica americana. Porém que não devem ser ignorados pela cinefilia, que sempre deve buscar o resgate da memória da linguagem cinematográfica.
Autor:
Meu nome é Rodolfo Luiz Vieira, tenho 17 anos e curso o terceiro ano do Ensino Médio. Produzo alguns curtas-metragens e escrevo textos sobre cinema. Meus filmes favoritos são: Em Ritmo de Fuga; La Haine; Eu Vos Saúdo, Maria e Pai e Filha.
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