segunda-feira, 1 de setembro de 2025

Mononoke: O Fantasma na Chuva - Uma experiência visual e sensorial


Mononoke: O Fantasma na Chuva | Netflix

Dirigido por Kenji Nakamura, Mononoke: O Fantasma na Chuva, é um filme que vai além de contar uma simples história: ele oferece uma experiência completa para o espectador. Com apenas 91 minutos de duração, o longa nos conduz a um universo que mistura o sobrenatural com uma estética marcante e experimental de uma forma única. Baseado no anime de 2007, é notável que Kenji se mantém fiel e preserva a essência da obra original com a atmosfera carregada de visuais que parecem pinturas em movimento. 

Um dos maiores impactos é a animação. O traço lembra um quadrinho vivo, repleto de cores e texturas. Muitos personagens que se tornam figurantes no filme, aparecem sem o rosto, sendo substituídos por uma espiral em um fundo azul ou preto. Este recurso estético reforça um mistério e uma sensação de estranhamento, aproximando a película de um sonho distorcido. 

Tanto a arte quanto a história por si só, buscam o estilo tradicional japonês com elementos psicodélicos, criando algo definitivamente único. Tal atmosfera funciona perfeitamente na prática pelo simples motivo de que os mononokes, espíritos nascidos de emoções humanas negativas, são representados como distorções do real. Cada cor e cada movimento transmitem sentimentos, transformando as emoções em imagens. Um dos personagens principais, que fica conhecido como O Boticário, é o centro da narrativa. Seu design é tão marcante quanto a sua presença, extremamente imponente. Não se torna necessário o uso excessivo de falas para ele; apenas a sua postura enigmática para guiar a história.

A trama inicialmente pode parecer confusa, principalmente para aqueles que não assistiram ao anime que antecede o filme, mas a obra consegue conduzir muito bem o espectador. As intrigas políticas do Ooku e o espírito vingativo dão o ritmo à narrativa, que se equilibra entre a tensão e o espetáculo visual. Não é uma obra que entrega explicações fáceis.

O grande destaque está na direção de arte. As cores vibrantes e os movimentos calculados fazem cada cena parecer uma pintura viva. O psicodelismo nunca soa como algo gratuito: ele representa o caos emocional que dá origem aos mononokes, tornando o filme uma experiência quase sensorial.

O final fica um pouco aberto, o que pode dividir muitas opiniões. Há espaço para uma continuação, como foi o caso com a continuação que estreou neste ano, mas também funciona como uma forma de manter o verdadeiro mistério da película. É uma escolha extremamente coerente perante a proposta da obra, que nunca buscou ser muito óbvia ou totalmente explicada.

No fim, Mononoke: O Fantasma na Chuva se destaca como uma experiência extraordinariamente única. Enigmático em alguns pontos, mas sempre envolvente, é um filme que prende o espectador atráves do olhar e pela forma como traduz os sentimentos humanos em imagens. Kenji Nakamura reafirma aqui o potencial de uma animação ir além da narrativa, visando em como é possível transformá-la em uma verdadeira arte em movimento. 

Autor:

Bárbara Borges é do Rio de Janeiro e estudante de Jornalismo. Apaixonada por cinema desde criança, sempre foi movida por histórias intensas, especialmente as de terror, seu gênero favorito. Em 2024, dirigiu o documentário Além do Recinto, que levanta questionamentos sobre o bem-estar de animais silvestres em zoológicos e o impacto do confinamento longe de seus habitats naturais. Gosta de pensar no cinema como uma forma de provocar, sentir e transformar. Vive atualizando seu Letterboxd com comentários sinceros e, às vezes, emocionados. Entre seus filmes favoritos estão Laranja Mecânica, Psicopata Americano, Pânico, Pearl e Premonição 3.






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