segunda-feira, 22 de setembro de 2025

Irmão Urso - A Joia Subestimada da Era Experimental da Disney

Irmão Urso | Disney


Kenai é um jovem índigena que tem aversão a ursos. Após um trágico evento envolvendo seu irmão Sitka, Kenai se vê transformado em um urso. Agora, ele precisa contar com a ajuda de Koda, um filhote de urso, para chegar a uma montanha mágica onde acredita poder voltar à sua forma humana.

Irmão Urso foi um dos filmes lançados durante a era experimental da Disney, um período em que muitos filmes não receberam o reconhecimento merecido em sua época, mas com o passar dos anos se tornaram cultuados. Lançado nos anos 2000, o filme pode ser considerado injustiçado, pois carrega uma mensagem profunda sobre amadurecimento e autodescoberta. A história de Kenai, que inicialmente não entende o significado do seu totem (o urso do amor), reflete a luta contra uma masculinidade tóxica que o impede de aceitar sentimentos mais profundos, como o amor.

A animação ensina que o amor transcende barreiras e que, assim como os humanos, os ursos também são capazes de amar. Percebendo isso ao conhecer Koda, um urso filhote alegre e carinhoso, Kenai começa a entender o verdadeiro significado de seu totem. Koda, que o vê como um irmão mais velho, cria um vínculo genuíno e afetuoso com Kenai, desafiando suas crenças anteriores. 

A obra se destaca pelo seu estilo de arte belíssimo e expressivo. O filme apresenta paisagens deslumbrantes inspiradas na natureza selvagem da América do Norte, com florestas densas, montanhas majestosas, rios cristalinos e céus coloridos pela aurora boreal. A animação aposta em cores vibrantes e contrastes marcantes, criando uma atmosfera visual rica que reforça o tom espiritual e poético da história. Um detalhe artístico notável é a mudança sutil no formato da imagem ao longo do filme: no início, a tela tem proporções mais estreitas e cores mais frias, refletindo a visão limitada e endurecida de Kenai. Quando ele se transforma em urso, o formato se expande para widescreen e a paleta de cores se torna mais quente e viva, simbolizando sua abertura a uma nova perspectiva e conexão com o mundo natural.

Desde criança, nunca enxerguei Denahi — o irmão mais velho de Kenai — como o vilão. Na verdade, sua motivação é compreensível: ele acredita que Kenai foi morto por um urso, sem saber que seu irmão havia sido transformado em um. Movido pela dor da perda e pelo desejo de vingança, Denahi parte em busca do animal, sem imaginar a verdade por trás da situação. Logo no início, já é possível perceber a dinâmica entre os irmãos. Kenai e Denahi vivem se provocando, com Denahi frequentemente implicando com o irmão caçula de forma bem-humorada, como parte daquela típica rivalidade fraterna. Essas interações ajudam a construir uma relação crível e afetuosa entre eles, tornando os acontecimentos seguintes ainda mais impactantes emocionalmente.

Para Koda, que desconhece o passado de Kenai como humano, Denahi parece ser o verdadeiro vilão da história. No entanto, é importante entender que Denahi é, na verdade, um antagonista — e antagonista não é sinônimo de vilão. Um antagonista é simplesmente alguém (ou algo) que se opõe ao protagonista e representa um obstáculo em sua jornada. Ele não necessariamente age por maldade, mas por ter objetivos ou crenças que entram em conflito com os do personagem principal. Nesse sentido, Denahi representa mais uma figura trágica do que mal-intencionada, reforçando a complexidade emocional do filme e a forma como ele trata temas como dor, perda, amadurecimento e reconciliação.

Irmão Urso é muito mais do que uma simples animação infantil — é uma obra sensível e reflexiva que aborda temas universais como amadurecimento, empatia, perdão e a capacidade de amar. Com personagens cativantes, uma direção de arte deslumbrante e uma narrativa emocionalmente envolvente, o filme convida o espectador a olhar o mundo com outros olhos, assim como Kenai aprende a fazer ao longo de sua jornada. Mesmo tendo sido subestimado em seu lançamento, a profundidade da sua mensagem e a beleza de sua execução fazem com que a animação mereça ser redescoberta e valorizada como uma das joias emocionais da era experimental da Disney.

Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

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