segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

O Homem-Cão - Um Herói Peludo e um Mundo de Nonsense!

O Homem Cão | Universal Pictures


Quando um policial e seu fiel cão policial se machucam no cumprimento do dever, uma cirurgia maluca, mas que salva vidas, os une -- e Homem Cão nasce. Conforme o Homem cão aprende a aceitar sua nova identidade, ele deve impedir que o supervilão felino Pepê, o Gato, se clone e saia em uma onda de crimes.

O filme é uma adaptação do livro homônimo, que por sua vez é um derivado da famosa série literária Capitão Cueca, criada por Dav Pilkey. Essa série, que conquistou uma legião de fãs ao longo dos anos, também recebeu uma adaptação para o cinema pela DreamWorks Animation. Que contava a história de George e Harold, dois meninos travessos e criativos que, com suas peripécias, acabam criando um super-herói improvável. Homem Cão com um humor irreverente e repleto de ação, a adaptação cinematográfica visa capturar a essência da obra original, ao mesmo tempo em que apresenta uma nova perspectiva que vai além do humor bobo e das situações inusitadas. Embora o filme seja eficaz em manter o espírito irreverente da série, ele também questiona e subverte algumas convenções dos filmes de super-heróis tradicionais, trazendo à tona um diálogo interessante sobre amizade, responsabilidade e identidade. Apesar disso, Homem Cão cumpre seu papel como entretenimento leve e divertido, ainda que de forma previsível em muitos momentos. 


A comédia presente no longa é leve, ingênua e absurda, frequentemente se utilizando de um humor exagerado que beira o nonsense, mas também se permite zombar de clichês e situações óbvias. Embora consiga arrancar alguns risos – como no caso do local 'secreto' do vilão Pepê, cujo esconderijo é facilmente identificado por luzes brilhantes que o revelam de forma óbvia –, o humor, em sua maioria, permanece simples e previsível. Em comparação com outras animações do estúdio, como Shrek e Madagascar, que se destacam por um humor mais ousado, com piadas sutis que fazem referência a temas mais adultos e complexos, Homem Cão opta por um tom mais acessível, porém, por vezes, um tanto raso. Enquanto as produções anteriores do estúdio equilibram com maestria elementos que agradam tanto crianças quanto adultos, Homem Cão parece limitado ao seu público-alvo mais jovem, com um humor que, embora eficaz para a faixa etária, pode deixar os adultos menos engajados. A falta de camadas mais sofisticadas de comédia ou de referências mais elaboradas pode ser vista como uma escolha criativa, mas também como uma oportunidade desperdiçada de oferecer uma experiência mais rica e diversificada para todos os públicos.

Os traços da animação do longa, que lembram os de Capitão Cueca, são simples e eficazes, capturando a essência do estilo de Pilkey e adaptando-os para uma animação em Stop-motion. O design dos personagens é exagerado e caricatural, o que realça o humor visual e intensifica as cenas de ação. O cenário, vibrante e cheio de cor, utiliza uma paleta de tons brilhantes que cria uma atmosfera lúdica e envolvente. Além disso, os ambientes são ricamente detalhados, contribuindo para uma experiência imersiva e dinâmica.

O filme oferece uma série de momentos emocionantes e tocantes, como quando Homem-Cão sente a saudade de seu antigo dono, uma cena que explora a profundidade de seu vínculo com ele, destacando a lealdade e o afeto entre eles. Além disso, a relação entre o protagonista e Pepêzinho, o clone do Pepê, também é cheia de sentimentos, mostrando como o amor e a amizade podem se manifestar de maneiras inusitadas e até com um toque de humor. Essa conexão entre os personagens é recheada de momentos de cumplicidade, desafios e descobertas, que, mesmo sendo leves e engraçadas, possuem uma carga emocional significativa. Fazendo com que o público se sinta conectado com cada um dos personagens e suas jornadas.

O Homem Cão é uma adaptação cinematográfica divertida e leve, fiel ao estilo irreverente da série de livros de Dav Pilkey. A animação, com personagens caricatos e humor absurdo, explora temas como amizade, lealdade e identidade de forma acessível para crianças, embora com um humor previsível e simples. Enquanto não atinge a sofisticação de outras animações da DreamWorks, o filme cumpre seu papel de entreter e emocionar, especialmente para o público infantojuvenil, com momentos de comédia e emoção que conectam os espectadores aos personagens.

Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator em formação e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

O Brutalista - "Nós Toleramos Vocês" define a história do império Americano em Decadência

O Brutalista | Universal Pictures


A obra retrata uma época dos Estado Unidos após a Segunda Guerra Mundial, com a imigração em massa por conta do holocausto e o conflito nos países europeus. Não atoa esse filme é lançado no momento que se tinha o medo da política de Trump contra imigração voltar nas ultimas eleições nos Estados Unidos e com o massacre propagado por Israel contra a Palestina, chamando atenção dos festivais europeus de cinema e com o Oscar de 2025. Além do formato de tentativa frustrada de um épico narrativo sobre a vida de imigrantes com uma estética próxima de "Era Uma Vez na América" de Sergio Leone

A trajetória de László Tóth como um imigrante austro-húngaro dentro da terra das oportunidades e dos sonhos industrializados tenta ser uma representação de uma direção e um roteiro tentando fazer um discurso de auto piedade sobre a história dos EUA. Um imigrante judeu que sofre a todo momento, algo que Hollywood sente um prazer obsceno em colocar nos seus filmes a qualquer custo(principalmente em torno do tema Holocausto), tentando sobreviver em um mundo que só usam e abusam de suas técnicas criativas, sem ligar realmente para quem é a sua figura humana além de um instrumento nas mãos daqueles que pagam por seu trabalho

O desenvolvimento da trajetória de László anda em conjunto com o seu projeto, que foi um pedido de um empresário que tinha acabado de perder sua mãe(nosso antagonista Harrison,  interpretado por Guy Pearce). Um espaço com um ginásio, uma biblioteca e uma igreja, um projeto desafiante para nosso protagonista que sofre pela ausência de sua mulher, que não consegue sair da Europa, e pelo uso de drogas para poder suportar seu cotidiano e as dores de seu nariz quebrado. 

É necessário também apontarmos que essa obra faz parte de uma leva de filmes que, não só mostram a falta de capacidade de condução da mise en scene que tem tomado o mundo do audiovisual como um todo, como também a falta de habilidade do mesmo em conseguir a obra ter algum sentimento genuinamente humano. Como a obra tenta ser uma jornada épica e melancólica de um imigrante e sua mulher, sendo que não existe um espaço na obra onde essa humanidade apareça além do básico? 

A fúria e os baques sentidos por nosso protagonista são elaborados de forma picotada e panfletária, não existe conexão com ninguém aparente ali. Principalmente nosso protagonista, que passa por tudo de ruim e ainda assim a direção não consegue fazer seu espectador sentir pena sobre ele(oque não tem nem como, e nem é ética essa intenção descabida). O desespero da direção é tanta, que precisa mostrar uma cena de estupro para dizer de forma mais patética possível como os grandes empresários sentem o prazer no controle e na destruição daqueles que são os verdadeiros responsáveis pela construção desse império podre chamado American Dream

A obra também navega nas múltiplas formas de direção para dar dinâmica a narrativa. Funciona até certo ponto que é possível reparar que a direção utiliza de vários efeitos, movimentos e condução da imagem para poder tirar a atenção do espectador sobre a hipocrisia retratada. Sem contar que o filme ao mesmo tempo que tenta se mostrar contra o discurso ante imigrante, elabora suas minorias da forma estereotipada a ponto de ser vergonhoso. O protagonista judeu sempre fica bêbado ou entorpecido pela heroína quando está acompanhado de outros imigrantes ou de seu melhor amigo negro. Sério isso? Pleno século 21 e ainda escrevem esse tipo de narrativa preguiçosa?  

A narrativa força a qualquer segundo possível a demonstrar os personagens protagonistas e coadjuvantes como "pobres coitados", "aqueles que não podem fazer nada, pois é um mundo cruel", é um filme americano tentando se mostrar caridoso dizendo saber toda monstruosidade que fez contra o povo que ajudou a moldar cada pedaço do país que os odeiam com todas as forças. 

O filme elabora um imenso discurso de contradições: Fala de como parte de minorias nos EUA sofrem, mas enfatiza especificamente em uma, e deixa as outras completamente de lado; Fala de como nosso personagem sofre por conta da discriminação e de suas dores, mas mostra o mesmo sendo adultero 70% no filme sem nenhum arrependimento; Fala de como o império norte americano foi construído e desenvolvido pelos mesmos que eles odeiam, mas jogam esse discurso de lado completamente para voltar a enfatizar em como o holocausto foi tenebroso para os judeus. 

A fotografia do filme é uma das poucas coisas que funciona sem muita aventura por parte da produção, tendo em vista que a maioria dos planos são constituídos por cores pastéis, cinza e marrom, como se toda a obra mostrasse o protagonista ainda aprisionado como no holocausto, mas agora em um espaço considerado um país livre. E alguns pontos de diálogo que puxam para o quesito cômico conseguem funcionar(acontece apenas duas vezes esse ponto efetivo na obra), mesmo em sua maioria sendo elaborado e escrito de forma rasa, para não dizer medíocre. 

O Brutalista não é só um filme hipócrita, é covarde. É um trabalho de direção que não consegue moldar um plano descente, carregado de utilizações baratas para dar dinâmica a narrativa. Os atores fazem de tudo para fazer um bom trabalho, e conseguem. Pois o problema do filme já se encontra na sua própria raiz: Um País que quer se mostrar solidário, mas completamente desesperado por saber que perderá sua majestade. 

TEXTO DE ADRIANO JABBOUR. 

Blindado - Mais um entre tantos outros, no qual nem a presença do eterno Rocky Balboa faz surtir o efeito desejado: O de Empolgar

Blindado | Imagem Filmes

Qual será a anatomia de uma queda (sem fazer qualquer alusão ao filme de 2023, feito por Justine Triet)? Quebra de confiança, deslealdade, fraqueza etc., podem configurar um estado de derrocada. No caso cinematográfico, as peças que se juntam formam um fracasso que vai para além da ficção. Este é o caso de um astro, no caso, Sylvester Stallone, em uma obra, “Blindado” (2024), dirigido por Justin Routt, na qual traz à carreira desta estrela um ponto de curva bem duvidoso, sendo, então, capaz de ser um experimento em relação a como a criatura é capaz de enfraquecer seu criador. 

Aqui, temos James Broody (Jason Patric), um experiente agente policial que, junto ao seu filho, Casey (Josh Wiggins), também segurança, está em uma missão de transporte de uma carga importante entre um banco e outro. Entretanto, inseridos em um carro blindado, a finalidade torna-se um grande desafio por conta de uma gangue, liderada por Rook, personagem de Stallone, decidida a interceptar e roubar o conteúdo do veículo. Após uma intensa perseguição, o diálogo e os equipamentos bélicos ditam o rumo do longa-metragem. 

A situação, já nada favorável para Broody e Casey, se torna ainda mais emergencial quando ambos são encurralados pelo grupo de assaltantes em uma ponte - onde, teoricamente, a ação deveria iniciar. Daí para frente, as quase 1 hora e meia expõem um filme inconsistente e pouco desenvolvido em quesitos como roteiro, direção e ritmo. Nele, até o CGI não convence. A trilha sonora, por vezes country, só endossa algo perdido, fixando sua aventura em conversas artificiais entre “herois” e “vilões”, que buscam por uma tensão nunca encaminhada à produção. 

Deste modo, “Blindado” mira alto ao apresentar basicamente um único cenário com os mesmos atores do início ao fim, tentando apoiar-se na trama tal qual seu maior pilar de emoção. Entretanto, a obra não é sensível o suficiente para criar verdadeiros elos entre os protagonistas e os espectadores, sendo, assim, um vazio constante dentro de uma premissa ousada, mas pouco garantida. Stallone, o maior nome do elenco, parece não ter escapatória; um texto sem brilho é capaz de minar qualquer boa performance. Obtendo isso como norte, não é difícil entender os motivos pelos quais os demais atores, embora comprometidos, entregam um desempenho escasso de emotividade e novidade.


A direção de Routt, que deseja transmitir um sentimento similar a “Um Dia de Cão” (1975), filme também policial que possui poucos porém certeiros artifícios, que crescem conforme a trama avança; se perde em uma condução que manuseia sua base em um texto ralo e seu consequente desenrolar na história. Não existe tentativa de engabelar o público com efeitos visuais mirabolantes, somente demonstrar que a ação vendida na sinopse da obra procura ser obtida através de conexões fracas, que nem o paternalismo de Broody consegue elevar ao nível de convencer. 


Blindado” é mais um entre tantos outros, no qual nem a presença do eterno Rocky Balboa faz surtir o efeito desejado: o de empolgar. Além de um desenvolvimento previsível, a superficialidade do longa-metragem fala mais alto durante toda a sua duração. O que supostamente deveria instigar, não passa de uma faísca de uma boa ideia aqui e acolá, mas que, no final, se soma a qualquer coisa já vista antes. Deste modo, não há ação que sustente tantas derrapadas. 


Autora:


Lais Lima 

25 anos, formada em cinema, roteirista, crítica, videomaker e moradora do Rio de Janeiro, minha paixão pelo cinema transcende as telas. 
De “Guarda-Chuvas do Amor” até “Laranja Mecânica”, meu amor pela arte não se prende a nenhum gênero, mas sim ao que me toca. 
Também sou apaixonada pelos pormenores da vida, que se apresentam sem nenhum roteiro. 
Logo, imaginação não falta em mim. 
Sou de tudo um pouco, e procuro sempre expor minha versão mais democrática, que enfrenta a realidade com a maior criatividade possível.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025

Aos Pedaços - Uma obra do vazio para o vazio

Aos Pedaços | Pandora Filmes
 

Aos Pedaços é um filme protagonizado pelo personagem Eurico Cruz (interpretado pelo ator Emílio de Mello), que sofre de uma paranoia onde sua mulher, Anna, vai a qualquer momento matá-lo. Tudo se complica mais a partir do momento que Eurico começa a ver duas versões de sua mulher, mais um homem que tenta convencê-lo a matar sua mulher antes de sua imaginação virar realidade. O filme é de 2020 e tem a direção de Ruy Guerra. 

Como um grande admirador do cinema de Ruy Guerra, me surpreende o fato de sua direção sempre se manter tão sóbria e contida nessa obra, oque não é algo de costume do diretor que foi responsável por tantas obras durante o Cinema Novo e também após o movimento. Aqui a direção fotográfica é um dos poucos pontos fortes, tendo uma ótima decupagem e uma ótima direção das luzes, oque ofusca o som do filme que é executado de forma bastante precária. Oque é problemático, já que a obra por si só é carregada de diálogos quase a todo tempo. 

O filme em nenhum momento tenta fugir de se mostrar como uma grande referência da obra Persona, de Ingmar Bergman, até mesmo nos movimentos de câmera. Oque não chega a ser algo positivo. Nada contra o diretor sueco, quem vos escreve admira muito seus filmes, mas não aqueles que o tentam copiar. Não crítico ter a inspiração, no mundo da arte inspirações são de extrema necessidade. Mas uma obra brasileira tentando ser um filme sueco sem nenhuma outra inspiração se torna algo vazio.

A narrativa acontece, e o espectador já para metade do filme, não dá a mínima sobre oque vai acontecer com todas as figuras ali presentes. Não quer saber quem vai viver, ou quem vai morrer, pois no filme todos agem e são tratados como almas já mortas, sem importância. Algo que, por incrível que pareça, não é culpa dos atores. Os atores fazem oque podem com o material entregue, mas a direção enfatiza em tentar ser algo mais poético, porém sem alma. 

A referência de Bergman aqui também tem uma ligação forte com a linguagem teatral. A direção tenta conduzir o espectador a entrar na atmosfera fúnebre de uma peça com atores a deriva, mas Bergman tinha a capacidade de capturar seus espectadores para seus pesadelos de forma sucinta, e com muito menos diálogos pseudopoéticos(diálogos que Bergman sempre soube conduzir na medida certa sem parecer algo prepotente). Enquanto Ruy tenta fazer de tudo para chegar a ser Bergman nessa obra, esquece completamente de ser o próprio Ruy Guerra, que dirigiu filmes como Os Deuses e Os Mortos, onde existia um mundo caótico com muito mais vida do que seu último filme. 

Mesmo com suas problemáticas, a direção fotográfica de Pablo Baião consegue criar a melancolia e o mundo morto onde o protagonista não consegue ter a noção de estar vivo ou morto naquele cenário. Algo que Baião conseguiu expressar com tamanha habilidade com as luzes, com os movimentos de câmera e no trabalho conjunto com as atrizes Simone Spoladore e Christiana Ubach. 

Aos Pedaços é uma tentativa de poesia que tenta abraçar o existencialismo e a loucura no meio da solidão, mas acaba sendo uma tentativa de niilismo barata e sem inspiração. Mostra conflitos sem cor e sem emoção, uma junção de tentar ser algo potente mas que acaba em mais uma tentativa frustrada de tentar ser um filme sueco no Brasil. Um filme sobre paranoia, mas não tanta; amor, mas tão pouco; alucinações, mas com controle. Uma obra que se contem o tempo todo, e dificilmente dá para ouvir e ver aquele que não sabe muito bem oque falar. 

TEXTO DE ADRIANO JABBOUR.

Sing Sing - O Poder Transformador da Expressão Criativa no Sistema Carcerário

Sing Sing | A24


Sing Sing acompanha a história real de Divine G (Domingo), um homem preso por um crime que não cometeu, que encontra propósito ao atuar em um grupo de teatro ao lado de outros homens encarcerados, incluindo um novo e desconfiado integrante. Baseado em uma emocionante história real de resiliência, humanidade e o poder transformador da arte, o filme conta com um elenco inesquecível composto por atores que já foram encarcerados.

O programa Rehabilitation Through the Arts (RTA), com sua taxa de reincidência abaixo de 5%, oferece uma proposta inovadora e impactante. Porém, essa taxa extremamente baixa, quando comparada à média nacional de reincidência superior a 60%, pode gerar questionamentos sobre a eficácia da implementação desse tipo de programa em larga escala. Embora os resultados do RTA sejam impressionantes, é importante considerar que o contexto específico das prisões participantes, as condições individuais dos detentos, e o apoio institucional contínuo podem influenciar esses números.


A abordagem de reabilitação por meio da arte é indiscutivelmente poderosa, mas sua aplicabilidade universal e a replicabilidade de seus resultados merecem um exame mais profundo. No contexto do filme, o processo de transformação individual, impulsionado pela descoberta de novas formas de expressão, é relevante, mas também é necessário refletir sobre como o sistema penal mais amplo poderia se beneficiar de um modelo similar em vez de depender apenas de iniciativas pontuais como o RTA.


O filme segue a estrutura tradicional dos dramas de redenção, apresentando personagens à margem da sociedade que, de algum modo, descobrem um caminho para a transformação pessoal e a realização de algo significativo. Embora se baseie em uma fórmula conhecida, o longa se destaca ao humanizar os detentos, revelando suas complexidades e destacando o papel crucial da arte dentro do sistema carcerário. Ele consegue transmitir de forma sensível como a expressão criativa pode ser uma chave para a reintegração e o autoconhecimento. No entanto, apesar de tratar desses temas de maneira eficaz, o filme não explora tão profundamente outras dimensões do processo de redenção, deixando algumas camadas da história por desenvolver.


Por meio dos ensaios da peça "Breakin’ the Mummy’s Code", desenvolvida pelos próprios prisioneiros, o filme aprofunda temas universais e profundos que emergem no contexto carcerário, como a busca por redenção, o processo de transformação pessoal e o poder transformador da expressão artística. Ao destacar como a arte oferece uma saída significativa para os detentos, o filme mostra de forma sensível e impactante como a criatividade pode ser uma ferramenta crucial na reconstrução do indivíduo, permitindo a reflexão sobre o passado, a reintegração social e, muitas vezes, uma nova perspectiva sobre a vida e seus próprios destinos. Essa abordagem não apenas ilumina a complexidade humana por trás das grades, mas também reforça a importância do teatro como um meio poderoso de autoconhecimento e reabilitação.

Divine G é o líder criativo do grupo, que também conta com Mike Mike e o professor Brent Buell. Antes de ser preso por acusações graves, ele era advogado e, após anos de encarceramento em Sing Sing, sua paixão por livros e teatro o transformou no diretor criativo do programa. No entanto, seu gosto por clássicos e dramas mais sérios entra em conflito com os desejos dos outros detentos, que preferem explorar histórias mais originais e comédias.

A dinâmica do grupo muda quando Divine Eye, um dos prisioneiros mais difíceis e violentos, decide se juntar ao projeto após uma rara chance de ver sua sentença revista. Inicialmente hesitante e desconfortável, ele logo inspira os outros com uma enxurrada de ideias criativas, que mistura elementos de drama, ficção científica e faroestes, criando uma narrativa surpreendentemente inusitada e envolvente. Essa fusão de estilos e a energia criativa gerada no processo não só trazem leveza e diversão ao filme, mas também ilustram como a arte pode ser uma poderosa ferramenta de transformação e autodescoberta, mesmo em um ambiente tão restritivo como o sistema penitenciário.

Sing Sing é um drama emocionante que destaca o poder transformador da arte no sistema carcerário, mostrando como programas como o RTA podem ajudar na reabilitação e autodescoberta. Apesar de humanizar os detentos e abordar temas profundos como redenção, o filme poderia explorar mais as condições do sistema penitenciário e a escalabilidade desses programas. A obra é tocante, mas deixa algumas questões importantes por desenvolver.

Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator em formação e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

Mar em Chamas – Uma Catástrofe Prenunciada

Mar em Chamas | Magnolia Pictures
 

Até onde vai a ambição do ser humano?


Em uma estação de inteligência numa plataforma de petróleo norueguesa, é verificado um acidente em uma das usinas de perfuração petrolífera e de gás Ekofisk. Após isso, a comandante de submarino e controladora de robôs subaquáticos, Sofia, é acionada para investigar a unidade e identificar as possíveis causas do desastre. Quando Sofia começa a buscar, por meio de sua máquina, as causas para o ocorrido, acaba descobrindo muito mais do que imaginava.

Do mesmo diretor de “Terremoto”, John Andreas Andersen nos traz desta vez para um universo em alto mar. Em uma empresa bilionária que explora combustíveis fósseis próximo à costa da Noruega. É notório o vislumbre que temos sobre o incontrolável poder de pessoas que buscam, cada vez mais, concentrar riquezas em detrimento da expropriação da natureza. O filme traz essa problemática sobre a extração de petróleo e as consequências devastadoras que esse modelo produtivo pode acarretar. Essas discussões já são realidades visíveis em vários países, inclusive no Brasil.

O longa consegue criar um suspense envolvente logo no início, atraindo a atenção do espectador com sua trama misteriosa. Quando Sofia é chamada para investigar um acidente em uma estação de petróleo, a história se desenrola com uma série de surpresas e cenas de ação bem executadas. No entanto, o que parecia ser um simples acidente revela-se apenas a ponta do iceberg de um problema muito maior. Não obstante, outro desastre ocorre em uma estação onde seu namorado trabalha. Sofia, então se vê em uma missão quase impossível: resgatar seu amado e descobrir se o mesmo sobreviveu. A empresa à qual eles estão vinculados se mostra completamente negligente e apática à situação, o que evidencia a indiferença que muitas vezes as corporações possuem em relação às vidas humanas.

A trama faz uma crítica nítida às grandes organizações e à exploração irresponsável dos recursos naturais, destacando os riscos que esses incidentes podem trazer para a população e o meio ambiente. À medida que a situação se agrava na película, a empresa e o governo tentam implementar soluções corretivas, mas em algum nível motivadas por interesses financeiros, e nem sempre priorizando a segurança das pessoas e o meio ambiente. Essa abordagem é claramente refletida na jornada de Sofia e seu amigo, que, embora inicialmente abandonados pela companhia, se lançam em busca de respostas e meios para salvar o amor da protagonista, questionando as prioridades dessas corporações.

No entanto, o longa metragem peca por não conseguir estabelecer uma conexão emocional com os protagonistas, o que prejudicou minha imersão ao enredo do filme. Apesar de boas cenas de efeitos especiais, o ritmo da história não é suficiente para gerar a tensão necessária, e as dificuldades enfrentadas por Sofia e seu amigo não parecem realmente desafiadoras, apresentando soluções um tanto óbvias. Isso impede que o filme crie a urgência e a empatia necessárias para um impacto emocional mais profundo. Mesmo assim, a obra cumpre sua função ao alertar sobre os impactos negativos das atividades petrolíferas em larga escala, evidenciando como a exploração de combustíveis fósseis pode representar uma ameaça crescente aos ecossistemas e à nossa realidade atual.

Autor:


Meu chamo Leonardo Veloso, sou formado em Administração, mas tenho paixão pelo cinema, a música e o audiovisual. Amante de filmes coming-of-age e distopias. Nas horas vagas sou tecladista. Me dedico à exploração de novas formas de expressão artística. Espero um dia transformar essa paixão em carreira, sempre buscando me aperfeiçoar em diferentes campos criativos.

O Homem do saco - Quando o Terror se Perde na Bagunça

O Homem do Saco | Paris Filmes


Uma família se vê envolvida em um pesadelo enquanto é caçada por uma criatura mítica e maligna. Durante séculos e em todas as culturas, os pais alertaram os seus filhos sobre o lendário Homem do Saco, que rapta crianças inocentes para nunca mais serem vistas. Patrick McKee (Sam Claflin) escapou por pouco quando menino, o que o deixou com cicatrizes ao longo de sua vida adulta. Agora, o pesadelo da infância de Patrick voltou, ameaçando a segurança de sua esposa Karina e de seu filho Jake.

O "Homem do Saco" é uma figura mítica presente em várias culturas, retratada como um homem com um saco que sequestra ou pune crianças desobedientes. Ele aparece em países latinos, Ásia, Europa e África, com diferentes nomes e características, mas sempre com o objetivo de assustar as crianças e fazê-las se comportar. Ao refletirmos sobre a figura do "Homem do Saco" no contexto do filme, é interessante perceber como a mitologia dessa figura pode ser reinterpretada ou utilizada de maneira simbólica em relação a temas contemporâneos, como o controle social, o medo do desconhecido e até mesmo a desconstrução de figuras autoritárias.

A obra pode ser vista como uma crítica ou até uma reflexão sobre como as histórias de medo, com base em figuras como o "Homem do Saco", perpetuam valores de punição e medo. Ao invés de buscar entender as causas do comportamento das crianças ou da sociedade, essas narrativas frequentemente preferem uma abordagem mais punitiva e intimidadora. Não apenas alimentando o medo e o conformismo, mas também serve como metáfora para os próprios mecanismos de controle social na atualidade. A ideia de um ser misterioso que sequestra ou pune aqueles que transgridem pode ser uma alusão indireta à forma como as instituições tentam manter a ordem, com a desculpa de proteger ou educar, mas muitas vezes ignorando questões mais profundas de justiça e compreensão.

Porém, o principal problema do filme é a tentativa de explorar a lenda de maneiras distintas, sem, no entanto, se aprofundar em nenhuma delas. A criatura é retratada tanto como um trauma infantil, quanto uma entidade paranormal, uma alucinação psicológica e uma ameaça física real. O resultado é uma mistura de conceitos desconexos que nunca conseguem estabelecer um tom consistente.

O visual da criatura, o 'Homem do Saco', é um exemplo impressionante de como os efeitos práticos podem ser bem utilizados, mesmo com um orçamento limitado. A figura sinistra, vestindo um capuz preto que cobre a maior parte do seu rosto, exibe apenas uma parte visível: um sorriso distorcido, com dentes irregulares e uma boca exageradamente alargada. Esse detalhe grotesco intensifica a aparência aterradora, amplificando ainda mais o mistério e o terror que ele desperta.

Homem do Saco de 2024 é uma obra que apresenta um potencial interessante ao explorar temas universais como medo, controle social e a figura mítica do sequestrador infantil. No entanto, seu principal defeito reside na tentativa de abarcar diferentes abordagens e interpretações para a lenda, sem se aprofundar de maneira suficiente em nenhuma delas. A mistura de traumas psicológicos, entidades paranormais e ameaças físicas cria uma narrativa confusa que compromete o impacto da história. Apesar de um visual impactante e uma boa utilização dos efeitos práticos, o filme falha ao não conseguir estabelecer um tom consistente, o que prejudica sua capacidade de envolver e gerar o tipo de tensão que se espera de um bom filme de terror. A crítica à perpetuação de valores punitivos através de figuras como o Homem do Saco é válida e instigante, mas se perde na dispersão de ideias, resultando em uma experiência que, embora visualmente eficaz, carece de profundidade e coesão narrativa.

Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator em formação e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

Telefone Preto 2 - Do Suspense Psicológico para a Hora do Pesadelo

Telefone Preto 2 | Universal Pictures Pesadelos assombram Gwen, de 15 anos, enquanto ela recebe chamadas do telefone preto e tem visões pert...