quarta-feira, 26 de março de 2025

Novocaine: À Prova de Dor - Quando a Falta de Dor Se Torna o Maior Perigo (E a Melhor Piada)

Novocaine: À Prova de Dor | Paramount Pictures



Nathan Caine (Jack Quaid) é um homem introvertido e gentil que nasceu com CIPA, uma rara condição genética que o torna incapaz de sentir dor física. Crescendo sob proteção constante, ele desenvolveu estratégias para lidar com os desafios diários de sua condição, como usar um cronômetro para lembrar-se de necessidades básicas e tomar cuidado para não se machucar inadvertidamente. Apesar das limitações, Nathan construiu uma vida tranquila como executivo bancário. No entanto, sua rotina muda drasticamente quando seu local de trabalho é alvo de um assalto e um colega de trabalho é feito refém. Determinado a salvá-lo, Nathan descobre que sua condição, antes considerada uma vulnerabilidade, pode ser sua maior força. Imune à dor e disposto a enfrentar qualquer perigo, ele embarca em uma missão de resgate inesperada, desafiando limites físicos e emocionais.

A história do filme é simples, mas envolvente, sendo uma comédia de ação que se destaca pela originalidade e pelo humor. O protagonista é portador de uma condição rara, a Insensibilidade Congênita à Dor com Anidrose (CIPA), que o torna imune à dor e à sensação de temperatura. Esse fator, que poderia ser apenas um ponto curioso, é habilidosamente explorado ao longo do filme, trazendo situações inesperadas e muito divertidas. A escolha dessa condição como base para a trama confere um toque de frescor e criatividade à narrativa, permitindo aos roteiristas criar cenas de ação dinâmicas e engraçadas. O equilíbrio entre ação e comédia é bem executado, e o filme consegue manter o espectador interessado, enquanto faz uma abordagem leve e bem-humorada de uma condição médica rara. 

Para aqueles que são mais sensíveis à violência, o filme pode não ser a melhor escolha, apesar de o protagonista não sentir dor. Embora essa característica da trama seja usada de forma cômica e criativa, as cenas de ação intensas podem gerar uma sensação de desconforto no espectador. A maneira como a dor e a violência são retratadas, mesmo sem o protagonista experimentar essas sensações, cria uma tensão que pode ser agoniada. Esse contraste entre a falta de dor do protagonista e a reação do público diante das situações extremas adiciona uma camada interessante ao filme, tornando-o mais envolvente para aqueles que apreciam um humor mais ousado e ação de impacto.

Jack Quaid, conhecido por sua interpretação de Hughie em The Boys, traz à vida um personagem inicialmente introvertido, nerd e apático, que, imerso em uma rotina sem grandes propósitos, se limita a consumir apenas bebidas líquidas. No entanto, ao conhecer uma garota, sua vida passa por uma transformação profunda, marcando um divisor de águas em sua jornada. Ao abraçar de vez a persona do jovem com cara de bom moço, mas que se vê envolvido em situações extremas, Quaid se destaca ainda mais como o ator ideal para esse tipo de papel. Em sua interpretação de Nathan Caine, ele prova novamente seu talento ao navegar com naturalidade por esses cenários intensos e desafiadores, entregando uma performance que cativa e conquista o público.

Novocaine: À Prova de Dor oferece uma experiência única ao combinar ação, comédia e um toque de originalidade, graças à condição rara do protagonista. A trama, embora simples, é envolvente e traz uma abordagem criativa e divertida sobre o que significa ser imune à dor, explorando com destreza tanto o lado cômico quanto o suspense da história. Para quem aprecia uma mistura de humor ousado e cenas de ação intensas, o filme certamente vale a pena, oferecendo uma narrativa leve, mas cheia de momentos emocionantes. No entanto, é importante estar ciente de que, devido à violência gráfica, pode não ser adequado para todos os públicos, especialmente aqueles mais sensíveis a esse tipo de conteúdo.

Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator em formação e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

sexta-feira, 21 de março de 2025

Branca De Neve (2025) - Espelho, Espelho Meu, Quem É a Vilã Menos Intensa de Todas?

Branca de Neve | Disney


Inspirado no conto clássico dos Irmãos Grimm, Branca de Neve ganha uma nova adaptação live-action da Disney. A história acompanha a jovem princesa Branca de Neve (Rachel Zegler), cuja beleza desperta a inveja de sua madrasta, a Rainha Má (Gal Gadot). Determinada a eliminar a enteada, a vilã ordena sua morte, mas Branca de Neve consegue escapar e se refugia na floresta. Lá, encontra uma cabana onde vivem sete anões amigáveis, que a acolhem e se tornam seus aliados. No entanto, o perigo ainda ronda a princesa, pois a Rainha Má tem um plano cruel para eliminá-la de vez: uma maçã envenenada.

Nos últimos anos, a Disney tem investido fortemente em remakes live-action de seus clássicos animados, lançando adaptações bem-sucedidas, como Cinderela, Mogli e Aladdin. No entanto, nem todas as produções entregaram o que se esperava, como foi o caso de Mulan e O Rei Leão. É importante destacar que, embora O Rei Leão não seja tecnicamente um live-action, mas uma animação hiper-realista, ele se insere nesse movimento de revisitar obras anteriores da Disney. Agora, a companhia nos apresenta a versão live-action de um filme que muitos consideram o primeiro longa-metragem animado da história do cinema. Contudo, essa afirmação não é totalmente precisa: o filme em questão não foi o primeiro, nem o segundo, ou o terceiro. Embora tenha um papel fundamental tanto na história do cinema quanto no universo das animações, ele é, de fato, o primeiro longa-metragem animado da Disney.

A história, ao contrário da animação original, apresenta a infância da protagonista, explorando a origem de seu nome, que dá título ao filme, e revelando os eventos que marcaram o destino de seus pais. Dando a minha opinião um pouco controversa, a princesa da animação clássica nunca foi a minha princesa favorita, pois eu a achava muito sem sal, ela sempre me pareceu um tanto insípida, sem grandes características marcantes que a diferenciam de outras personagens femininas que a Disney criou mais tarde. Sua personalidade parecia ser bem passiva e, em muitos momentos, ela parecia depender mais da sorte ou da intervenção de outros personagens, como os animais ou os anões, do que agir de maneira autônoma para conquistar seus objetivos.

Ao contrário de outras princesas que mostravam coragem, inteligência ou habilidades únicas, ela parecia ser mais uma figura idealizada de "bondade pura", o que, embora positivo, a tornava um pouco monótona. princesa ganha muito mais carisma porque a personagem é construída de forma mais tridimensional, com mais espaço para expressar suas emoções e motivações. A atuação da atriz, muitas vezes mais madura e com nuances de personalidade, permite que a personagem se torne mais complexa e convincente.

Além disso, o filme live-action frequentemente explora mais a sua história, seus conflitos internos e suas escolhas, o que a torna mais ativa na narrativa, ao invés de ser apenas uma figura passiva à mercê dos acontecimentos. Essa versão também tende a humanizá-la mais, mostrando vulnerabilidades, dúvidas e momentos de autodescoberta que não eram tão evidentes na animação original. A protagonista no live-action se envolve mais diretamente nas situações, mostrando uma força emocional que conquista o público. Ao contrário da animação, onde sua personalidade podia parecer unidimensional, o live-action dá mais camadas à personagem, fazendo com que ela tenha suas próprias motivações e ações, o que naturalmente adiciona mais carisma.

Os sete anões, que chegaram a causar uma verdadeira polêmica na internet antes do lançamento do filme, são completamente criados em CGI, o que gerou bastante receio por parte dos fãs. Embora a escolha de utilizar tecnologia de animação digital para criar essas personagens não seja, de fato, um erro técnico ou criativo, é inegável que há algo um pouco estranho na forma como eles interagem com os atores de carne e osso. A diferença entre o realismo das performances humanas e a aparência digital dos anões cria um contraste que, inicialmente, pode soar desconfortável para o espectador.

Os anões, que na animação original eram personagens muito expressivos, com suas personalidades e movimentos amplificados de forma caricatural, aqui se tornam mais realistas, mas ao mesmo tempo, em certos momentos, parecem destoar da dinâmica do mundo real. Essa discrepância não chega a comprometer a experiência do filme, mas é um elemento que pode causar estranhamento nas primeiras cenas, principalmente para aqueles que têm uma forte conexão com o clássico animado. No entanto, com o desenrolar da trama, a interação entre os personagens vai se tornando mais natural, e é possível se acostumar com essa nova abordagem. À medida que a história avança, a tecnologia vai ganhando mais fluidez, e a presença dos anões, embora ainda digital, passa a ser mais integrada ao universo físico do filme.

Na animação, a Rainha Má possuía muito mais carisma do que a própria protagonista. Como mencionei no início da crítica, Branca de Neve na versão animada tinha uma personalidade bastante apagada, sem características marcantes que a destacassem, o que a tornava "sem sal". No entanto, na versão live-action, ela se torna muito mais carismática, apresentando uma presença e uma complexidade que cativam o público. Em contraste, a Rainha Má, que na animação era uma figura imponente e cheia de intensidade, acaba se revelando bem mais fraca aqui. Sua vilania perde grande parte da força que tinha na versão original, fazendo com que a dinâmica da história se inverta: enquanto a protagonista, antes ofuscada, brilha mais do que nunca, a vilã perde grande parte de seu impacto.

A interpretação de Gal Gadot como a Rainha Má não atinge o efeito esperado, e um dos principais motivos para isso é a performance da atriz. Embora tenha se destacado em papéis como a Mulher-Maravilha em Mulher-Maravilha e Liga da Justiça, Gadot não consegue transmitir a intensidade e a profundidade exigidas para um papel de vilã tão icônica. A Rainha Má, que deveria ser uma personagem ameaçadora, capaz de gerar medo e controle, acaba se tornando excessivamente suave e superficial. Isso enfraquece a credibilidade de sua ameaça, tornando a vilã menos impactante.

Além disso, a caracterização da Rainha Má no live-action não é tão bem desenvolvida quanto poderia ser. A personagem se apresenta de maneira previsível e rasa, sem explorar as camadas psicológicas que poderiam torná-la mais interessante e complexa. Uma vilã desse porte deveria ser multifacetada, com motivações mais profundas — quem sabe até com vestígios de humanidade —, mas a atriz não consegue explorar esses aspectos de forma convincente. O resultado é que a vilã se torna quase caricatural, sem a carga emocional necessária para realmente engajar o público. Em muitos momentos, a interpretação de Gadot parece faltar energia e força, o que compromete o impacto da personagem, que deveria ser avassalador. Isso enfraquece o confronto entre a protagonista e a vilã, tornando a narrativa menos envolvente e a tensão dramática mais fraca do que deveria ser.

Branca de Neve não é tão decepcionante quanto muitos previam, mas também não atinge um nível excepcional; fica apenas no campo do "bom". A protagonista ganhou mais profundidade e carisma, o que a torna mais cativante.  A performance de Gal Gadot como a Rainha Má não consegue capturar a intensidade da vilã original, o que enfraquece a dinâmica da história e diminui a tensão dramática. Assim, embora a adaptação traga uma Branca de Neve mais interessante, ela perde força no confronto com a vilã.


Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator em formação e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

terça-feira, 18 de março de 2025

Deu Preguiça! - Recomeços e Laços Familiares

Deu Preguiça! | Imagem Filmes

Em Deu Preguiça!, após uma tempestade devastadora que destrói sua casa, Laura, a preguiça mais veloz de sua comunidade, decide recomeçar sua vida na cidade grande. Junto de sua família excêntrica, ela se muda para a nova cidade em seu velho e enferrujado food truck, com a esperança de transformar seu negócio em um sucesso. A trama acompanha a jornada de Laura e seus entes queridos enquanto enfrentam os desafios de um novo começo. Ao tentar se estabelecer e conquistar clientes, eles descobrem que a verdadeira força reside na união familiar e na determinação para vencer as adversidades. A deliciosa comida preparada por Laura logo chama a atenção, mas, além de novos clientes, outros desafios surgem, colocando à prova a coragem da família. 

Deu Preguiça! faz parte da franquia “The Tales from Sanctuary City”, iniciada em 2020, esse sendo o quinto longa desse universo. Embora eu não tenha assistido aos filmes anteriores, o filme consegue funcionar de maneira independente, oferecendo uma experiência completa e acessível para quem está entrando no universo agora. A obra se sustenta por si mesma, sem a necessidade de um conhecimento prévio da franquia, o que é uma qualidade importante para atrair novos públicos. No entanto, para os fãs da série, é possível que alguns elementos e referências aos filmes anteriores enriqueçam ainda mais a narrativa.


A narrativa se concentra na relação entre Laura, a filha, e sua mãe, Gabriella, após a mudança para a cidade grande. Enquanto Laura quer aproveitar o tempo para brincar com seus amigos e viver novas experiências, ela se vê obrigada a priorizar as necessidades da família. Esse conflito entre suas vontades pessoais e as responsabilidades familiares é um dos principais temas do filme, ressaltando como, muitas vezes, os desafios do dia a dia exigem sacrifícios. A história, portanto, não só aborda as dificuldades de recomeçar, mas também a importância da união familiar e como os laços familiares podem influenciar nossas escolhas e perspectivas.

Em paralelo, a trama introduz Dotti, uma vilã ambiciosa e proprietária de uma rede de fast-food popular, que luta para manter sua relevância no mercado diante de inúmeros prejuízos e o fechamento de várias unidades. Desesperada para reverter sua situação, Dotti se depara com a família de preguiças, que, ao chegar na cidade, rapidamente conquista o público com sua comida deliciosa. Em um movimento de pura rivalidade e ganância, ela tenta roubar a receita secreta da família, que é transmitida de geração em geração. Embora a vilã se encaixe no estereótipo de empresária inescrupulosa em busca de sucesso a qualquer custo, sua presença no filme não chega a inovar o gênero. A dinâmica entre ela e a família de preguiças, embora eficaz para criar tensão, cai na previsibilidade de sua trama. O conflito entre o pequeno empreendedorismo e a grande corporação é um tema recorrente, e, embora seja relevante dentro do contexto da história, poderia ser explorado de maneira mais criativa, fugindo um pouco dos clichês típicos dessa disputa.

O filme transmite uma mensagem tocante sobre a importância de valorizar a família, mostrando como os laços familiares são essenciais para enfrentar dificuldades e alcançar objetivos. Embora o tema da união familiar seja bastante explorado, o longa consegue abordá-lo de forma genuína, sem cair em excessos melodramáticos. A trama destaca como o apoio mútuo e o trabalho conjunto podem ser a chave para superar desafios, o que ressoa de maneira positiva, especialmente em um contexto de recomeço. Mesmo sendo uma ideia recorrente, a forma como a história se desenrola, com momentos de cumplicidade e sacrifício, reforça de maneira eficaz essa mensagem, tocando no coração do público de maneira simples e verdadeira.

Deu Preguiça! é uma obra leve e divertida que, embora não se reinvente em todos os aspectos, consegue entregar uma experiência envolvente e positiva. A combinação de uma narrativa simples, com personagens carismáticos e uma mensagem sincera sobre a importância da união familiar, cria uma história que ressoa com o público, especialmente para aqueles em busca de uma produção com valores familiares.

Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator em formação e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

segunda-feira, 17 de março de 2025

Two Lovers - A face não dita do amor

Two Lovers | Magnolia Pictures


Daqueles filmes que abrem portas para tantos debates pessoais, de forma que falar sobre qualquer um deles soa como diminuição da grande magnitude humana que exala esse filme. De qualquer forma, ainda assim, perante toda a minha incapacidade, quero escrever algo sobre ele, mesmo que insuficiente.

O mundo perfeitamente imperfeito de Gray, que escolhe filmar o amor, mas não o amor romântico, o realista. O amor que não se escolhe, se sente, e é aí que o personagem interpretado por Joaquin Phoenix se encontra, nessa face dolorida do amor, onde as emoções são mais complexas e as incertezas são maiores que as certezas.

Talvez o que mais me chame a atenção seja como Gray trabalha os espaços, a interação entre enquadramento e pessoa. Essa interação mostra-se evidente na forma como os porta-retratos oprimem o ambiente, especialmente quando Leonard está com uma de suas “amantes”, como se, embora fora do plano material, a família ainda tivesse influência na vida de Leonard.

A depressão entra como fator narrativo, pois o próprio personagem não poderia conceber aquela felicidade para si mesmo. Ou seja, a tragédia é premeditada a todo momento, e cada caminho que Leonard trilha o leva àquele final tão triste. Arriscaria dizer que é um dos mais tristes que já vi. Ele agora não só perdeu sua forma de desfrutar das novas possibilidades mundanas, mas terá de ficar preso naquele mesmo ambiente opressivo.

O grande olhar familiar que cerca Leonard se forma quase fantasmagórico, reprimindo-o de forma tão severa que suas próprias escolhas se tornam dúvidas, ou até mesmo na forma como lhe é imposto que deveria ficar com Sarah, para o bem da família e, óbvio, do capital. Mas então, o que escolher? O bem-estar do capital familiar ou o novo, o rebelde? Rebelde no sentido mais juvenil possível, já que, a partir das ações parentais, nota-se que a visão infantil é gritante. Mas o questionamento que fica é o de Amor X Capitalismo: é realmente possível amar numa sociedade capitalista, onde os bens materiais valem muito mais que o puro, o inviolável?

Autor:


Me chamo Gabriel Zagallo, tenho 18 anos, atualmente estou cursando o 3º ano do ensino médio e tenho o sonho de me tornar jornalista, sou apaixonado por cinema e desejo me especializar nisso. Meus filmes favoritos são Stalker, Johnny Guitar, Paixão e Rio, 40 graus.

segunda-feira, 10 de março de 2025

O Macaco - Quando o Terror se Perde no Humor

O Macaco | Paris Filmes


Quando irmãos gêmeos encontram um misterioso macaco de corda, uma série de mortes ultrajantes destroem sua família. Vinte e cinco anos depois, o macaco começa uma nova matança, forçando os irmãos afastados a confrontar o brinquedo amaldiçoado.

O filme apresenta os irmãos gêmeos Hal e Bill, cujas personalidades distintas geram uma dinâmica intrigante e enriquecedora para a narrativa. Hal, o mais introvertido, traz uma postura calma e introspectiva, com uma leve ironia que adiciona camadas ao seu personagem, tornando-o uma figura complexa e interessante. Sua distância emocional não é apenas uma característica, mas uma forma de se proteger e observar o mundo ao seu redor com uma perspectiva única. Já Bill, o mais expansivo e impulsivo, é o oposto em muitos aspectos, mas essa diferença não diminui a profundidade de sua personalidade. Sua confiança e comportamento desinibido criam momentos de leveza e espontaneidade, equilibrando a história de forma refrescante.

A interação entre os dois irmãos é fundamental para o desenvolvimento da trama, pois, apesar de suas diferenças, a ligação emocional que compartilham é forte e palpável. A relação deles não só alimenta a narrativa, mas também explora de maneira sutil como dois indivíduos tão diferentes podem influenciar um ao outro, moldando suas escolhas e ações de forma significativa. Essa dinâmica traz uma camada emocional que ressoa com o público, mostrando que as complexidades dos relacionamentos fraternais podem ser tanto um ponto de tensão quanto de crescimento. Bill, em sua essência, lembra o personagem Richie de It - A Coisa, um outro exemplo de personagem desbocado e irreverente.

No entanto, longe de ser uma simples repetição, ele agrega um frescor ao filme, pois suas provocações e atitudes impulsivas, embora possam ser irritantes para alguns, também são um reflexo da vulnerabilidade e da busca por aceitação, temas universais e relevantes. O fato de o público poder, em algum momento, sentir um desgosto por esses comportamentos, acaba sendo um ponto positivo, pois mostra como o filme consegue gerar uma reação emocional verdadeira, algo que muitas obras buscam sem conseguir. A narrativa, ao explorar as diferenças e semelhanças entre Hal e Bill, cria uma trama rica e multifacetada, onde as relações humanas, com todas as suas complexidades, são o verdadeiro centro da história. O filme, assim, consegue fazer com que o público se envolva, refletindo sobre as escolhas dos personagens e como essas escolhas os moldam ao longo do tempo.

O monstro do filme, que é representado pelo próprio macaco, desempenha um papel sutil, mas eficaz, na construção do clima de tensão e mistério. Embora sua presença no início pareça limitada a gestos simples, como bater no tambor e exibir um sorriso macabro, há uma profundidade que vai além de suas ações superficiais. O sorriso do macaco, em particular, é uma escolha interessante, pois ele transmite uma sensação de desconforto que vai crescendo à medida que a história avança. Esse sorriso, que poderia ser facilmente descartado como algo superficial, acaba se tornando uma das imagens mais perturbadoras e simbólicas do filme, representando uma força estranha e ameaçadora que está sempre à espreita, pronta para emergir.

O filme utiliza essas pequenas ações para construir um ambiente de crescente tensão psicológica. A forma como o macaco parece agir com um propósito misterioso, sem explicações claras, faz com que o público se envolva mais profundamente com o mistério, mantendo o interesse pela figura enigmática e desafiando a percepção de que "monstros" precisam ser sempre fisicamente ameaçadores ou violentos. Essa construção do monstro através da sugestão e do comportamento enigmático também ressoa com o tema central do filme, onde o que é "normal" ou esperado está constantemente sendo desafiado. Ao não mostrar o monstro de maneira explícita e ao reduzir suas ações a gestos simples e, ainda assim, perturbadores, o filme faz um excelente uso do suspense psicológico, mantendo o público cativado e, ao mesmo tempo, questionando o que realmente está em jogo.

Eu cheguei a ler o material original O Macaco, que, quando lançado, era um livreto, mas foi posteriormente incluído na coleção de contos Tripulação de Esqueleto, de Stephen King. A obra original é uma narrativa completamente tensa e sombria, marcada pela atmosfera opressiva e pela construção de uma sensação crescente de terror psicológico. Ao contrário da adaptação cinematográfica, que tenta inserir elementos de comédia e humor ácido, o conto de King é imersivo e assustador, onde a tensão se mantém constante e a presença do macaco como figura ameaçadora não é suavizada por piadas ou ironias.

O terror é profundo, enraizado na perda, no medo do desconhecido e na vulnerabilidade humana, temas que King explora com maestria. No livro, o macaco representa algo muito mais do que um simples ser maligno; ele simboliza a inevitabilidade do mal e as consequências de ações passadas, criando uma experiência de horror psicológico que faz o leitor questionar a própria natureza da realidade. O conto original é uma reflexão perturbadora sobre o impacto do trauma e da obsessão, criando uma sensação de desespero quase palpável.

Ao transpor essa obra para o cinema, o tom sombrio e a profundidade emocional que King criou no conto acabaram sendo diluídos em favor de uma abordagem mais leve e irreverente. Enquanto o humor ácido na adaptação pode agradar a alguns, ele enfraquece o impacto do terror psicológico presente na obra original. O Macaco, como foi escrito, é uma história que nos confronta com o medo de forma imersiva, sem apelar para o alívio cômico. Assim, a adaptação perde, em grande parte, a intensidade daquilo que torna o conto original tão perturbador e eficaz em sua narrativa de terror.

O Macaco mistura terror psicológico e comédia irreverente, oferecendo uma dinâmica interessante entre os irmãos gêmeos. No entanto, ao suavizar o tom sombrio do conto original com humor ácido, perde a intensidade emocional e o impacto aterrador da obra de Stephen King.

Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator em formação e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

domingo, 9 de março de 2025

Máquina do Tempo – Dias De Um Futuro Não Tão Esquecido

 

Máquina do Tempo | Pandora Filmes

Estrelado por Emma Appleton e Stefanie Martini, Máquina do Tempo, segue a história de duas irmãs orfãs, Thomasina (Appleton) e Martha (Martini), que moram de forma isolada no interior da Inglaterra. Filmado em estilo found footage, a trama se passa no início da Segunda Guerra Mundial e mostra os primeiros ataques armados dos países envolvidos, incluindo a Grã-Bretanha. Tudo muda quando Thom e Mars criam um instrumento de rádio-televisão capaz de transmitir matérias de notícias do futuro.

Assim, não demora muito para que as irmãs usem seu aparelho para beneficiar o governo britânico em meio aos confrontos geopolíticos. Além de poderem assistir às notícias vindas do futuro, as mesmas também conseguem ouvir músicos e cantores famosos do futuro. Entretanto, mesmo com Thomasina informando a polícia local de forma anônima sobre os ataques iminentes no seu país, não demora muito para que as autoridades policiais descubram seu paradeiro. Logo, os oficiais se juntam a elas para interceptarem ataques vindos da Alemanha.

Sempre gostei de assistir produções de gênero found footage por trazer um tom documenteal para a trama e aqui, a direção de Andrew Legge é competente ao ambientar as filmagens para a época dos anos 1930. As cenas filmadas entre as irmãs foram feitas em câmeras Bolex e Arriflex de 16 mm, com lentes do período. As atrizes foram treinadas para usar o aparelho e realizam um trabalho excepcional. Somos transportados para aquele tempo de forma imersiva, ainda mais com uma fotografia em preto e branco.

Como consequências clássicas de filmes que retratam viagem no tempo, não demora para que percebamos o primeiro efeito das mudanças que elas acabam fazendo na história. Em um momento, Martha, que aprecia bastante as músicas dos anos 1970, sintoniza o dispositivo e percebe que seu cantor favorito, David Bowie, não está mais cantando no futuro (eu também ficaria muito triste com essa notícia). Logo, ela se assusta e se pergunta o que aconteceu, já que quem canta no lugar dele é outro músico com canções explicitamente fascistas. Thomasina, então, explica que isso foi um desdobramento das suas ações em prol da defesa da Inglaterra nos ataques militares.

Então, nos deparamos com o famoso dilema da temática de viagens no tempo: até onde podemos interferir nos acontecimentos da história? Mesmo que seja para proteger pessoas, o que isso pode acarretar no próprio futuro? Bom, pelo menos no longa, não temos mais respostas, já que as irmãs acabam caindo em uma armadilha feita pelos alemães e são acusadas de espiãs conspiratórias pelo governo britânico.

A qualidade técnica do filme é muito responsável por ambientar esse período pré-guerra. A película, filmada durante a pandemia e com um baixo orçamento, mostra como você pode gravar um filme com ótima qualidade, mesmo com recursos escassos. Bastante material do filme foi processado em casa em um tanque de revelação de 16 mm do período soviético.

Por ser dirigido em estilo found footage, isso acaba nos aproximando mais das personagens e, consequentemente, criando empatia pelas mesmas, ainda mais com as excelentes atuações e carisma de Emma e Stefanie. Conseguimos acompanhar, aqui, mais que a história de duas mulheres, mas também uma representação do amor fraternal e até onde estamos dispostos a defender nossos familiares. Afinal, a própria invenção das irmãs foi intitulada como Lola, em homenagem à mãe das protagonistas.

Embora o longa seja um recorte sobre a Segunda Guerra Mundial, viagem no tempo e regimes autoritários. O filme expõe, em sua essência, a importância das relações familiares, como também o poder do amor fraternal entre duas mulheres.

Autor:


Meu chamo Leonardo Veloso, sou formado em Administração, mas tenho paixão pelo cinema, a música e o audiovisual. Amante de filmes coming-of-age e distopias. Nas horas vagas sou tecladista. Me dedico à exploração de novas formas de expressão artística. Espero um dia transformar essa paixão em carreira, sempre buscando me aperfeiçoar em diferentes campos criativos.

sábado, 8 de março de 2025

Better Man: A História de Robbie Williams - O Animal por trás do Homem

Better Man | Paramount Pictures


Primatas são figuras comuns no universo do cinema. Sejam encarnados no famoso e alegórico King Kong, ou em posições dominantes, como em “Planeta dos Macacos”, tais presenças, mais habituais em ficções científicas, não são estranhas aos olhos humanos. Entretanto, uma celebridade musical escolher ser referenciada no papel de um macaco é, no mínimo, curiosa. “Better Man - A História de Robbie Williams”, de Michael Gracey, opta por tal irreverência com o aval total do cantor que dá nome à obra.

Sem qualquer estranheza por parte dos demais, Robbie Williams, interpretado aqui por Jonno Davies, já na pele do animal por intermédio de um ótimo CGI, é um jovem talento descoberto pelo grupo britânico Take That, que o fez obter ascensão meteórica em sua carreira. Porém, após os vislumbres de extravagância que a fama traz, o protagonista se perde e se encontra em uma velocidade disfuncional. De maneira não cronológica, passagens de sua vida são contadas com uma realidade que só é parada pela barreira criada pela fantasia que o próprio filme propõe. Estes momentos, que englobam uma série de aderência a vícios e um sofrimento atroz por parte de Robbie, são tratados de maneira visceral e explicativa, assim como artisticamente belos.


O arco de construção da persona do cantor, que passa de um menino inseguro para uma estrela da música no qual o brilho do reconhecimento o cegou, é apressada, mas compreensível. A ênfase não está apenas no dom de Robbie, mas sim nas consequências, desde familiares até em outros âmbitos sociais, que o fizeram decair significativamente após seu contato com a fama. Sua família, aliás, traz um núcleo de pai e filho que auxilia no crescimento e na formação do corpo da trama, agregando a dramaticidade e um fundamento necessário para que tomemos partido da situação.


Ainda que no palco Robbie fosse um fenômeno, sua vida pessoal, como apresenta a biografia, era conturbada e permeada por dependências, compulsões, autossabotagem e pensamentos intrusivos. Contudo, com a presença dos números musicais, era impossível esquecer que ali também se tratava de um musical com apego à sensibilidade e à sonoridade fantástica do artista, além de sempre nos relembrar que estávamos diante de uma história com seu “quê” fantástico. As canções nem sempre funcionam, visto que, em certo ponto, parecem amontoadas, causando uma possível dispersão do espectador.


Michael Gracey, que já esteve à frente de “Rocketman” e “O Rei do Show”, sabe bem como captar a atenção certa no momento certo para a situação certa. As circunstâncias musicalizadas são caprichosas, embora as ocasiões do dia a dia se resolvessem de maneira um tanto fácil, provando que todo problema tem uma resposta direta e positiva. Como trata-se de um clássico caso de um artista diferenciado e influente em busca de redenção, o filme não se distancia tanto dos demais na mesma linha de pensamento. Todavia, quando o realiza, é com cuidado; não em relação a imagem de Robbie, mas essencialmente na forma de filmagem e zelo com a história.


“Better Man - A História de Robbie Williams” adentra o imaginário de Robbie Williams, que compartilha com o espectador a chance de o conhecer melhor, mesmo na imagem de um macaco. Em um bom passeio pelos altos e baixos de sua vida, percebemos a tentativa de humanizar, mesmo que por meios “animalescos”, uma personalidade inesquecível porém ainda discreta quanto a sua própria história. Embalado por canções do próprio artista, o âmbito musical seria concretizado com maestria se não unisse tantos números em um curto espaço de tempo. Mesmo assim, é possível se entreter com imagens inventivas e uma trajetória cinematográfica interessante. De fato, nada é impossível para o audiovisual.


Autora:


Laisa Lima 

25 anos, formada em cinema, roteirista, crítica, videomaker e moradora do Rio de Janeiro, minha paixão pelo cinema transcende as telas. 
De “Guarda-Chuvas do Amor” até “Laranja Mecânica”, meu amor pela arte não se prende a nenhum gênero, mas sim ao que me toca. 
Também sou apaixonada pelos pormenores da vida, que se apresentam sem nenhum roteiro. 
Logo, imaginação não falta em mim. 
Sou de tudo um pouco, e procuro sempre expor minha versão mais democrática, que enfrenta a realidade com a maior criatividade possível.

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