Empate | Descoloniza Filmes |
Direto e reto, o documentário Empate vem para reacender discussão sobre floresta, posse, direitos, condições de vida de trabalhadores rurais e o agronegócio (pop, eles disseram!). A obra é uma poderosa narrativa visual que mergulha na história dos seringueiros do Acre, que lutaram bravamente pela preservação de parte da floresta Amazônica em meio ao avanço do desmatamento à favor do agronegócio (tech, eles disseram!).
Como ambientação, trata daquele velho Brasil das décadas de
70 e 80, marcado pela ditadura militar e suas peculiaridades, por assim dizer. Segundo
consta, a ideia era incentivar a ocupação da Amazônia para proteger fronteiras com
o exterior e integrar a floresta ao resto do país. Como isso seria
feito? Como qualquer projeto de desenvolvimento econômico: no lugar da floresta,
gado, rodovias, hidrelétricas etc. Com o agronegócio em expansão, o desenho
estava formado.
Ao contextualizar essa realidade, Empate traz um
registro forte e ao mesmo tempo cheio de sensibilidade, simplicidade e rigor
histórico. O documentário retrata não apenas a luta dos seringueiros e suas famílias para
proteger tanto – e tanto – aquela floresta, como também a ideia de coletividade que
sustentou desde o início o movimento.
Entre uma entrevista e outra, uma ambientação e outra, em cada canto, milimetricamente filmado, desde o primeiro minuto, é perceptível presença forte de Chico Mendes. A presença da ausência, como dizem! Ele que norteou o desejo daquele povo pela proteção da floresta, estava a todo tempo nas palavras de saudade, no olhar vazio e esperançoso de todos os personagens. Chico é símbolo da luta ambiental, reconhecido nacional e internacionalmente. A ideia dele já foi disseminada, feito penugem de dente-de-leão ao menor sinal de vento.
Trazendo para os dias de hoje, os desafios sociais e ambientais ainda persistem, é visível! Empate não acaba nos créditos, pelo contrário, abre espaço para que os debates a respeito da temática não cessem. Por isso é uma obra tão importante.Empate tem uma atmosfera densa e melancólica – triste, até! –, mas deixa vivo o sentido de união de uma comunidade inteira que, com pouco, enfrentou os interesses de grandes corporações e de um Estado omisso e conivente. Lá atrás conseguiu, a história está aí para provar. E hoje?
A luta dos seringueiros, os guardiões da floresta, continua viva em cada pessoa que se posiciona contra a devastação. A ideia é viver junto com a floresta, não sem ela – motivos óbvios.
Autora:
Lá em 2004 participei do meu primeiro filme. Ali apaixonei pelo cinema, mas como toda boa paixão, à la Jack e Rose, naufragou. A vida toma rumos e acabei seguindo outra área. Mas nada apaga uma boa paixão, né isso? Me chamo Carol Sousa e hoje falo e escrevo sobre cinema, quem sabe isso quer dizer amor...
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