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Drácula | Paris Filmes |
Em uma nova adaptação de Drácula, dessa vez sendo
dirigida por Luc Besson, que ficou conhecido por filmes como O Profissional
(1994) e Lucy (2014), o foco não se torna o terror
tradicional, mas sim um romance gótico sombrio e melancólico. Recebendo o
título de “ Drácula: Uma História de Amor Eterno ”, Luc reimagina a
clássica história de Bram Stoker por uma perspectiva do anseio eterno e do
isolamento que a imortalidade trouxe para Conde Drácula, explorando a tragédia
do Príncipe Vladimir, que renega Deus após a perda brutal de sua esposa, e
recebe como uma maldição a vida eterna. Ao longo do filme, acompanhamos a sua
busca obsessiva em reencontrar a sua amada, e por mais belo que isso seja, a
premissa acaba tropeçando em alguns momentos com algumas escolhas que
fragmentam a experiência da obra.
Visualmente, Drácula: Uma História de Amor Eterno é
deslumbrante. Desde a primeira cena, a fotografia impressiona com o uso
dramático de sombras, reforçando o clima gótico que está permeado na história.
O castelo onde boa parte da trama se desenvolve, é um espetáculo arquitetônico,
com cenários que refletem a decadência e toda a solidão do vampiro. Os
figurinos se tornam o maior destaque: luxuosos, detalhistas e fiéis à estética
rococó e vitoriana, que não apenas vestem os personagens, mas os definem dentro
daquele universo. A maquiagem e os adereços seguem esta excelência, criando uma
composição visual rica e coerente.
O elenco é liderado por Caleb Landry Jones, que já trabalhou
anteriormente com Luc no filme Dogman (2023) e também brilhou em outras
obras como Corra, Projeto Flórida e Antiviral, abraça a proposta
em se tornar Conde Drácula com uma performance carregada de tragédia e
melancolia ao lado de Zoe Bleu Sidel, que interpreta a sua amada. Christopher
Waltz (Bastardos Inglórios e Django Livre), nos entrega um padre
extremamente importante para o roteiro do filme. As interações entre os
personagens funcionam, e o tom dramático no início sustenta bem a ideia de um
romance gótico trágico.
Entretanto, o filme começa a perder um pouco do seu foco
principal ao decidir expandir a proposta além do necessário. Em uma tentativa
de ousar, Luc Besson insere um pouco de musical em uma única cena, ao se
aprofundarem na história do perfume que o próprio Drácula desenvolveu, e alguns
momentos de alívio cômico que não conversam muito bem com a atmosfera
construída até então. Tais escolhas geram estranheza, não pelo fato de ser
inusitado, mas pela desconexão com a temática e o tom da narrativa. São momentos
que se destoam do lirismo visual e da profundidade emocional que a trama nos
apresenta, interrompendo um pouco da imersão do espectador e deixando a
sensação de que o filme está constantemente buscando a sua verdadeira
identidade.
Apesar desses desvios, Drácula consegue retomar com
um pouco mais de estabilidade em seu terceiro ato. O desfecho, ainda que longe
de ser impactante, consegue amarrar a jornada do Conde de forma coerente,
respeitando a essência trágica da obra inicialmente. No entanto, é inegável que
a experiência em um tudo acaba se fragilizando por consequência das oscilações
de tom que atravessam a narrativa.
Por fim, Drácula: Uma História de Amor Eterno, vale a
experiência de ser assistida, especialmente pela riqueza visual e pelo esforço
em expor uma nova visão para o personagem clássico por uma lente mais íntima e
poética. É um filme com muitos acertos técnicos, mas acaba perdendo um pouco de
força ao tentar ser mais do que precisava. A tentativa de inovar é válida, mas
faltou equilíbrio para que essa ousadia não se tornasse um ruído dentro de uma
história que por si só já tinha potencial o suficiente.
Autor:
Bárbara Borges é do Rio de Janeiro e estudante de Jornalismo. Apaixonada por cinema desde criança, sempre foi movida por histórias intensas, especialmente as de terror, seu gênero favorito. Em 2024, dirigiu o documentário Além do Recinto, que levanta questionamentos sobre o bem-estar de animais silvestres em zoológicos e o impacto do confinamento longe de seus habitats naturais. Gosta de pensar no cinema como uma forma de provocar, sentir e transformar. Vive atualizando seu Letterboxd com comentários sinceros e, às vezes, emocionados. Entre seus filmes favoritos estão Laranja Mecânica, Psicopata Americano, Pânico, Pearl e Premonição 3.
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