segunda-feira, 11 de agosto de 2025

Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda (2025) - Mesmo raio, contextos diferentes

Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda | Disney


Ao entrar na cabine deste filme, este crítico caiu em lembranças longínquas de ir ao cinema, quando criança que aprendeu a não ter medo do escuro, acompanhado de sua mãe e avó. Muitos dos filmes vistos nesse breve período de tempo, se tornaram marcos cinematográficos de uma geração de jovens. Um desses filmes foi Sexta-Feira Muito Louca, lançado em 2003, que se tornou um clássico entre os late millenials que cresceram nos anos 2000 e foi revisitado pela gen z pela sua estética Y2K nos últimos anos. Mas a história desse filme vem muito antes do século XXI.

Freaky Friday, título no original, é um livro infanto-juvenil escrito por Mary Rodgers, lançado em 1972, que teve seus direitos comprados pela Disney logo após sua publicação. A obra foi adaptada, desde os anos 70, para o cinema, televisão e teatro. Suas duas principais adaptações para o cinema foram: Se eu fosse minha mãe (1976), com Barbara Harris e Jodie Foster; e o já mencionado filme de 2003, com Jamie Lee Curtis e Lindsay Lohan no elenco. 

Na trama desta última versão, Curtis e Lohan são Tess e Anna Coleman, respectivamente, uma mãe psicóloga e uma filha roqueira, que não se dão bem às vésperas do novo casamento de Tess. Após ambas lerem uma profecia em um biscoito da sorte, elas acordam no corpo uma da outra, no dia seguinte. Assim, mãe e filha devem descobrir como reverter a profecia, enquanto tentam convencer a todos em seus novos papéis. Reavaliando antes de assistir sua sequência, é um filme que continua bastante divertido e energético, apesar de apresentar elementos orientalistas, que acabam sendo centrais no decolar da narrativa. 

No entanto, antes de assistir a versão de 2025, este crítico se perguntava de vez em quando: “por que fazer uma continuação desse filme?” Afinal, é um questionamento válido em que a indústria cinematográfica, especialmente a estadunidense, mercantiliza a nostalgia por filmes de épocas passadas, com remakes e continuações. Além disso, precisamos lembrar que estamos falando da Disney, que qualquer animação com mais de dez anos de lançamento seja considerada para ser transformada em um live action. Então, a chance de ser mais uma jogada “caça níquel” da empresa é alta. Felizmente, este não é o caso.

Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda (2025), título brasileiro imenso por sinal, é uma continuação que parte diretamente da adaptação de 2003, e não dos outros livros de Rodgers. 

Vinte e dois anos depois dos eventos do primeiro filme, Anna Coleman (Lindsay Lohan) agora é uma ex-guitarrista e agente musical de uma gravadora de sucesso que cuida de sua filha Harper (Julia Butters), com a ajuda de sua mãe Tess (Jamie Lee Curtis). Após Anna conhecer o viúvo Eric (Manny Jacinto), eles entram em um relacionamento e, meses depois, decidem se casar. Porém, sua filha e sua futura enteada, Lily (Sophia Hammons), se detestam e odeiam o fato de que seus pais irão se unir em matrimônio. E durante os desafios que surgem da união de duas famílias, Tess e Anna descobrem que um raio cai sim duas vezes no mesmo lugar, uma vez que as quatros mulheres, jovens e maduras, trocam de corpos entre si. Enquanto isso, Harper e Lily fazem de tudo para que o casamento de seus pais não aconteça.

Como a sinopse sugere, a nova versão não só continua a história das personagens do primeiro quanto também funciona como um soft reboot ou uma legacy sequel, uma vez que o roteiro de Jordan Weiss se apropria da base narrativa, quase identicamente, do longa anterior. Então, para continuar esta análise, devemos fazer uma pergunta: “quais são os motivos por trás desse filme e o querem provar com isso?”

Sexta-Feira de 2003 foi um sucesso de crítica especializada e público e Jamie Lee Curtis e Lindsay Lohan ficaram imortalizadas em seus papéis. Apesar de serem artistas bastante diferentes, as carreiras de Curtis e Lohan passaram por altos e baixos em mais de vinte anos.

Este foi um dos últimos papéis de Curtis antes de sua brevíssima aposentadoria, por cerca de dois anos, e voltou à atuação em filmes que foram mal de crítica. Trabalhou também na televisão e em dublagens de animação. Sua carreira começou a ter mais visibilidade novamente com a série cult de “terrir” Scream Queens (2015-16) e os legacy sequels da franquia Halloween (2018-22). Em 2023, Curtis ganhou o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante no divisivo Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo (2022). 

Já a carreira de Lohan chegou a um apogeu como uma estrela teen com o lançamento de Sexta-Feira e de Meninas Malvadas (2004), ambos filmes dirigidos por Mark Waters por sinal. Além da atuação, ela também tentou uma carreira musical. Porém, por problemas de ordens pessoais e midiáticas, afastou-se da atuação por um breve tempo para se recuperar. Entre melhoras e recaídas, a atriz tentou, no início da década de 2010, retomar como atriz em dramas biográficos e suspenses psicossexuais que foram fracasso de crítica. Lohan mirou em projetos na televisão como documentários e pontas em seriados durante o restante da década. 

Em 2022, voltou a trabalhar em filmes de streaming nos gêneros de comédia e romance que a consagraram na juventude. Sexta-Feira 2, vamos chamar assim, é o seu primeiro lançamento como protagonista nos cinemas, após The Canyons (2013).

E com este novo ressurgimento no mercado hollywoodiano, temos duas mulheres que, através de uma obra que teve um impacto significativo em suas vidas profissionais, principalmente Lohan, querem provar que ainda possuem o mesmo carisma e energia como protagonistas. De fato, elas esbanjam isso neste filme.

As duas atrizes estão muito confortáveis em seus papéis e continuam ter a mesma química que as fizeram ser elogiadas na dinâmica original. Enquanto Curtis se diverte os divertidos choques de realidade da terceira idade, Lohan tem um papel muito mais central aqui - afinal, o primeiro plano do longa é uma visão idealizada de sua personagem para quem cresceu com o filme - visto que a narrativa foca na sua relação entre Anna e sua filha, assim também com seu noivo. No drama, nem sempre sua atuação flui, mas, na comédia, ela brilha.

Curtis e Lohan se entregam ao ridículo, à comédia corporal, com espontaneidade bastante latente, sem medo do caricato, sem amarras que limitam suas performances e nem o humor leve e bobo da obra. Uma das melhores cenas com as duas em cena envolve Lohan flertando com feições macarrônicas, enquanto Curtis se esconde atrás de vinil de Björk e de outras divas pop. 

Elas, já com uma experiência na atuação, também tem química com as novatas Julia Butters e Sophia Hammons, que conseguem se encaixar no tom do filme e seguraram bem seus papéis; simbolizando a triangulação entre intergeracional entre geração boomer, millenial e gen z que a trama quer promover, de forma orgânica. Aliás, os atores estão bem, nunca extrapolando aquilo que é pedido deles; entendendo quem são seus personagens, como devem agir em cena  e não perdendo o timing cômico de suas piadas. 

A diretora Nisha Ganatra, que tem experiência com filmes de comédia, entende muito bem para quem este longa-metragem está sendo feito e faz um trabalho competente em criar o clima da história. Há sim um apelo nostálgico a versão de 2003, mas, na direção de Ganatra, isso nunca se torna um tópico exagerado, em comparação com outros filmes apelam para a nostalgia e o fan service (detesto essa palavra!); aqui, somente o necessário. O roteiro aqui tem um contexto explicativo que poderia ser um pouco mais enxuto, mas funciona. Além disso, há um esforço da produção em remediar o orientalismo da versão anterior, colocando atores de ascendência asiática em papéis de destaque e agência, e trocando o dispositivo do bolinho da sorte por uma quiromante fracassada (uma participação divertida de Vanessa Bayer).

Comédias como Sexta-Feira 1 e 2, antigamente, eram feitas para ser lançadas diretamente no cinema e com o passar dos anos, tornou-se um gênero bastante nichado para o streaming. Então, é interessante ver um filme do gênero sendo produzido em formato cinematográfico, emulando um estilo de filme que não se produz muito no cenário atual. Porém, mesmo com investimento e uma boa direção, o filme tem um trabalho de fotografia um pouco aquém, menos ousado, se compararmos o longa de 2003; substituindo movimentos e jogos de câmera com efeitos visuais cafonas e baratos que parecem vindo de algum filtro do tiktok. 

A continuação de 2025, com seus acertos e erros, é uma comédia leve e divertida, que revisita seu antecessor, dando o devido respeito que lhe cabe na trama e personagens, com performances cômicas sólidas de seu elenco e sem exagerar demais no quesito da nostalgia. É um longa-metragem que nos lembra o motivo de termos gostado do primeiro filme, em primeiro lugar; mesmo que não tenha o mesmo frescor de outrora. Mesmo raio, contextos diferentes. 

O único questionamento que me permito a fazer, após o filme, é este: será que este estilo de narrativa de troca de corpos e amadurecimento seria um tema atemporal, ou será que é o efeito de mais uma sexta-feira louca nos cinemas? Talvez o tempo nos dará esta resposta.


                                                                  Autor:
                                  

Eduardo Cardoso é natural do Rio de Janeiro, Cidade Maravilhosa. Cardoso é graduado em Letras pela Universidade Federal Fluminense e mestre em Estudos de Linguagem na mesma instituição, ao investigar a relação entre a tragédia clássica com a filmografia de Yorgos Lanthimos. Também é escritor, tradutor e realizador queer. Durante a pandemia, trabalhou no projeto pessoal de tradução poética intitulado "Traduzindo Poesia Vozes Queer", com divulgação nas minhas redes sociais. E dirigiu, em 2025, seu primeiro curta-metragem, intitulado "atopos". Além disso, é viciado no letterboxd.

Salomé (2024) - Ou amor à flor de loló

Salomé | Vitrine Filmes


Uma mana vê um mano, ele retribui de volta. Eles se encontram na pista de dança. Os sentimentos ficam à flor da pele. Ele cheira uma latinha de loló, depois oferece para a garota. Ela inala a substância…  E o que ela vê é mágico, transformador, quase angelical. Este é um dos pontapés iniciais do longa-metragem Salomé (2024), dirigido por André Antônio, que vem conquistando festivais e mostras de cinema desde sua estreia no 57o Festival de Brasília.

No melodrama queer, nossa protagonista é Cecília (Aura do Nascimento), uma modelo de sucesso que mora em São Paulo. Ela retorna para Recife, para passar o natal com a mãe, Helena (Renata Carvalho). Cecília reencontra João (Fellipy Sizernando), um vizinho da infância, e fica fascinada pela beleza dele. Uma noite, João apresenta para ela um loló diferente, esverdeado, que leva a ligação entre os dois para um lugar de obsessão e mistério envolvendo um culto secreto em torno da figura de Salomé, a luxuosa princesa bíblica.

A personagem “Salomé” teve como sua maior recepção nas artes a peça homônima do escritor irlandês Oscar Wilde, texto foi publicado em francês no ano de 1893, mas sua tradução ao inglês foi censurada na Grã-Bretanha no ano seguinte. A versão de Wilde, um autor queer, penetrou no imaginário popular ao longo dos anos. 

No cinema, a peça inglesa deu origem a duas adaptações bastante interessantes a este crítico: Salomé (1922) de Alla Nazimova e Charles Bryant, com um elenco inteiramente LGBT, e A última dança de Salomé (1988) de Ken Russell, que reconstitui de forma livre a primeira (e clandestina) montagem da obra na Inglaterra e o atrito entre Wilde e seu amante, Lord Alfred Douglas. Felizmente, Antônio consegue costurar aqui um filme tão icônico quanto as adaptações mencionadas, mesmo que o intuíto seja mais conversar com o clássico de Oscar Wilde, do que recriar fielmente seu texto.

Assim como a peça, Salomé de Antônio é sobre desejo e anseio, mas o realizador atualiza a relação para a geração das relações líquidas, vazias, das redes sociais, do chemsex: o mundo do “pós-alguma coisa”, repleto de afetos artificiais e desilusões amorosas. 

A jornada de Cecília, nossa Salomé, é complexa, pois o desejo dela não é só passional, mas sim de tomar decisões, de enfrentar o impossível, ter as rédeas do próprio futuro. Isto vai de contra os desejos de Helena, sua mãe, que reza e tenta manipular um caminho para a filha, tal como Herodias tenta convencer Salomé a não ceder aos seus instintos e não usar e contrariar seu padrasto Herodes, o Tetrarca da Judéia.

Enquanto a personagem de Wilde é imponente e manipuladora para conseguir realizar o gozo de beijar Ionakaan, Cecília possuí uma inocência e um páthos, uma dor, que constroem sua personagem de forma humana e sensível. A intérprete, Aura do Nascimento, usa da pose e de seu carão como uma proteção de Cecília ao mundo exterior, mas consegue desmanchar para mostrar a vulnerabilidade da jovem em sua intimidade. 

Outro destaque do elenco, claramente, é a atriz Renata Carvalho, magistral como a mãezona Helena, pondo uma emoção palpável em cada palavra que diz e em cada reação que aparece na tela. Uma frase banal em sua boca carrega um sentimento profundo. Aqui, Carvalho não só incorpora um tipo específico de mãe, ela dá a luz a uma mãe na tela.

Salomé é muitas coisas, uma releitura de um clássico da literatura, uma história de amadurecimento tardio, de transformação interior, de paixões; um filme entre mãe e filha com representação trans… Mas o importante é que se trata de um “filme queer”, e Antônio e cia não só sabem disso, mas como dominam a linguagem do estranho, do diferente: 

O camp e o kitsch estão presentes na tela, como parte do léxico da obra e não como algo acidental. As cores são fortes e atraentes, quase almodovarianas, sendo o verde, remetente a cobra do jardim do Éden, a mais recorrente de todas. Tem uma mise en scène criativa. A edição cede ao experimental em certos momentos. O culto de Salomé, que tem uma importância significativa, parece uma versão reptiliana de Hot Boys ou Irmãos Dotados, saído de um filho híbrido entre Araki e Bressane. Com este trabalho, André Antônio consegue se sedimentar como um dos nomes mais interessantes do cinema queer brasileiro atual, ao lado de Daniel Nolasco e George Pedrosa.

É um filme com gosto (e cheiro de loló), senso de humor e muita ousadia de enxergar o mundo fora dos padrões, de brincar com as expectativas. Uma produção afiadíssima. A obra de Wilde culmina na tragédia, mas o filme de Antônio, na libertação. 

[Filme assistido durante o 14o Rio LGBTQIA+ - Festival Internacional de Cinema, realizado em 2025]



                                                                  Autor:
                                  

Eduardo Cardoso é natural do Rio de Janeiro, Cidade Maravilhosa. Cardoso é graduado em Letras pela Universidade Federal Fluminense e mestre em Estudos de Linguagem na mesma instituição, ao investigar a relação entre a tragédia clássica com a filmografia de Yorgos Lanthimos. Também é escritor, tradutor e realizador queer. Durante a pandemia, trabalhou no projeto pessoal de tradução poética intitulado "Traduzindo Poesia Vozes Queer", com divulgação nas minhas redes sociais. E dirigiu, em 2025, seu primeiro curta-metragem, intitulado "atopos". Além disso, é viciado no letterboxd.

Hora do mal - Sumiram as crianças, sobrou o mistério

Hora do Mal | Warner Bros. Pictures

Todas as crianças da mesma sala de aula, exceto uma, desaparecem misteriosamente na mesma noite e exatamente no mesmo horário. A comunidade fica se perguntando quem ou o que está por trás do desaparecimento.

O filme é contado em capítulos, apresentando a história de cada personagem. Ao mesmo tempo, ocorrem eventos que só serão revelados em capítulos futuros. Por exemplo, há uma cena em que Justine vai até um posto de gasolina e, de repente, um homem aparece tentando matá-la. A forma como a narrativa do longa é construída — dividida em capítulos que acompanham diferentes personagens e revelam gradualmente os acontecimentos — lembra o estilo do filme Elefante, de Gus Van Sant. Assim como em Elefante, os eventos são mostrados de perspectivas diferentes, e certas cenas só fazem sentido quando revisitadas por outro ponto de vista, o que cria uma sensação de suspense e sobreposição temporal. A Narrativa se destaca por parecer uma série de contos que se conectam aos poucos. O filme aposta em uma abordagem menos convencional, focando em uma construção mais ambiciosa e menos previsível. O desaparecimento das crianças e a mudança de perspectiva na câmera aumentam a tensão, enquanto os cortes inesperados mantêm o ritmo, reforçando a ligação entre os capítulos.

Distanciando-se da fórmula tradicional baseada em jumpscares, o filme opta por uma construção de tensão mais sutil e progressiva. Em vez de recorrer a sustos fáceis ou efeitos sonoros abruptos, a narrativa se desenvolve com base em um clima crescente de desconforto e inquietação, que vai se intensificando à medida que novas camadas da história são reveladas. Essa tensão é amplificada por um trabalho de câmera extremamente cuidadoso — com enquadramentos que ora seguem os personagens de perto, ora os isolam no espaço, reforçando a sensação de vulnerabilidade e suspense. Essa abordagem permite que o terror surja não do choque imediato, mas da atmosfera e da antecipação, criando uma experiência mais psicológica e imersiva. Ao evitar os recursos convencionais do gênero, o filme direciona o foco para o desempenho do elenco, oferecendo aos atores espaço para desenvolver emoções mais complexas, contidas e realistas. Com isso, o horror se torna mais humano e palpável, refletindo não apenas o medo do que está por vir, mas também o peso emocional que cada personagem carrega ao longo da trama.

O filme vai além das convenções do terror ao inserir camadas temáticas que aprofundam sua narrativa. Entre os temas abordados estão a negligência parental, refletida em figuras paternas ausentes ou desconectadas; a tendência da sociedade em apontar culpados imediatos para tragédias complexas, muitas vezes sem compreender as nuances envolvidas; e a dificuldade humana em lidar com o desconhecido ou com eventos que escapam à lógica. Esses subtextos não apenas enriquecem a trama, mas também convidam o espectador à reflexão, tudo isso sem prejudicar o ritmo ou a fluidez da história. Pelo contrário, eles acrescentam densidade emocional e ampliam o impacto da narrativa, elevando o filme para além do mero entretenimento.

Hora do Mal possui uma narrativa fragmentada, visualmente precisa e tematicamente ousada, o filme se consolida como uma obra de terror que desafia convenções e aposta na inteligência do espectador. Ao evitar fórmulas batidas e sustos previsíveis, entrega uma experiência mais madura, atmosférica e emocionalmente impactante. A combinação entre estrutura narrativa não linear, tensão cuidadosamente construída e subtextos sociais relevantes transforma o longa em algo mais do que um simples thriller: é uma reflexão sobre medo, perda e a complexidade das relações humanas diante do inexplicável. Em um gênero muitas vezes limitado por suas próprias regras, esta é uma obra que encontra força justamente ao quebrá-las.

Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

Juntos - Nem Freud explica essa mistura

Juntos | Diamond Films


Após se mudarem para o campo, um encontro sobrenatural começa a transformar o amor de um casal, suas vidas e sua carne.

O filme se insere no subgênero body horror, um tipo de terror que aborda a transformação, mutilação e degradação do corpo humano, frequentemente por meio de imagens gráficas e perturbadoras. Esse estilo explora angústias existenciais profundas, usando o corpo como metáfora para temas como doenças, envelhecimento e a perda de controle sobre si mesmo. Juntos, essa abordagem ganha uma dimensão literal: O casal protagonista experimenta uma união física desconcertante, em que beijos fazem seus lábios se fundem de forma dolorosa e mãos penetram na pele do outro como se fossem matéria maleável. Esses momentos causam forte desconforto, não apenas pelo aspecto visual, mas pelo simbolismo da fusão amorosa levada ao extremo — onde a intimidade e a invasão se tornam indistinguíveis.


Millie Wilson é uma mulher decidida, afetuosa e resiliente. Ao pedir Tim em casamento em sua festa de despedida no início do filme, ela demonstra coragem emocional e desejo de estabilidade, mesmo diante da hesitação dele. Sua capacidade de tomar a iniciativa e se adaptar a mudanças — como aceitar um novo emprego e se mudar para o interior — mostra uma personalidade prática e determinada. Ainda assim, há uma certa vulnerabilidade em sua tentativa de manter o relacionamento funcionando a todo custo, como se quisesse salvar algo que está escorregando por entre os dedos. Millie é sensível e acolhedora, como se vê no modo como lida com Jamie, o novo colega, mostrando abertura para novas conexões e tentando se inserir num novo ambiente com naturalidade.


Tim, por outro lado, é um homem emocionalmente retraído, ainda lidando com um luto profundo e um trauma mal resolvido relacionado à morte dos pais. Como aspirante a músico, ele carrega em si uma natureza introspectiva e sensível, mas está num momento em que parece paralisado, desconectado de seus sentimentos e do mundo ao redor. A hesitação diante do pedido de Millie reflete não apenas insegurança, mas talvez uma recusa inconsciente à intimidade. As lembranças bizarras e perturbadoras que ele revive — como a imagem da mãe ao lado do cadáver do pai — revelam a profundidade de seus traumas, que ele reprimiu por tanto tempo que agora retornam distorcidos e intesificados. Tim parece confuso, passivo, carregando culpa ou medo que não consegue nomear, o que o torna cada vez mais instável.


A dinâmica entre Millie e Tim é marcada por um desequilíbrio crescente. Enquanto ela tenta manter os dois próximos e construir uma nova vida, ele se afasta, afundando-se em um território emocional sombrio. A caverna onde passam a noite pode ser vista como uma metáfora do inconsciente — um espaço onde segredos, traumas e desejos reprimidos começam a se manifestar. Ambos emergem dessa experiência diferentes, ainda que tentem fingir o contrário. A tensão crescente entre o desejo de normalidade e o peso do passado parece prestes a explodir, ameaçando o relacionamento e a própria sanidade deles.


Juntos transforma a intimidade em uma experiência visceralmente incômoda, onde o desejo de proximidade se confunde com a perda de limites, identidade e controle. Essa abordagem radical não apenas atualiza os códigos do Body Horror, mas também desafia ideias romantizadas de conexão e entrega emocional. O desconforto visual das transformações físicas é apenas a superfície de um mal-estar mais profundo: a sensação de que, ao tentar se fundir completamente com o outro, o ser humano corre o risco de desaparecer. É nesse ponto que o filme se revela mais perturbador — não por seus efeitos grotescos, mas por aquilo que eles simbolizam. Ao fim, resta menos uma resposta do que uma inquietação persistente: até onde é possível amar sem se destruir?


Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.


segunda-feira, 4 de agosto de 2025

Paterno - Tragédia de um homem megalomaníaco comum?

 

Paterno | Filmes do Estação

Recife, dia ensolarado. Um homem estaciona perto da praia. Muda de roupa, tem uma aparência agora mais simples. Encontra um comparsa no meio da rua, e juntos eles vão a um lugar. Uma casa grande com vários andares, jardim espaçoso. Este homem que visita o imóvel parece convencer o casal, que mora e conta a história do local, que gostaria de comparar a casa para poder morar nela. Um rapaz ouve a conversa atrás da porta. Ele se apresenta como neto deste casal e entra na conversa. Enxerga através do homem e indaga sobre seus reais motivos com imovél, antes de revelar que, na verdade, está a serviço de uma grande empreiteira que deseja construir um arranha-céu no local…

O filme Paterno de Marcelo Lordello teve uma trajetória trágica, porém normalizada no mercado audiovisual braisleiro: a obra foi filmada em 2017, em contexto de desmonte de recursos federais para cultura, pré pandemia e pré (des)governo Bolsonaro; só conseguiu ser finalizado em 2021;  entra no circuito de festivais em 2022; porém, somente chega aos cinemas em agosto de 2025, no dia 7, quinta-feira, para ser mais exato. Ou seja, o projeto demorou oito anos para ser apropriadamente lançado ao público.

É como uma cápsula do tempo. Um longa que foi realizado em determinado contexto e tem sua recepção de lançamento em outro diverso. Por sorte, a obra tem um olhar maduro e envelheceu bem nessa passagem bastante extensa de tempo do que outros filmes brasileiros produzidos e lançados após 2017(como o acidental mockumentary “Transa” lançado em 2022-24 sobre a época do desgoverno, por exemplo), uma vez que o realizador compreende o zeitgeist da época.

Na trama, Sérgio (Marco Ricca) é um arquiteto que deseja conquistar a direção da empreiteira da família para realizar um sonho há muito esquecido, contra as vontades do irmão que comanda a empresa. Seu pai, Heitor, está internado, quase à beira da morte, e tem problemas de se conectar com seu filho Tomás (Guga Patriota).  Enquanto ele tenta viabilizar um novo projeto com ajuda de Cláudio (Thomás Aquino), um jovem ambicioso, ele acaba descobrindo um segredo da vida do seu pai que ameaça seus planos, revelando quem ele realmente se tornou.

Durante o debate após a premiére do filme no Rio de Janeiro, realizada no Estação Net Rio, o diretor afirmou que o filme foi pensado como uma espécie de tragédia. Com certeza, paternidade é o tema central do filme, porém a crise e especulação imobiliária de Recife e os lobistas imobiliários influenciando na política, cujo é o pano de fundo da narrativa, é mais interessante. É quase um Aquarius (2016) às avessas, um outro lado da moeda deste: ao invés de focar nas pessoas que lutam contra o sistema, estamos do lado dele.

Sérgio é uma personagem megalomaníaca e canibalista, tem sonhos de grandeza, mal resolvido consigo mesmo, extremamente obsessivo, e usa do sistema político-econômico para chegar nos seus objetivos. Um homem perverso com abordagem mansa. Se o filme tivesse uma abordagem camp, com certeza Sérgio seria um vilão de desenho animado, como mostra a cena em que a personagem retira vários livros de sua mesa para revelar o mapa da cidade embaixo dos calhamaços. No entanto, as perspectivas desses papeis são complexos, bem estabelecidos, não dicotômicos, e mostra como personagens como a de Marco Ricca ou de Thomás Aquino são passíveis de serem corruptíveis em diferentes âmbitos: a traição da própria essência e a de fins econômicos, respectivamente.

É um filme sociopolítico, que poderia ser um thriller (seja político ou psicológico) interessante, mas é introspectivo. O público acompanha mais as questões íntimas de Sérgio do que suas artimanhas. A personagem principal é solipsista, não vê ao que está ao seu redor, voltando para dentro de si, sempre olhando para seus objetivos, o que delimita o limite do alcance da narrativa. Não há quase nenhuma cena em que Sérgio não esteja presente, os olhos dele são os do espectador. O que alimenta a incomunicabilidade entre a personagem e seu filho durante o filme.

Enquanto Tomás sabe quem é seu pai de verdade, o mesmo não sabe quem é o seu filho, até que seja tarde demais para uma conexão genuína entre ambos. Há uma tensão geracional entre Sérgio (pai), Tomás (filho) e Heitor (avô), que funciona quase como uma prisão familiar dentro da sociedade, aparências de poder para ser mantidas e não desmanteladas. A obra cinematográfica usa desse tema como um ponto de ruptura para a reflexão das relações entre pais e filhos, mas nunca consegue desenvolver de modo satisfatório. E, como o filme foi feito no contexto pós-impeachment, o realizador não deixa de pincelar o conflito dos discursos entre direita e esquerda que se afloraram de forma exponencial na década passada. O longa-metragem de Lordello trabalha muito com simbolismos do cotidiano como representação de seus temas, mas nem sempre o recorte compensa a longo prazo. 

A aposta da obra em realizar a função de “advogado do diabo” traz também, suas consequências: há personagens com dilemas mais interessantes a serem desenvolvidos do que Sérgio: um exemplo disso é a personagem Suzana, interpretada por Rejane Faria, que teve um relacionamento com Heitor, e representa uma outra camada social no filme, da classe média emergente, um contraponto a personagem principal do filme, que se comporta quase como um aristocrata (nas palavras do diretor).

A presença, e talvez ameaça simbólica, dessa personagem faz com que Sérgio saia de seus eixos e seja confrontado por um outro lado, o da ausência. Não é à toa que as poucas cenas, uma de perseguição e de visita, são as mais emblemáticas da obra para este crítico; pois a protagonista é confrontada com questões morais e pessoais que trazem à tona sua complexidade.

O elemento trágico que Lordello conceitualista em seu filme é de caráter subjetivo do que factual. A quebra das expectativas, das ilusões, do ponto de vista de Sérgio. A tragédia é a crise de identidade, de âmbito emocional e psicológico. Porém, o longa nunca se coloca totalmente na posição de sua protagonista. Sempre vemos Sérgio, como espectador, a uma certa distância, quase sanitária. Todos os conflitos são internalizados e, a maioria, são convenientes resolvidos sem nenhuma grande consequência de suas ações. A obra quer promover uma catarse que nunca chega de fato. E se chega, é por uma parcela bastante limitada da audiência.

Paterno é bem produzido, tem uma fotografia soturna de cores frias, um excelente trabalho de sonoplastia, boas atuações, principalmente de Ricca, Aquino e Faria. Mas como um filme sobre obsessão, mistura vários temas, mas alguns são mais bem desenvolvidos do que outros, algo se perde na tradução do roteiro ao corte final.

A escolha de fazer um filme intimista, mas com um olhar distante de sua protagonista, é um problema recorrente no cinema brasileiro, pois afasta a catarse de uma obra de seu público. É um olhar apático de uma personagem que não necessariamente aprende com seus erros. As sutilezas do longa são neutralizadas pela própria asperidade, ao convidar o público para participar de sua proposta. Uma provocação que volta para o mesmo ponto. Talvez esse seja o preço de fazer uma tragédia moderna de lugar comum. Mas como retrato social de uma época específica, tem o seu valor histórico que ainda se sustenta.

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Eduardo Cardoso é natural do Rio de Janeiro, Cidade Maravilhosa. Cardoso é graduado em Letras pela Universidade Federal Fluminense e mestre em Estudos de Linguagem na mesma instituição, ao investigar a relação entre a tragédia clássica com a filmografia de Yorgos Lanthimos. Também é escritor, tradutor e realizador queer. Durante a pandemia, trabalhou no projeto pessoal de tradução poética intitulado "Traduzindo Poesia Vozes Queer", com divulgação nas minhas redes sociais. E dirigiu, em 2025, seu primeiro curta-metragem, intitulado "atopos". Além disso, é viciado no letterboxd.

Drácula: Uma História de Amor Eterno - É Visualmente Deslumbrante, Mas Tropeça ao Tentar Reinventar a Sua Própria Essência.

Drácula | Paris Filmes

Em uma nova adaptação de Drácula, dessa vez sendo dirigida por Luc Besson, que ficou conhecido por filmes como O Profissional (1994) e Lucy (2014),  o foco não se torna o terror tradicional, mas sim um romance gótico sombrio e melancólico. Recebendo o título de “ Drácula: Uma História de Amor Eterno ”, Luc reimagina a clássica história de Bram Stoker por uma perspectiva do anseio eterno e do isolamento que a imortalidade trouxe para Conde Drácula, explorando a tragédia do Príncipe Vladimir, que renega Deus após a perda brutal de sua esposa, e recebe como uma maldição a vida eterna. Ao longo do filme, acompanhamos a sua busca obsessiva em reencontrar a sua amada, e por mais belo que isso seja, a premissa acaba tropeçando em alguns momentos com algumas escolhas que fragmentam a experiência da obra. 

Visualmente, Drácula: Uma História de Amor Eterno é deslumbrante. Desde a primeira cena, a fotografia impressiona com o uso dramático de sombras, reforçando o clima gótico que está permeado na história. O castelo onde boa parte da trama se desenvolve, é um espetáculo arquitetônico, com cenários que refletem a decadência e toda a solidão do vampiro. Os figurinos se tornam o maior destaque: luxuosos, detalhistas e fiéis à estética rococó e vitoriana, que não apenas vestem os personagens, mas os definem dentro daquele universo. A maquiagem e os adereços seguem esta excelência, criando uma composição visual rica e coerente. 

 O elenco é liderado por Caleb Landry Jones, que já trabalhou anteriormente com Luc no filme Dogman (2023) e também brilhou em outras obras como Corra, Projeto Flórida e Antiviral, abraça a proposta em se tornar Conde Drácula com uma performance carregada de tragédia e melancolia ao lado de Zoe Bleu Sidel, que interpreta a sua amada. Christopher Waltz (Bastardos Inglórios e Django Livre), nos entrega um padre extremamente importante para o roteiro do filme. As interações entre os personagens funcionam, e o tom dramático no início sustenta bem a ideia de um romance gótico trágico. 

 Entretanto, o filme começa a perder um pouco do seu foco principal ao decidir expandir a proposta além do necessário. Em uma tentativa de ousar, Luc Besson insere um pouco de musical em uma única cena, ao se aprofundarem na história do perfume que o próprio Drácula desenvolveu, e alguns momentos de alívio cômico que não conversam muito bem com a atmosfera construída até então. Tais escolhas geram estranheza, não pelo fato de ser inusitado, mas pela desconexão com a temática e o tom da narrativa. São momentos que se destoam do lirismo visual e da profundidade emocional que a trama nos apresenta, interrompendo um pouco da imersão do espectador e deixando a sensação de que o filme está constantemente buscando a sua verdadeira identidade. 

 Apesar desses desvios, Drácula consegue retomar com um pouco mais de estabilidade em seu terceiro ato. O desfecho, ainda que longe de ser impactante, consegue amarrar a jornada do Conde de forma coerente, respeitando a essência trágica da obra inicialmente. No entanto, é inegável que a experiência em um tudo acaba se fragilizando por consequência das oscilações de tom que atravessam a narrativa. 

 Por fim, Drácula: Uma História de Amor Eterno, vale a experiência de ser assistida, especialmente pela riqueza visual e pelo esforço em expor uma nova visão para o personagem clássico por uma lente mais íntima e poética. É um filme com muitos acertos técnicos, mas acaba perdendo um pouco de força ao tentar ser mais do que precisava. A tentativa de inovar é válida, mas faltou equilíbrio para que essa ousadia não se tornasse um ruído dentro de uma história que por si só já tinha potencial o suficiente.


Autor:

Bárbara Borges é do Rio de Janeiro e estudante de Jornalismo. Apaixonada por cinema desde criança, sempre foi movida por histórias intensas, especialmente as de terror, seu gênero favorito. Em 2024, dirigiu o documentário Além do Recinto, que levanta questionamentos sobre o bem-estar de animais silvestres em zoológicos e o impacto do confinamento longe de seus habitats naturais. Gosta de pensar no cinema como uma forma de provocar, sentir e transformar. Vive atualizando seu Letterboxd com comentários sinceros e, às vezes, emocionados. Entre seus filmes favoritos estão Laranja Mecânica, Psicopata Americano, Pânico, Pearl e Premonição 3.

Anima(2019) - Uma viagem visual e sonora sobre rotina, cansaço e o poder de um simples encontro

Anima | Netflix

Anima (2019) é um curta-metragem de 15 minutos dirigido por Paul Thomas Anderson e protagonizado pelo vocalista da banda Radiohead, Thom Yorke, é uma daquelas obras que são difíceis de serem descritas, mas são fáceis de serem sentidas. Lançado pela Netflix, o curta nos entrega um grande espetáculo visual, sonoro e coreográfico. A obra não é sobre uma narrativa convencional, e sim de uma viagem quase teatral, carregando simbolismos e um perfeccionismo estético. A proposta nada mais é do que transportar o telespectador para uma realidade paralela onde a monotonia do cotidiano assume uma outra forma. 

Anima é uma daquelas obras que não busca entregar respostas fáceis e diretas para aqueles que estão assistindo, mas é aquela que busca convidá-los a mergulhar nas sensações que Paul nos oferece. Com a sua estética impecável, suas músicas originais compostas por Yorke e sua atmosfera onírica, o curta-metragem transforma o cotidiano em algo poético. Pode parecer confuso para aqueles que buscam por algo linear, mas o filme não perde a sua força por conta disso. Por fim, Anima é um lembrete silencioso de que ainda existe beleza mesmo nas pequenas coisas, e que até mesmo em um gesto simples, mora um impacto profundo e emocionante.

Desde os primeiros segundos, a fotografia se torna o principal destaque. É imersiva e hipnotizante. Tudo parece ser muito bem calculado para criar uma atmosfera distópica e, ao mesmo tempo, similar a um sonho. O curta é repleto de dançarinos, e a coreografia contemporânea é um dos pontos mais altos a se notar, entregando a principal mensagem do filme: a repetição e o cansaço dos dias monótonos, o desejo de se libertar. Mesmo que seja um curta musical, tudo nele é vivo. 

O momento em que Thom finalmente se encontra com a mulher do início do curta, é de longe uma entrega super emocionante que Paul poderia entregar e, sem dúvidas, a parte mais tocante. Ambos dividem uma ação simples juntos, sem palavras, mas ainda assim nota-se a intensa carga emocional naquilo. É delicadamente belo, como se por um momento, no meio daquele caos urbano, surgisse um espaço para respirar e de admirar a beleza do amor. Definitivamente, essa cena é o coração do filme, e talvez este seja o principal motivo para emocionar tantos telespectadores: mesmo cercados de uma realidade rígida e sufocante, os personagens ainda são capazes de se conectarem assim que finalmente conseguem se encontrar.


Autor:

Bárbara Borges é do Rio de Janeiro e estudante de Jornalismo. Apaixonada por cinema desde criança, sempre foi movida por histórias intensas, especialmente as de terror, seu gênero favorito. Em 2024, dirigiu o documentário Além do Recinto, que levanta questionamentos sobre o bem-estar de animais silvestres em zoológicos e o impacto do confinamento longe de seus habitats naturais. Gosta de pensar no cinema como uma forma de provocar, sentir e transformar. Vive atualizando seu Letterboxd com comentários sinceros e, às vezes, emocionados. Entre seus filmes favoritos estão Laranja Mecânica, Psicopata Americano, Pânico, Pearl e Premonição 3.


Telefone Preto 2 - Do Suspense Psicológico para a Hora do Pesadelo

Telefone Preto 2 | Universal Pictures Pesadelos assombram Gwen, de 15 anos, enquanto ela recebe chamadas do telefone preto e tem visões pert...