segunda-feira, 8 de setembro de 2025

Invocação do Mal 4: O Últmo Ritual- OU DELÍRIO COLETIVO?

 

Invocação do Mal 4: O Último Ritual | Warner Bros. Pictures


Tudo que há de bom, tem que acabar. Em alguns casos, a bonança já foi embora algum tempo atrás…

 Um fenômeno do mundo do terror nasceu em 2013, uma assombração que pegou o público desprevenido e implorando por mais: a franquia Invocação do Mal (The Conjuring, no original), encabeçado pelo diretor James Wan, que pariu duas outras sagas do gênero, Jogos Mortais, em 2004, e Sobrenatural, em 2010. 

A série paranormal de filmes acompanha alguns dos casos mais espinhosos do casal Ed e Lorraine Warren (Patrick Wilson e Vera Farmiga, respectivamente), especialistas, como eles dizem, do além e da demonologia. O primeiro filme arrecadou mais de 300 milhões de dólares mundiais contra um orçamento de 20, desencadeando, naturalmente, sequências e spin-offs interligados: como o da boneca Annabelle (2014-2019) e a demoníaca Valak, também conhecida como  A Freira (2018-2023). 

Os longas são dramatizações desses casos (o famoso/infame “baseado em fatos reais”) pela visão do casal, enraizada em crenças do catolicismo, que, por muito tempo, se envolveu em controvérsias sobre a documentação e veracidade dos fatos que tanto alegava para a mídia. Estas narrativas colocam os Warren como salvadores de um seio familiar diferente a cada filme, expurgando-lhes do mal que o devora por dentro: o caso da família Perron, no primeiro filme (2013); a possessão em Enfield, no segundo (2016); o julgamento de Arne Johnson, no terceiro (2021); e o poltergeist da família Smurl, agora nesta última parte (2025).

Ambientados nos anos 80, após os eventos do filme anterior, Ed e Lorraine Warren vivem uma pausa em sua carreira de investigadores paranormais, restringindo-se em realizar palestras sobre antigos casos, devido à problemas de saúde do patriarca. Lorraine começa a ter suspeitas de que a filha do casal, Judy (Mia Thomlison), que está prestes a se casar, esteja apresentando problemas em relação a sua mediunidade. Enquanto isso, em um subúrbio industrial da Pensilvânia, acompanhamos a assombração que atormenta os Smurl, uma família católica da classe operária; porém, a mesma entidade demoníaca tem uma ligação importante com o passado dos Warren e deseja reclamar Judy para si.

A franquia Invocação do Mal, desde os seus primórdios, usa da liberdade criativa, em graus variados ao longo dos filmes, para preencher as lacunas e incongruências dos relatos dos Warren e deixar a narrativa mais uniforme e linear; isto não é uma novidade. O que fez os primeiros capítulos desta saga funcionarem foram uma série de fatores estéticos e narrativos, muito além do “baseado em fatos”: a química entre Wilson e Farmiga como o casal de protagonistas; a direção afiada de James Wan que constrói com precisão a atmosfera sensorial da narrativa; o roteiro que desenvolve bem os personagens e arquiteta muito bem a suspensão da descrença, que é fundamental para um terror católico. 

Com a renovação da equipe criativa no terceiro filme -  sai Wan na direção e os irmãos Hayes no roteiro, respectivamente, e entra Michael Chaves e David Leslie Johnson-McGoldrick -  e duas das três qualidade citadas no parágrafo anterior são obliteradas por uma direção e um roteiro igualmente fracos. Deste modo, aproximando a qualidade da franquia principal com os seus derivados, que tiveram uma recepção mista em seus lançamentos. Agora, esta mesma equipe criativa tem a missão de encerrar o ciclo de narrativas dos Warrens, em um longa-metragem que promete muito e pouco se concretiza. Ou seja, o que não estava funcionando na obra anterior, ainda continua capenga.

Após a recepção divisiva de Invocação 3 entre críticos e fãs, principalmente pela estrutura de investigação procedural, a equipe, para este novo projeto, tenta a todo custo “voltar às origens”, ao estilo que fez a franquia ressoar bastante no público. Contudo, o filme apresenta uma narrativa que, ao mesmo tempo, é bastante redundante em si e mal desenvolvida ao ponto da franquia retomar a forma de outrora. 

Chaves tem uma direção mais direta e agressiva, cujo clima e tempo transcorrido é demasiado corriqueiro; enquanto o guião de Johnson-McGoldrick (e reescrito por Ian Goldberg e Richard Niang) é inflado, mas não tem muita sustância que o deixe firme. A interação entre os dois núcleos da trama é quase inexistente até o terceiro ato, deixando a sensação de que o espectador está assistindo a dois filmes completamente diferentes, amarrados de forma frouxa. 

Existe o sacrifício simbólico da relação entre os Warren e a família assombrada da vez, para focar na trajetória de Judy (e possível rosto do futuro da franquia), como uma vítima indefesa de uma possível e iminente tragédia, que é arquitetada pela obra. As relações interpessoais entre pessoas de diferentes contexto é substituída por um solipsismo piegas, projetado para a manipulação emocional escancarada do público. Os Smurl, como uma personagem coletiva, em contrapartida, são mal explorados aqui, uma escolha muito estranha; pois até o catolicismo é uma personagem mais proeminente na obra do que eles. O exagero na liberdade poética da produção acaba diminuindo o potencial narrativo e as situações parecem forçadas ao espectador, beirando ao sensacionalismo. A suspensão da descrença? Não existe aqui, desde que somos apresentados por uma cena com tons escancarados de “pró-vida” logo nos primeiros minutos. Que situação!

Apesar de ter poucos momentos bons, bem esparsos e todos envolvendo espelhos e cabos por sinal, os momentos de susto e de tensão são como uma piada sem graça: tem uma construção, mas não o punchline. Além disso, o filme usa referências e momentos dos capítulos anteriores como uma muleta: um punhado de truques baratos e soltos. Afinal, o longa não sabe se quer contar o caso ou ser uma homenagem que toma orgulho de se auto referenciar para agradar os fãs. São dois eixos que nunca acertam ao alvo, mas os quais a obra insiste em não querer largar a mão. 

O resultado final é um delírio maniqueísta que não consegue manter uma sobriedade, funcionando como um combustível reacionário de um conservadorismo religioso para questões atuais. É um filme que abraça e reforça a sua mediocridade narrativa e temática sem ter a vergonha de ser como tal; embalado como uma despedida a Wilson e Farmiga, como se fossem parte da sua família. A sensação que fica na boca é de um espectador que é obrigado a assistir ao final de novela religiosa da Record, enquanto mastiga cacos de vidro ao longo de sua enfadonha e incompreensível duração. A memória de que os filmes de Invocação foram minimamente bons, é coisa do passado. De certo, e sem chances de voltar atrás, essa franquia já virou um delírio coletivo.

                                                                  Autor:
                                  

Eduardo Cardoso é natural do Rio de Janeiro, Cidade Maravilhosa. Cardoso é graduado em Letras pela Universidade Federal Fluminense e mestre em Estudos de Linguagem na mesma instituição, ao investigar a relação entre a tragédia clássica com a filmografia de Yorgos Lanthimos. Também é escritor, tradutor e realizador queer. Durante a pandemia, trabalhou no projeto pessoal de tradução poética intitulado "Traduzindo Poesia Vozes Queer", com divulgação nas minhas redes sociais. E dirigiu, em 2025, seu primeiro curta-metragem, intitulado "atopos". Além disso, é viciado no letterboxd.

segunda-feira, 1 de setembro de 2025

O Último Azul - A luz apagou, mas ainda funciono

O Último Azul | Vitrine Filmes

Em um Brasil distópico, o governo impõe uma política controversa: todos os cidadãos com mais de 75 anos são transferidos compulsoriamente para uma instituição conhecida como "Colônia". A justificativa oficial é que essa medida contribuiria para a produtividade da nação, liberando a população ativa do encargo de cuidar de seus familiares idosos.

É nesse cenário que conhecemos Tereza (Denise Weinberg ), uma mulher de 77 anos. Moradora de uma pequena cidade industrial na Amazônia, sua vida é abruptamente transformada quando recebe a ordem de se mudar para a Colônia. Essa ruptura a leva a uma profunda reflexão: Tereza se dá conta de que ainda nutre sonhos e desejos não realizados, entre eles, o anseio de voar de avião. Determinada a não se submeter ao destino imposto, ela decide fugir com a ajuda de Cadu, um pescador, em uma jornada em busca de sua liberdade.

Dirigido por Gabriel Mascaro, de Divino Amor (2019) e Boi Neon (2015), o filme estabelece com maestria a base de sua narrativa. A trama contextualiza de forma eficaz a vida da protagonista, contrastando-a com a dura realidade imposta aos idosos. Esse conflito é evidenciado em momentos-chave, como na cena em que Tereza expressa sua angústia e desalento ao colega de trabalho, revelando não se sentir preparada para o destino que a aguarda na Colônia.

Mascaro conduz essa jornada com profundidade, construindo personagens que, de certa forma, também buscam se libertar de algo que os aflige. Dessa forma, cada encontro e desencontro vivenciado por Tereza costura sua jornada, tornando o filme coeso, leve e imersivo, com situações que se encaixam organicamente à narrativa e, ao mesmo tempo, preservam o caráter inesperado.

O longa também utiliza muitas metáforas em seu desenvolvimento, desde o caramujo de baba azul que amplia os horizontes da mente, até os pneus na beira do rio. Esses elementos dão um tom místico e um tanto alegórico ao filme. Além disso, Tereza, inicialmente cética em relação aos “sinais” que a vida lhe envia, gradualmente cede, permitindo uma jornada de autodescoberta.

Quanto aos aspectos técnicos, a direção de fotografia, assinada por Guillermo Garza, retrata o cenário da Amazônia com um misto de contemplação e intensidade, dialogando com os sentimentos da personagem, seja através do reflexo da luz no rio ou de pássaros que voam ao alvorecer. Outro aspecto que merece destaque é a direção de arte de Dayse Barreto, que através da mise-en-scène cria cenários cheios de vida que integram e complementam a narrativa.

Sobre as performances, duas se destacam. Tereza (Denise Weinberg) é uma mulher desiludida, mas aguerrida, que apesar de cética se lança no mundo para conquistar sua liberdade. Weinberg entrega uma personagem multifacetada que se adequa aos cenários e situações do filme, sempre de maneira espontânea e em sintonia com o tom das cenas. Já Cadu (Rodrigo Santoro) é um homem fechado que guarda suas dores para si, mas demonstra-se muito frágil através da voz trêmula e dos olhos marejados.

Em linhas gerais, apesar de não possuir uma tarefa simples, O Último Azul não se esquiva da tarefa de expor o etarismo, a instrumentalização e o descarte de indivíduos que já não têm mais serventia para o sistema. Lúcido, o filme mergulha no peso de sua narrativa com uma sensibilidade que evita qualquer caricatura, construindo em Tereza a antítese do idoso fragilizado. Além disso, ao retratar as "Colônias" como ambientes de descarte, o longa faz um paralelo com os campos de concentração, onde aqueles indesejáveis pelo governo vigente são levados e esquecidos. Ao aproveitar a beleza de seu cenário e a profundidade de seus personagens, o filme nos faz refletir sobre uma história que, apesar de parecer estar no fim, na verdade está apenas começando.

Autor:


Mateus José é graduando de Licenciatura em Cinema e Audiovisual pela UFF, escritor, poeta, montador e aspirante a diretor de fotografia. Apaixonado pelas artes, literatura, música e principalmente o cinema, dedica-se a consumir, estudar e dissecar as camadas mais profundas do cinema e da arte.

A Praia do Fim do Mundo — O Pessimismo para Festivais

A Praia do Fim do Mundo | Sereia Filmes


Lançado em festivais no ano de 2021, mas com lançamento comercial apenas no ano de 2025, Praia do Fim do Mundo conta a estória da cidade fictícia de Ciarema, interior do Ceará, onde o nível do mar começa a aumentar em níveis catastróficos, prenunciando o fim daquela cidade. Com o tempo contado, Alice (Fátima Macedo), uma jovem ambientalista, tenta convencer sua mãe (Marcélia Catarxo) a abandonar a cidade, porém a mesma se recusa a deixar o lugar onde cresceu. O longa ainda conta com a presença na pré-lista do Brasil para o Oscar 2025.

Apesar do filme ainda contar com temas de cunho ambientalista, a dimensão estabelecida pelo diretor Petrus Cariry é muito mais onírica que realista. Ele preza por essa noção meio Tarkovski de planos abertos e longos, o que já virou tradicional no cinema brasileiro de festivais em filmes como Arábia, de Affonso Ûcho ou até mesmo Pedágio, da Carolina Markowicz. Entretanto, a lógica realista desses filmes é subvertida nesse longa.

Ao mostrar a cidade em ruínas, Petrus questiona se aquele lugar que parece estar em seu fim já não de fato acabou. O trabalho é semelhante ao de arqueologia, onde parecemos ter pequenos pedaços do que já foi uma cidade turística e cheia de visitantes, e que é definitivamente a protagonista do longa-metragem.

E ao fixar a direção, Petrus parece estar muito bem decidido no que planeja fazer com Praia do Fim do Mundo. Todavia, toda a visão dele ainda me parece estar muito interligada com a lógica de filme de festival, que infelizmente limita completamente toda a visão dramatúrgica do longa, que é extremamente mal feita.

Abdicando de qualquer elemento dramático maior, Petrus deixa de lado muitos momentos que poderiam engrandecer a obra em favor de um mistério que se distancia muito de uma pergunta realizada ao espectador. Até os momentos mais exclusivos da personagem de Marcélia Catarxo soam como avulsos em meio a essa unidade tão gourmetizada.

Contém sim alguns momentos que são verdadeiramente interessantes, mas ficam por isso mesmo, já que nunca são levados adiante. É o mesmo problema que eu vejo nos longas da cineasta Anitta da Rocha Silveira, que parecem confundir mistério com perguntas, e acabam anulando sua unidade.

E no fim, Praia do Fim do Mundo é um longa que faz um comentário pessimista a realidade brasileira da maneira mais “gringa” possível e se mantém numa postura de filme de festival quase em todo momento, sendo nunca o que prometeu ser: um filme.

Autor:


Meu nome é Rodolfo Luiz Vieira, tenho 17 anos e curso o terceiro ano do Ensino Médio. Produzo alguns curtas-metragens e escrevo textos sobre cinema. Meus filmes favoritos são: Em Ritmo de Fuga; La Haine; Eu Vos Saúdo, Maria e Pai e Filha.

Mononoke: O Fantasma na Chuva - Uma experiência visual e sensorial


Mononoke: O Fantasma na Chuva | Netflix

Dirigido por Kenji Nakamura, Mononoke: O Fantasma na Chuva, é um filme que vai além de contar uma simples história: ele oferece uma experiência completa para o espectador. Com apenas 91 minutos de duração, o longa nos conduz a um universo que mistura o sobrenatural com uma estética marcante e experimental de uma forma única. Baseado no anime de 2007, é notável que Kenji se mantém fiel e preserva a essência da obra original com a atmosfera carregada de visuais que parecem pinturas em movimento. 

Um dos maiores impactos é a animação. O traço lembra um quadrinho vivo, repleto de cores e texturas. Muitos personagens que se tornam figurantes no filme, aparecem sem o rosto, sendo substituídos por uma espiral em um fundo azul ou preto. Este recurso estético reforça um mistério e uma sensação de estranhamento, aproximando a película de um sonho distorcido. 

Tanto a arte quanto a história por si só, buscam o estilo tradicional japonês com elementos psicodélicos, criando algo definitivamente único. Tal atmosfera funciona perfeitamente na prática pelo simples motivo de que os mononokes, espíritos nascidos de emoções humanas negativas, são representados como distorções do real. Cada cor e cada movimento transmitem sentimentos, transformando as emoções em imagens. Um dos personagens principais, que fica conhecido como O Boticário, é o centro da narrativa. Seu design é tão marcante quanto a sua presença, extremamente imponente. Não se torna necessário o uso excessivo de falas para ele; apenas a sua postura enigmática para guiar a história.

A trama inicialmente pode parecer confusa, principalmente para aqueles que não assistiram ao anime que antecede o filme, mas a obra consegue conduzir muito bem o espectador. As intrigas políticas do Ooku e o espírito vingativo dão o ritmo à narrativa, que se equilibra entre a tensão e o espetáculo visual. Não é uma obra que entrega explicações fáceis.

O grande destaque está na direção de arte. As cores vibrantes e os movimentos calculados fazem cada cena parecer uma pintura viva. O psicodelismo nunca soa como algo gratuito: ele representa o caos emocional que dá origem aos mononokes, tornando o filme uma experiência quase sensorial.

O final fica um pouco aberto, o que pode dividir muitas opiniões. Há espaço para uma continuação, como foi o caso com a continuação que estreou neste ano, mas também funciona como uma forma de manter o verdadeiro mistério da película. É uma escolha extremamente coerente perante a proposta da obra, que nunca buscou ser muito óbvia ou totalmente explicada.

No fim, Mononoke: O Fantasma na Chuva se destaca como uma experiência extraordinariamente única. Enigmático em alguns pontos, mas sempre envolvente, é um filme que prende o espectador atráves do olhar e pela forma como traduz os sentimentos humanos em imagens. Kenji Nakamura reafirma aqui o potencial de uma animação ir além da narrativa, visando em como é possível transformá-la em uma verdadeira arte em movimento. 

Autor:

Bárbara Borges é do Rio de Janeiro e estudante de Jornalismo. Apaixonada por cinema desde criança, sempre foi movida por histórias intensas, especialmente as de terror, seu gênero favorito. Em 2024, dirigiu o documentário Além do Recinto, que levanta questionamentos sobre o bem-estar de animais silvestres em zoológicos e o impacto do confinamento longe de seus habitats naturais. Gosta de pensar no cinema como uma forma de provocar, sentir e transformar. Vive atualizando seu Letterboxd com comentários sinceros e, às vezes, emocionados. Entre seus filmes favoritos estão Laranja Mecânica, Psicopata Americano, Pânico, Pearl e Premonição 3.






segunda-feira, 25 de agosto de 2025

No Céu da Pátria Nesse Instante - Cinema Sem Amor

No Céu da Pátria Nesse Instante | O2 Play


O longa criticado abaixo descreve os acontecimentos da eleição de 2022 desde o mês de janeiro do mesmo ano até os ataques terroristas a sede dos três poderes em Brasília em janeiro do ano seguinte.

Assistindo No Céu da Pátria Nesse Instante — novo longa da cineasta Sandra Kogut — veio-me a mente um texto do Paulo Emílio Salles Gomes (não lembro o nome no momento), onde o critico comenta que diversas pessoas da época largaram suas profissões corriqueiras pelo amor ao cinema para se tornarem alguns dos maiores cineastas de todos os tempos: Dziga Vertov, Sergei Eisenstein, Dovjenko, etc. E esse amor era completamente político, a dialética do cinema trazia a esses cineastas a exploração dessas idéias revolucionárias, que traziam acima de tudo o questionamento acima daquele ideal para haver enfim a afirmação.

No documentário brasileiro, ocorre o total oposto. Somos avassalados por 1 hora e 45 minutos com a cineasta buscando reafirmar suas idéias sem trazer qualquer dialética ou questionamento, tornando o longa apolítico, e até mesmo pobre em idéias.

 A idéia de não haver narração e de mostrar os acontecimentos da maneira em que ocorreram é até que interessante, contudo há essa obsessão em pintar o lado de Luiz Inácio Lula da Silva como salvador da pátria — de maneira quase que maniqueísta, diga-se de passagem — que nos torna como indiferentes a qualquer um dos acontecimentos do longa. É a realidade como ela é, mas você não parte do cinema para fazer realidade, e sim da realidade para se fazer o cinema.

Quando o longa alterna com os bolsonaristas, há sim uma possível tentativa de buscar uma dialética, porém ela é suprimida pela euforia de Sandra Kogut ao representar os apoiadores de Lula, e ficar nessa luta de bem e mal. Algo este que pode existir na realidade, mas estamos aqui falando de cinema, e filmes muito piores como “Transe” de Carolina Jabbor fizeram imensamente melhor que essa obra.

E no fim, No Céu da Pátria Desse Instante fica por isso mesmo, auto-afirmação com um teor quase que banal na medida em que os acontecimentos se desenrolam. E em nenhum momento cumpre a promessa de ser realmente uma análise. Encerro o texto com palavras de Eduardo Coutinho:

 “O filme com perguntas é o que presta, o com as respostas você joga no lixo.” 

Autor:


Meu nome é Rodolfo Luiz Vieira, tenho 17 anos e curso o terceiro ano do Ensino Médio. Produzo alguns curtas-metragens e escrevo textos sobre cinema. Meus filmes favoritos são: Em Ritmo de Fuga; La Haine; Eu Vos Saúdo, Maria e Pai e Filha.

Anônimo 2 (2025) - Recalcula a rota

Anônimo 2 | Universal Pictures


Nem todos os filmes são considerados de primeira classe e está tudo bem. Nós, como espectadores, precisamos ver filmes B para distrair a cabeça ou ajudar na nossa dissociação diária. E tal como os filmes prestigiados, filmes B, seja de qualquer gênero narrativo, tem o seu valor. Porém o maior pecado que pode acometer uma produção desse porte é uma crise de identidade. Esse foi o caso do primeiro filme da franquia Anônimo, estrelado por Bob Odenkirk.

O longa-metragem foi lançado em 2021, durante o período de reabertura dos cinemas por causa da Covid-19. A produção tem o dedo da 87North, a mesma produtora da franquia John Wick: Derek Kolstad assina o roteiro e David Leitch, junto com Odenkirk, assume o cargo de produtor.

A premissa é clara. Um zé ninguém vive sua vidinha pacata junto de sua rotina entediante. Ele está preso em um ciclo sem fim. Quando um roubo acontece em sua casa e todos o veem como um pateta, esse mesmo homem acaba se envolvendo, em episódio de raiva, numa briga com um bando de jovens russos arruaceiros dentro de um ônibus. A partir desse ponto, nós, enquanto audiência, descobrimos que ele é um ex-agente e assassino da CIA com “habilidades especiais” e um dos jovens, que fica gravemente ferido, é o filho de um chefão da máfia. E esse mafioso vai querer retribuir o favor…

Se fizermos um exercício de memória coletiva e lembrarmos da sinopse do primeiro filme de John Wick, a premissa é quase idêntica.  Porém, ao invés do viúvo atlético de Reeves, temos a personagem de Bob Odenkirk, que é tratado pelo filme como um homem emasculado; principalmente pela sua esposa, que assume um papel mais ativo na família: há um plano muito específico no início do filme que marca essa posição de superioridade e inferioridade entre o casal. No entanto, apesar de ser bastante direto ao ponto, o roteiro de Kolstad se demonstra muito empobrecido de nuance com suas personagens. Quer tocar em uma psicanálise que nunca chega ao ponto que deseja. E a direção não ajuda muito com tom frio e seco, diminuindo o humor e a ironia presente no trabalho do roteirista. 

O primeiro filme tinha alguns planos e sequências interessantes, mas flertava com a cultura incel e deixou um gosto reacionário, bem amargo na boca. Era um lado B de John Wick, mas sisudo, sem o olhar que eleva a franquia rival. Mas, para a felicidade de todes envolvides, a produção foi bem de crítica e de público e Bob Odenkirk tinha agora uma franquia de ação para chamar de sua. E quatro anos após, veio a sequência do longa de 2021.

Dirigido por Timo Tjahjanto, Anônimo 2 (2025) acompanha Hutch Mansell (Bob Odenkirk), após voltar a trabalhar como assassino profissional, em sua nova rotina. Seu retorno à essa linha de trabalho se dá pela dívida que contraiu do submundo no episódio anterior. Ele e sua esposa, Becca (Connie Nielsen), estão sobrecarregados e a distância que havia entre eles voltou e está os separando novamente. 

Ao sentir que o seio familiar está cada vez mais desunido, Hutch decide levar a família toda a uma cidadezinha, em que há um parque temático, para uma pequena viagem de férias. É um local em que ele teve ótimas lembranças com o pai (Christopher Lloyd) e o irmão (RZA). No entanto, quando um encontro trivial com valentões locais, Hutch coloca a família na mira do dono do parque (John Ortiz), um xerife corrupto (Colin Hanks), e uma chefe do crime (Sharon Stone).

Se o primeiro filme é uma criação de uma nova franquia de ação, este segundo serve mais para fazer a manutenção das ideias do que expandir a narrativa à diante. O roteiro de Kolstad, que retorna para o projeto, usa da fórmula da obra anterior de novo: rotina incansável, relação entre Hutch e Becca instável, um evento que quebra a rotina da família, Hutch se envolve em um conflito violento, os antagonistas vão atrás do assassino em um vai-e-volta que culminará em um combate final à la “Esqueceram de Mim”...

Porém, com o tempo vem a sabedoria. Kolstad consegue, mesmo dentro de sua idiossincrasia já estabelecida, recalcular a rota. Aqui, temos uma narrativa que emula as tramas clássicas de filmes de ação dos anos 80 e 90, como a de um forasteiro que acaba criando uma rusga com os valentões de uma cidade do interior; e abraça um viés absurdista de sua situação, dando tanto ênfase no humor quanto nos momentos de ação. Se essa qualidade estava nas entrelinhas do anterior, aqui está mais explícito.  O mundo masculino desse universo tem sua expressão carrancuda transformada em uma paródia de si. Tal mudança de tom é bem-vinda, já que se trata de uma fantasia cheia testosterona com requintes de violência e crueldade e seu herói, uma figura altamente capaz, porém, ao mesmo tempo, patética.

Tjahjanto, ao contrário de Ilya Naishuller, diretor do primeiro filme, abraça o lado galhofa da narrativa e não tem medo do filme ser considerado straight camp por parte dos espectadores. Além disso, a decupagem das cenas de ação é fluída, como sangue, e de forma mais consistente. O diretor consegue imitar o jogo de planos e os movimentos de câmera que são parte essencial de filmes de ação como a já mencionada franquia John Wick, pois põe em evidência o trabalho de performance dos dublês da produção. Lembrem-se que, antes de se tornar diretor, David Leitch era coordenador de dublês em várias produções de Hollywood, e claro que, em uma produção dele, não poderia faltar um competente trabalho neste quesito.

Os filmes da franquia Anônimo, em seu âmago, servem para catapultar Bob Odenkirk, ator cômico e dramático, como um astro do cinema de ação. Aos 62 anos, o ator demonstra, em ambos os longas, uma agilidade e condicionamento físico bastante disciplinado. Neste novo capítulo, o Hutch de Odenkirk está, de fato, completamente humanizado, admite que tem problemas de raiva, apesar do filme tratá-lo como uma máquina de matar; muito diferente da personagem mecanizada que havíamos conhecido anteriormente, mas tão vigoroso quanto outrora.

Christopher Lloyd e RZA, que fizeram pontas no longa de 2021, respectivamente, como pai e irmão de Hutch, voltam para esta nova parte e roubam a cena nos momentos em que aparecem. Já a personagem de Connie Nielsen é mais explorada aqui e possui uma agência maior do que no longa anterior. O relacionamento dela com Hutch se torna parte central da narrativa, pois  o desgaste de seu relacionamento é mútuo, e não mais unilateral. Eles estão na mesma posição, em lados espectros. Nielsen já havia expressado anteriormente que gostaria de revisitar e desenvolver a sua Becca e, aqui, ela consegue fazer isso.

Do novo elenco, destaco dois personagens: o xerife de Colin Hanks, uma pessoa mesquinha e de má índole, que antagoniza com Hutch logo à primeira vista. Tal antagonismo possuí (na minha leitura) um queer coding do modo em que os planos são decupados, os olhares perdidos, a agressividade hiper-masculina e irracional, a posição de figuras fálicas entre as personagens: o tipo de performance de gênero que dá volta e ganha outras conotações. 

E a mafiosa Lendina de Sharon Stone, que parece estar se divertindo em tela. Uma personagem deliciosamente camp: expansiva, debochada, desnecessariamente cruel e de vez em quando fica dançando e dissociando do absoluto nada. Ela manipula o dono do parque (que por algum motivo narrativo também o prefeito da cidade) a fazer parte de seu esquema de contrabando. A razão para isso? Porque ela gosta. Faz sentido? Não; mas quem se importa a esse ponto? Mesmo com o pouco tempo de tela, Stone tem o carisma para vender a ideia de sua personagem em segundos.

Apesar da produção deste longa-metragem ter feito a escolha segura e sem sair muito de sua zona de conforto, sem nenhum desenvolvimento de universo, o ângulo de sua mira é um pouco diferente, e talvez para melhor. Ao assumir a identidade de um filme B de ação, Anônimo 2 torna-se um filme divertido de se assistir, sem pretensões que o traía a longo prazo. Agora, pelo menos, é um filme com personalidade. Não se preocupe, o Hutch não vai atrás de você e queimar seu dinheiro, se discordar dessa opinião.


  Autor:
                                  

Eduardo Cardoso é natural do Rio de Janeiro, Cidade Maravilhosa. Cardoso é graduado em Letras pela Universidade Federal Fluminense e mestre em Estudos de Linguagem na mesma instituição, ao investigar a relação entre a tragédia clássica com a filmografia de Yorgos Lanthimos. Também é escritor, tradutor e realizador queer. Durante a pandemia, trabalhou no projeto pessoal de tradução poética intitulado "Traduzindo Poesia Vozes Queer", com divulgação nas minhas redes sociais. E dirigiu, em 2025, seu primeiro curta-metragem, intitulado "atopos". Além disso, é viciado no letterboxd.

terça-feira, 19 de agosto de 2025

Neeson brilha e manda avisar: “Corra que a polícia vem aí! (2025)”

Corra que a Polícia Vem Aí (2025) | Paramount Pictures


Sons de tiros. Um assalto ao banco em um dia ensolarado. Os ladrões chegam atirando no local. Fecham tudo, fazem reféns. O chefe da gangue arromba um cofre, pega um dispositivo e sai de fininho. Logo depois, a equipe da SWAT chega e cerca os arredores do recinto e tenta negociar uma rendição. Uma cena clássica, senão já batida do gênero. Eis que me aparece uma garotinha, com pirulito na mão, andando pela área cercada. Os policiais, confusos, tentam avisá-la para não ficar por perto. A mocinha, mesmo assim, entra no edifício. Os assaltantes também ficam confusos com a sua presença. Não tarda muito para aquela menina, vestida com um uniforme de colegial, revelar-se como Liam Neeson, com seus 1,93m de altura, antes de combater seus oponentes. É assim que começa a versão de 2025 de
Corra que a polícia vem aí! 

  Na virada dos anos 80 para os 90, o diretor David Zucker, juntamente com Jim Abrahams e Jerry Zucker, após o sucesso de Apertem os cintos, o piloto sumiu (Airplane, 1980) lançaram uma paródia de filmes policiais intitulada Naked Gun, no original. Nos filmes dessa franquia de humor, acompanhamos as trapalhadas de um esquadrão de polícia da cidade de Los Angeles, sempre envolvendo o tenente Frank Drebin, interpretado por Leslie Nielsen. 

A ideia vinha de um seriado de Zucker-Abrahams-Zucker (grupo conhecido também como ZAZ) lançado na televisão americana no início da década de 80, Police Squad!, mas que foi cancelado após a exibição de pouquíssimos episódios. O conceito e personagens são realizados na versão cinematográfica, e, diferente da sua contraparte televisiva, o primeiro filme, lançado em 1988, foi um sucesso para o estúdio. 

Sua repercussão foi importante para o gênero do humor estadunidense no cinema e também na consolidação de Nielsen, que era conhecido por papéis mais dramáticos, como um comediante, com uma performance que contrasta perfeitamente com o tom cartunesco da obra. Houveram duas continuações, uma em 1991 e outra em 1994, respectivamente. Porém, ao longo das décadas subsequentes, diversas tentativas de continuar e revitalizar a franquia para um novo público parecia nunca sair do papel. Até mesmo Zucker, uma das mentes por trás de Naked Gun, teve suas ideias rejeitadas pelo estúdio da Paramount, que, por sua vez, em 2021, ficou interessada nos planos do produtor Seth MacFarlane em revisitar a franquia.

O Corra que a polícia vem aí! de 2025 é dirigida por Akiva Schaffer e produzida pela produtora de MacFarlane, a Fuzzy Door. O longa-metragem apresenta como protagonista desta vez o filho da personagem de Nielsen, Frank Drebin, Jr., interpretado pelo já mencionado Liam Neeson, que deve salvar o esquadrão de polícia de fechar as portas, enquanto tenta seguir os passos de seu pai. 

Para esta nova empreitada, Schaffer se reúne com os roteiristas Dan Gregor e Doug Mand, com quem já havia trabalhado no filme Tico e Teco de 2022 para o Disney Plus, e o resultado dessa parceria é positivo. O roteiro desta nova versão acerta no tom pastelão do humor, marca registrada das versões anteriores, e também consegue fazer uma paródia do gênero policial no cinema de forma cartunesca; calcando no uso de clichês e vícios de linguagem que filmes e séries do gênero apresentam. A gramática do filme transita entre várias estéticas: o noir, a ação megalomaníaca e até mesmo “documental”. Aqui, o pessoal da produção se prova bem afiado nas referências à cultura pop. Além disso, o uso da comédia física e de piadas visuais continuam sendo a cereja do bolo da franquia.

Para não dizer que o filme é basicamente uma versão live action de desenho animado ou de um besteirol divertido fechado em si mesmo, vale ressaltar que está é a versão mais política da franquia, uma vez que os roteiristas deixam claro que o antagonista de Drebin, Richard Cane (Danny Huston), é uma caricatura de bilionários que existem no mundo real, a inspiração, com certeza, o Elon Musk. Cane tem como plano criar uma nova versão do mundo para os super ricos, enquanto o restante da população é afligida com um mal que a deixa mais próxima da primitividade. A tensão cômica as personagens de Neeson e Huston é cômica, e ilustra justamente o embate do homem com o avanço tecnológico cada vez mais mais invasivo e desnecessário, ao mesmo tempo que o longa “tira sarro” da  masculinidade frágil de homens héteros cis na sociedade.

Mudando o foco para o protagonista do longa, o Liam Neeson foi uma escalação perfeita para viver Frank Drebin, uma vez que possui um semblante tão sério, tão autocentrado, em momentos inusitados e/ou constrangedores. O que ele faz aqui é o equivalente da performance de Nielsen, porém Neeson usa de sua bagagem como um ator de filmes de ação, que vão de medianos a péssimos, nas últimas décadas para dar esse tom ao personagem. Foi uma escolha acertada por parte da produção, em apostar nesta escalação: Neeson brilha como um comediante.

Outro nome de peso no elenco é de Pamela Anderson, que interpreta a personagem Beth Davenport e irá se envolver com a investigação de Drebin ao longo da narrativa. Mais conhecida pela série Baywatch (1989-2001), Anderson é uma atriz que, após passar vários anos longe da atuação, encontrou um novo ressurgimento em sua carreira nos últimos anos e tem arriscado mais em papéis mais desafiadores e diversos nos palcos e no cinema. Na última temporada de premiações, por exemplo, ela foi reconhecida pelo seu papel no filme The Last Showgirl (2024). Aqui, a personagem de Anderson acena para a figura da femme fatale, porém colocando-a em pé de igualdade e em contraponto com a personagem de Neeson. Anderson aqui se entrega e participa da brincadeira, sem ser, em algum momento, o alvo da piada. 

Como qualquer outro longa-metragem que capitaliza ou dá continuidade a uma propriedade intelectual já existente no cinema, a nova versão de Corra que a polícia vem aí!  tem vários momentos de homenagem aos filmes anteriores, sejam eles diretos ou indiretos, para mostrar que a produção desta nova versão é fã dos filmes de Zucker. Inclusive, há uma montagem romântica entre Neeson e Anderson, fazendo um paralelo a um momento parecido ao primeiro filme com Leslie Nielsen e Priscilla Presley, que toma um rumo inesperadamente surreal e maníaco, com um personagem bastante conhecido do imaginário estadunidense.

Apesar de não ser um filme perfeito e do longa sofrer muito com um tom mais sério e repetições e/ou a duração de algumas das piadas visuais bem rapidamente, Schaffer e sua equipe conseguem reanimar a comédia pastelão em que, assim como um detetive confuso embolado em vários fios e causando alguma confusão no caminho, ainda é muito divertida. Parece que a polícia nunca deixou de ser incompetente nessa passagem de tempo e a diversão é a nossa.

Disclaimer: A convite da Paramount Pictures, a Koro Filmes foi convidada para uma cabine no escritório no Rio de Janeiro, em que foi passada a versão dublada do longa, cuja localização de dublagem foi feita por Antônio Tabet. 

    Autor:
                                  

Eduardo Cardoso é natural do Rio de Janeiro, Cidade Maravilhosa. Cardoso é graduado em Letras pela Universidade Federal Fluminense e mestre em Estudos de Linguagem na mesma instituição, ao investigar a relação entre a tragédia clássica com a filmografia de Yorgos Lanthimos. Também é escritor, tradutor e realizador queer. Durante a pandemia, trabalhou no projeto pessoal de tradução poética intitulado "Traduzindo Poesia Vozes Queer", com divulgação nas minhas redes sociais. E dirigiu, em 2025, seu primeiro curta-metragem, intitulado "atopos". Além disso, é viciado no letterboxd.

Telefone Preto 2 - Do Suspense Psicológico para a Hora do Pesadelo

Telefone Preto 2 | Universal Pictures Pesadelos assombram Gwen, de 15 anos, enquanto ela recebe chamadas do telefone preto e tem visões pert...