quinta-feira, 6 de novembro de 2025

Frankenstein (2025) - Pense duas vezes antes de rejeitar alguém

 

Frankestein (2025) | Netflix

Publicado em 1818, Frankenstein, de Mary Shelley, apresenta uma visão crítica da sociedade a partir do paradigma criador/criatura, tornando-se, desde então, um clássico aclamado com diversas adaptações. De outro lado, temos o diretor Guillermo Del Toro, conhecido por levar às telas criaturas e monstros visualmente inesquecíveis, atrelados quase sempre a narrativas que buscam refletir sobre um período histórico de seu país de origem: a Espanha. Dessa forma, o anúncio de que a obra de Frankenstein seria adaptada por Guillermo Del Toro gerou grandes expectativas.

O longa inicia-se com Capitão Anderson (Lars Mikkelsen) e sua tripulação confrontando a Criatura (Jacob Elordi), após darem abrigo a Victor Frankenstein (Oscar Isaac). Eles o encontraram na neve depois que o navio encalhou no gelo, enquanto rumavam ao Polo Norte. Após conseguirem se desvencilhar do monstro, inicia-se uma série de flashbacks onde Victor conta sua versão dos fatos até ali. O longa é separado por capítulos, os quais servem para orientar o espectador na narrativa, tal qual um livro. Del Toro investe bons minutos do filme nos mostrando a infância de Victor e o que o leva a tornar-se um médico obstinado obcecado por vencer a morte, um acerto do roteiro, uma vez que aumenta o interesse no personagem, que é um dos protagonistas da obra.

Conforme novos personagens são introduzidos, fica perceptível como Del Toro os utiliza para se aprofundar em seus protagonistas. Por exemplo, Elizabeth Lavenza (Mia Goth), esposa de William Frankenstein (Felix Kammerer), irmão caçula de Victor, é uma mulher independente e ousada, com ideias próprias, que provoca Victor. Mesmo sabendo que ela estava comprometida com seu irmão, ele se declara, mas é rejeitado. Quando Elizabeth demonstra empatia pela Criatura, isso invoca uma cólera de inveja e ira em Victor, que rejeita e tenta destruir sua criação, o que põe à prova quem de fato seria o monstro.

Quanto aos aspectos técnicos, a direção de arte se destaca. Os cenários grandiosos e repletos de elementos de cena, como os pedaços de corpos no laboratório de Victor, ajudam na imersão e tornam os planos vistosos e dignos de serem enquadrados. Ademais, os figurinos e, em especial, a caracterização de Jacob Elordi como a Criatura se afastam da caracterização clássica do filme de 1931 e abraçam a descrição do livro de Mary Shelley, trazendo um personagem mais realista e humanizado, ainda que grotesco. Infelizmente, por vezes, é possível perceber que algumas cenas abusaram do CGI na composição do cenário, o que o torna um pouco artificial, mas não a ponto de estragar a experiência. Já a trilha musical, assinada por Alexandre Desplat, agrega-se à composição das cenas e forma um casamento harmônico, onde cada cena tem seu tom. A trilha por vezes é mais tímida ou cresce, dependendo da necessidade, um mérito da montagem, mas também de Desplat por ter feito uma composição tão rica que se encaixa em diferentes momentos da trama.

A despeito das atuações, é impossível não falar de Jacob Elordi, que entrega uma Criatura de olhos tão doces, apesar de sua forma amorfa, suas mãos grandes e desajeitadas, demonstrando uma ingenuidade quase digna de pena. A exemplo disso, pode-se citar a sequência com o velho cego, onde é possível perceber toda a desenvoltura do ator para entregar uma Criatura que luta contra a rejeição e busca provar que pode ser boa.

Frankenstein é uma adaptação que abraça e respeita sua obra base, mas sem deixar de ser original, apresentando elementos técnicos inspirados e atuações que se destacam. Apesar de todo seu mérito, o longa possui um caráter apressado. Seu desenvolvimento é orgânico, mas parece deixar pontas soltas. Talvez Del Toro não tenha tido tanta liberdade, ou talvez só não estivesse tão inspirado em algumas partes do filme. Em suma, Frankenstein não é perfeito, mas entrega o que promete e, certamente, é até então a melhor adaptação da obra de 1818 já feita para o cinema.

Autor:


Mateus José é graduando de Licenciatura em Cinema e Audiovisual pela UFF, escritor, poeta, montador e aspirante a diretor de fotografia. Apaixonado pelas artes, literatura, música e principalmente o cinema, dedica-se a consumir, estudar e dissecar as camadas mais profundas do cinema e da arte.

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